terça-feira, 10 de dezembro de 2013

QUEM NOS PROTEGE?


ZERO HORA 10 de dezembro de 2013 | N° 17640

CRISTIEL GASPARETTO


REPORTAGEM ESPECIAL


Nas vésperas da Copa do Mundo no Brasil, a violência nos estádios volta a ser manchete. O conflito entre torcedores de Atlético-PR e Vasco, no domingo, gera debates e questionamentos. De quem é a responsabilidade pela segurança? Para especialistas, do Estado.

Apresença da Polícia Militar na parte interna dos estádios é tema de debate desde a tarde do último domingo, quando cenas de barbárie foram registradas na Arena Joinville. A certeza é de que o exemplo de Santa Catarina, de não usar PMs em um jogo de risco, com torcidas acostumadas a confusões, mostrou-se equivocado. Para especialistas no tema violência no futebol, a segurança privada não tem a qualificação necessária para conter conflitos.

– Não estando no local (Joinville), não dá para saber se a segurança pública teria impedido. Mas se o país não conseguiu formar agentes públicos de segurança com mais inteligência, é difícil achar que exista preparo na segurança privada. O Estado não tem como abrir mão da segurança, isso até fere a nossa Constituição – comenta Heloisa Reis, professora da Unicamp e com pós-doutorado em Sociologia do Esporte.

Pesquisadora da violência e da prevenção dela no futebol, Heloisa destaca que agentes de segurança privada são bem-vindos, mas sendo preparados pela força pública.

– As brigas ocorrem por história de rivalidade entre clubes e torcidas. Há necessidade de conhecimento do problema, uma avaliação de risco. Esse jogo de domingo era de alto risco, um clube grande poderia ser rebaixado. Deveriam ter procedimentos de prevenção, uma divisão das torcidas por objetos intransponíveis – argumenta.

Para a professora, as organizadas são parte do problema. Ela culpa os promotores dos jogos por não evitarem a maioria dos conflitos.

– Os grupos violentos de torcedores são constituídos por homens que gostam de brigas e que desejam ser reconhecidos por isso. Se não há nenhum obstáculo físico entre os torcedores, o organizador falhou. Se não tem a força do Estado, o Estado falhou. Quem tem mais culpa? Aquele que não previu ou quem perdeu a cabeça? Cabe aos organizadores e ao Estado preverem estratégias que impeçam o contato. Falta ao Brasil trabalhar o tema com seriedade.

Opinião diferente tem o professor doutor George Felipe de Lima Dantas, formado na George Washington University, nos Estados Unidos. Para ele, muitas organizadas são gangues onde a violência e o crime são incentivados.

– A grande questão não é a torcida organizada, mas é em nome de quê elas existem? Se os clubes ajudam essas torcidas, eles estão patrocinando essa violência.

Promotor responsável pela Promotoria do Torcedor do Rio Grande do Sul, José Francisco Seabra Mendes Júnior, também é contrário à saída da polícia do interior dos estádios.

– Não estamos em um estágio de evolução cultural para desprezar o trabalho da Brigada. Tem o peso da farda, a BM realiza reuniões preparatórias, participa na prevenção. A segurança privada pode funcionar, mas como complemento. A BM tem know-how.

Projeto é cadastrar organizadas no RS

Entre as propostas para conter a violência nos estádios está o cadastramento das torcidas organizadas, que está previsto no Estatuto do Torcedor. Atualmente, tramita na Câmara de Vereadores de Porto Alegre um projeto que obriga os clubes a realizarem a identificação biométrica de quem frequentará a Arena do Grêmio e o Beira-Rio.

– A Argentina tem, fazem um cadastramento de todos os torcedores. É uma medida interessante, o torcedor perde o anonimato – opina o promotor Seabra.

No Rio Grande do Sul, os principais casos de conflitos são registrados entre torcidas do mesmo time, que brigam pela liderança.

– Estamos tentando a aproximação das organizadas com clubes, Federação Gaúcha de Futebol e autoridades de segurança.


Proposta gaúcha não evoluiu


Em setembro, a Brigada Militar procurou a dupla Gre-Nal e revelou que teve um gasto de R$ 8 millhões com emprego de policiamento nos estádios. A intenção era deixar de fazer o trabalho no interior da Arena e do Beira-Rio ou que a corporação fosse indenizada pelo serviço. A proposta, no entanto, não evoluiu, já que seria necessário a aprovação de um projeto de lei na Assembleia Legislativa.

– A BM se convenceu de que a presença dela é essencial, foi uma prova de bom senso. O conflito de multidões tem de ser gerido pela Brigada, que tem prática e recurso. Vamos continuar nos moldes que temos hoje – comenta o vice-presidente do Grêmio Nestor Hein.

Comandante do Comando de Polícia da Capital (CPC), João Diniz Godoi confirma que a Brigada gastou R$ 8 millhões com o trabalho nos estádios em 2012, devido ao deslocamento de efetivo e horas-extras.

– Retiramos o policiamento das ruas e concentramos nesse espaço (estádio) – enfatiza Godoi, que destaca a qualificação dos policiais.

– Temos pessoal preparado. Já fizemos finais de Libertadores, jogos da Seleção. Recebemos torcidas de Corinthians e Flamengo e nenhum incidente ocorreu.




ZERO HORA 10 de dezembro de 2013 | N° 17640 DO LEITOR

Violência

A selvageria vista pelos brasileiros na Arena Joinville no jogo entre Atlético-PR e Vasco é apenas uma das muitas situações de violência que imperam no país. A impunidade, aliada à omissão dos três poderes, favorece e incentiva a prática criminosa. O Código Penal é obsoleto, as leis são brandas, e menores e adultos assassinos são ungidos pela máxima de que precisam ter a chance de uma recuperação.

Rafael Moia Filho, Bauru – São Paulo (SP)

O lugar da Polícia Militar é protegendo o cidadão nas ruas. Dentro de estádios, é obrigação dos clubes qualificar e quantificar os seus seguranças para atender o torcedor.

Fabio Chaves, Via Facebook

As barbáries vistas no jogo entre Atlético-PR e Vasco somente comprovam a mais absoluta e completa falência da Justiça brasileira. Aquelas pessoas só fizeram o que fizeram confiando na impunidade.

Daniel Scherer Stürmer, Executivo de vendas – São Leopoldo

Dentro de estádios, estão milhares de contribuintes que pagam seus impostos para ter segurança. A Polícia Militar está aí para isso também.

Valcir Madalozzo, Via Facebook

É fácil organizar isso. Basta fazer um cadastro único do torcedor. Se ele se envolver em atos de violência, nunca mais entra em estádio.

Jozias Adriano Streit, Via Facebook

Todas essas situações deploráveis a que assistimos no jogo entre Atlético-PR e Vasco devem ser debitadas aos alojados no Palácio do Planalto, que se escondem de sua prerrogativa republicana de, a qualquer custo, manter a ordem, com medo de perder votos nas urnas. Os estádios são o grande teatro do futebol. Urgem ações duras para coibir de uma vez por todas esses espetáculos deprimentes.

Paulo Panossian, Jornalista – São Carlos (SP)

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