quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

APOLOGIA DA VIOLÊNCIA

É só dar uma analisada nos hinos e nas bandeiras das torcidas organizadas do clubes brasileiros para se dar conta de que a violência está sendo disseminada, sem que as autoridades tomem medidas enérgicas para coibir, banir e punir os responsáveis.

Acabou A Paz - Torcida Organizada Os Fanáticos

"Acabou a paz
Isso aqui vai virar o inferno
Seja no campo!!
No terminal!!
Fanáticos vai descer o pau!!!!"

http://letras.mus.br/torcida-organizada-os-fanaticos/286088/



O Seu Terror - Torcida Independente

Não dá pra esconder
Que eu persigo só você gambá
Não dá, não dá não dá não dá

Não dá pra esconder
Que eu persigo só você gambá
Não dá, não dá não dá não dá

Só sei
Que os porco estremesse
A jovem desaparece
Inconscientemente a gente espanca
As mãozinhas já não se balançam
Os bambus não existem mais
Força
Só sei que a independente é ruim de mais

Eô eô
Sou da independente,
O seu terror

http://letras.mus.br/torcida-independente/507981/


Seu Pior Pesadelo - GRCES Torcida Jovem do Santos FC


Vem que o Bonde da TEJOTA,
é guerreiro.
Seu Terror, Seu Pior Pesadelo.
Representa Bate em Qualquer Um.
Somos a Nº1... Vai, Vai, Vai...

http://letras.mus.br/torcida-independente/507981/













OPERAÇÃO PARA PRENDER TORCEDORES ENVOLVIDOS NA PANCADARIA NA ARENA JOINVILLE

ZERO HORA ONLINE 19/12/2013 | 10h41

A NOTÍCIA

Polícia faz operação para prender torcedores envolvidos na pancadaria na Arena Joinville. 28 mandados de prisão começaram a ser cumpridos nesta qunta-feira



Foto: GERALDO BUBNIAK / FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO


As Polícias Civis de Santa Catarina, Paraná e Rio de Janeiro iniciaram às 5 horas desta quinta-feira a operação Cartão Vermelho para a prisão de torcedores do Atlético-PR e Vasco envolvidos na pancadaria na Arena Joinville. Até às 10h, 12 pessoas já tinham sido presas nos três estados. Todos responderão por associação ao crime, incitação de violência em evento esportivo e dano ao patrimônio público. Dependendo do caso, também responderão por furto e tentativa de homicídio.

Devem ser cumpridos 28 mandados de prisão e um de busca e apreensão na região metropolitana de Curitiba, Joinville e Blumenau e no Rio de Janeiro. O delegado responsável pelo caso em Santa Catarina, Dirceu Silveira, não quis revelar quantos já foram presos em cada um dos estados.

Em Joinville, um homem de 40 anos que estava na torcida do Atlético Paranaense foi preso. O ex-vereador de Curitiba, Juliano Borghetti, flagrado no meio da confusão, não foi encontrado em caso pela polícia e está foragido. Em Blumenau, um vascaíno de 22 anos também foi detido.

A briga aconteceu no dia 8 de dezembro, no jogo entre Atlético-PR e Vasco, por volta dos 15 minutos do primeiro tempo, quando o time paranaense já vencia por 1 a 0. A partida foi paralisada. Na confusão, quatro torcedores ficaram feridos. Um deles sofreu traumatismo craniano e só teve alta no dia 13.

No julgamento do STJD, o Atlético-PR, responsável pela segurança no local no dia da partida, foi o maior punido com perda de mando de 12 partidas, metade delas com portões fechados. O clube do Paraná ainda foi multado em R$ 120 mil. O Vasco da Gama foi penalizado com oito partidas de mando de campo e R$ 80 mil reais em multa.

Diário Catarinense — Quais são as provas contra os presos?
Dirceu Silveira — Coletamos os materiais usados no dia da confusão, vestuários e as informações deles coletadas no dia do jogo. As fotos tiradas durante a partida também serão usadas como provas.

DC — Os presos em outros estados serão traduzidos para Santa Catarina?
Silveira — Sim, todo o inquérito será encaminhado pela polícia civil de Santa Catarina e eles serão trazidos o mais breve possível a Joinville para a coleta de depoimentos e andamento normal dos casos.

DC — Além desses 12, quantos envolvidos foram presos no dia do jogo?
Silveira — Três pessoas foram presas no dia da partid

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

REPARAR OS DANOS PROVOCADOS PELAS TORCIDAS


JORNAL DO COMÉRCIO 18/12/2013


Daniel Ustárroz



Na V Jornada de Direito Civil, em 2011, o professor Adalberto Pasqualoto apresentou uma ideia inovadora e interessante: responsabilizar os clubes pela reparação dos danos gerados por suas torcidas. O argumento central é o seguinte: quando um clube financia, de qualquer modo, a torcida organizada, ele deve responder pelos danos que ela provoca. O tema não poderia ser mais atual, infelizmente. A violência dos grupos que se reúnem a pretexto de apoiar uma equipe está na ordem do dia. E o saldo, lamentavelmente, não é dos melhores. Danos à integridade física e à saúde das pessoas, prejuízos imensos ao comércio, sensação de impotência do cidadão comum.

Nesse sentido, é interessante a informação vinda da imprensa, dando conta que o Grêmio repassou R$ 310 mil e R$ 787 mil, nos anos de 2011 e 2012, para as torcidas organizadas. Certamente, a realidade não é distinta de outros clubes. Uma parte dessa “receita”, naturalmente, custeou a locação de ônibus para o deslocamento dos torcedores a outros estados. Poderia ilustrar o artigo com um exemplo trágico, mas utilizo algo mais “leve”. Imaginemos uma situação corriqueira nas estradas brasileiras. Por cansaço ou qualquer outra razão, um desses ônibus resolve estacionar em um bar ou em um posto de gasolina na beira da estrada. E, durante alguns minutos, alguns dos viajantes “por amor ao clube” acabam depredando o estabelecimento, ao passo que outros efetuam saques. Quem vai suportar esse prejuízo? Hoje, a resposta dada pelo direito civil a este tipo de situação se mostra manifestamente insatisfatória. Competiria ao proprietário ou aos lesados pela ação dos vândalos, primeiro, identificá-los, para, ato contínuo, demandar deles a reparação. Na teoria, tudo perfeito.

Na prática, sabemos que esse modelo não repara dano algum, e o prejudicado fica a lamentar a sua sorte. Neste contexto, a medida sugerida pela comunidade acadêmica, de responsabilizar civilmente as agremiações esportivas pelos danos ocasionados pelos membros das torcidas organizadas parece acertada para resolver ao menos um dos problemas gerados por esta questão social: a reparação das vítimas. Talvez essa nova postura se mostre saudável, desde que acompanhadas de outras tantas, como a imprensa há tanto tempo destaca.

Professor de Direito Civil da Pucrs

VALORES FERIDOS




ZERO HORA 18 de dezembro de 2013 | N° 17648


EDITORIAIS


Merece atenção a decisão da montadora Nissan de interromper o contrato de patrocínio que tinha com o clube Vasco da Gama devido aos atos de violência praticados por sua torcida, recentemente, em Joinville. A fábrica japonesa declarou em nota que considera o comportamento daquele grupo de torcedores incompatível com os valores e princípios sustentados e defendidos pela empresa em todo o mundo. Por isso, optou por rescindir o contrato de publicidade que assegurava ao clube carioca o equivalente a R$ 7 milhões por ano. O patrocínio fora assinado em julho último e deveria durar quatro anos.

Patrocinadora oficial dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016, no Rio, a Nissan reafirma seu compromisso com o esporte, mas não quer ver sua marca associada à má imagem deixada pelos integrantes da torcida organizada que participaram do confronto contra torcedores do Atlético Paranaense.

O assunto é controverso, pois os clubes de futebol não aceitam ser responsabilizados pela má conduta de alguns torcedores. Mas o Estatuto do Torcedor determina claramente que as entidades esportivas estabeleçam uma relação de absoluta transparência com as torcidas organizadas, inclusive cadastrando torcedores para manter o controle sobre o seu comportamento. Além disso, como os clubes costumam doar ingressos, transporte e até dinheiro para as organizadas, não há como fugir da corresponsabilidade.

A decisão da montadora até pode ser questionada judicialmente, de acordo com os termos do contrato, mas tem sentido como medida de combate à violência nos estádios. Se fabricantes de material esportivo e outras empresas que investem no futebol impusessem cláusulas rescisórias em caso de prejuízo de imagem, certamente os clubes passariam a dispensar mais rigor e mais profissionalismo aos seus torcedores. A parte saudável da torcida também aprovaria.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA


OS NOSSOS VALORES

Responsabilidade e ousadia.
Duas características inseparáveis.

Na Nissan, os nossos valores dizem respeito às pessoas e a uma maneira inovadora de agir. Levam-nos a assumir a responsabilidade pelas nossas tarefas, a resolver antecipadamente os problemas, a  prever o futuro e a permitir que tomemos as decisões que nos parecem mais adequadas.
Além do mais, impelem-nos a inovar para continuar a surpreendê-lo. E a correr riscos, quando sabemos que vale a pena.

domingo, 15 de dezembro de 2013

PÃO, CIRCO E VIOLÊNCIA


15 de dezembro de 2013 | 2h 08


GAUDÊNCIO TORQUATO - O Estado de S.Paulo



Vespasiano, o imperador, em 22 de junho de 79 d.C., pouco antes de morrer, em carta ao filho Tito aconselhava-o a concluir a construção do Colosseum (Coliseu), que lhe daria "muitas alegrias e infinita memória". Pois, entre um banheiro, um banco de escola ou um estádio, o povo preferia sentar-se nas arquibancadas deste. O conselho fundamentava-se na ideia de que seduzir a plebe com pão e circo era a melhor receita para diminuir a insatisfação popular contra os governantes. Tito acabou inaugurando o famoso anfiteatro, no centro de Roma, com cem dias de festa. Descortinava-se ali a era do panis et circensis, que consistia em proporcionar, naquela arena, espetáculos sangrentos entre gladiadores e distribuição gratuita de pão. Implicava alto custo para os cofres do Império, com elevação de impostos e economia destroçada, mas a prática populista emprestava enorme prestígio aos imperadores romanos.

É sabido que os jogos, ao longo da História, funcionaram como verniz para lustrar a imagem de governantes. Hoje a estratégia para cooptar a simpatia das populações por meio das artes/artimanhas e do entretenimento continua a receber atenção de administradores públicos de todos os quadrantes. Não por acaso, nossas arenas esportivas, que se preparam para abrigar os jogos da Copa de 2014, deverão colorir o portfólio de feitos do governo.

O que tem mudado na paisagem dos espaços lúdicos não é a ambição dos condutores dos Estados de se alçarem aos píncaros da fama, mas o comportamento das plateias. Espectadores que outrora fruíam a catarse dos embates esportivos, exaltando ou deplorando o desempenho de contendores, tornam-se eles próprios competidores, lutadores, gladiadores, disparando uns contra outros não só a arma das imprecações, mas armas de fogo, e partindo para a violência física. A alteração comportamental de quem vai aos estádios é preocupante, principalmente em nosso território, que elege o futebol como esporte nacional e se depara, a cada campeonato, com os novos sujeitos, as chamadas torcidas organizadas. O fenômeno toma vulto ante o risco de o Brasil vir a ser, por excelência, o palco da violência futebolística, pela constatação de que o aparato da segurança pública tem sido ineficaz para debelar a desordem e a pancadaria nas arquibancadas, a par de medidas paliativas, como cerceamento do acesso de torcedores a estádios, majoração do preço de ingressos, jogos com portões fechados, perda de mando de campo e multas aos clubes.

De pouco adiantará administrar tensões e conflitos sob o escudo policial-repressivo. Como se diz no vulgo, o buraco é mais profundo e está embaixo. A mobilização de pessoas para a formação de grupos e a organização de torcidas obedecem a nova ordem que impregna a dinâmica social no mundo contemporâneo. A competição assume posição singular em todos os setores, espaços, categorias profissionais e classes sociais. As massas fragmentam-se em núcleos, cada qual com seus discursos, bandeiras, uniformes, armas e instrumentos. Os avanços civilizatórios nos campos da macroeconomia, da política e da cultura abrem comportamentos diferentes, multiplicando as pequenas organizações sociais e gerando novos polos de poder.

Os espaços urbanos ganham novos contornos, a esfera do trabalho traz novos desafios e a busca de uma identidade passa a ser central para os indivíduos, principalmente os jovens, motivados a expressar valores como masculinidade, coragem, companheirismo, coesão, solidariedade, sentimento de pertencer a um grupo. Fazer parte de torcidas como Mancha Verde, Gaviões da Fiel, Independente passou a ser referência para habitantes de cidades congestionadas, carentes de serviços e lazer.

Ao escopo semântico - em que se agrupam as agruras sociais - adiciona-se uma estética de diferenciação, caracterizada pelas cores (verde, vermelho e preto, preto e branco, azul, amarelo canarinho), pelos símbolos (gavião, porco, urubu, galo, raposa, coelho, timbu, baleia, leão), pela vestimenta com os dizeres da moda, pelo estilo de andar, de pensar, de perambular em bandos. E fechando o circuito, a espetacularização midiática, por meio da qual os torcedores poderão ver nas telas da TV seus gestos, feições alegres ou crispadas de ódio e ouvir gritos de guerra.

Condenar as turbas com designativos de vândalos, bandidos, selvagens, adensar forças policiais em estádios, continuar a usar meios tradicionais, como punição a clubes, não conseguirão eliminar a violência das torcidas organizadas. Mais cedo ou mais tarde, os atos voltarão. O disciplinamento e a ordem hão de levar em conta a elevação de padrões comportamentais, ancorada no esforço de educação (reeducação) de torcedores fanáticos. Não se trata de promover meras ações de marketing cultural - eventos festivos e associativos para alinhamento dos torcedores ao espírito do clube -, mas um amplo programa com o objetivo de compor um ideário voltado para engrandecer o espírito da democracia, com respeito aos princípios da ordem e da disciplina, que não devem ser incompatíveis com o entusiasmo das torcidas.

É evidente que ante a moldura de extrema competitividade e crescente agressividade entre grupamentos sociais um esforço nessa direção não será tarefa fácil. O que aqui se propõe é uma ação cívica dos clubes de futebol na tentativa de ajudar o Estado brasileiro a melhorar a argamassa do edifício da cidadania. É inimaginável que torcidas se vejam como inimigas tomadas de ódio e virulência; e que o "sarro" tirado por um bandeirinha na direção de um grupo nas arquibancadas, o apito errado de um juiz, um ato menos educado de um policial ou um xingamento de torcedor sejam motivo para pancadaria.

Nem Vespasiano nem Tito imaginariam que, um dia, o dístico panis et circensis seria acrescido de violentia. Fosse assim, o velho Coliseu não estaria em pé.


JORNALISTA, PROFESSOR, TITULAR DA USP, É CONSULTOR POLÍTICO E DE COMUNICAÇÃO TWITTER: @GAUDTORQUATO

OS ASSASSINOS DO FUTEBOL


ZERO HORA 15 de dezembro de 2013 | N° 17645


EDITORIAL INTERATIVO


Eles não são torcedores, são arruaceiros. Infiltram-se nas torcidas organizadas, extorquem os dirigentes de clubes, provocam-se pelas redes sociais, bebem e brigam dentro e fora dos estádios. Não vão a campo para ver o jogo, para aplaudir e vaiar os jogadores. Vão para exibir seus músculos, sua agressividade e sua imaturidade. Protegem-se na multidão, atacam em bandos e agem com ferocidade e covardia, como se viu no último domingo na lamentável batalha campal entre as organizadas do Atlético Paranaense e do Vasco, na Arena Joinville. Por causa deles, muitos cidadãos preferem ficar em casa e acompanhar o esporte pela televisão. Na antevéspera da Copa do Mundo, o Brasil está diante de um desafio: como conter esses assassinos do futebol?

Punir os clubes tem sido uma das medidas mais frequentes, mas com resultados insuficientes. Basta lembrar que o jogo da briga do último domingo já foi realizado em Santa Catarina porque o Atlético-PR estava punido por tumulto causado por sua torcida no clássico contra o Coritiba, realizado em outubro. E o Vasco também já havia perdido mandos de campo no Brasileirão devido ao confronto de seus torcedores com os do Corinthians, em Brasília, em agosto. Portanto, não se tratou de um caso isolado. Os enfrentamentos são frequentes e envolvem os principais clubes do país. Evidentemente, essas associações, especialmente aquelas que financiam marginais travestidos de torcedores, merecem ser responsabilizadas, mas é preciso fazer mais.

Colocar polícia dentro do estádio também é medida controversa. As forças de segurança alegam que não é de sua atribuição policiar espetáculos privados e dizem que o deslocamento de tropas para o futebol deixa a população menos protegida. Querem, no mínimo, receber uma compensação financeira dos clubes, para pagar hora extra aos soldados ou financiar equipamentos. Enquanto dirigentes e autoridades não chegam a um acordo, porém, está cada vez mais evidente que as Polícias Militares precisam estar prontas para intervir nos tumultos, pois as pessoas que vão a estádios de futebol também são parte da população e merecem ser protegidas.

Criar leis mais rigorosas soa apenas como cortina de fumaça. Já temos leis suficientes, o próprio Código Penal, o Estatuto do Torcedor, normas preventivas e punitivas que raramente são cumpridas. O que nos falta é ação e organização. Ação por parte dos organismos policiais e judiciais para que os protagonistas da selvageria sejam identificados, investigados e retirados de circulação. Cadeia é o mínimo que merecem marginais que atentam contra a vida de seus semelhantes. E organização para, como fizeram os ingleses com os hooligans depois de episódios fatais, oferecer condições de conforto e segurança aos torcedores, de modo a inibir tumultos. Nos estádios britânicos, ninguém pode assistir ao jogo em pé, as cadeiras são todas numeradas, há câmeras de vigilância em todos os setores e qualquer anormalidade é imediatamente controlada, com a retirada dos brigões e sua exclusão dos próximos jogos, mediante apresentação obrigatória em delegacias nos dias e horários das partidas.

Para enfrentar os assassinos do futebol, o país precisa de dirigentes de clubes mais corajosos e responsáveis, e de governantes e autoridades com competência para punir, planejar, organizar e criar uma infraestrutura de civilidade. A partir dessas premissas, a conscientização dos torcedores tende a vir ao natural.

O editorial ao lado foi publicado antecipadamente no site de Zero Hora, na quinta-feira. Os comentários para a edição impressa foram selecionados entre as manifestações recebidas até as 18h de sexta-feira. A questão proposta: Editorial diz que prevenção é a melhor arma contra a violência das torcidas de futebol. Você concorda?


O leitor concorda


Concordo. O maior incentivo à violência é a impunidade. Tanto dentro quanto fora dos estádios, os criminosos voltam a agir rapidamente. Realmente não é necessário criar leis, basta aplicá-las. Também acho justa uma ajuda financeira dos clubes às forças de segurança, afinal sabemos que os grandes nomes do futebol movimentam muito dinheiro. Ao invés de repassarem recursos a torcidas organizadas, que repassem a quem vai zelar pela ordem nos estádios.

Fernanda Freddo, Caxias do Sul (RS)

A prevenção é o melhor remédio para qualquer situação. No entanto, devem ser avaliadas as atitudes tomadas em outros países, a exemplo da Inglaterra. As grandes catástrofes deveriam servir de exemplo para todos.

Roberto Mastrangelo Coelho, Porto Alegre (RS)

Não é o primeiro comentário analisando o perfil das torcidas organizadas. Todas pecam por terem infiltrações (violentas). A maioria (deles) não tem emprego, vive à custa dos clubes. Quando os clubes todos pararem de financiar as torcidas, então, acreditem, teremos torcedores natos, pacatos e apreciadores do futebol. Depende só dos dirigentes. Se querem que o estádio dê condições ou não. No Paraná, faz muito tempo que a polícia só cobre eventos cobrando taxas pelo serviço, seja do tipo que for, inclusive exposições e feiras.

Rubens C. Calliari, Pato Branco (PR)


O leitor discorda


Discordo, porque essa “prevenção” não será definitiva. É certo que haverá uma maquiagem em relação à Copa do Mundo. Vão punir os arruaceiros temporariamente, proibi-los de frequentar eventos e, enfim, vão até pôr o Exército nas ruas para auxiliar na segurança. Aí, depois que passar, voltará tudo de novo ao “normal”. Já sabemos como funciona. É triste.

Gilmar Moreira da Silva, Canoas (RS)

Não concordo. As ideias apresentadas parecem bem-intencionadas, porém são utópicas em um país cujas leis, em quase sua totalidade, são apenas alcovas para malfeitos e locupletações. Ou se acaba de vez com essa balbúrdia banindo permanentemente as torcidas organizadas dos estádios, ou daqui a 20 anos estaremos discutindo soluções paliativas para o mesmo problema.

Márcio de Carvalho Damin Porto Alegre (RS)

Em termos. Prevenir supõe que a violência exista, latente. Ideal é educar. 

@alyhell


sábado, 14 de dezembro de 2013

O BRASIL É A INGLATERRA NA CONTRAMÃO

REVISTA VEJA
Coluna do Augusto Nunes - 14/12/2013 às 12:25 \

O Brasil é a Inglaterra na contramão: removeu os alambrados antes de enfrentar a selvageria das torcidas organizadas


Em 1985, a federação de futebol do Reino Unido decidiu que chegara a hora de livrar os estádios dos hooligans, os mais selvagens torcedores do mundo. Por decisão da entidade, os times ingleses foram proibidos de participar de torneios internacionais até 1990. Um a um, comandantes, oficiais graduados e soldados rasos classificados pelo grau de beligerância foram identificados, julgados e banidos das arquibancadas. Muitos acabaram na cadeia. A guerra demorou cinco anos. Só depois de consumado o triunfo dos defensores da lei e da civilização os dirigentes removeram os alambrados dos estádios britânicos.

Afrontado pelo atrevimento de delinquentes fanáticos disfarçados de torcedores, que sobrevivem graças à conivência criminosa dos cartolas, o Brasil se transformou numa Inglaterra na contramão. Não existe sequer um esboço de plano para a erradicação da praga em permanente expansão. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, recitam promessas que não serão cumpridas. Os cartolas seguem financiando os comparsas uniformizados. Mas as arenas construídas ou reformadas para a Copa de 2014 não têm alambrados.

“O Brasil está muito feliz em receber todos nessa Copa, porque somos um povo alegre e acolhedor”, disse Dilma Rousseff durante o sorteio das chaves da Copa. O palavrório foi desmoralizado pelas cenas apavorantes registradas durante o jogo entre o Vasco e o Atlético em Joinville. O que aparece no vídeo e nas fotos é uma amostra do horror que logo fará parte da rotina do futebol brasileiro.
ATLÉTICO PR E VASCO
(Foto: Joka Madruga/Futura Press)
Briga entre torcidas na partida entre Atlético-PR e Vasco
(Foto: Geraldo Bubniak /Fotoarena/Folhapress)
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(Foto: Carlos Moraes/Agencia O Dia/Reuters)
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(Foto: Carlos Moraes/Agencia O Dia/Reuters)
01
O lutador de jiu-jitsu identificado como Naíba (de bermuda azul e camiseta) troca socos com um torcedor (Foto: Joka Madruga/Futura Press)
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Na pancadaria com torcedores do Corinthians, em 11 de agosto, os vascaínos Jonathan Fernandes e Philipe Sampaio (em destaque): os dois também foram filmados brigando em Joinville (Foto: Sergio Lima/Folhapress)
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Philipe Sampaio na briga com torcedores do Atlético-PR, em Joinville (Foto: Reprodução)
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Jonathan Fernandes, de camisa branca, pisa em um torcedor do Atlético-PR; à esquerda, o homem identificado como Pierre, líder da torcida Ira Jovem (Foto: Reprodução)
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Leone Mendes da Silva, conhecido como Curirim, mora na Baixada Fluminense e está preso em Joinville (Foto: Giuliano Gomes/Folhapress)
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Torcedores do Vasco e do Atlético Paranaense brigam durante o jogo em Joinville, Santa Catarina. No destaque, Marcelo Souza – (Foto: Heuler Andrey/AFP)
vereador
O ex-vereador de Curitiba Juliano Borghetti foi flagrado durante o show de selvageria em Joinville (Foto: Geraldo Bubniak/FotoArena)

COMO A INGLATERRA ACABOU COM A BARBÁRIE DAS TORCIDAS

REVISTA VEJA 14/12/2013 - 06:00

Cenas como as da semana passada em Joinville eram rotina no país há trinta anos. Mas, pondo os vândalos na cadeia e construindo estádios modernos, as autoridades jogaram os brigões para escanteio


Alexandre Salvador e Pieter Zalis



SELVAGERIA IMPUNE - Da horda de arruaceiros, alguns já identificados, apenas três estão presos: um deles é Leone Mendes da Silva, o Curimim (acima, com um pedaço de madeira nas mãos), torcedor do Vasco (Fotos Joka Madruga/Futura Press: Paulo Sergio/Lance Press e Heuler Andrey/AFP)

O futebol é o esporte nacional. Nós o demos ao mundo. Mas sua imagem dentro do nosso país foi muito manchada.” Essa definição, triste e precisa, sintetiza o estado atual do futebol brasileiro. Não há dúvida: de costas para o gramado, 2013 foi um ano perdido. Em fevereiro, um sinalizador disparado pela torcida do Corinthians matou um garoto de 14 anos em Oruro, na Bolívia. Doze brasileiros foram presos, mas por falta de provas (e pela conveniente confissão de um torcedor menor de idade) todos foram liberados. Para encerrar a temporada, no domingo 8, torcedores do Atlético-PR e do Vasco promoveram uma batalha no estádio de Joinville, em Santa Catarina, na última rodada do Campeonato Brasileiro. Ninguém morreu, embora a brutalidade das duas torcidas fosse suficiente para reverberar as estatísticas da violência no futebol — foram trinta mortes apenas neste ano. Lembra-se da definição que abre esta reportagem? Explica o futebol brasileiro, mas foi usada originalmente para descrever a situação da Inglaterra nos anos 1980, que era ainda pior do que a que se vê por aqui a seis meses do início da Copa do Mundo.

Há trinta anos, a violência dos torcedores ingleses mais inconsequentes, conhecidos como hooligans, provocou a exclusão das equipes do país das competições europeias por cinco anos. A razão foi a morte de 39 torcedores da Juventus, da Itália, em confronto com aficionados do Liverpool, em um jogo da Copa dos Campeões da Europa, disputado no Estádio de Heysel, em Bruxelas, na Bélgica, em 1985. Os hooligans causavam terror nas ruas e nos campos. Ocupavam as áreas mais populares dos estádios, os chamados terraces, e de lá promoviam o caos, com sessões de pancadaria e invasões de gramado. A então primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, tratou de lidar com o problema à sua maneira: forte repressão policial e isolamento dos hooligans. Para conter os arruaceiros, foram instaladas grades pontiagudas, eletrificadas e com arame farpado no topo. Engaiolados, os torcedores se apinhavam como se estivessem enjaulados. A situação foi se deteriorando até 1989, quando ocorreu a maior tragédia. Na semifinal da Copa da Inglaterra, uma massa de torcedores do Liverpool que tentava chegar ao estádio de Hillsborough, um dos mais modernos do país à época, foi forçando a entrada pelos portões. A superlotação, aliada à falta de sinalização, esmagou os torcedores contra a grade que separava o campo das arquibancadas. Noventa e seis pessoas morreram esmagadas.

As autoridades britânicas decidiram reagir. O magistrado Peter Murray Taylor foi encarregado de preparar um relatório sobre a tragédia. É dele a frase inicial deste texto, que associou a violência a uma marca indelével no país que inventou o futebol. Em seu relatório final, de janeiro de 1990, Taylor propôs uma transformação radical no futebol inglês. “O comportamento e a segurança da multidão estão diretamente relacionados à qualidade das acomodações e instalações”, concluiu. Desde Hillsborough, trinta estádios foram construídos e centenas foram reformados (nesse aspecto, o legado das belas arenas erguidas para a Copa de 2014 pode ser muito bom). Os terraces, habitat favorito dos hooligans, foram preenchidos com cadeiras. Os estádios dos times de primeira e segunda divisões passaram a ter assentos para todos os espectadores.

Aliada à reforma dos estádios, foi criada uma política de prevenção da violência. Em vez de tentar conter os baderneiros depois do início dos confrontos, a polícia passou a identificá-los previamente. Todos os times ingleses tiveram de instalar em seus estádios sistemas de monitoramento por câmeras. Com esse aparato, a polícia faz uma varredura virtual à procura de torcedores brigões. Assim que um hooligan é localizado, é retirado do estádio. O embate entre policiais e torcida foi substituído pelo trabalho discreto de inteligência. Há um oficial escalado para estudar o comportamento dos torcedores de cada clube profissional inglês. Ele informa à polícia a identidade daqueles potencialmente mais perigosos.


AP/Sipapress
Depois da tragédia de Hillsborough (acima), em 1989, a Inglaterra transformou os estádios e a estratégia de policiamento. Recentemente, a Turquia adotou uma política extrema: apenas mulheres e crianças na plateia

Tão ou mais importante do que a mudança nas normas é a efetiva aplicação da lei. Na temporada 2012-2013, houve 2 456 prisões de torcedores. A maioria dessas detenções resultou em Ordens de Banimento do Futebol (FBO, na sigla em inglês). O torcedor que for pego brigando recebe uma FBO e é obrigado a ficar de três a dez anos afastado dos estádios. Para garantir o cumprimento da pena, ele tem de ficar em uma delegacia enquanto seu time joga. Quando a seleção inglesa atua fora do país, o vândalo é obrigado a entregar seu passaporte cinco dias antes do jogo. Quem desrespeita a regra é preso e processado. Simples assim. Basta cumprir a lei.

Países que seguiram o exemplo inglês, como Alemanha e Espanha, também conseguiram controlar seus hooligans. “O exemplo inglês foi decisivo para todo o futebol europeu”, disse a VEJA o alemão Heinz Palme, diretor do Centro Internacional para a Segurança no Esporte. “A Inglaterra reforçou a tese de que, quando a casa está limpa e organizada, os visitantes tendem a mantê-la assim.” Outro país que sofre com brigas nas arquibancadas, a Turquia, inovou. Em 2011, proibiu a entrada de homens adultos como punição a times cuja torcida se envolvesse em brigas. Apenas mulheres e crianças puderam frequentar as arquibancadas. Mas a medida foi inócua. Os homens voltaram e as brigas prosseguiram.

No Brasil, duas questões explicam a violência persistente, cujo ápice se deu na última rodada do Campeonato Brasileiro: as penas brandas previstas no Estatuto do Torcedor e a impunidade. Com isso, crimes graves acabam sem a prisão dos culpados. “A diferença é que no Brasil impera a impunidade. Na Europa, os torcedores também extrapolam os limites, mas são presos”, diz Mauricio Murad, professor de sociologia dos esportes da Universidade Salgado de Oliveira. Um exemplo dessa impunidade foi o banimento, em 1997, das torcidas Mancha Verde (do Palmeiras) e Independente (do São Paulo), que se envolveram em brigas que deixaram mortos. No mesmo ano, os mesmos vândalos voltaram aos mesmos estádios com os mesmos símbolos e as mesmas bandeiras — apenas alteraram o nome e a razão social das torcidas. “Além da impunidade, nos países europeus não existe essa relação promíscua entre clubes e vândalos de torcidas organizadas”, acrescenta Murad. Um exemplo dessa promiscuidade é verificado no Vasco. A direção do clube bancou 75% dos gastos da viagem da torcida Força Jovem a Joinville. Murad faz desde 1999 um levantamento de mortes em brigas de torcidas. E constata que a situação só piora: “Até 2008, a média era de 4,8 mortes por ano. Nos últimos cinco anos, subiu para dezesseis”.

Na quinta-feira passada, uma reunião no Ministério do Esporte foi pródiga em discursos e inócua em medidas concretas. Uma possibilidade em discussão é tirar pontos dos clubes cujos torcedores se envolverem em brigas. Hoje a punição ao clube se limita a fazer com que a partida se realize a uma distância de mais de 100 quilômetros de sua sede — o jogo em Joinville já era uma punição ao Atlético por uma briga anterior dos mesmos torcedores. Na sexta 13, foi definida a punição aos clubes: o Vasco perdeu oito mandos de campo e o Atlético-PR, doze. “O clube teme mais perder 3 pontos do que 3 milhões de reais. A cobrança por 3 pontos será muito mais dura pela torcida em cima dos dirigentes. O dinheiro ele pode pedir emprestado”, disse o ministro Aldo Rebelo. A violência nos estádios é parte da violência da sociedade. Para que ambas sejam enfrentadas, são necessários os mesmos instrumentos: leis duras e seu cumprimento efetivo. Como fizeram os ingleses.



Com reportagem de LESLIE LEITÃO e ALEXANDRE ARAGÃO

COMO VIRAR O JOGO

REVISTA ISTO É N° Edição: 2300 | 13.Dez.13

Às vésperas da Copa do Mundo, terror nas arquibancadas e viradas de mesa nos tribunais mancham a imagem do futebol brasileiro. O que o País pode fazer para mudar esse cenário

Rodrigo Cardoso



BARBÁRIE
Torcedores brigam na partida entre Atlético-PR e Vasco: violência sem-fim

Poucas atividades tiveram um papel tão decisivo na construção da identidade brasileira quanto o futebol. Foi graças a esse esporte que o País se reconheceu como uma nação criativa, vitoriosa e feliz. Nos últimos tempos, porém, o futebol tem servido mais para expor as mazelas nacionais do que para revelar nossas qualidades. No domingo 8, o mundo acompanhou as cenas de barbárie ocorridas na Arena Joinvile, quando torcedores do Atlético-PR e do Vasco protagonizaram uma briga que chocou pelo grau elevado de violência. Junto desse fato, que provocou a interrupção da partida por mais de uma hora, certamente as parabólicas direcionadas para o país-sede da Copa do Mundo de 2014 captaram uma tragicomédia que ainda está em cartaz. O Campeonato Brasileiro, maior competição esportiva do País e um dos mais importantes do mundo, não terminou no campo, como deveria ser – a última rodada aconteceu justamente no domingo 8 –, mas caminha para ser encerrado nos tribunais. Tudo porque o Fluminense, rebaixado nos gramados, entrou com uma ação no Superior Tribunal de Justiça Desportiva, que irá decidir se a Portuguesa, até então livre da queda, teria escalado um jogador irregular em uma partida. Se culpada, a equipe paulista perderá os pontos e o Fluminense se salvará da degola. “Esses dois episódios são nefastos demais para a imagem do Brasil”, diz o sociólogo Maurício Murad, autor do livro “Para Entender a Violência no Futebol”. “O País não se deu conta de que estamos a seis meses da Copa e que fatos assim comprometem a nossa credibilidade.”



Não é a primeira vez que craques de terno e gravata dos tribunais desportivos emergem ao final de uma competição e mudam os desígnios dos gramados com uma simples canetada (leia quadro). Igualmente reincidentes são os lamentáveis casos de briga de torcedores que fazem do Brasil o atual campeão mundial de mortes em confrontos entre torcidas organizadas – são 30 casos fatais apenas neste ano. Às vésperas de 2014, o futebol brasileiro de hoje parece, sob diversos aspectos, estar pior do que em 1950, ano em que o País sediou também uma Copa do Mundo. À época nem sequer havia um campeonato realmente nacional, mas a violência passava longe das arquibancadas. É possível mudar esse cenário? Para muitos especialistas consultados por ISTOÉ, a resposta é sim.

Em primeiro lugar, é preciso analisar o futebol em outros países. Na Inglaterra, no lugar de uma Justiça desportiva institucionalizada, existem comissões disciplinares que, durante os jogos, recebem a súmula, analisam e decidem sobre qualquer irregularidade sempre no mesmo dia. Já por aqui, a lenga-lenga se deve, em boa medida, à falta de estrutura e ao amadorismo do STJD, tribunal que não remunera juízes e auditores nos despachos esportivos. Uma medida simples, e provavelmente eficiente, seria publicar os resultados dos julgamentos em um boletim informativo oficial, que seria repassado aos clubes para que fossem evitadas confusões e suspeitas. Para o advogado Gustavo Lopes Pires Souza, especializado em direito desportivo, a falta de profissionalismo dos clubes também contribui para a ineficiência do STJD, criado há 25 anos para democratizar os julgamentos esportivos. “Muitos clubes pagam alto para os atletas e investem pouco no departamento jurídico”, diz. “Depois acabam prejudicados nesse outro jogo.” Detalhe: o advogado que defendeu a Portuguesa no STJD era terceirizado. “Infelizmente, futebol não se ganha só nos gramados”, diz Souza.



Acadêmicos que estudam o fenômeno da violência de torcidas organizadas defendem que o problema é menos a ausência de leis e mais a generalizada tendência a não cumpri-las. Num mundo ideal, as autoridades envolvidas com o espetáculo esportivo investem na prevenção, a polícia reprime e prende os torcedores violentos e a Justiça os mantém na cadeia. Como fazer esse sistema funcionar? Para especialistas, medidas simples teriam eficácia imediata. Segundo o sociólogo Murad, uma varredura nas redes sociais ajudaria na identificação de delinquentes infiltrados nas arquibancadas. Ele também sugere a criação de um disque denúncia das torcidas organizadas, modelo adotado, por exemplo, nas favelas pacificadas do Rio de Janeiro e que resultou na diminuição da violência.


DIAGNÓSTICO
Falta de estrutura e de maior profissionalismo do STJD explica o
fato de o Campeonato Brasileiro muitas vezes ser decidido no tapetão

Nem tudo é sinônimo de tragédia no futebol brasileiro. Alguns movimentos recentes, como a criação do Bom Senso F.C., apontam para uma transformação positiva. Liderado pelos próprios jogadores, o Bom Senso defende melhores condições de trabalho aos atletas e a gestão profissional do futebol. O barulho feito por estrelas como Paulo André, do Corinthians, e Rogério Ceni, do São Paulo, obrigou a Confederação Brasileira de Futebol a se mexer. Há alguns dias, a entidade anunciou que, a partir de 2015, os campeonatos serão mais enxutos e os jogadores farão menos partidas por ano. É pouco, mas representa um avanço. O desafio maior é dar um cartão vermelho para a violência e para a maracutaia dos tribunais.

Fotos: Sérgio/Lancepress!; ALE SILVA/FUTURA PRESS

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

OPINIÃO: VERBAS DOS CLUBES PARA TORCIDAS ORGANIZADAS


ZERO HORA 13 de dezembro de 2013 | N° 17643


SOBRE ZH


A reportagem especial de autoria de Paulo Germano em ZH de ontem teve grande repercussão entre os leitores, que se manifestaram por e-mail e via Facebook sobre a verba que os clubes liberam para as torcidas organizadas:

Paulo Germano enfocou o tema de uma forma bastante completa. Como gremista, lastimo, mas sei que não é um privilégio do Grêmio, existindo em diversos clubes. Não tenho dúvida de que esse “auxílio-viagem” só propicia que, cada vez mais, tenhamos um aumento da marginalidade nos estádios.

Roberto Costa

Gostei da reportagem. Tive a minha residência quebrada pela Geral no Gre-Nal de 2011. Sou sócio do Grêmio e seguidamente viajo com o clube. Presencio as regalias que essas pessoas possuem, tais como hotel e passagem pagos com recursos do clube.

Sandro Renato Nunes de Souza

O que o Grêmio tem a ver com o conflito das torcidas de Atlético- PR e Vasco? Isso é oportunismo. Aproveitou gancho dos atritos de tempos atrás na Arena. Expor até os documentos do repasse dos valores pagos à torcida interessa a quem? O Grêmio é uma instituição pública, bota o dinheiro onde bem entender.

Paulo Albuquerque

Mesmo se for verdade tudo isso, os torcedores que levam essa torcida deixam tudo de lado para viver essa vida. Vai procurar algo de interesse do torcedor do Grêmio em vez de criar um tumulto.

Diego Gomes Berlato

Parabéns pela reportagem acerca dos repasses financeiros feitos à torcida Geral do Grêmio. Estelionato contra o associado do clube. A investigação vai muito além dos pátios do Grêmio, penso que há muita coisa suja e delituosa por aparecer.

Thiago Lorenzom

Parabéns pela matéria sobre a Geral do Grêmio. É realmente isso que acontece. A venda de ingressos (boa parte deles gratuita) e de lugares nos ônibus, seja Gauchão ou Libertadores. Continuem trabalhando para que marginais sejam banidos dos estádios.

Jonathan Cardoso Machado

Registro minha indignação com essas despesas para as torcidas organizadas. Só causam prejuízos à imagem dos clubes. É uma vergonha.

Laércio Rita

Sensacional a reportagem sobre as torcidas organizadas. A entrevista com Paulo Odone foi corajosa e chocante. Trabalho brilhante!

Everton Oliveira

Sinceramente, é um tapa de luvas em quem diz sempre que a RBS é gremista. A reportagem foi corajosa e a entrevista sem floreios. Haverá uma sobre o Inter?

Rodrigo Jacques

Grande reportagem, mostra que a “torcida” Geral do Grêmio é uma máfia que era (ou é) fomentada pelo próprio Grêmio, o que é lamentável. Como gremista, me preocupa a infiltração dessa torcida. Daqui a pouco, podemos estar passando pelos mesmos problemas que o River Plate tem, onde as torcidas organizadas estão dominando o clube e até concorrendo à presidência em meio a brigas e mortes.

Marcelo Leal

Parabéns ao Paulo Germano, que fez uma das raras grandes reportagens da imprensa esportiva gaúcha nos últimos anos. Seria bom ver também o que acontece lá no Internacional (e digo isso sendo colorado).

João Carlos Ferreira da Silva

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

TORCIDA GANHA FORÇA POLÍTICA A CADA ELEIÇÃO


ZERO HORA 12 de dezembro de 2013 | N° 17642


VERBA DA TORCIDA


Nunca uma torcida organizada foi tão influente no Estado como a Geral do Grêmio. Capaz de decidir votações no Conselho Deliberativo, o crescimento político da Geral desperta cada vez mais interesse entre postulantes à presidência do clube.

Os dois principais líderes da torcida, Alemão e Bruno Cabeludo, se elegeram conselheiros do Grêmio em setembro – outros 13 membros da organizada também têm cadeira no colegiado. Eles formam o Movimento Grêmio da Torcida (MGT), idealizado por expoentes da Geral que buscam poder de decisão dentro do clube. No último pleito, o grupo definiu a votação para a presidência do Conselho: Milton Camargo só venceu César Pacheco por 13 votos graças ao apoio do MGT.

Atual presidente do Grêmio, Fábio Koff sofreu oposição contumaz da organizada ao se candidatar ao cargo, no fim do ano passado, quando a torcida fez campanha pela reeleição de Paulo Odone. Em 14 de outubro de 2012, antes de um jogo contra o Botafogo, integrantes da Geral impediram que Koff circulasse pelo pátio do Olímpico para interagir com eleitores.

Líderes da organizada contam que a estratégia era segurar o candidato no pórtico de acesso ao estádio, onde provocaram uma troca de socos com apoiadores do futuro presidente. Seis dias depois, na véspera da eleição, cartazes ofensivos contra Koff espalhados pelo entorno do Olímpico acirraram o clima. Bastou o novo presidente assumir para os subsídios repassados à Geral nos tempos de Odone serem cortados.

– Não usamos dinheiro do caixa do Grêmio. Em algumas ocasiões, aproximamos as organizadas de patrocinadores que oferecem ônibus em troca de banners nos veículos – diz o vice-presidente Nestor Hein.

Após trégua, grupos voltaram a se enfrentar

Esse mergulho na política do clube contribuiu para a Geral rachar em dois grupos. Enquanto Alemão se dedicava desde 2005 a uma campanha interna para integrantes da organizada se associarem ao Grêmio – e, dessa forma, fortalecer o grupo votante nas eleições –, o número 2 da torcida, Cristiano Roballo Brum, o Zóio, não queria saber de política e continuava reivindicando ingressos gratuitos da direção.

– A nossa rapaziada, liderada pelo Alemão, nem precisava mais dos ingressos porque a maioria já era sócia. E os nossos conselheiros começaram a enfrentar dificuldades dentro do clube. “Vocês já ganham pilhas de ingressos e vêm reivindicar mais coisas no Conselho?”, diziam. Só que a turma do Zóio, que é um pessoal mais pobre, de vila, não queria pagar mensalidade, queria viver dos ingressos para sempre – conta um membro da Geral.

O ápice da desavença eclodiu na inauguração da Arena, em 8 de dezembro de 2012, quando Zóio comandou uma pancadaria na arquibancada. Em janeiro deste ano, ele invadiu a casa de Alemão – e, três semanas depois, os dois grupos se enfrentaram no entorno do Olímpico, em uma selvageria que terminou com 31 torcedores proibidos de frequentar estádios.

Embora Zóio esteja afastado da organizada, as duas alas da Geral seguem promovendo tumultos. Na noite de 6 de novembro, antes de Grêmio x Atlético-PR, dezenas de torcedores entraram em confronto e destruíram, com garrafadas e pedradas, parte da fachada do Bar Preliminar, onde se reuniam os aliados de Zóio. Uma funcionária do estabelecimento, na época grávida de oito meses, passou mal:

– Quebraram tudo. Eu fiquei em estado de choque, minha pressão baixou muito. E ouvi os caras comentando que aquilo era só o começo.



VERBA DA TORCIDA


ZERO HORA 12 de dezembro de 2013 | N° 17642


PAULO GERMANO


Dinheiro farto para organizada



Na Geral do Grêmio, houve quem deixasse de trabalhar para viver do dinheiro repassado pela administração de Paulo Odone, presidente do clube até o fim do ano passado. As torcidas organizadas receberam R$ 1,1 milhão em 23 meses. Nenhuma foi mais beneficiada do que a Geral, cujos líderes assinaram os recibos espalhados por estas páginas ao buscar dinheiro no Estádio Olímpico.

Entre 19 de janeiro de 2011 e 21 de dezembro de 2012, a direção do Grêmio entregou R$ 1,1 milhão para líderes de torcidas organizadas. Mais de 85% do montante foi para os cofres da Geral, dividida no ano passado em dois grupos que se mantêm em guerra até hoje.

Documentos obtidos por Zero Hora comprovam pela primeira vez que um clube gaúcho abasteceu torcidas com subsídios que, em média, passavam de R$ 45 mil por mês. O dinheiro era suficiente para que alguns expoentes da Geral abdicassem de trabalhar e vivessem à custa do repasse de verbas. Afinal, nunca a direção do Grêmio – comandada na época por Paulo Odone – exigiu qualquer prestação de contas ao entregar dinheiro vivo às torcidas.

– Ao oferecer valores às organizadas, o clube fomenta entre os líderes das torcidas uma disputa pelo dinheiro. E com frequência esses líderes apelam para a violência como forma de impor sua autoridade – afirma o promotor José Francisco Seabra Mendes Júnior, da Promotoria do Torcedor do Ministério Público.

Embora na tesouraria do Grêmio a justificativa para os gastos fosse “despesa de viagem da torcida”, os chefes da organizada tinham liberdade para usar o dinheiro como quisessem. Parte dos recursos, em vez de ser destinada à contratação de ônibus que transportariam torcedores para acompanhar o time fora de Porto Alegre, costumava ser embolsada por líderes da Geral.

– Era a nossa forma de viver. Achávamos justo que uma parte da grana ficasse conosco, até para podermos nos sustentar – assume Cristiano Roballo Brum, o Zóio, 33 anos, que até o ano passado ocupava o posto de número 2 na hierarquia da organizada.

Em entrevista no dia 6 de dezembro, Zóio afirmou que o lucro era partilhado entre dois líderes de cada grupo da Geral: de um lado, Rodrigo Marques Rysdyk (o Alemão, 35 anos, líder maior da torcida) e seu braço direito, Bruno Pisoni Garcia, o Bruno Cabeludo, 31 anos. De outro, o próprio Zóio e seu aliado mais próximo, Rodrigo Furtado Pedroso, o Dicaprio, 32 anos.

Alemão e Bruno, embora admitam que recebiam dinheiro do Grêmio com frequência, negam ter usado para fins pessoais alguma verba do clube (leia entrevista na página 6). Ao consultar documentos referentes à última gestão de Odone na presidência, ZH apurou que R$ 310,4 mil foram repassados às organizadas em 2011 e outros R$ 787,2 mil foram entregues em 2012.

Às vésperas de jogos do Grêmio fora de casa, Alemão se apresentava na Central de Relacionamento do Estádio Olímpico para buscar maços de reais acomodados em envelopes pardos. Antes de deixar o estádio com quantias que podiam variar de R$ 2 mil até R$ 60 mil, ele assinava recibos – nove deles ilustram esta reportagem.

Foi Paulo Odone quem inaugurou no Grêmio a política de entregar dinheiro vivo às torcidas. Nas gestões anteriores, no máximo o próprio clube contratava ônibus para as organizadas se deslocarem. Atualmente, na administração de Fábio Koff – eleito no fim do ano passado sob forte oposição da Geral, que fez campanha pela reeleição de Odone –, o repasse de verbas está cortado.

– Nos parece claro que a distribuição indiscriminada de benefícios estimula a criação de feudos poderosos dentro das torcidas – avalia Nestor Hein, vice-presidente de Koff responsável pelo relacionamento com as organizadas.

Boa parte das excursões da Geral para fora do Estado era planejada por Zóio, que mais tarde se tornaria inimigo público de Alemão – em janeiro deste ano, um mês após a pancadaria entre os dois grupos rivais na inauguração da Arena, Zóio invadiu a casa do adversário, em Canoas, para um acerto de contas à base de socos e cadeiradas.

A Zero Hora, simpatizantes da organizada que viajavam com a torcida garantiram ter pago entre R$ 20 e R$ 40 por um lugar nos ônibus – o preço variava de acordo com a importância do jogo. Seria, portanto, mais uma forma de a Geral lucrar. As vendas de assentos ocorriam no antigo Bar dos Borrachos, na Avenida da Azenha.





ENTREVISTA - “Não era para fazerem o que quisessem com o dinheiro”


Presidente do Grêmio entre 2011 e 2012, período em que as organizadas receberam do clube R$ 1,1 milhão – mais de 85% desse valor foi repassado à Geral –, Paulo Odone diz que preferia dar dinheiro a contratar ônibus para a torcida viajar. O motivo: não envolver o Grêmio em eventuais incidentes nas excursões. Ele admite, no entanto, que recebia denúncias alertando sobre a forma como líderes da Geral usavam os recursos.

Zero Hora – Sobre o dinheiro repassado à Geral do Grêmio durante a sua gestão...

Paulo Odone – (Interrompendo) Não tenho esses dados, não tenho esses números. Não fiz nada além de repetir o que era feito na gestão do Duda (ex-presidente Duda Kroeff, que comandou o Grêmio no biênio anterior).

ZH – Na verdade, o que o senhor manteve em relação à gestão de Duda Kroeff foi a quantidade de ingressos repassada para a Geral. Mas dinheiro vivo na mão dos líderes da torcida, isso não havia antes.

Odone – Olha aqui. Em vez de o Grêmio locar um ônibus para a torcida viajar – e assumir a responsabilidade sobre eventuais danos ao veículo –, preferia que o dinheiro fosse dado a eles (líderes das organizadas), para que a responsabilidade ficasse por conta deles. Então, essa diferença é um detalhe. Não vou concordar com a informação de que eu dava dinheiro e o outro (Duda Kroeff) não dava. A questão é a seguinte: a gestão anterior dava condições para a torcida viajar ou não?

ZH – A questão é que nem todo o dinheiro repassado à Geral pela sua gestão era investido nas viagens. O senhor sabia que líderes da torcida embolsavam parte dos recursos?

Odone – Não era para eles fazerem o que quisessem com o dinheiro. Às vezes, me diziam: “Olha, os caras pegaram o dinheiro dos ônibus e não usaram”. Mas é a mesma coisa com viagem de avião. Uma vez, (os líderes da organizada) me pediram dinheiro para oito caras irem a Minas Gerais, em uma semifinal que ocorreu lá. Alguém depois veio dizer: “Não foram oito, foram só dois líderes, e o dinheiro de seis (passagens) eles pegaram”. Houve essa acusação.

ZH – E o senhor não se sentia lesado, enganado?

Odone – Isso eram denúncias que chegavam a posteriori. Nunca ninguém me disse “olha, está acontecendo isso” ou “vai acontecer”. Mas, (contratar ônibus para transportar a torcida) em nome do Grêmio, eu não quis mais fazer. Porque houve uma vez em que a polícia parou um ônibus (que transportava a Geral e foi apedrejado) lá em Curitiba. Eu disse: “Não envolvo mais o Grêmio. O Grêmio não aluga mais ônibus”.

ZH – O senhor nunca pensou que esse dinheiro poderia provocar uma disputa interna entre os líderes da torcida?

Odone – Vou dar um exemplo. Quando tem Gre-Nal no estádio do Inter, o Grêmio recebe cortesias (ingressos gratuitos) e repassa para suas organizadas. Quando o Gre-Nal é no estádio do Grêmio, o Inter ganha cortesias e faz a mesma coisa. Eles (líderes da Geral) pediam mil ingressos – e eu não aceitava, eu dava menos, dava 400. O que eles faziam? Eles vendiam parte dos ingressos para pagar a banda que toca com a torcida. Não sei se tu sabes, mas os caras que tocam instrumentos cobram dinheiro, tanto nas torcidas do Inter quanto nas do Grêmio.

ZH – Então o senhor sabia, ao dar ingressos para a Geral, que eles vendiam parte dos bilhetes?

Odone – Quando dava bronca, eles diziam: “Pô, mas nós temos que pagar a banda”. Eu dizia: “Mas como assim?” E isso sempre ocorreu na gestão anterior (de Duda Kroeff) também. Por isso que ocorrem essas brigas. Na inauguração da Arena, eles brigaram com os caras da banda. (Zero Hora apurou que a briga ocorreu entre os dois grupos rivais da Geral; um liderado por Alemão, outro por Zóio). Foi uma briga interna deles.

ZH – Mas, fora esses valores dos ingressos vendidos, eles recebiam da sua gestão dinheiro vivo.

Odone – Mas acho que isso, de darmos dinheiro e eles não usarem (na contratação dos ônibus), ocorreu muito poucas vezes. Eles (líderes da Geral) nos apresentavam os valores dos ônibus para viajar, e a gente pesquisava preços menores. Acabávamos dando metade do que eles pediam. Sempre foi feito isso.

ZH – Mas o senhor sabia que havia brigas internas por causa do acesso ao dinheiro?

Odone – Briga acontece por tudo. Disputa de poder, de liderança, de tudo. Pelo amor de Deus, faz uma matéria completa. Mergulha lá dentro que tu vais ver.

ZH – Mergulhamos. Dinheiro representa poder e liderança.

Odone – Se eles ficaram com algum dinheiro, foi muito pouco. Porque ninguém dava dinheiro a rodo para eles comprarem as coisas.

ZH – Acha que R$ 1,1 milhão em dois anos é pouco?

Odone – Tu estás trazendo um número que eu não conheço. Queres que eu me meta lá dentro, na direção do Grêmio, para olhar? Os caras (da atual gestão, do presidente Fábio Koff) me acusam de tanta coisa, e eu vou lá olhar isso? Entrevista o contador do Grêmio.

ZH – Mas a contabilidade do Grêmio vai mostrar R$ 1,1 milhão em dois anos.

Odone – Não sei dessas coisas! Eu tinha que me preocupar com o macro do Grêmio e com o esporte. Já chega o que a gente se incomoda com esse troço de torcida. Agora vou fiscalizar se o cara desviou 200 pilas, 200 mil, 600 mil? E tu dizes: “Foi R$ 1,1 milhão, presidente”. Porra, eu passei 10 anos tirando o Grêmio do buraco! Eu não conheço esses números.



ENTREVISTA - “Me sustento com trabalhos temporários”


Rodrigo Rysdyk, líder da Geral conhecido como Alemão (à direita na foto), reconheceu sua assinatura nos recibos do Grêmio que comprovam o repasse de verbas à organizada durante a gestão Odone. Garantiu, no entanto, jamais ter embolsado parte do dinheiro. Acompanhado de Ney Martins Neto – que, como ele, é conselheiro do clube, além de membro da Geral –, Alemão comentou os confrontos com o grupo de Zóio (à esquerda).

Zero Hora – Todo o dinheiro que a Geral recebia da gestão Paulo Odone era investido nas viagens?

Rodrigo Rysdyk, o Alemão – Sim, óbvio.

Ney Martins Neto – Se sobrasse alguma coisa, a gente comprava cerveja, lanche. Ou deixava no caixa da torcida, mandava fazer material, arrumava uma bandeira.

ZH – Como você se sustenta?

Alemão – Trabalhei desde pequeno na empresa do meu avô: separava e carregava sucata o dia todo. Até que, em 2004, um assaltante entrou lá e matou meu avô. Os amigos que fiz na torcida nunca me deixaram na mão. Me ajudaram com um bico aqui, um trampo ali, até com dinheiro. Me sustento com trabalhos temporários.

ZH – Zóio afirma que o dinheiro que sobrava das viagens era dividido entre quatro líderes: você, Bruno Cabeludo, Dicaprio e o próprio Zóio.

Alemão – É mentira, não tem como fazer isso. Eu seria afastado da torcida. Se ele (Zóio) fez isso, então foi má-fé dele, não minha. Eu sempre fiz o correto.

ZH – Não foi por dinheiro a briga entre vocês?

Alemão – Se houve disputa por dinheiro, foi por parte deles. Da minha parte, nunca houve.

ZH – O que faziam com o dinheiro dos ingressos que a direção dava e vocês vendiam?

Alemão – Quando o clube não nos dava subsídio para viagens, usávamos para acompanhar o Grêmio. Parte do dinheiro era para confeccionar materiais e gerar um fluxo de caixa para manter a torcida. A direção sabia.

ZH – Nas viagens, vocês faturavam vendendo lugares para torcedores dentro dos ônibus?

Alemão – A gente cobrava um valor simbólico, uns R$ 20, para o cara não faltar. Porque, se ele botasse o nome na lista e faltasse, tirava o lugar de outro. Precisávamos encaminhar a lista com antecedência para a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres). Mas, no fim das contas, todo mundo entrava sem pagar.

ZH – Por que vocês exigem dinheiro do clube?

Alemão – O Grêmio usa a imagem da torcida. Fotos da Geral estampam produtos, como cadernos. A campanha para associar torcedores, passando de 3 mil para 40 mil sócios, foi a torcida que fez. A receita do Grêmio aumentou. Gastos com torcida têm retorno para o clube.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

BRASILEIRO CULPA TORCIDAS ORGANIZADAS POR VIOLÊNCIA NO FUTEBOL


Pesquisa mostra que brasileiro culpa torcidas organizadas por violência no futebol. Dos mais de 8 mil entrevistados, 84,5% apontam as uniformizadas como responsáveis por casos. Em segundo aparece o poder público/segurança pública, com 8,4%. Entrevistas foram realizadas em novembro, antes do confronto entre torcedores do Atlético-PR e Vasco

O GLOBO
Atualizado:10/12/13 - 20h09




RIO - A violência nos estádios de futebol não é um assunto novo no Brasil. Antes do confronto entre torcedores do Atlético-PR e Vasco, em Joinville, a Stochos Sports & Entertaiment realizou pesquisa sobre o tema. Nela, 84,5% dos entrevistados apontam as torcida organizadas como responsáveis pela violência no futebol. Em segundo lugar, com 8,4% aparece o poder público/segurança pública. A pesquisa foi realizada em novembro e ouviu 8.112 entrevistados, entre torcedores de 16 e mais de 60 anos. A margem de erro é de 1,1%.

Para o advogado especialista em Direito Desportivo e Secretário da Comissão de Direito Desportivo da OAB, Eduardo Carlezzo, só punições aos envolvidas em brigas em estádios de futebol poderá mudar o atual cenário.

- Embora o Estatuto do Torcedor desde 2010 criminalize os atos violentos praticados por torcedores dentro dos estádios, está claro que isto não está surtindo efeito e que a violência não está diminuindo. Creio que dois motivos são fundamentais: amenidade das penas e falta de fiscalização e articulação entre polícia e judiciário. Precisamos urgentemente de endurecimento das penas e planos de segurança para o combate da violência por parte dos órgãos públicos - afirmou Carlezzo.

Entre os torcedores cariocas, a porcentagem de pessoas que culpam as torcidas organizadas é menor do que a média nacional. Entre os torcedores do Botafogo, 82,5% culpam as organizadas. O número é de 81,% entre os vascaínos, 81,1% entre os rubro-negros e 78,4% entre os tricolores. Na torcida do Atlético-PR, 82,3% apontam para as torcidas organizadas como principais culpadas. O líder do ranking é o Atlético-MG, com 89,4%.

ARENAS DA BARBÁRIE


FOLHA.COM 11/12/2013 - 03h30


Editorial




Só a firme e tempestiva punição a episódios de violência nos estádios será capaz de evitar que o país assista a novas barbáries em praças esportivas, tais como a protagonizada por torcedores de Atlético-PR e Vasco, em Joinville (SC).

Ainda que seja um bom primeiro passo o Ministério Público do Paraná ter decidido, ontem, proibir uma torcida organizada do Atlético-PR de frequentar estádios brasileiros pelo prazo de seis meses, a iniciativa é muito tímida.

Salvo três vascaínos detidos, os delinquentes que participaram da confusão --facilmente identificáveis pelas numerosas imagens disponíveis-- continuam impunes. Poderão voltar às arenas na primeira oportunidade, desde que não vistam camisa da organizada.

A necessidade de punir os vândalos de forma individual não escapou a Cidinei Batista da Silva, cujo filho, William, envolveu-se na briga e teve o crânio fraturado. "Mesmo sendo vítima, ele estava no meio daquilo tudo. (...) Se fez algo errado, vai responder por isso", declarou o pai.

Em relação à selvageria de domingo, é preciso ir além. Autoridades públicas e dirigentes esportivos também precisam ter suas responsabilidades apuradas. Já se sabe, por exemplo, que a troca de hostilidades entre as torcidas foi favorecida pela inexistência de policiamento militar no local do jogo.

Cerca de 90 agentes de segurança contratados pela diretoria do Atlético-PR --mandante da partida-- ficaram incumbidos de zelar pela integridade física dos 8.978 torcedores pagantes da disputa.

Não foi o suficiente, como se viu. As cenas brutais do confronto foram amplamente divulgadas na imprensa internacional como demonstração da falta de segurança nas praças esportivas do país-sede da Copa do Mundo de 2014.

Na década de 1980, Bill Buford, jornalista americano, imergiu no universo dos hooligans britânicos. De sua experiência resultou o livro "Entre os Vândalos", no qual afirma que a violência apresenta-se à massa de torcedores como um caminho extremamente sedutor.

Apesar da conclusão desoladora, o Reino Unido conseguiu reprimir, na década de 1990, a barbárie nos estádios. Para tanto, foram fundamentais a responsabilização penal dos envolvidos em brigas generalizadas e o seu banimento dos locais de jogos.

Sem que se feche o cerco aos irresponsáveis, não há como dar fim à violência. O Brasil precisa aprender essa lição a tempo de evitar tragédia de maiores proporções.

HORA DO BASTA



Remédio contra a violência já existe: é a lei federal 10.671, mais conhecida como Estatuto do Torcedor, aprovada em 2003. Nela estão previstas normas detalhadas

FLAVIO ZVEITER
O GLOBO. Publicado:10/12/13 - 0h00



Em 2013, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) puniu com perda de mando de campo mais de 30 clubes que disputaram as séries A, B, C e D do campeonato brasileiro, promovido pela CBF. A perda de mando é a pena mais grave prevista contra os clubes condenados em consequência de atos violentos ou desordens cometidas por torcidas dentro dos estádios.

A estatística recorde de sanções disciplinares impostas pelo STJD é o retrato de uma situação vergonhosa. O futebol brasileiro já foi sinônimo de arte e alegria; agora é associado a violência, selvageria, pânico, sangue...

No que compete ao STJD, que zela pelo cumprimento do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, estamos agindo com rigor. Mas, infelizmente, a Justiça Desportiva atua como uma espécie de UTI, no fim de um processo infeccioso. Para que seja debelada a contaminação dos campeonatos pelo vírus da violência precisa haver sobretudo prevenção.

O remédio contra a violência já existe: é a lei federal 10.671, mais conhecida como Estatuto do Torcedor, aprovada em 2003. Nela estão previstas normas detalhadas para espetáculos esportivos civilizados. Se todos os órgãos públicos e entidades esportivas cumprirem o Estatuto, o mal da violência nos estádios será cortado pela raiz.

O Estatuto do Torcedor pune infrações cíveis e criminais cometidas num raio de até cinco quilômetros em torno e dentro do local dos eventos. Compete ao STJD aplicar o Código Brasileiro de Justiça Desportiva com penas específicas em relação aos organizadores e participantes do jogo, como confederação, federações, clubes, atletas e árbitros.

Temos consciência de que o STJD também é ator importante no combate à desordem e à violência. Temos sido céleres e rigorosos nos processos disciplinares, aplicando multas e mandos de campo em volume inusitado. Nossa ação já obrigou alguns clubes mais responsáveis a tomarem iniciativas corretivas.

Acatando nossas recomendações, a CBF acaba de aprovar para 2014 um Regulamento Geral das Competições (RGC), com previsão de pena de mando de campo mais rigorosa. A partir de agora, a perda de mando pode ocorrer com portões fechados, sem torcida.

Os fatos repetidamente comprovam que os maiores responsáveis pelos atos violentos são integrantes de torcidas organizadas. São marginais, bandidos que tumultuam os jogos e colocam em risco as vidas de pessoas. A prevenção e repressão, segundo a lei vigente, compete principalmente aos órgãos policiais, ao MP, ao Poder Judiciário e aos clubes.

Os casos de violência deixaram de acontecer no Rio de Janeiro basicamente por duas razões: nos estádios funcionam juizados especiais criminais, permitindo a condenação imediata do torcedor violento; e a PM tem um batalhão especializado para atuação nos grandes eventos.

Esse exemplo deveria ser seguido em todos os estados brasileiros, exigindo uma articulação nacional, capitaneada pelo governo federal, com participação do Conselho Nacional do Ministério Público e do CNJ.

A barbárie que ocorreu no último jogo da série A do campeonato brasileiro de 2013, entre Vasco e Atlético Paranaense, pode ser o ponto de partida para um basta definitivo.



COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Sim, "remédio contra a violência já existe", mas não se pode esquecer que a "lei federal 10.671, mais conhecida como Estatuto do Torcedor" de 2003, onde estão "previstas normas detalhadas", são como a outras leis "rigorosas" no Brasil, ineficazes, inoperantes e inaplicáveis. No Brasil, criam-se facilmente leis nas crises e no imediatismo, sem observar as benevolências previstas pela constituição e a falta de sistema, estruturas, recursos, harmonia entre poderes, comprometimento com o interesse público e vontade política em executar e aplicar estas leis. É o que ocorre com o Estatuto do Torcedor de 2003, transformado num analgésico de efeito transitório em que o uso abusivo (ou não uso adequado) pode provocar efeitos colaterais, o que já está ocorrendo ao estimular a impunidade.

A BARBÁRIE QUE SE REPETE


Vai explicar como aqui é possível realizar jogos de futebol decisivos sem a presença da polícia. E que se pode entrar no estádio com uma barra de ferro com prego na ponta

ZUENIR VENTURA
O GLOBO Publicado:11/12/13 - 0h00



No momento em que corre o mundo o exemplo de Nelson Mandela, revelando até onde pode ir a grandeza humana — a tolerância, a capacidade de perdoar, o espírito pacifista —, é justamente nesse momento que o Brasil resolveu exportar o oposto do que o líder sul-africano pregou. As imagens do que se passou aqui, domingo, num estádio de futebol, constituem uma pequena mostra do que de pior é capaz o gênero humano: a violência selvagem, o fanatismo, a barbárie, a covardia. A imprensa estrangeira, com espanto, não escondeu a preocupação com o que pode acontecer daqui a seis meses. Só faltou repetir o bordão com que há algum tempo expressamos nossa incerteza e pessimismo: “Já imaginou na Copa!” Se nada for feito, o espetáculo que transformou a arquibancada da Arena Joinville num octógono de MMA, com vários lutadores se agredindo durante mais de uma hora, vai se repetir.

Pena que aquele show de fúria assassina tivesse acontecido numa cidade que chama a atenção pela qualidade de vida e pela civilidade de seu povo, ostentando um alto IDH — entre 2000 e 2010, o indicador que mais cresceu foi o da educação. Vai explicar como aqui é possível realizar jogos de futebol decisivos sem a presença da polícia. E que se pode entrar no estádio com uma barra de ferro com prego na ponta, como fez um dos trogloditas que aparece espancando alguém caído no chão desacordado, sem falar em outro absurdo, o de que apenas três dos envolvidos nos vários conflitos acabaram detidos.

De quem a culpa? A PM alega que é do Ministério Público, que teria proibido a presença de policiais na Arena. Já o promotor Francisco de Paula Fernandes Neto disse que houve “erro de interpretação” e que a responsabilidade é de quem organiza, portanto, do Atlético-PR, que, por sua vez, acusou a empresa de segurança contratada, a qual disse ter advertido o clube para a insuficiência do número solicitado de 20 homens. Ou seja, um empurra-empurra em que cada um teve a sua parte.

Pela repercussão que ganhou, graças às contundentes imagens, o vale-tudo de Joinville mobilizou o governo que, da presidente ao ministro do Esporte, passou a exigir um basta para essa antiga praga do futebol. Legislação prevendo punição não falta, falta cumpri-la. Por exemplo: um dos três vascaínos presos agora é o mesmo que, acusado em 2007 da morte de um torcedor do Flamengo, ficou três meses na cadeia, mas escapou da condenação. Como afirma o comandante do Grupamento Especial de Policiamento de Estádios do Rio, João Fiorentini, “o clube é que dá o ingresso para o torcedor violento ir aos estádios”. O que os cartolas têm a dizer sobre a repetição dessas cenas de barbárie e a reincidência dos que as praticam?

FUTEBOL SOFRE A MAIOR TRAIÇÃO, A VIOLÊNCIA


JORNAL DO COMÉRCIO 11/12/2013


Alexandro Correa Lopes


O campeonato brasileiro de futebol encerrou-se neste domingo com um episódio preocupante – a violência sistemática dentro e fora dos estádios de futebol. Isso é algo de enorme gravidade, posto que revela a inação do poder público quanto a uma das prerrogativas fundamentais do cidadão em um Estado de Direito, a segurança pública. Outro aspecto que deve ser apontado é a ausência de comunicação ou interligação entre os entes do poder público, responsáveis por esse dever constitucional.

A Constituição Federal dispõe, em seu artigo 144, que “A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: V – policiais militares e corpos de bombeiros militares”. Aqui, em especial, trata-se da obrigação de prestar um serviço essencial à sociedade, no sentido de praticar policiamento ostensivo e preservar a ordem pública, além de executar atividades de defesa civil, sem qualquer distinção ou determinação de lugar ou destinatário do serviço. Vale relembrar um debate originado há poucas semanas, a respeito de uma pretensa cobrança, por parte da Brigada Militar perante os clubes de futebol da Capital, para estar presente nas arenas de disputas, sob o pretexto de qualificar as partidas de futebol como evento privado.

É primordial desmistificar essa premissa para não chegarmos a uma conclusão equivocada. Evento público ou privado não se concebe pela cobrança do ingresso, todavia, pela especificidade dos seus participantes. Isso é, um evento esportivo é classificado como público, pois qualquer pessoa que tenha um ingresso (pago ou não) pode ser participante, enquanto um evento privado está investido do critério seletivo dos seus convidados, como uma celebração de casamento, uma colação de grau, um festival de cinema etc. Portanto, a única razão apresentada pelos referidos entes públicos na mídia não é argumento suficiente para isentar o Estado como maior responsável, por meio dos seus diversos escalões, por este fenômeno lastimável que presenciamos há anos.

Advogado e consultor desportivo