segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

CERTIFICADO DE PROFESSOR COMPRADO





ZERO HORA 15 de dezembro de 2014 | N° 18014


CARLOS ROLLSING MAURÍCIO TONETTO


O SUBMUNDO DAS LUTAS. CERTIFICADO DE PROFESSOR CUSTA R$ 1.448



SEM NUNCA TER treinado, repórter de ZH negociou e comprou um grau preto, o que possibilita o atleta a se tornar professor de muay thai. Esta é a segunda reportagem da série O Submundo das Lutas, que começou ontem e se encerra amanhã, retratando fragilidades flagradas em campeonatos e em federações de artes marciais.


Não apenas os campeonatos de MMA e muay thai servem como fonte de arrecadação para federações e professores, como mostrou reportagem de ontem de ZH. A venda de graus (faixas) para transformar iniciantes em instrutores, professores ou mestres é prática corriqueira, que faz circular dinheiro.

Amparados pelas facilidades da Lei Pelé, donos de academias e de associações se juntam e fundam federações para si. Apenas no Rio Grande do Sul, existem pelo menos seis entidades de muay thai e duas de MMA.

– O inchaço ocorre pela falta de legislação específica. Pessoas não qualificadas estão abrindo federações, achando que, com isso, podem sair dando certificados ao deus-dará. São entidades que se preocupam simplesmente com a arrecadação de valores – afirma Enildo Pacheco, presidente da Federação Gaúcha de Muay Thai Tradicional.

Para o lutador Thiago “Minu” Meller, atleta do Bellator, segundo maior evento de MMA do mundo, a situação das artes marciais é “preocupante”.

– Hoje em dia, é muito fácil ter uma federação – avalia Minu.

Em quatro das seis federações de muay thai oficializadas no Estado, a reportagem de ZH negociou a compra de diferentes graus que autorizam pessoas a dar aulas, formar equipes e promover graduações.

Numa delas, a reportagem levou a transação até o final e obteve, depois de seis dias de conversas por e-mail e telefone, o certificado de grau preto, acessível somente aos professores com anos de experiência. O documento, que custou dois salários mínimos (R$ 1.448), foi assinado pelo presidente da Federação de Muay Thai do Rio Grande do Sul (FMTRS), Éderson Galvão, para “Carlos Braga”, nome usado por ZH na negociação.

O prajied – como se chama a faixa no muay thai – foi adquirido sem qualquer exame de conhecimento da luta e da filosofia oriental. Não foi preciso nem sequer um encontro pessoal entre o comprador e Galvão. Nas conversas, o repórter ponderou que já dava aulas da modalidade e treinava havia anos, mas não tinha nada que comprovasse o trabalho.

– Exame para a preta é dois salários mínimos. O que eu poderia fazer pra ti: eu não vou te examinar, tu já dá aula, já tá há tempo aí trabalhando. Tu pagaria essa equiparação de dois salários mínimos, e a gente mandaria a certificação – disse Galvão.

Em 3 de dezembro, foi feito o depósito na conta bancária indicada por Galvão. Minutos depois, um “alvará” da FMTRS chegou por e-mail, autorizando “Carlos Braga a ministrar aulas de muay thai como grau preto – treinador na cidade de Caçapava do Sul”, município em que o repórter disse que residia e trabalhava. A opção pela cidade foi aleatória.

Assim, o jornalista, que desconhecia qualquer técnica da luta, tornou-se apto a formar turmas, contando inclusive com apoio jurídico da FMTRS.

– Por exemplo: um aluno teu se machucou e vai te processar ou alguém quer pensão. Temos um advogado à disposição – afirmou Galvão.

Logo depois, ele introduziu na conversa o tema dos eventos. Quando alguém adquire a condição de professor, fica vinculado à entidade e passa a integrar um circuito de atividades que geram renda. Para se manter vinculado, existe a obrigatoriedade de participar de cursos de arbitragem, competições e graduações.

– A gente tem o estadual, brasileiro, mundial, sul-americano. Olha, tu vai ter algumas coisas para oferecer aos teus alunos. Todo mês fazemos alguma coisa. Tu vai dizer: ‘bah, mas são dois salários mínimos (o grau preto)’. Mas é um investimento. Se tu tem cem alunos hoje, eles vão ver que tem isso e aquilo para fazer, e vai vir mais gente – ensinou Galvão.

Na última terça-feira, a reportagem foi até Cidreira, na academia de Galvão, para buscar o prajied grau preto, o alvará, o certificado, o calendário de eventos da federação e uma apostila. Além de incentivar o mais novo professor de muay thai a realizar competições com o apoio da entidade, o presidente da FMTRS orientou a fazer graduações de alunos trimestralmente. Essas promoções de faixa podem gerar arrecadações de até R$ 180 por lutador.

– Até azul claro (sexto prajied na federação de Galvão), tu pode fazer a cada três meses. Tu tem um percentual de 50% de cada aluno – disse, indicando que o “repórter-professor” ficaria com a metade do valor pago por atleta para se graduar.

Outra negociação foi feita com o mestre Giovani Máximo, diretor-técnico da Federação Riograndense de Muay Thai (FRMT). Depois de dizer que não tinha nenhum documento para provar que havia treinado nos e de explicar que precisava do grau preto para continuar dando aula em uma academia de Caçapava, o repórter ouviu uma proposta alternativa.

Sem a necessidade de qualquer exame ou demonstração de conhecimento, receberia o prajied azul escuro, que lhe autorizaria a dar aulas como “instrutor”.

– Se não tem documento, a gente equipara o cara na graduação azul escuro. A gente dá seis meses para se adaptar ao sistema da federação e concede um alvará – disse Máximo.

Ele garantiu que o prajied oferecido pela FRMT dá o direito de manter turmas de muay thai.

– Tu pode dar aula, com certeza. Nesse caso aí, tu vai ser instrutor – assegurou.

Para se graduar prajied azul escuro, o repórter teria de pagar R$ 200 à federação de Máximo. Também seria necessário assinar um “termo de compromisso” em que uma das cláusulas determina: “Participar ativamente de torneios”.




CONTRAPONTOS
O QUE DISSE EDERSON GALVÃO
Não é uma venda de grau. Ele me disse uma coisa, me relatou uma coisa, e eu simplesmente acreditei na palavra dele. Como ele já dá aula numa academia, não tem como dizer assim “não, vou ver se tu é professor”.
O QUE DISSE VINICIUS SALVATO
Isso aí é uma prática que existe (a venda de grau). Com relação à minha pessoa, é uma mentira. A gente não pode formar ninguém faixa preta de uma hora para outra. É tirada uma folha corrida na polícia, no Fórum. Acontece de eu ter graduado alguns alunos que eram faixas pretas de outras modalidades. Mas para graduar grau preto, é preciso fazer um curso dado por um pedagogo, um profissional na área de saúde. Todos os meus faixas pretas fizeram isso. Tem que fazer um curso de formação de instrutor para ensinar artes marciais. No meu sistema, a pessoa tem de fazer um curso de formação de instrutor. Essa é uma prática que eu abomino e inclusive investigo, porque faço parte do Sindicato dos Professores de Artes Marciais do RS.
O QUE DISSE GIOVANI MÁXIMO
Eu não dou graduação para ninguém. Se tiver isso aí, pode publicar tudo. Eu me conheço, conheço meu trabalho e meus alunos para se graduar levam um bom tempo. Eu tenho atleta que treina há sete anos e meio e agora fez exame para grau azul com preto. Da minha parte, se houver isso, gostaria até que publicasse. Se tiver algo na mão, que mostre realmente isso. Da minha parte, tenho certeza que não houve. Estou com a consciência tranquila. Para mim, isso é total mentira. Inclusive, gostaria que me mostrasse uma gravação, alguma coisa. Eu jamais vendi graduação para alguém ou negociei.
O QUE DISSE ALEXANDRE CARNEIRO
A minha federação não tem nenhum certificado de grau vermelho com branco. O grau máximo é marrom com branco. Aqui, não acontece negociação de grau. Eu fui três anos seguidos para a Tailândia, lutei mundial, sou nomeado professor lá em técnicas, não botaria meu nome fora. Dou aula por esporte. Sou gerente de estacionamento, segurança de uma família há 14 anos. Arte marcial, para mim, é puro hobby.

sábado, 13 de dezembro de 2014

SUBMUNDO DAS LUTAS

ZERO HORA 13/12/2014 | 13h01

ZH investiga. Submundo das Lutas: em 78 segundos, inscrição de repórter é aceita em campeonato
Série de reportagens investigativas, que começa neste fim de semana, mostra o descontrole no MMA e muay thai em Porto Alegre e Região Metropolitana

por Carlos Rollsing e Mauricio Tonetto


Longe dos octógonos de luxo e dos combates profissionais, a falta de regras e fiscalização nos campeonatos amadores de muay thai e MMA (Mixed Martial Arts) dá sentido ao termo “vale tudo”. Por mais de três meses, ZH mergulhou nos subterrâneos das lutas e foi aceita em campeonatos sem comprovar qualificação. Nos torneios, viu atletas despreparados em lutas de desnível técnico, com equipamentos precários e inclusive ambulâncias proibidas. Nos bastidores, comprovou que a explosão de popularidade das artes marciais e a multiplicação de academias formou um ambiente perigoso para fãs do esporte.


Antiga denominação dos embates entre lutadores, “vale tudo” é uma expressão que pode ser aplicada para explicar o cenário underground dessas modalidades, impulsionadas pela explosão de popularidade das artes marciais e pela multiplicação de academias – parte delas sem respeitar os princípios milenares dessas lutas.



Por mais de três meses, ZH mergulhou nos subterrâneos do muay thai e do MMA da Região Metropolitana. A reportagem observou, documentou e participou de campeonatos, demonstrando que, em alguns dos chamados "torneios estímulos", basta pagar a taxa de inscrição para garantir minutos sobre o ringue ou o octógono.



Não é necessário comprovar experiência, ter autorização de professor ou ser aluno de algum centro de treinamento. Nos torneios assistidos pela reportagem, houve casos de atletas se enfrentando sem equipamentos de proteção em combates com desníveis técnicos grosseiros, e de ambulâncias proibidas, pelos organizadores, de encaminhar feridos ao hospital.



Sem nenhum treino, repórter vira "lutador"


Um minuto e 18 segundos foi o tempo necessário para se inscrever em um torneio amador de MMA. Sem nenhuma experiência no esporte, o repórter entrou em uma academia, aproximou-se do balcão e afirmou que queria lutar no "torneio estímulo", marcado para o último dia 22 de novembro. A uma atendente, respondeu a perguntas básicas, como nome, peso, altura e telefone. Ao final, o pagamento da taxa de inscrição: R$ 50 (veja imagem abaixo).






O repórter garantiu vaga para subir ao octógono mesmo sendo sedentário, não tendo treinamento algum, nem conhecimento das artes marciais ligadas ao MMA. Não foi feita nenhuma pergunta sobre professor responsável, nível técnico, academia ou origem. No dia seguinte ao da inscrição, um homem ligou se identificando como integrante da academia promotora do evento.


Questionou se um técnico acompanharia o repórter, que sem o conhecimento do interlocutor, passava-se por lutador. A resposta foi negativa. O nome do “atleta” foi incluído no card do evento, realizado na sede da academia, na zona norte de Porto Alegre, de forma avulsa. O lutador “Carlos Braga”, identificação utilizada na inscrição, não representava nenhuma academia e lutaria sem técnico.





– Os professores têm organizado competições para arrecadar fundos para si próprios, é um caça-níquel. Para uma pessoa lutar, teria de ter um técnico para orientar, uma equipe por trás. E se o atleta sofre uma lesão? Já temos aí casos conhecidos. Se uma pessoa enfrenta outra de nível técnico superior, pode até haver óbito. Quem é o responsável por isso? – diz Enildo Pacheco, líder da Federação Gaúcha de Muay Thai Tradicional.


Dias antes da competição, foi divulgada a lista das lutas, com maioria de combates no muay thai. Entre os seis embates de MMA, Carlos Braga foi escalado para disputar o “co-main event”, o que significa a segunda luta mais importante. O “torneio estímulo”, com lutas de muay thai e MMA, foi organizado por Márcio Miranda, proprietário da academia Elite Thai, em parceria com a Team Nogueira, controlada na capital gaúcha pelo empresário Rafael Chiavaro e franqueada pelos irmãos Rodrigo e Rogério Nogueira, também conhecidos como Minotauro e Minotouro, famosos no mundo do UFC.


No dia do evento, Carlos Braga se apresentou para a pesagem. Dois quilos acima do peso na primeira checagem, vestiu três peças de roupa sobrepostas e foi correr por 45 minutos pela Avenida Sertório, onde fica a academia. Cansado, colocou-se, por mais 10 minutos, a pular, por vontade própria, entre duas máquinas de assar frango que estavam em uma calçada, em frente a um restaurante, para queimar líquido com o calor.


Na segunda verificação, o “repórter-lutador” havia perdido três quilos, ficando um abaixo do peso máximo da categoria. Ele estava confirmado para a luta que deveria ocorrer à tarde. O atleta se manteve nas dependências da academia por horas. Instantes antes da seu combate, deixou o local, sem avisar, para não correr riscos.



Crédito: Ricardo Duarte/Agência RBS


Por R$ 50, pode-se lutar no octógono



O locutor anunciou o combate e chamou o seu adversário, Lindomar Silva, que subiu ao palco do enfrentamento. Embora tenha informado no ato da inscrição que tinha apenas três meses de treino, Carlos Braga lutaria com Lindomar, que ainda não estreou no octógono, mas já tem registro no Sherdog, um cadastro online internacional de atletas profissionais e semiprofissionais de MMA.


– O risco é de lesões irreversíveis, de as pessoas ficarem hospitalizadas para o resto da vida. Essas lutas entre pessoas mais e menos preparadas vão continuar acontecendo enquanto não tivermos profissionais que casem as lutas, o matchmaker, para promover enfrentamentos de atletas do mesmo nível – diz Gustavo Finck, presidente da Federação Gaúcha de Artes Marciais Mistas.



Lindomar Silva venceu por desistência (Mateus Bruxel/Agência RBS


– O aluno praticante de arte marcial é um lutador por natureza. Ele não tem medo. Se chamam um cara de 120 quilos e ele tem 80 quilos, ele vai querer lutar. O professor é quem tem de dar a proteção. Eu acredito que deixar um atleta amador lutar com alguém mais experiente é responsabilidade do professor. E lutar sem equipamento de proteção é responsabilidade da federação (organizadora do evento) – aponta Thiago “Minu” Meller, atleta do Bellator, segundo maior evento de MMA do mundo.


Episódio semelhante ocorreu em outro torneio estímulo no dia 4 de outubro, nas dependências do Centro Estadual de Treinamento Esportivo (Cete). A competição, mais uma vez, foi organizada por Márcio Miranda. A reportagem de ZH inscreveu dois atletas inexistentes no torneio. Os nomes das academias também eram falsos (veja imagem abaixo).



Luis Sergio e Max Massa eram os atletas falsos divulgados no card


Bastou fazer depósito bancário de R$ 50 por lutador na conta de Miranda e mandar os dados dos atletas por e-mail. O direito de entrar no ringue para disputar lutas de MMA amador estava garantido, sem nenhuma restrição ou pergunta sobre as condições físicas, responsáveis técnicos, treinamento e experiência. Pagou, lutou.


Falta de regras incentiva desvios


Com a falta de regras claras e a inexistência de leis que regulamentem no Brasil a prática das artes marciais, a formação também está em risco. Criadas em profusão, algumas federações fornecem, sem muito esforço dos pretendentes, certificados que permitem a qualquer pessoa, mesmo quem nunca tenha treinado, tornar-se professor.


Nesta realidade sem regras, “mestres” inescrupulosos mancham o nome de práticas esportivas milenares, deixando de lado as antigas filosofias de disciplina e respeito seguidas pela maioria dos praticantes e academias para dar margem a um mundo focado em lutas, promoções de faixa e eventos que possam significar dividendos.


Saiba quais são os equipamentos de proteção usados no muay thai amador:​
A conta é paga com a saúde de praticantes ludibriados pelo sonho de conquistar a fama por meio de combate ou pelo desejo de sentir-se forte ao nocautear um oponente. Símbolo disso é a jovem Maria Luiza Ramos, há três anos em estado vegetativo depois de lutar, em um campeonato de muay thai em Porto Alegre, sem equipamentos de proteção.


Enfrentando uma atleta mais experiente, levou diversos golpes na cabeça, sofreu um derrame e, após a luta, a equipe de socorro da ambulância foi orientada a não levá-la ao hospital. O vale tudo deixou Maria Luiza em cima de uma cama de forma irreversível. E continua espalhando sequelas impunemente.


Maria Luiza Ramos vive em estado vegetativo (Mateus Bruxel/Agência RBS)

O que dizem os envolvidos citados na reportagem

Rafael Chiavaro, proprietário da Team Nogueira Porto Alegre
Foi o primeiro circuito que eu fiz. Estou aprendendo bastante ainda. A atendente fez pela orientação: inscreve o atleta e depois ele faz o checklist. Ele garantiu a vaga dele, só que não passou no checklist. A orientação dada foi: inscreve o cara e depois faz o checklist. No meu ver, não tem nada de irregular. Ele não ia pisar no ringue sem um corner e um mestre. Pode ter certeza que esse atleta (no caso, o repórter) não ia lutar se não passasse pelo checklist. Vocês estão tentando procurar cabelo em ovo. Eu não gastei R$ 1 milhão para machucar atleta, e sim para promover o esporte. A exigência é muito grande para um ramo que não dá lucro nenhum.

Márcio Miranda, organizador dos campeonatos citados por ZH
Como é um evento amador, a gente faz um bastantão e seleciona tudo e na hora faz uma triagem e um checklist antes de subir no octógono. Experiência de treino não quer dizer nada. Ele (o repórter de ZH) não ia lutar, se estivesse sozinho não ia lutar. 


terça-feira, 26 de agosto de 2014

LUTAS CLANDESTINAS GERAM ALARME


ZERO HORA 26 de agosto de 2014 | N° 17903


LUTA VIRA CASO DE POLÍCIA




Competições clandestinas e academias de luta que operam à margem de federações preocupam autoridades e esportistas. Segundo o presidente da Federação Gaúcha de Muay Thai Tradicional, Enildo Pacheco, a situação é grave. Ele atribui o problema à falta de uma legislação que conceda poderes de fiscalização às entidades federativas.

Pacheco afirma que há muitos circuitos de luta realizados sem respaldo de alguma entidade. A principal preocupação dele é com a quantidade de crianças e adolescentes que ingressam no esporte, sem consciência dos riscos.

– Isso virou um negócio lucrativo. Está cheio de academia que não é filiada a ninguém. Chega um professor, coloca um calção e vai dar aula. Temos de ensinar arte marcial, e eles estão apenas ensinando luta – critica.

No caso de Luiza, ele diz que houve um acúmulo de irregularidades, que acabaram por culminar no desfecho trágico:

– Eles colocaram a menina para lutar com pouco tempo de treino, sem proteção e contra alguém de nível muito mais elevado. Todo atleta quer combater. Cabe ao instrutor saber se ele pode.

A federação presidida por Pacheco é a única a ter feito um acordo com o MP para informar sobre as competições que promove. Conforme o promotor Júlio Almeida, responsável por fiscalizar a prática de esportes violentos, poucas são as denúncias que chegam até ele:

– Sabemos que existem muitas academias de fundo de quintal, mas parece que as pessoas que praticam esses esportes e participam dos campeonatos são coniventes, esquecendo dos riscos.


O COMBATE QUE MATOU UM SONHO


ZERO HORA 26 de agosto de 2014 | N° 17903


KAMILA ALMEIDA

LUTA VIRA CASO DE POLÍCIA

JOVEM ACABOU EM estado vegetativo ao enfrentar faixa preta, em caso que levou ao indiciamento de oito pessoas


Uma luta realizada fora dos padrões mínimos de segurança mantém há três anos uma jovem de Canoas em estado vegetativo, lançando um alerta sobre os riscos de praticar artes marciais sem precauções. Maria Luiza Ramos, então com 20 anos, treinava havia apenas três meses quando participou de uma competição amadora de muay thai (boxe tailandês) realizada em outubro de 2011 em Porto Alegre.

Repetidos golpes na cabeça desprotegida de capacete, desferidos por uma oponente faixa preta em taekwondo, deixaram a menina em uma cama, inconsciente, até hoje. Há 10 dias, a Polícia Civil indiciou oito pessoas pelo caso.

Luiza entrou no esporte por diversão e quis desafiar-se. Conhecia a experiência de 10 anos da adversária, mas fiou-se no boato de que ela estaria sem treinar. Sua mãe, Vera Lúcia Mello Ramos, 57 anos, lembra do último diálogo que teve com Luiza, depois de preparar-lhe um prato reforçado de macarrão. O assunto era a negativa da mãe em ir à Sociedade Hebraica para ver o combate.

– Não quero ver você se machucar – disse Vera.

– Estou confiante, mãe. Não vou me machucar – retrucou a jovem.

Luiza chegou à Hebraica às 15h, mas a luta ocorreu às 21h. Ela provou o capacete obrigatório em competições amadoras, mas achou folgado. As lutadoras aceitaram enfrentar-se sem a proteção. O juiz autorizou. O combate durou três rounds de cinco minutos. Luiza teria pedido para parar já no primeiro. Testemunhas dizem que ela terminou a luta zonza, sem ouvir o resultado, com o nariz ensanguentado. Em seguida, desmaiou. Foi levada por amigos, no banco traseiro do carro, até o Hospital de Pronto Socorro, onde chegou com falta de oxigenação no cérebro.

Depois de seis meses internada (incluindo um mês em coma), voltou para casa. A equipe médica sentenciou que o estado vegetativo era para sempre, que Luiza não teria mais consciência.

Vera quebrou paredes para emendar os quartos das duas, conseguiu emprestada uma cama hospitalar e improvisou uma enfermaria. Para que haja estímulos, deixa um repertório de música clássica tocando de leve, alternado com as preferências de Luiza: rock e ritmos tradicionalistas. Na TV, imagens de natureza e animais para acalmá-la. Poucos são os sinais de vida na jovem de 1m72cm, que em dois meses faz 23 anos. Vera tem certeza de que a menina entende tudo o que acontece ao redor.

Luiza trabalhava na área de contabilidade e sonhava cursar a faculdade de Dança. No dia seguinte à luta, faria o exame para tirar a carteira de motorista.

– Ela é danada. Botava o coração no que fazia. Queria competir, ver em que nível estava – diz a mãe .

Para suportar a saudade de quem enxerga todos os dias, mas com quem não pode interagir, Vera montou ao lado da própria cama um mural com as fotos mais bonitas da filha. Fita-as de relance.

– Não quero mexer nesse passado, lembrar como era ela. Quero pensar só no amanhã, no que podemos fazer para que ela fique melhor – emociona-se.

Vera vive de fé. Apesar do prognóstico dado pelos médicos, agarra-se a sinais, como mínimos movimentos com a boca e bocejos. Em um canto do roupeiro, guarda a foto preferida de Luiza. Com o cabelo trançado, de costas, ela imita uma das poses da protagonista do filme Menina de Ouro (2004), uma lutadora de boxe interpretada por Hilary Swank. A personagem sofre uma lesão que paralisa seus movimentos e pede ao treinador que lhe aplique a eutanásia. Vera lembra de uma das vezes em que entrou na UTI pisando forte, com a imagem do filme na cabeça:

– Cheguei para ela e disse: “Tu não és a Menina de Ouro, tu vais sair desta cama”.

Luiza abriu uma frestinha do olho e deu pela primeira vez à Vera uma esperança.


Inquérito aponta tentativa de homicídio e omissão de socorro


Com base em mais de 40 relatos, imagens de vídeos e laudos médicos, a delegada Vandi Lemos Tatsch, da 8ª Delegacia da Polícia Civil da Capital, indiciou criminalmente oito pessoas por envolvimento no caso de Maria Luiza. Três dos envolvidos foram listados por tentativa de homicídio. O inquérito policial foi remetido à Justiça no dia 15 de agosto.

Entre os indiciados estão a organização do evento, a oponente de Maria Luiza, o instrutor da vítima e o árbitro da luta, além da equipe de socorro que estava no clube, mas teria se negado a levá-la ao hospital, de acordo com a investigação. A polícia não revelou os nomes dos envolvidos.

O inquérito policial soma mais de 250 páginas, incluindo depoimentos de testemunhas que estavam no local da competição. Conclui que houve omissão de socorro por parte da equipe médica presente no local e responsabiliza diversos envolvidos na competição sediada na Sociedade Hebraica.

O clube, que não está entre os indiciados, informou apenas locar espaços para eventos desse tipo e não ter responsabilidade sobre o que se passou no campeonato. O inquérito ainda aguarda parecer do Ministério Público (MP). A promotora Lúcia Helena Callegari, da 3ª Promotoria do Júri, recebeu o documento e deve se manifestar ao longo desta semana.

Em paralelo ao processo criminal, desde junho deste ano corre na Justiça de Canoas um processo civil indenizatório, movido pela família da vítima, que pede aos indiciados ressarcimento por danos morais e materiais.

No processo, é solicitado o custeio de um serviço de home care – equipe médica capacitada para tratar de Luiza em casa.

Uma decisão favorável ajudaria Vera, que cuida sozinha da jovem e sustenta o lar com o salário de vendedora autônoma de semijoias e lingerie, além da aposentadoria por invalidez da filha e das doações do centro espírita que frequenta.



terça-feira, 22 de julho de 2014

TORCEDORES MISTURADOS


ZERO HORA 22 de julho de 2014 | N° 17867


Gre-Nal pode ter um setor com torcedores misturados



O quebra-quebra promovido pela briga entre Guarda Popular e Nação Independente deixa a Promotoria do Torcedor em alerta para o Gre-Nal de 10 de agosto, o primeiro do novo Beira-Rio. A partir da próxima semana, algumas providências serão tomadas para o clássico. A maioria, infelizmente, restritivas. Há uma ideia, porém, para tentar levar um mínimo de civilidade ao jogo.

– Queremos ter uma célula no Beira-Rio que integre colorados e gremistas. Um espaço para até 200 torcedores no qual possamos misturar as torcidas – afirmou o promotor José Francisco Seabra Mendes Júnior.

Segundo Seabra, titular da Promotoria do Torcedor, há uma tentativa junto às direções de Inter e de Grêmio para que um pai gremista possa se sentar ao lado do filho colorado, ou vice-versa, ou ainda que alguns sócios de lado a lado possam ser colocados neste setor:

– Será uma tentativa de levar um exemplo de paz ao Gre-Nal, quase um legado da Copa, quando os torcedores adversários ficaram todos misturados nas arquibancadas do Beira-Rio.

Afora esta tentativa de ilha no clássico, todas as demais medidas que serão adotadas visam evitar brigas. Ainda que o Inter possa ceder até 5 mil ingressos para a torcida do Grêmio, é provável que a Brigada autorize apenas 1,2 mil entradas. A alegação é de que a BM não consegue escoltar um número de colorados maior do que este quando há Gre-Nal na Arena.

Assim, mesmo que o estádio do Grêmio tenha maior capacidade que o do Inter, a recicprocidade característica do Gre-Nal não permite que sejam entregues mais bilhetes para o rival.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

CAMINHO GRE-NAL


ZERO HORA 07 de julho de 2014 | N° 17852. ARTIGOS


CLÁUDIO BRITO*


Sonhar não custa nada, e o meu sonho é tão real. É frase de um samba-enredo antológico de Paulinho Mocidade para sua escola, a Mocidade Independente de Padre Miguel. Não me sai da cabeça, desde o dia em que holandeses e australianos coloriram a Avenida Borges de Medeiros, do Mercado ao Beira- Rio. Entre os torcedores das seleções, muitos gremistas e colorados abraçados e brincalhões, fingindo provocações. A festa do futebol estava de volta.

Há quem não acredite na chance de repetirmos em nossos jogos domésticos a festa que o Caminho do Gol proporcionou. O presidente colorado, Giovanni Luigi, crê na ideia e trabalha para realizá-la. Disse isso no Conversas Cruzadas, da TVCOM, seguido pelo presidente da Federação Gaúcha de Futebol, Francisco Novelletto, em tom de chancela. João Bosco Vaz falou pela cidade e o prefeito Fortunati confirmou esse desejo.

O presidente gremista, Fábio Koff, será o próximo convidado. Vários torcedores dos dois clubes estão engajados na campanha pela pacificação das tardes e noites de futebol. As redes sociais já estão acolhendo vários recados e fotos de famílias que foram aos jogos da Copa e vibraram demais com tudo o que viram e curtiram, abraçados, sem rusgas, muitos vestindo as camisas do Inter ou do Grêmio. Comoveu-me a cena de um casal Gre-Nal. Ele, de vermelho, ela, tricolor. Um casal de filhos estava junto e repetia os trajes. Garoto colorado, menina gremista.

Essa família tem o direito de ir unida ao próximo clássico. O Ministério Público começa a campanha para que não seja apenas um sonho. Marcelo Dornelles, César Faccioli e José Francisco Seabra aprontam um protocolo de intenções para os dois clubes. Cuidarão ainda de neutralizar os “barras bravas” das torcidas organizadas e já têm pronta a sugestão da criação de um espaço do tipo Fan Fest para uma celebração civilizatória dias antes dos clássicos, estreitando ainda mais a convivência. Creio e quero ver a realidade da pacificação.

Andarei pelo Caminho Gre-Nal, na Borges e no rumo da Arena também, partindo, quem sabe, da Igreja dos Navegantes. Meu sonho é tão real quanto o de Paulinho Mocidade.

*JORNALISTA


sábado, 17 de maio de 2014

A MORALIZAÇÃO DO FUTEBOL

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ZERO HORA 17 de maio de 2014 | N° 17799


EDITORIAL



O governo tem a missão de zelar pelos recursos públicos aplicados num setor que ainda enfrenta deficiências e desmandos

É oportuno o momento escolhido pelo governo para incentivar e ajudar a viabilizar mudanças estruturais na gestão do futebol brasileiro. A intenção foi manifestada pela presidente da República, em jantar que ofereceu a 10 jornalistas esportivos, representantes dos principais veículos de comunicação do país, na quinta-feira, e dá sequência a outras iniciativas tomadas pelo Executivo para qualificar não só a administração do futebol, mas também de outros esportes. Ressaltou a senhora Dilma Rousseff que tal disposição não pode ser vista como uma intervenção do Estado numa atividade essencialmente privada. Disse textualmente a presidente que sua intenção não é a de criar a Futebrás, numa referência a inúmeras estatais cujas atribuições são sempre questionáveis.

A atitude do governo tem o mérito de provocar federações e clubes a saírem da inércia. Há uma explicação para o fato de que, apesar de ser uma atividade que deve se autorregular, o futebol precisa, sim, de alguma forma de orientação do setor público. O principal argumento nesse sentido é o sempre lembrado suporte financeiro que instituições governamentais oferecem ao futebol. O exemplo mais recente foi lembrado pela presidente no encontro de quinta-feira: os 12 estádios erguidos ou reformados para os jogos da Copa dispuseram de financiamentos do BNDES. A União tem a obrigação de saber como tais verbas foram aplicadas e contribuir para que a gestão de dinheiro público seja eficaz e transparente.

Outro aspecto da preocupação do governo é o que diz respeito à situação dos clubes como devedores da União. Dívidas fiscais, algumas cobradas muitas vezes, sem que os acordos sejam cumpridos, expõem a fragilidade – e em alguns casos até mesmo ações delituosas – de entidades que manipulam somas milionárias. Como observou Dilma Rousseff, o governo não pode continuar perdoando débitos ou mesmo parcelando valores em atraso, sem a devida contrapartida.

A presidente chegou a sugerir que a melhor forma de reconhecer bons pagadores é punir, com penas esportivas, quem não consegue cumprir com suas obrigações.

O que a União pretende é a total profissionalização de uma área que executa projetos gigantescos, como as arenas, mas é incapaz de gerir, com raras exceções, suas atividades com um mínimo de eficiência.

As mudanças passam também pela reavaliação da relação das federações e dos clubes com os torcedores e com os profissionais.

O primeiro passo será dado em encontro com líderes do Bom Senso F.C, movimento comandado pelos jogadores, com o intuito de modernizar as estruturas do futebol brasileiro e o calendário de eventos. Ao contribuir para que a administração do esporte esteja de acordo com a importância da atividade para o país, o governo cumpre sua função de zelar pelos recursos públicos que as entidades absorvem – e que são de todos os brasileiros – e contribui para que a paixão pelo futebol não acabe por encobrir ineficiências e desmandos.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

15 MORTOS NA PARTIDA DO MAZEMBE

ZERO HORA Atualizada em 11/05/2014 | 22h36

por AFP E ZHESPORTES

Tragédia. Partida do Mazembe termina com pelo menos 15 mortos. Outras 21 pessoas ficaram feridas por conta da violência entre torcidas



Facebook do Mazembe traz algumas imagens sobre a tragédiaFoto: TP Mazembe / Facebook


Pelo menos 15 pessoas morreram e outras 21 ficaram feridas, em Kinshasa, em uma partida de futebol entre os times ASV Club e Tout Puissant Mazembe. A partida entre as duas equipes populares terminou em confronto.

– O balanço no momento atual é de 15 mortos e 21 feridos – declarou à imprensa ao governador de Kinshasa, André Kimbuta, que se encontrou com o ministro do Interior, Richard Muyej, no hospital Mama Yemo, para onde 14 mortos e 11 feridos foram levados. Um inquérito foi aberto para investigar a tragédia e identificar os responsáveis.

A Rádio Okapi, criada pela ONU, reportou que os torcedores do ASV Club ficaram agitados ao ver sua equipe perder. O Mazembe vencia por um gol quando a confusão começou.

– Eles começaram a atirar projéteis no campo, forçando o árbitro a interromper a partida repedidamente – informou a rádio.

Segundo a TV nacional, a partida terminou com uma chuva de pedras, atiradas das arquibancadas, onde uma briga começou. A polícia atirou bombas de gás lacrimogênio na direção da multidão, houve correria nas arquibancadas "e nesta confusão, um muro do estádio desabou", explicou a Rádio Okapi.

Antes da partida, dezenas de policiais foram mobilizados para o entorno do estádio Tata Raphael, após o registro de confusões em partidas anteriores entre os dois times.

O Mazembe, que publicou no seu Facebook oficial algumas imagens do ocorrido, ficou conhecido pelo público brasileiro ao vencer o Inter na semifinal do Mundial de Clubes de 2010, por 2 a 0.

terça-feira, 6 de maio de 2014

A VIOLÊNCIA SEM CONTROLE ASSUSTA

O DIA, 05/05/2014 23:38:21

Contra-ataque
com Márcio Guedes


Brasil continua sofrendo com violência dentro dos gramados


Rio - Nos últimos anos, ou até décadas, o Brasil tem sido um dos países mais violentos do mundo e nem sempre a pobreza explica isso porque, nesse caso, seria o caos. E essa tese representa também flagrante injustiça com os mais carentes. O que falta é segurança inteligente nas ruas e, depois, uma Justiça que puna, não com rigor, mas na medida certa. Mas isso ainda é miragem e há uma política de direitos humanos deturpada e perversa. Tudo isso é para dizer que os turistas que vierem ao Brasil precisam mesmo se precaver em nossas ruas porque a barra é pesada.

Nos estádios, com policiamento especial, não haverá problemas e ninguém vai jogar privadas nos outros. Mas, nas cercanias e longe dos jogos, todos correrão riscos e a mídia internacional não exagera. Na Europa, também há pontos de violência, mas de uma forma muito menos endêmica e com repressão cem vezes maior. O momento do país é particularmente conturbado e corre-se o risco de acontecimentos lamentáveis. Mas dizem que Deus é brasileiro e, quem sabe, não viveremos um mês em um paraíso?


Violência no futebol segue sem muito combateFoto: Carlos Moraes / Agência O Dia

O ASSASSINO DE ARRUDA


O Estado de S.Paulo 06 de maio de 2014 | 2h 07


OPINIÃO



A morte de Paulo Ricardo Gomes da Silva, de 26 anos, quando saía, na sexta-feira passada, do Estádio do Arruda, no Recife, depois de uma partida entre o Santa Cruz local e o Paraná Clube pela série B do Campeonato Brasileiro, evidencia a que extremos absurdos pode chegar a violência entre torcidas. O jogo havia acabado, a torcida anfitriã já tinha deixado a praça esportiva e um pequeno grupo de torcedores do time visitante se encaminhava para o portão 6 quando alguém jogou do anel superior das arquibancadas dois vasos sanitários. Um atingiu o rapaz, torcedor do Sport Clube do Recife.

No dia seguinte, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) interditou o local do crime, como medida preventiva, até a apreciação definitiva do caso pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Em seguida, o presidente deste órgão, Flávio Zveiter, determinou que o clube mais popular de Pernambuco jogue suas duas próximas partidas em seu campo com os portões fechados. Ele também assinou um despacho suspendendo as atividades de todas as torcidas organizadas do Santa Cruz no território brasileiro, até que o assassino do Arruda seja identificado.

São providências menores e insuficientes. Afinal, medidas administrativas como estas já foram tomadas inúmeras vezes e os vândalos de arquibancadas continuam agindo impunemente. E reincidem em sua atividade criminosa, principalmente porque nunca são detidos pelos braços, cada vez mais curtos, da lei e da ordem. Exemplos: membros do bando de corintianos apontados como autores do disparo de um sinalizador que matou o jovem boliviano Kevin Espada num jogo entre Corinthians e San José, em Oruro, foram flagrados pouco tempo depois agredindo torcedores adversários do Vasco da Gama na arena Mané Garrincha, em Brasília, onde serão jogadas quatro partidas da Copa do Mundo daqui a pouco mais de um mês. Noticiários da TV repetem à exaustão imagens de torcedores do Vasco da Gama e de outros clubes percorrendo o País e protagonizando cenas de truculência. Depois, são presos, processados e, repetindo o chavão dos romances policiais, voltam ao local do crime.

O vândalo que atirou o vaso sanitário contra desconhecidos premeditou o ato que dele exigiu muito esforço. Toaletes de praças desportivas dispõem habitualmente de receptáculos metálicos. O assassino encontrou e arrancou os vasos fixados no chão e teve de transportá-los e arremessá-los, ciente do estrago que o petardo produziria em seu alvo, seres humanos que não conhecia pessoalmente e contra os quais nada tinha, a não ser o fato de minutos antes terem torcido contra seu clube. Trata-se de um crime doloso, premeditado.

Desta vez, o crime não foi testemunhado pelas câmeras cujas imagens delataram outros assassinos. Por enquanto, só quem foi punido pelo crime hediondo foi o torcedor pacífico do Santa Cruz, impedido de ver seu time atuar em dois torneios importantes. Este, sim, pode dizer-se vítima do gesto. Mas não o clube, que, no caso, se mostrou incapaz de dar segurança à própria torcida e às dos clubes que recebe. Para tentar eximir-se de sua parcela de culpa, a Federação Pernambucana ofereceu um prêmio a quem ajudasse a encontrar o bandido - um suspeito foi detido na tarde de ontem. Deveria ter agido antes, eliminando as condições que, hoje, fazem da ida a um estádio uma aventura que pode terminar em morte. Os dirigentes esportivos parecem ser incapazes de compreender que sua omissão em coibir, preventivamente, crimes como este só favorecem os vândalos e em nada ajudam aos clubes e ao esporte.

A presidente Dilma Rousseff propôs, pelo Twitter, "urgência de se instalar delegacias especializadas". Nada leva a crer que este tipo de providência venha a ter o condão de evitar barbaridades como a do Recife. As torcidas organizadas devem ser proibidas de frequentar estádios e a polícia, o Ministério Público, a Justiça e os clubes de futebol precisam se unir para reprimir os criminosos que vicejam nas torcidas - e que continuam, quase sempre, protegidos e bem remunerados.

NÃO PODEMOS ACABAR COM AS ORGANIZADAS





ZH 06/05/2014

De Fora da Área. Opinião



por Maurício Tonetto, repórter de ZH



Virou senso comum afirmar que a violência nos estádios é culpa das torcidas organizadas. Sem meias palavras, os clubes e o Poder Público são tão culpados quanto um bandido que joga uma privada em direção à torcida adversária.


Quando um marginal travestido de torcedor comete um ato bárbaro como esse de Recife, ele deve ser indiciado, julgado e afastado para sempre de um estádio de futebol. Isso vai acontecer? Claro que não, estamos no Brasil.

É aí que está o cerne da questão. A maioria das pessoas que se junta para apoiar o time do coração de forma organizada jamais cometeu um crime. É sempre um grupo dentro da massa, conhecido internamente dos clubes, que ataca. Grupo ciente da impunidade, que tem certeza de que não será expulso para sempre dum estádio. Assim, fica fácil agir sem pensar.

Os clubes e o Poder Público fomentam a impunidade e criam meia dúzia de monstros que não representam a maioria. Desde que comecei a ir a jogos, frequentei organizadas. Primeiro foi a Camisa 12, depois a Popular. Viajei com elas para partidas fora de Porto Alegre, inclusive do Brasil, e sempre observei que um pequeno grupo, de relações intensas com a direção do Internacional, era o responsável pelos atos impensados.

Por que o pequeno grupo não responde pelas atitudes? As desculpas são sempre as mesmas e a problemática só se agrava. É mais fácil banir uma torcida inteira do que mexer no vespeiro. A alternativa tem se mostrado burra, pois a violência permanece igual e até pior, mesmo com ingressos caros e estádios modernos.

Enquanto os clubes, com apoio do Poder Público, não começarem a expulsar e condenar os criminosos, não haverá solução. As pessoas não deixarão de se agrupar para torcer, mesmo que não existam mais bandeiras, faixas e bumbos. A organização é algo intrínseco ao futebol, ela vem desde os tempos de Vicente Rao nos Eucaliptos.

É preciso entender a lógica e atuar de forma inteligente, mandando para longe os bandidos e abrindo espaço para os que querem fazer o espetáculo verdadeiro. Está na hora de os clubes saírem da zona de conforto e iniciar um diálogo franco com a sociedade que aprecia o futebol. As torcidas não podem acabar, em nome dos bons. Chega de hipocrisia.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Concordo com o autor de que "os clubes e o Poder Público fomentam a impunidade e criam meia dúzia de monstros que não representam a maioria." É muito fácil jogar a responsabilidade no torcedor e lavar as mãos para os fatores que alimentam a prática de holiganismo no futebol. A solução está nas mãos do poder público, das leis e da justiça. O Brasil precisa acabar com o amadorismo na segurança. Chega de medidas partidárias nas questões de justiça e segurança; chega de soluçõespontuais e basta de condescendência. É necessário construir um sistema de justiça criminal ágil, técnico e coativo, capaz de prevenir, identificar, agilizar os processos e punir com severidade, para acabar com a impunidade e coibir a violência nos estádios e nas ruas. Só assim teremos respeito às leis, autoridade e paz nos Estádios.

O FUTEBOL ASSASSINADO

ZERO HORA 06 de maio de 2014




EDITORIAL


A morte de um torcedor atingido pelo vaso sanitário lançado das arquibancadas do Estádio do Arruda, em Recife, na última sexta-feira, tem que servir como ponto de inflexão na questão da violência no futebol brasileiro. E não é apenas porque o escatológico episódio repercutiu em todo o mundo, desgastando ainda mais a imagem do país que promoverá a próxima Copa. É porque chegou a hora de dar um basta no vandalismo, nas brigas e nos abusos cometidos por delinquentes que estão tentando assassinar o futebol com comportamentos verdadeiramente boçais. Chega a ser inacreditável um episódio como esse, em que vândalos arrancaram o equipamento dos banheiros femininos do estádio e lançaram-no do anel superior, de uma altura de 24 metros, sobre os torcedores adversários no momento em que se retiravam, escoltados pela Polícia Militar. O jogo entre o Santa Cruz e o Paraná, pela série B do campeonato brasileiro, já havia terminado quando ocorreu o atentado.

A CBF já interditou o Estádio do Arruda e está punindo o clube com perda de mandos de campo. Mas essa é uma punição insignificante diante da perda de uma vida. Como a PM já havia se retirado no momento em que ocorreu o incidente, a vigilância dos torcedores no ambiente interno deveria ter sido feita pela segurança patrimonial do próprio clube, que será responsabilizado por isso. Responsabilizar o clube é uma forma de forçá-lo a vigiar seus torcedores.

Igualmente importante é a investigação policial destinada a identificar os marginais que cometeram o crime. Um comportamento tão selvagem e estúpido não pode ser atribuído apenas aos arroubos juvenis de torcedores irresponsáveis. Quem lança um objeto desses sobre outras pessoas está assumindo a vontade de ferir e matar. São, portanto, criminosos e têm que ser tratados como tal. Devem ser julgados por homicídio doloso.

Outro ponto dessa deplorável história é a falta de prevenção. Os bombeiros que fazem a vistoria nos estádios sugerem que os clubes instalem banheiros semelhantes aos existentes em presídios, com peças sanitárias internas, que não possam ser arrancadas. Só que o controle de marginais não pode se resumir a um truque de engenharia. Como, então, se faz isso? Certamente com vigilância, com policiamento preventivo e com punição rigorosa e exemplar para os infratores. Mas, principalmente, com inteligência: as autoridades e os próprios administradores dos estádios têm o dever de garantir segurança nas praças esportivas, colocando câmeras de vigilância e agentes no meio do público, para coibir comportamentos inadequados antes que eles resultem em tragédia. O país não pode mais aceitar mortes como essa, pois, cada vez que um torcedor perde a vida numa circunstância dessas, o futebol também morre um pouco. Não podemos deixar esta paixão nacional ser assassinada dessa forma.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Exatamente, a solução é sabida e há exemplos no mundo. É preciso contar com medidas preventivas, "com vigilância, com policiamento preventivo e com punição rigorosa e exemplar para os infratores". Porém, a grande dificuldade neste país surreal é fazer estes procedimentos funcionarem em conjunto como um sistema, onde as leis são fortes e um dá amparo e continuidade ao outro. A vigilância é vulnerável, o policiamento é insuficiente e as punições são lentas, brandas e sem controle que alimentam a impunidade e não coíbem os delitos. 

segunda-feira, 5 de maio de 2014

TORCEDOR MORRE ATINGIDO POR PRIVADA ARREMESSADA DE ESTÁDIO NO RECIFE

FOLHA.COM, 03/05/2014


DANIEL CARVALHO
DO RECIFE0



Um torcedor do Sport Club do Recife que estava na torcida do Paraná morreu ao ser atingido por um dos dois vasos sanitários arremessados do alto do estádio do Arruda, no Recife, após o jogo entre Santa Cruz e o clube paranaense, na noite desta sexta-feira (2).

Paulo Ricardo Gomes da Silva, 26, saía do estádio com a torcida do Paraná, quando foi atingido. Outras três pessoas foram atingidas por estilhaços dos vasos e foram levadas para unidades de saúde do Estado. Segundo a Secretaria de Saúde, nenhuma corre risco de morrer.


Carlos Ezequiel Vannoni/Agencia JCM/Fotoarena

Perícia do departamento da Polícia Civil no local onde um torcedor foi atingido por um vaso sanitário


Válido pela Série B do Campeonato Brasileiro, a partida terminou 1 a 1.

Câmeras da Secretaria de Defesa Social flagraram o momento em que as privadas foram arremessadas, mas não mostram quem as atirou da arquibancada. A polícia ainda não tem suspeitos. Se identificados, os culpados deverão ser indiciados por homicídio doloso, quando há intenção de matar.
Reprodução/Facebook/Paulo Ricardo

Paulo Ricardo tinha colocado foto no Facebook onde aparece ao lado da presidente Dilma


As privadas foram arrancadas de um dos banheiros do estádio, de acordo com a Secretaria de Defesa Social.

O secretário da pasta, Alessandro Carvalho, responsabilizou o Santa Cruz pela morte do torcedor. Segundo Carvalho, o clube não tem as câmeras internas exigidas pelo Estatuto do Torcedor e deveria ter garantido segurança privada no interior do estádio.

"O que deixou de ser feito não foi por parte do Estado, foi por parte do Santa Cruz. Houve uma falha? Houve. E eu atribuo ao clube. O clube é responsável pelo que acontece dentro da área dele", afirmou Carvalho neste sábado (3). "Fazer vistoria para saber se ficou algum torcedor [no banheiro], não existe", afirmou.

Questionado sobre a responsabilidade de exigir do clube as câmeras, o secretário indicou a Federação Pernambucana de Futebol e a CBF.

O presidente do Santa Cruz, Antônio Luiz Neto, foi procurado pela Folha no final da manhã deste sábado (3), mas não foi encontrado.

Uma câmera instalada pela Secretaria da Defesa Social na rua das Moças, nos fundos do estádio, mostrou a correria no local.


SEGURANÇA


De acordo com o governo de Pernambuco, havia 8.029 torcedores e 228 policiais militares dentro e fora do estádio. A Secretaria de Defesa Social disse que esse efetivo se justifica porque o evento é considerado como de "menor potencial de problemas".

"Quem tem que fazer a segurança patrimonial não é a Polícia Militar de Pernambuco, é o clube que está organizando o jogo. O policiamento foi proporcional [à dimensão do jogo]", afirmou Carvalho.

Segundo o governo, o jogo terminou às 22h50 e a torcida do Santa Cruz foi liberada primeiro. A torcida do Paraná, junto com torcedores do Sport –cerca de 50 pessoas, de acordo com o secretário–, saiu escoltada do estádio às 23h10.

Houve um rápido princípio de confusão com torcedores do Santa Cruz que moram no entorno do estádio, de acordo com a Polícia Militar. Os vasos foram arremessados justamente quando os torcedores do time visitante passavam pela Rua das Moças.

Brigas entre torcidas organizadas são comuns após jogos em Pernambuco. Em março, torcedores do Santa Cruz arrancaram privadas da Ilha do Retiro, sede do Sport. Também há registro de depredação e arrastões. Na semana passada, torcedores do Santa Cruz invadiram o clube e hostilizaram jogadores.

Desde abril deste ano, as torcidas organizadas foram proibidas pela Justiça de Pernambuco de entrar em estádios no Estado.


SANTA CRUZ


O presidente do Santa Cruz, Antônio Luiz Neto, disse em entrevista à "TV Globo" que o o time "se sente vítima" e que o estádio estava fechado no momento do crime.

"O Santa Cruz se sente vítima. Afinal de contas, a Polícia Militar já havia cumprido com sua obrigação e esvaziou o estádio com a torcida do Santa Cruz primeiro, esvaziou completamente, fez a vistoria, depois de 15 minutos, tirou a torcida visitante, entregou o estádio com portões fechados ao Santa Cruz, o Santa Cruz fechou todo o estádio e, em seguida, acontece essa invasão, que gera esse crime estúpido", afirmou.

Na mesma entrevista, Antônio Luiz Neto diz que "o Santa Cruz é contra vândalos" e defendeu que a presença deles nas torcidas organizadas seja apurada.

"Se as torcidas organizadas têm dirigentes que se juntam para formar quadrilha, isso tem que ser apurado", afirmou o dirigente, que se comprometeu a banir os torcedores "que depredaram o patrimônio do clube".

A Folha tentou, mas não conseguiu falar com ele neste sábado.


ORGANIZADAS NA PRIVADA


ZH 05/05/2014 | 08h49 - Opinião

DE FORA DA ÁREA

por Paulo Germano, repórter de ZH



Tijolo, barra de ferro, arma de fogo, faca, sinalizador de navio, tudo isso ajudou a matar 234 pessoas que, entre 1988 e 2013, sucumbiram à violência das torcidas brasileiras — uma média superior a nove mortes por ano, conforme levantamento do jornal esportivo Lance!. Em 2014, pedras e punhais parecem fora de moda: a novidade, agora, é matar com vaso sanitário.

Na sexta-feira passada, Paulo Ricardo Gomes da Silva, um soldador da periferia de Recife, morreu aos 26 anos depois que torcedores do Santa Cruz-PE, minutos após o fim da partida contra o Paraná, arrancaram duas privadas do banheiro e as arremessaram para fora do estádio. Lá embaixo, na calçada, integrantes da torcida organizada Fúria, do Paraná, deixavam o Arruda escoltados pela Polícia Militar. Uma das peças de cerâmica se espatifou na cabeça de Paulo Ricardo, que era, na verdade, membro de uma organizada do Sport, clube rival do Santa Cruz em Recife.

Importante que o leitor entenda: a Torcida Jovem, do Sport, é aliada da Fúria, do Paraná. Por isso, Paulo Ricardo e seus amigos rubro-negros receberam os visitantes na capital pernambucana, ofereceram churrasco, cerveja e proteção contra possíveis ataques de torcedores do Santa Cruz — que, por sua vez, são aliados da Império Alviverde, principal organizada do Coritiba, rival do Paraná.

No país inteiro, organizadas de médio e grande porte mantêm parcerias com torcidas de outros estados: um dos objetivos maiores é garantir apoio em confrontos contra grupos adversários. Em Porto Alegre, em junho de 2012, antes de um jogo entre Grêmio e Flamengo, eu cobria como repórter a movimentação da torcida Geral no antigo Bar dos Borrachos, nos arredores do Olímpico. Lá pelas tantas, um táxi que levava uma mulher, um menininho — de, no máximo, sete anos — e um rapaz com a camisa do Flamengo cruzou a frente do boteco e parou no sinal vermelho.

Cerca de 15 gremistas, furibundos porque as organizadas do Flamengo são coligadas às do Inter, destruíram o táxi com tijoladas e voadoras e, após quebrar o para-brisa traseiro, encheram de socos a cara do flamenguista. Quando o sinal abriu, o taxista arrancou desesperado, para decepção de um dos brigões:

— Aaaah, tinha que ter matado!

No dia seguinte, telefonei para o líder de uma organizada do Inter.

— Não vou ser hipócrita: teríamos feito o mesmo se o passageiro usasse camisa do Palmeiras — ele disse, pedindo sigilo de identidade e lembrando que os palmeirenses têm apoio das torcidas do Grêmio.

Como se vê, a violência das torcidas atravessa fronteiras, não tem bairrismo, é disseminada. Muitos dizem que as organizadas são responsáveis pela beleza do espetáculo e que, por isso, não podem ser extintas. Honestamente, eu quero que a beleza se exploda. Quero que enfiem a beleza em um vaso sanitário e levem-no para casa, antes que outra privada desmanche a cabeça de mais alguém.

DELEGACIAS ESPECIALIZADAS NOS ESTÁDIOS

CORREIO DO POVO 04/05/2014 21:02


Dilma defende delegacias especializadas nos estádios de futebol. Torcedor do Santa Cruz foi morto após jogo da Série B em Recife na sexta




A presidenta Dilma Rousseff defendeu neste domingo a instalação de delegacias especializadas nos estádios de futebol. Por meio do Twitter, a presidenta também afirmou que a violência nos estádios precisa ser coibida pelas polícias locais. A mensagem foi divulgada após o enterro do corpo do torcedor Paulo Ricardo Gomes da Silva, de 26 anos, morto após partida entre o Santa Cruz e o Paraná, válida pelo Campeonato Brasileiro da Série B. Na sexta-feira , ele foi atingido por um vaso sanitário, jogado do alto da arquibancada, quando deixava o Estádio do Arruda, em Recife.

"O país que ama o futebol não pode ser tolerante com a violência nos estádios. A morte do torcedor Paulo Ricardo Silva depois de uma partida de futebol no Recife é mais um triste exemplo da urgência de se instalar delegacias especializadas nos estádios. A violência nos estádios precisa ser coibida com rigor pelas polícias locais. Os criminosos devem processados e julgados. Estádios de futebol são palco da alegria e da paixão. Devemos todos nos unir pela paz nos estádios", escreveu a presidenta.

Após a morte do torcedor, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) interditou o Estádio do Arruda. Em nota, a CBF justificou a medida pela “gravidade do incidente” e informou que ela tem validade a partir de hoje até que o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) “analise o caso e tome as providências cabíveis”.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

TORCEDOR QUE ATIROU BANANA É BANIDO DO ESTÁDIO

O Estado de S. Paulo, 28 de abril de 2014 | 15h 03


Villarreal pune para o resto da vida torcedor que atirou banana em campo. Equipe espanhola publica nota garantido que responsável por jogar fruta em Daniel Alves será banido do estádio El Madrigal


SÃO PAULO - O Villarreal, equipe que disputou a 35ª rodada do Campeonato Espanhol com o Barcelona, no último domingo, divulgou nota garantido que já identificou o torcedor que atirou uma banana no lateral-direito da equipe adversária, o brasileiro Daniel Alves, e mais, afirmou que o responsável já teve o seu carnê de sócio retirado, e que nunca mais poderá acessar o estádio El Madrigal.


Reprodução


"Graças às forças de seguranças e à inestimável colaboração da exemplar torcida amarela, o clube já idenfiticou o autor (do ato racista) e decidiu retirar seu carnê de sócio, além de proibir seu acesso ao estádio El Madrigal pelo resto da vida", publicou o Villarreal por meio de seu site oficial.

Na nota, o clube ainda fez questão de repudiar qualquer manifestação e atos preconceituosos, além de lamentar o ocorrido ressaltou que não serão toleradas atitudes que incentivem a discriminação.

"O Villarreal volta a manifestar sua vocação pelo respeito, pela igualdade, pela desportividade e pelo jogo limpo, tanto dentro como fora do campo, e rechaça qualquer ato que vá contra esses princípios, como violência, discriminação, racismo e xenofobia", ressaltou o comunicado.

O CASO

O lateral-direto do Barcelona e da seleção brasileira, Daniel Alves, se preparava para cobrar escanteio quando uma banana foi atirada por um torcedor do Villarreal, mandante da partida. O jogador pegou a fruta do chão e comeu, ironizando o ato racista.



Torcida joga banana para Daniel Alves, que come e cruza para gol do Barcelona. Brasileiro foi mais uma vez insultado por torcedores na Espanha, mas dá de ombros e dá exemplo

27 de abril de 2014 | 18h 04

O Estado de S. Paulo



VILLARREAL - O brasileiro Daniel Alves voltou a ser vítima de racismo na Europa. Na partida entre Villarreal e Barcelona, neste domingo, pelo Campeonato Espanhol, a torcida do time da casa jogou uma banana em direção ao lateral-direito da seleção brasileira quando ele se preparava para cobrar um escanteio. A cena não é inédita no futebol. Provocações desse tipo têm se alastrado no esporte.


Mas desta vez, a intenção do torcedor espanhol racista não deu certo. Irreverente, Daniel Alves não se intimidou com a agressão, pegou a fruta no chão dois passos à sua frente e decidiu comê-la, tirando de letra a ofensa e dando exemplo. Na sequência da jogada, o brasileiro bateu dois escanteios seguidos como se nada tivesse acontecido. No segundo deles, já com a banana digerida, saiu o segundo gol do Barcelona.

Um dos atletas que mais sofrem com racismo no futebol europeu, Daniel Alves deu mostra de que é superior a esse tipo de discriminação racial e ajudou sua equipe a vencer o Villarreal por 3 a 2, com duas assistências para gols. O resultado deixa o Barcelona ainda na disputa pelo título Espanhol, agora com 84 pontos, na segunda colocação. O líder Atlético de Madrid está com 88.

Após o jogo, Daniel Alves continuou mostrando-se acima de qualquer provocação racista. "Estou na Espanha há 11 anos e há 11 anos é dessa maneira. Temos de rir dessa gente atrasada", disparou o brasileiro, prestes a ter seu nome confirmado para disputar a Copa do Mundo com a seleção brasileira.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

PAIXÃO E VIOLÊNCIA NO FUTEBOL

pré-Univesp
pré-Univesp – No. 1 2010 – Copa do Mundo – Jun 2010


Artigos


Torcer sim, mas perder a linha que separa o “eu” e o clube e cometer atos insanos jamais, diz professora da Unicamp

Por Heloisa Helena Baldy dos Reis





Os brasileiros ao nascerem recebem duas denominações que os acompanharão por toda a vida: um nome e um time para torcer. A predileção por um time de futebol é quase que herdada. Aqueles filhos que renegam essa herança são vistos como traidores e causam grandes decepções e frustrações aos seus progenitores. Mas não irei falar das exceções e sim da regra.

A paixão clubística pelo futebol é herdada e passa a ser vivida já a partir dos primeiros anos de vida. Ela é verificada pelo uso de uniformes dos times, principalmente as camisas. A criança, com sua natural ingenuidade, aprende dentre as primeiras palavras o nome do seu time. E por que será que na sociedade moderna, urbanizada, o futebol torna-se uma grande paixão? Há muitas explicações e eu abordarei algumas delas.

O principal motivo para um indivíduo sentir-se atraído pelo futebol é, segundo estudiosos do esporte, o grande prazer que essa atividade proporciona ao seu público. As dimensões do campo, o número de jogadores, o tamanho do gol e o equilíbrio na disputa entre as equipes provocam nos espectadores uma tremenda excitação, porque há um longo período de expectativa entre a saída da bola e a chegada da mesma nas zonas de maior probabilidade de gol. Os passes e os dribles provocam no público certa tensão, que será elevada dependendo do equilíbrio estabelecido entre as equipes rivais, pois jogos muito fáceis não são tão excitantes.

E por que o ser humano dos séculos XX e XXI precisa buscar o prazer nos jogos de futebol, seja dos times profissionais ou mesmo em “peladas” de final de semana? As respostas são dadas pela observação de um processo civilizador vivido pela humanidade, no qual os indivíduos foram criando uma espécie de autocontrole da expressão de seus sentimentos em público. Isso tem diferentes níveis se compararmos sociedades distintas, mas algo parece semelhante em quase todas elas: a seriedade verificada no mundo do trabalho. O trabalho exigiu das pessoas seriedade, autocontrole e disciplina. Todas essas exigências são relaxadas nas atividades de lazer, como é o caso do espetáculo futebolístico.

O futebol é uma possibilidade de vivência controlada de descontroles, ou seja, de expressão de emoções em público, e a castração das emoções no ambiente do trabalho fez com que os indivíduos passassem a ter necessidade de busca por atividades miméticas, como é o caso do espetáculo esportivo.

Mas o que são essas atividades miméticas? São todas as atividades que permitem aos indivíduos a vivência de fortes emoções, sendo que estas não trarão, a princípio, riscos para os mesmos. A derrota do time em um jogo, por exemplo, poderá ser vivida com fortes emoções de frustração, tristeza e desespero, a ponto de levar os torcedores do time que perdeu ao choro, ao grito de ódio pela perda. No caso de uma vitória, os torcedores chegam a sentir tanta alegria a ponto de soltar gritos de emoção. Sentimentos de poder, de grandeza e de força são vivenciados e muitos chegam a chorar de felicidade quando a conquista é muito desejada e a vitória se concretiza.

A paixão pelo futebol começa a tomar uma dimensão preocupante e a se tornar um problema quando a percepção da identidade individual do torcedor fica frágil e comprometida, a ponto do indivíduo não perceber quem é ele e quem são seus ídolos. O torcedor e a paixão clubística misturam-se e começam a acontecer atos transgressores, agressões fortuitas, e até delitos e atos vandálicos.

A violência nos dias de jogos de futebol transformou-se em uma questão de segurança pública em diversos países e, no Brasil, já fez 64 vítimas fatais, apenas nãos jogos da elite do futebol brasileiro. Nos anos de 1980, a violência no futebol parecia um problema localizado apenas na Inglaterra, onde recebeu o nome de hooliganismo. Hoje, no entanto, é um problema quase planetário.

Para pensar em prevenção dessa violência, é necessário buscar suas raízes, suas causas diretas e indiretas. Quarenta e seis países europeus adotaram políticas nacionais de prevenção elaboradas a partir de um acordo firmado no Conselho da Europa. A gota d'água foi a tragédia do estádio Heysel, na Bélgica, em 1985, que deixou 39 mortos na final da Copa dos Campeões. Os primeiros participantes do Convênio Europeu sobre a violência e mau comportamento em eventos esportivos, proposto após a tragédia de Heysel, foram Inglaterra, Itália e Espanha, entre outros. Hoje, estes são os países com maior sucesso na promoção de espetáculos de futebol.

O Conselho da Europa, com sede em Estrasburgo (França), hoje cobre praticamente todo o continente europeu, com seus 47 países membros, incluindo os 27 que formam a União Europeia. Fundado em 5 de Maio de 1949 por 10 países, o órgão tem como propósitos a defesa dos direitos humanos, o desenvolvimento democrático e a estabilidade político-social na Europa. O Conselho da Europa tem personalidade jurídica reconhecida pelo direito internacional e serve cerca de 800 milhões de pessoas.

A Espanha e vários países da Europa assinaram em 19 de agosto de 1985, na cidade de Estrasburgo (França), o Convênio do Conselho Europeu, “Convênio Europeu sobre a Violência de Espectadores e de Maus Comportamentos em Eventos Esportivos e em nos Jogos de Futebol”.

Na Espanha, trabalhos acadêmicos e de inteligência policial subsidiaram a elaboração da Lei de Esporte espanhola, de 1990, que dedicou um capítulo especificamente ao tema. Essa legislação tornou ágil o julgamento dos delitos e imputou aos clubes as penas em casos de violência de seus torcedores, assim como aos indivíduos envolvidos em atos de violência e/ou de vandalismo no estádio e em suas imediações. A lei já passou por duas revisões: a primeira versão entrou em vigor em 2007 e a última foi aprovada em março deste ano e entrará em funcionamento a partir de 01 de julho de 2010.

No Senado brasileiro tramita, desde o primeiro semestre de 2009, um projeto de lei, originário do poder Executivo, que modifica e amplia os direitos e deveres dos torcedores e dos organizadores do evento esportivo. Um dos principais acréscimos é a responsabilização criminal e civil tipificada para ocorrências de atos ilícitos em relação com espetáculos esportivos.

Estudos realizados na Europa concluíram que a falta de infra estrutura dos estádios é diretamente responsável pelos atos de vandalismo e de outras formas de violência no interior dos mesmos. Por isso, muitas recomendações do Tratado Europeu dizem respeito à modernização dos estádios. Segundo as autoridades europeias, ambientes confortáveis e seguros inibem a violência.

O Tratado Europeu é um tratado sobre a prevenção da violência em espetáculos esportivos e do mau comportamento de espectadores, com atenção especial ao futebol, assinado pelos países membros do Conselho da Europa a partir de 1985.

No Brasil, as frustrações geradas com o mau funcionamento dos serviços e da infra estrutura dos estádios contribuem para manifestações violentas. O confronto de torcedores no Estádio do Pacaembu em 1995, na final da Copa São Paulo de Juniores, parecia ter sido a gota d'água. Porém, outras tragédias se sucedem ano a ano. O episódio de 1995 chocou a sociedade pela crueldade dos jovens agressores armados com entulhos encontrados no próprio estádio, o que é inadmissível em todos os aspectos.

O futebol não é só futebol. Este esporte é, em muitos países, a expressão de seu povo.

Torcer, ter admiração por um time, reunir-se com amigos e estranhos a beira de um campo... tudo isso é muito sadio e prazeroso! Agora, perder a linha que separa o “eu” e o clube, cometer atos insanos e causar pânico à população são patologias de uma sociedade que ainda busca caminhos para a paz, a tolerância e a harmonia.



*Heloisa Helena Baldy dos Reis é livre docente e coordenadora do Grupo de Pesquisa de Futebol (GEF) da Unicamp e autora dos livros Futebol e violência, pela Editora Autores Associados, e Futebol e sociedade, pela Liber Livros.

Foto: Heitor Shimizu



http://www.univesp.ensinosuperior.sp.gov.br/preunivesp/118/paix-o-e-viol-ncia-no-futebol.html

sábado, 5 de abril de 2014

CONDUTA DISCRIMINATÓRIA


ZERO HORA 05 de abril de 2014 | N° 17754

ARTIGOS

por Luiz Carlos Mabilde*




A cada nova edição de conduta discriminatória (CD) nos estádios de futebol, mais pessoas (chocadas) indagam umas às outras e às autoridades se tais fatos não deixarão de ocorrer. A CD envolve agressão, sofrimento mental e pode adquirir grande magnitude. Apesar disso, repetem-se atos de intolerância, ódio irracional ou aversão a outras pessoas, por razões étnicas, religiosas, culturais, sexuais e tantas outras.

Trata-se de uma atitude preconceituosa, pois é consequente a uma ideia formada sem contestação, fundamento sério ou reflexão que a justifique. Ela começa pela influência da família, cresce nas escolas, clubes e ruas, fortalece-se nas instituições, estádios e partidos; finalmente, estrutura-se nas cidades e países. Algumas constatações agravam ainda mais o problema: todos discriminam, não havendo período da História isento de CD e, o que é pior, ela parece imperturbável.

Freud buscou outros fatores para melhor compreender o padrão cultural preconceituoso e sua inalterabilidade. Encontrou-os na própria personalidade humana. De início, entendeu que o narcisismo imporia um isolamento pessoal ou grupal dos outros por não tolerar diferenças. Depois, percebendo a agressividade intrínseca ao homem, Freud afirmou: “O homem é o lobo do homem”, na medida em que o próximo é alguém que o tenta a satisfazer toda sua agressividade. Bastam os seguintes exemplos: as invasões dos hunos, dos mongóis, dos cruzados e o holocausto perpetrado na última guerra mundial.

O fenômeno apocalíptico – como ideologia profunda da personalidade – completaria a equação causal da CD. O apocalipse é uma visão do mundo e de seu final. Um julgamento. Uma crença de que os inimigos de um povo seriam erradicados pelos anjos bons do céu, restando na terra apenas os justos. Assim, o esquema apocalíptico contém ideias patológicas de destruição selvagem dos outros e de renascimento messiânico de um só grupo, o que inevitavelmente evoca a CD, na proporção cabível para cada evento estudado.

Não parece haver fórmula mágica para erradicar a CD como parte do comportamento humano. Encará-la como produto do preconceito associado a um distúrbio mental seria, além do enquadramento penal, outra forma de inibi-la. Do contrário, seguiremos assistindo a sua prática em estádios e guerras, assim como a sua negação. Todo dia se vê alguém autodenominar-se isento de discriminações ou criticá-las fortemente, porém, ao exortá-las, apontar alguma particularidade discriminativa do outro, ao invés de simplesmente não fazê-lo.

*PSIQUIATRA E PSICANALISTA

quinta-feira, 13 de março de 2014

RACISMO FUTEBOL CLUBE




ZERO HORA 13 de março de 2014 | N° 17731


EDITORIAIS



O Esportivo de Bento Gonçalves será julgado nesta quinta-feira pelo Tribunal de Justiça Desportiva, por sua responsabilidade no caso de racismo que envolveu o árbitro Márcio Chagas. É inquestionável que o racismo merece todas as condenações e que precisa ser desestimulado tanto pela legislação quanto pela construção de uma cultura de convivência e diversidade. E o futebol, por ser um esporte de grande visibilidade, por reunir torcedores e atletas de variadas origens étnicas, se constitui em espaço adequado para o exercício da conscientização e da tolerância.

Hoje é o Esportivo que está no banco dos réus, tanto pelas ofensas dirigidas ao árbitro por alguns de seus torcedores quanto pela depredação do veículo do profissional que estava estacionado nas dependências do clube. Espera-se que os auditores do TJD apliquem uma punição adequada às infrações cometidas, sem transformar o clube da serra gaúcha em símbolo de execração. Não há condenação mais exemplar do que uma pena justa. Racismo se combate com justiça, e não com justiçamento.

Porém, independentemente do julgamento do Esportivo, é importante que os torcedores praticantes dos atos discriminatórios também sejam responsabilizados, até para desestimular resistências como a de outros frequentadores do futebol que insistem em continuar entoando cânticos agressivos e preconceituosos. Não é possível que esses indivíduos continuem achando normal e aceitável chamar alguém de macaco ou se referir a um grupo de pessoas por macacada. Precisamos evoluir no respeito ao outro, precisamos ser mais inteligentes e civilizados até mesmo nas provocações futebolísticas. Já não há mais lugar no campeonato da humanidade para o Racismo Futebol Clube e para as boçalidades de sua torcida.


sexta-feira, 7 de março de 2014

ÁRBITRO DE FUTEBOL É VÍTIMA DE RACISMO



CORREIO DO POVO 07/03/2014 11:31

Esportivo convoca torcida para identificar autores de caso de racismo. Clube também registrou ocorrência por difamação contra o árbitro Márcio Chagas



O presidente do Esportivo, Luis Delano Lucchese Oselame, divulgou uma carta aberta lamentando o caso de racismo relatado pelo árbitro Márcio Chagas da Silva em Bento Gonçalves, na Serra gaúcha. O fato teria ocorrido durante a partida entre o Alviazul e o Veranópolis, na quarta-feira.

O mandatário garantiu que o clube não medirá esforços para esclareceu o que ocorreu na Serra. Ele também convocou a torcida para ajudar as autoridades a identificar os autores dessas “atrocidades” e afirmou que não seria justo o Esportivo ser púnico por “alguns poucos que se dizem torcedores”.

Confira a nota na íntegra:

Este é sem dúvida um capitulo triste na história do nosso Alvi-Azul.

Os fatos de racismo relatados pelo árbitro Márcio Chagas em nosso estádio na última quarta-feira me entristecem não apenas como presidente e torcedor do Clube Esportivo, mas também como empresário, bentogonçalvense, homem e pai de família.

Em momentos como esse devemos ter cautela e não podemos transformar um em todos. A infeliz voz que supostamamente gritou palavras de ofensas ao árbitro não é a voz da nossa torcida, do nosso clube, da nossa comunidade, principalmente quando falamos de uma cidade acostumada a receber tão bem visitantes de todas as partes do Brasil e do mundo.

Desde que comecei a frequentar os corredores desse Clube sonhei vê-lo nas páginas e veículos de mídia do país por suas glórias, e muito me entristece vê-lo nessas tão sonhadas páginas por uma noticia lamentável como essa que se quer tem relação direta com a instituição.

Assim como muito me entristece o que alguns oportunistas estão tentando fazer nesse momento, especulando que o Esportivo estaria questionando a idoneidade do árbitro e apoiando condutas criminosas e racistas. O Clube Esportivo, toda sua direção, comissão técnica, equipe e funcionários repudiam qualquer forma de racismo… repito, repudiamos qualquer forma de racismo!

Peço desculpas se aos olhos dos grandes não soubemos lidar tão bem com essa situação como deveríamos, mas acreditem, isso para nós foi uma ingrata e inesperada surpresa tanto como para todos vocês.

Não mediremos esforços para esclarecer os fatos e convocamos nossa torcida para nos ajudar e ajudar as autoridades em um momento como esse, trazendo informações que identifiquem os verdadeiros culpados por essas atrocidades. Não é justo que nosso time e sua torcida, que vem lutando bravamente para se manter entre a elite do futebol gaúcho, seja penalizado por alguns poucos que se dizem torcedores.

Assim como o árbitro Márcio Chagas tem seus filhos, eu também gostaria de poder ver os meus brincando livremente, com os filhos dele e de qualquer outra pessoa, não importando sua cor, credo ou classe social, em um mundo mais justo e sem racismo.

Cordialmente,
Luis Delano Lucchese Oselame
Presidente do Clube Esportivo Bento Gonçalves


CORREIO DO POVO 06/03/2014 14:45

Árbitro Márcio Chagas diz ter sido vítima de racismo em Bento Gonçalves. Profissional encontrou duas bananas em cima do seu carro após jogo entre Esportivo e Veranópolis




Márcio Chagas encontrou duas bananas em cima do seu carro após jogo entre Esportivo e Veranópolis
Crédito: Mauro Schaefer / CP Memória


O árbitro Márcio Chagas da Silva disse ter sido vítima de racismo em Bento Gonçalves, na Serra gaúcha, após a partida entre Esportivo e Veranópolis nessa quarta-feira. Duas bananas foram colocadas em cima do carro dele depois do confronto. Além disso, o automóvel tinha arranhões na lataria e marcas de batida.

O veículo estava dentro do estacionamento destinado à arbitragem do estádio Montanha dos Vinhedos. A partida terminou 3 a 2 para a equipe da casa. Chagas da Silva acredita que a própria torcida do Esportivo cometeu o ato de racismo. “Aconteceu mais um fato lamentável de racismo em Bento. Quando entrei no campo de jogo, já escutei palavras racistas da torcida do Esportivo em relação a minha pessoa, me chamando de ‘macaco’”, contou o árbitro em entrevista à Rádio Guaíba.

Mas o pior ocorreu depois do confronto. “Ao término da partida, fui pegar o carro no estacionamento do clube e me deparei com o veículo cheio de bananas, por cima e no cano de descarga do veículo. Além disso, tinha arranhões, batidas e partes amassadas”, relatou. “Era um lugar privativo, fechado com portão, que não deveria ter acesso por mais ninguém, a não ser pela arbitragem ou dirigentes do clube. Alguns atletas viram o ocorrido e disseram que é comum manifestações racistas por parte dos torcedores do Esportivo”, comentou.

Chagas fotagrafou os danos causados e anexou as imagens à súmula do duelo. No entanto, ela ainda não foi divulgada pela Federação Gaúcha de Futebol (FGF). "Encaminhei na súmula fotos do meu carro, para que eu possa ser ressarcido por esse clube e para futuras punições."

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

DETIDOS INVASORES DO CT DO CORINTHIANS


O Estado de S. Paulo, 20 de fevereiro de 2014 | 8h 00

Torcedores que participaram de invasão do CT do Corinthians são detidos. Eles foram encaminhados na manhã desta quinta-feira, 20, para a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no centro de São Paulo; caso ocorreu no dia 1º

Felipe Cordeiro



SÃO PAULO - Treze torcedores do Corinthians foram encaminhados na manhã desta quinta-feira para a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na região central de São Paulo, suspeitos de terem participado da invasão ao Centro de Treinamento do clube, na zona leste, em 1º de fevereiro. Dentre os suspeitos, três já foram detidos pela Polícia Civil.

Dentre os cinco mandados de prisão expedidos pela Polícia, dois deles já foram cumpridos na identificação dos suspeitos. Além dos acusados, outro torcedor foi preso na quadra da Camisa 12, ao ser flagado com um revólver calibre 38. Ao todo, a Polícia cumpre seis mandados de busca e apreensão e possui mais três mandados de prisão, em operação que se iniciou por volta das 4h30 desta quinta-feira, e deve ser realizada durante todo o dia.

Além do torcedor identificado com porte ilegal de arma, outros nove integrantes da torcida organizada do Corinthians Camisa 12 foram encaminhados à DHPP. Os policiais responsáveis pela operação também encaminharam um torcedor da Pavilhão 9 e dois da Gaviões da Fiel.

O advogado da Gaviões da Fiel, Ricardo Cabral, acredita que houve precipitação por parte da Polícia nessa ação. "A busca na quadra foi realizada de forma exagerada, já que a Gaviões esta colaborando com as investigações", disse. Além dos dois torcedores, os policiais civis apreenderam computadores e US$ 3.300 (R$ 7.900) na sede da torcida organizada, localiza no bairro do Bom Retiro, em São Paulo.

FOTOS Os torcedores foram identificados por fotos divulgadas após a invasão. A Polícia investigará por que o Corinthians não entregou todas as imagens das câmeras de segurança após a invasão, que provocou a saída de três jogadores do clube: Pato, Douglas e Paulo André.

No dia da invação ao CT, 22 câmeras funcionavam. Ocorre que o Corinthians enviou apenas vídeos de duas delas. Em entrevista à Rede Globo, o presidente do Corinthians, Mário Gobbi, disse que as demais câmeras pararam de funcionar e que as máquinas estão sendo avaliadas pela perícia técnica.

DIA DE TERROR

Elisabete Sato, diretora-geral da DHPP, disse que apesar das dificuldades, a polícia pretende identificar outros invasores. "Estamos pegando as imagens que algumas emissoras divulgaram e também as que o presidente corintiano passou para a gente". Dos outros dez ouvidos, seis torcedores corintianos já foram liberados pela Polícia Civil.

Na invasão ao CT, um grupo de cem torcedores foi ao local para protestar depois de o Corinthians sofrer goleada por 5 a 1 para o Santos. Foram denunciadas agressões contra funcionários e ao atacante Paolo Guerrero, além de roubos de celulares. Depois disso, o plantel chegou a ameaçar não jogar no Paulistão, mas acabou entrando em campo normalmente - o Sindicato dos Atletas ainda tentou articular uma greve, sem sucesso.