domingo, 30 de dezembro de 2012

O QUE EXPLICA A VIOLÊNCIA



ZERO HORA 30 de dezembro de 2012 | N° 17298

FUTEBOL. Disputa por verbas e poder transformaram parte das torcidas organizadas em grupos prontos para a guerra. Especialistas temem que o Brasil passe por um processo de radicalismo, vivenciado pela Argentina e pelo Leste Europeu.

RODRIGO MÜZELL

Cenas recentes como as da briga entre integrantes da Geral do Grêmio na inauguração da Arena ou do tumulto entre a Guarda Popular e a Popular, do Inter, há um ano no Beira-Rio, trouxeram à tona o lado violento das torcidas organizadas.

Formadas pela paixão de torcedores por seus times, grandes torcidas envolvem bem mais do que apenas a festa nas arquibancadas: a disputa por verbas, respeito e proteção em partidas fora de casa são ingredientes explosivos para os conflitos.

Tanto quanto rixas pessoais e rivalidades entre os clubes, o dinheiro movimentado quando as organizações tomam corpo é também motor para os tumultos. Ansiosos por apoio em jogos fora de casa, os clubes fornecem ingressos e ônibus para torcedores acompanharem os times – benefícios que se tornam uma disputada fonte de renda. Em dezembro de 2011, logo após protagonizar um tumulto no jogo de despedida de Fabiano Souza no Beira-Rio, o então líder da Guarda Popular, Hierro, avaliou em R$ 25 mil o movimento mensal:

– É até pouco para o nosso tamanho.

Nos estádios, isso se traduz em tensão permanente entre rivais e até facções de uma mesma torcida. É quando, como comprovado nas imagens da briga na Arena, o jogo e o time ficam em segundo plano. Para o tenente-coronel Kleber Rodrigues Goulart, comandante do Batalhão de Operações Especiais (BOE), a situação entre as torcidas coloradas ficou mais calma após os tumultos do ano passado devido à redução dos benefícios feita pelo Inter – caminho anunciado, agora, pela direção gremista. Para o comandante, se os clubes e torcedores não rejeitarem as práticas violentas das organizadas, o Brasil poderá começar a ver situações como as vividas na Argentina e na Europa:

– Estamos num processo de hooliganismo. Continuando assim, chegaremos ao ponto do Leste Europeu, em que as torcidas são tão poderosas que decidem contratações dos clubes.

Em todo o país, polícias e Ministério Público têm nas organizadas e suas facções uma fonte permanente de dores de cabeça. Apenas em 2012, o MP pediu a suspensão ou extinção de torcidas de Corinthians, Palmeiras e Guarani (São Paulo), Flamengo e Vasco (Rio). Integrante da Comissão Nacional de Prevenção e Combate à Violência em Estádios, o promotor do MP do Rio Pedro Rubim diz que o ciclo de violência se reproduz com rixas que não cicatrizam. Neste ano, por exemplo, após a morte de um flamenguista por torcedores do Vasco, integrantes da Torcida Jovem do Flamengo teriam planejado o revide, que resultou na morte de um vascaíno. E a violência acaba aumentando o cacife das torcidas junto aos clubes, diz o promotor.

– A ideia de que são violentos e irracionais faz com que o dirigente dê apoio, ingressos, patrocínio – explica Rubim, que determinou o fim dos benefícios às torcidas suspensas.

Ao lado, os fatores que fazem das brigas de torcidas mais do que simples arruaça juvenil.


Alianças nacionais. Torcidas se relacionam fora do Estado, mas mantêm a rivalidade Gre-Nal

Na hora de formar alianças com organizadas de outros grandes times brasileiros, as torcidas de Grêmio e Inter permanecem em polos opostos.

Duas alianças nacionais conectam as principais torcidas do Brasil: a União do Punho Cruzado – integrada pela Camisa 12 colorada – e a União Dedo Pro Alto, que conta com Geral e Torcida Jovem, do Grêmio. As duas têm como símbolos gestos com os braços que remetem à violência.

Ter uma torcida coirmã significa oferecer todo suporte quando visitada pela parceira, seja como adversária ou em partidas contra o rival da cidade. Integrantes buscam os colegas no aeroporto ou na rodoviária e os hospedam na própria casa. Churrascos para comemorar a presença da visitante são comuns. No dia do jogo, mesmo que contra o próprio time, há ajuda mútua para estender as faixas nas arquibancadas. Se a partida for na casa rival, os organizados locais tentam escoltar e proteger os forasteiros no estádio. Quando comemoram aniversário, as torcidas enviam passagens para a diretoria da coirmã participar da festa. Bandeiras são trocadas para tremularem em outros Estados – uma forma de expandir a marca nacionalmente.

Essas relações preocupam as autoridades. Pedro Rubim, promotor do Ministério Público do Rio, diz que as alianças podem complicar jogos tranquilos entre times de Estados diferentes – basta que rivais locais se juntem aos forasteiros.

– Se flamenguistas se misturam a torcedores visitantes em uma partida contra o Vasco, a situação fica muito complicada – exemplifica.

No Rio Grande do Sul, a ordem na Brigada Militar é retirar das torcidas de outros Estados qualquer torcedor identificado com o rival local – seja um gremista no Beira-Rio ou um colorado em jogos do Grêmio.

As parcerias não são imutáveis. A Máfia Azul, principal organizada do Cruzeiro, era uma “Punho Cruzado” até 2000, mas uma briga com a Independente são-paulina comprometeu a união. Os paulistas também entraram em conflito, no ano passado, com a Jovem Fla. Mais ampla, a União Dedo Pro Alto congrega torcidas em boa parte do Brasil, que combatem as do Punho Cruzado mas nem sempre têm boa relação entre si. Algumas organizadas se mantêm independentes dessas “ligas” e escolhem pontualmente suas amizades. É o caso de Guarda Popular (Inter), Fanáticos (Atlético-PR) e Gaviões da Fiel (Corinthians).



sábado, 29 de dezembro de 2012

PROFISSÃO: TORCEDOR

ZERO HORA 29 de dezembro de 2012 | N° 17297

CARLOS WAGNER

Flagrado pelas câmeras comandando a briga durante a inauguração da Arena do Grêmio, Cristiano Roballo Brum, 32 anos, o Zóio, afirmou ontem que a pancadaria não tem nada a ver com a disputa interna pelo poder na Geral. Em conversa no Estádio Olímpico (o lugar foi marcado por ele), disse que o vídeo mostra apenas parte do que aconteceu. Zóio nega que tenha começado a briga, mas admite que falhou como líder ao não conseguir encerrá-la.

– A minha presença era para ter acabado com a briga. Mas aconteceu o contrário.

A seguir, trechos da entrevista:

Zero Hora – Qual sua versão sobre o que aconteceu?

Cristiano Roballo Brum, o Zóio – Eu não fui o chefe da baderna. Sou o líder da torcida do Grêmio. Houve uma série de incidentes. O principal deles começou com uma mulher pisando no pé da namorada de um torcedor. Ele não gostou e empurrou a mulher, começando a briga. Naquele dia, eu não estava lá como líder de torcida, estava acompanhado pela minha noiva, o meu filho e outros parentes. E acabei entrando na briga porque não podia permitir aquilo, até porque a pessoa envolvida é um velho conhecido meu, mas tem um longo histórico de perder o controle quando bebe.

ZH – Em duas cenas, o senhor aparece atirando um tambor e dando um pontapé no rosto de um torcedor...

Zóio – Não deveria ter agido assim. Mas agi porque não tive o respeito das pessoas que pensava ter. A minha presença era para ter acabado com a briga. Mas aconteceu o contrário.

ZH – Esta falta de respeito não seria porque a Geral estaria envolvida em uma guerra pelo poder?

Zóio – Não tem nada a ver. Fui para a liderança em 2008 porque o Alemão (Rodrigo Marques Rysdyk) estava enfrentando um processo judicial por racismo. Ele voltou para a liderança. Acho que a torcida não respeitou por outros motivos.

ZH – Como esse episódio repercutiu na sua vida?

Zóio – Eu sei que agi de maneira incorreta. A repercussão na minha vida particular foi horrível. Eu tenho dois filhos e estava no Interior, na casa da minha noiva, quando estourou tudo. Imagina a situação.

ZH – Essa não foi a primeira vez que o senhor se envolveu em brigas no estádio. O senhor respondeu a inquéritos por agressão. Este passado de violência influenciou no que aconteceu?

Zóio – Realmente já aconteceram outras situações. Em algumas delas, sou inocente.

ZH – O senhor responde a processo por tráfico de drogas?

Zóio – Sim, mas não quero falar sobre o assunto porque o processo está em andamento.

ZH – Como o senhor ganha a vida?

Zóio – Temos o negócio próprio da torcida. Vendemos os materiais para ganhar recursos e ganhamos ingressos. A minha vida sempre foi o Grêmio.

ZH – Como foi que entrou para a torcida organizada?

Zóio – Entrei aos 14 anos. Com o meu primeiro emprego, comprei o uniforme (na época, as organizadas eram uniformizadas) e pagava a mensalidade. Logo perdi o emprego, pela dedicação ao time.

ZH – Hoje, o senhor vive do dinheiro que ganha na organizada. Quanto é?

Zóio – Olha, a nossa dedicação é de 24 horas, todos os dias da semana. O que ganho é o suficiente para pagar as duas pensões dos meus filhos e viver uma vida simples. Tenho uma motinho para o meu deslocamento.

ZH – Como vai ser a sua vida daqui para frente?

Zóio – Eu e o Alemão fomos afastados, para o bem do Grêmio.

ZH – E agora, como o senhor vai viver?

Zóio – Nas horas vagas, vou a cursos profissionalizantes e agora vou à luta. É o preço que estou pagando pelo erro que cometi.

ZH – Valeu a pena dedicar mais da metade da vida à torcida organizada? O senhor foi afastado e responde a inquéritos policiais?

Zóio – Valeu a pena. Infelizmente, neste período não tive nenhum título de expressão. Mas ajudei muitas pessoas. Isso me enche de orgulho. Lamentavelmente o que ficou foi o último episódio. O que fiz de bem ninguém lembra. Só veem o mal.

ZH – É possível ser líder de torcida sem se envolver em briga?

Zóio – Desde de 2008, qual foi a grande briga que aconteceu? Nenhuma, porque nós não permitimos.

ZH – Quem assume no teu lugar e no do Alemão?

Zóio – Isso é coisa interna. Logo, vocês vão saber.

ZH – Vocês apoiaram o Paulo Odone nas últimas eleições?

Zóio – Apoiamos o Odone pelo seu trabalho. Está certo que não ganhamos nenhum título. Mas ele não abandonou o clube.

ZH – Isso tem alguma influência sobre o que aconteceu lá na Arena?

Zóio – Não, aquilo lá começou com um pisão no pé.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

BADERNA NA ARENA: PERGUNTAS, RESPOSTAS E VERSÃO DO AGREDIDO

ZERO HORA 28 de dezembro de 2012 | N° 17296

BM ameaça punir a Geral. Polícia estuda proibir instrumentos, bandeiras e trapos da torcida em jogo da Libertadores, em 30 de janeiro

LEANDRO BEHS

A Geral poderá ficar sem os seus instrumentos, bandeiras e trapos para o jogo entre Grêmio e LDU, em 30 de janeiro, na Arena.

Devido à briga de facções da Geral na inauguração do novo estádio, a Brigada Militar analisa a retirada dos acessórios da torcida para a partida de volta da primeira fase da Libertadores. O comando da BM teme que um jogo de alta tensão proporcione cenas ainda mais graves de violência na Arena.

Ainda que haja negativas, o grupo liderado por Cristiano Roballo Brum, o Zóio, e os comandados por Rodrigo Marques Rysdyk, o Alemão, as duas principais lideranças da torcida, estariam em meio a uma disputa de poder pelo comando da organizada e das verbas concedidas pela direção do Grêmio, o que gerou o tumulto do dia 8 de dezembro. Ontem, ZH revelou imagens da briga ocorrida na inauguração da Arena, na qual torcedores se envolveram em uma pancadaria. O comandante da baderna foi Zóio, número 2 da Geral.

– Eles usaram os instrumentos como armas e isso não pode ficar assim. Nos próximos dias, teremos uma reunião para definir os procedimentos a serem adotados para este primeiro jogo grande, de competição mesmo, na Arena. Poderá haver punição às torcidas, sim. E essas sanções ainda estão sob análise – afirmou o coronel Alfeu Freitas, responsável pelo Comando de Policiamento da Capital (CPC).

Além disso, Freitas destaca que as imagens das brigas durante Grêmio e Hamburgo já foram encaminhadas ao Ministério Público. Naquela noite, oito torcedores foram presos e conduzidos ao Juizado Especial Criminal (Jecrim).

Segundo a juíza Viviane de Faria Miranda, titular do Jecrim da Arena na noite de inauguração do estádio, desses oito torcedores, apenas dois não puderam optar pela transação penal e pagar cerca de R$ 300 em cestas básicas (a serem revertidas para o Lar Santo Antônio dos Excepcionais) para serem soltos, pois já tinham antecedentes. Esses dois responderão a processo por tumulto, ainda sem previsão de julgamento. Se condenados, poderão ficar até um ano sem poder comparecer a estádios em dias de jogos. Zóio, responsável pelo começo da briga, não estava entre os torcedores presos.

– Nosso temor com relação à Arena é uma possível invasão de campo, devido à proximidade do gramado. Em um jogo decisivo, tenso, poderá ocorrer um tumulto generalizado. Por isso, estamos de olho nas organizadas do Grêmio. Afora a questão penal, vamos sugerir punições administrativas aos brigões – comentou o coronel Freitas.

A Brigada Militar entende ainda que os jogos do Grêmio na Libertadores, se a equipe passar pela LDU, serão decisivos para a presença das duas torcidas e também das organizadas no primeiro Gre-Nal na Arena (ainda sem data, uma vez que o único clássico garantido até aqui no Gauchão ocorrerá no Colosso da Lagoa, em Erechim, no dia 2 de fevereiro).

– No Brasileirão, recebemos a sugestão de fazer o clássico com torcida única no Beira-Rio (em 26 de agosto, com vitória do Grêmio por 1 a 0), devido às obras do estádio. Conseguimos evitar. Agora, se as organizadas continuarem com esse comportamento, tomaremos outras medidas e até mesmo o clássico com apenas uma torcida e sem organizadas poderá ser analisado – declarou o coronel Alfeu Freitas.



PERGUNTAS & RESPOSTAS

Imagens da briga na Arena mostradas por ZH levantaram questionamentos. Justiça e Grêmio respondem

As imagens de Zóio podem gerar alguma punição ao torcedor?

Conforme a juíza Viviane de Faria Miranda, titular do Jecrim da Arena, não. Apesar das imagens e da violência de Zóio contra outros torcedores da Geral, ele não estava entre os oito presos devido às brigas na arquibancada naquela noite. Assim, não será indiciado pelo tumulto.

A Brigada Militar afirma que a Arena não tem central de monitoramento. Isso é fato?

Segundo Eduardo Antonini, presidente da Grêmio Empreendimentos, a Arena tem central de monitoramento. Ocorre que, no dia da inauguração, nem todas as câmeras estavam funcionando. Por isso, conforme Antonini, a BM precisou complementar. Conforme o dirigente, ao todo, são cerca de 90 câmeras, cinco vezes mais do que a Fifa exige. Cerca de 30 funcionaram na estreia. No Jogo Contra a Pobreza, esse número aumentou. Na partida contra a LDU (dia 30 de janeiro), todas elas já deverão operar, diz Antonini.

Por que todas as organizadas ficam juntas na Arena?

O presidente da Grêmio Empreendimentos destaca que não existe um local específico para as organizadas.

– Como aquele local é o mais barato, porque as pessoas ficam de pé, as organizadas acabam indo para lá. Muitos sócios também ficam naquele setor. A Brigada nos prometeu que estará muito atenta àquela localização. O que aconteceu naquele dia é um grande exemplo de que a atenção precisará ser redobrada – explica Antonini.


A VERSÃO DO AGREDIDO

Por CARLOS WAGNER


O chute que levou no rosto o tornou personagem do episódio que marcou a inauguração da Arena. Com 24 anos, o administrador aparece no vídeo sendo agredido por Cristiano Roballo Brum, o Zóio, número 2 da Geral. Com a condição de não ser identificado, o jovem falou com ZH. Já Zóio, não foi localizado.

Zero Hora – Por que houve a briga?

Agredido – A briga foi uma fatalidade entre pessoas que frequentam a torcida.

ZH – Por que o chute na cara?

Agredido - Não faço ideia. Eu não lembrava do chute.

ZH – Você já conhecia o Zóio?

Agredido – Conheci o Zóio em 2008, na torcida do Grêmio. Estivemos juntos inclusive no Rio de Janeiro, este ano. Nunca tivemos problemas.

ZH – De que grupo você é da Geral?

Agredido – Eu sou sócio e torcedor do Grêmio, frequento o estádio na Geral pelas amizades de infância que tenho e criei através do Grêmio.

ZH – O que você sentiu ao ver sua imagem levando um chute?

Agredido - Não senti nada. A imagem é forte, mas desvio com a cabeça para trás.

ZH – Isso causou algum tipo de transtorno na sua vida pessoal, na família e na vida profissional ?

Agredido – Não causou maiores transtornos. Fico triste pelo tumulto ocorrido. Ainda comentei com familiares e o diretor da empresa em que trabalho para deixar claro o que tinha acontecido e para que não fossem pegos de surpresa por causa das fotos.

ZH – Qual a sua frequência nos jogos do Grêmio?

Agredido – Vou a todos os jogos, inclusive fora de casa quando consigo conciliar com o trabalho e a família.

ZH – A partir da divulgação das imagens, alguém entrou em contato com você? Grêmio, BM, Ministério Público, Polícia Civil?

Agredido –Somente amigos que não sabiam do ocorrido para saber se eu estava bem.

ZH – Por que você não quer se identificar?

Agredido – Para não prejudicar minha vida profissional.



ZERO HORA - DO LEITOR - A guerra na inauguração da Arena do Grêmio

A reportagem “O comandante da baderna na Arena”, do repórter Paulo Germano, publicada ontem nas páginas 4 e 5, mostrando cenas exclusivas da pancadaria na torcida Geral do Grêmio que manchou a inauguração do novo estádio tricolor, em 8 de dezembro, gerou muitas manifestações de leitores. Algumas delas são reproduzidas abaixo:

Não sou defensor de ninguém, mas quero saber qual a fonte (imagens) do repórter. Cada um vê o que quer, e vocês, dessa imprensa de m... que só querem vender (sim, visam ao lucro e não à informação), deduzem o que querem. E se o cara foi ameaçado e se quem começou foi outra torcida? Acusarem alguém assim de imediato? A imparcialidade é tanta, que o repórter não percebeu que a grande maioria queria finalizar a briga. Não leve pelo pessoal, mas não confio na imprensa com formadores errados de opinião. Brizio Gimenes

Essa baderna deveria estar na página policial. Os jornalistas da RBS são tão baba-ovos do chefe que desconhecem um dos mandamentos da imprensa, que é a imparcialidade. Nos últimos anos, que o time das elites e da RBS não ganha nada, a baixaria vira notícia de primeira página. Claudio Viecili

Parabenizo pela excelente reportagem sobre a Geral do Grêmio. Sou sócio e me encaixo naquele grande grupo de torcedores que assistem a jogos na Geral e nunca se meteram em confusão. João Júlio Gomes

Trata-se de uma reportagem com grande apelo de utilidade pública, que deverá (mais uma vez!) sensibilizar as autoridades para o risco que representam esses marginais travestidos de torcedores. São baderneiros sustentados pelos próprios clubes, o que por si só já constitui uma barbaridade. Gilberto Jasper

Sei que por vezes faltam pautas para vocês. Mas deixo um conselho: não voltem a colocar os holofotes sobre esses projetos de barras-bravas aqui de Porto Alegre e do RS. Eles são criminosos, e como criminosos devem ser tratados. Vocês, da imprensa, muitas vezes alimentam gente medíocre dando espaço para essa classe. Gustavo Alvez

Excelente a reportagem sobre os líderes das torcidas organizadas do Grêmio. Muito oportuno desnudar todas essas desventuras de alguns marginais, unicamente dispostos a “fazer valer” sua força interna. Por outro lado, como colorado, gostaria que uma reportagem idêntica fosse realizada entre os líderes das torcidas coloradas, especialmente a Popular. Não me causaria estranheza se marginália semelhante também estivesse abarcada dentro do Internacional. Elton Haefliger

Parabenizo pela reportagem, e a excelente entrevista com o Alemão! Sou do interior, da cidade de Santana do Livramento, e vocês não têm noção como nos interessa esse tipo de informação, pois estamos afastados da Capital e não fazemos ideia dessas tragédias que acontecem no mundo das torcidas organizadas. Parabéns, mais uma vez, e fico no aguardo de mais reportagens assim, gostaria que da próxima vez você pusesse fotos do torcedores e principalmente do Alemão. André A. Machado

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - É uma pena que este caso está sendo tratado apenas do ponto de vista policial e esportivo. É caso que precisa de envolvimento do Congresso Nacional para elaborar leis duras e da aplicação coativa destas leis por parte do Judiciário. Só com uma justiça forte e resoluta se poderá fortalecer as ações preventivas dos Clubes de Futebol e repressivas das forças policiais. Tratamento superficial e benevolente não vai deter estes vândalos e nem será capaz de impedir que este movimento criminoso cresça a ponto de chegar aos níveis de violência ocorridos na Inglaterra e que estão ocorrendo na Rússia. É preciso medidas judiciais fortes sob pena de pagar vale na Copa do Mundo quando virão para cá Hooligans experientes e prontos para ensinar táticas de enfrentamento e técnicas evasivas.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O MENTOR DA BADERNA


ZERO HORA 27 de dezembro de 2012 | N° 17295

GUERRA NA INAUGURAÇÃO. O comandante da baderna na Arena

PAULO GERMANO

ZH teve acesso a vídeos exclusivos da briga ocorrida na inauguração do estádio e mostra que o articulador da selvageria é o número 2 na hierarquia da Geral do Grêmio. Não se trata de um episódio isolado: promover batalhas é um objetivo entre alguns integrantes da cúpula da maior torcida organizada gremista.

A violência tem cadeira cativa na Geral do Grêmio.

Não foi por acaso a pancadaria que maculou a inauguração da Arena, no último dia 8, quando integrantes da maior torcida organizada do clube distribuíram socos e pauladas na arquibancada. Líderes da Geral estimulam, patrocinam e comandam esses tumultos – bem mais frequentes do que se imagina.

Zero Hora obteve vídeos exclusivos da briga no novo estádio. E o principal agitador do quebra-quebra foi Cristiano Roballo Brum, 32 anos, mais conhecido como Zóio. Velho conhecido da polícia, Zóio é o número 2 na hierarquia da Geral. Conserva o respeito dos membros da torcida, dispõe de regalias como passagens aéreas para acompanhar o Grêmio e, com frequência, aparece cercado de aliados que atuam como seus seguranças.

Nas imagens gravadas na arquibancada da Arena, a liderança de Zóio fica evidente. Enquanto distribui murros e pontapés, seus amigos batem nos desafetos com hastes das bandeiras que deveriam colorir o espetáculo. Zóio não leva um único safanão: primeiro, porque quem acertá-lo sofrerá represálias; segundo, porque pelo menos seis homens se dedicam a protegê-lo em meio ao tumulto.

Em um dos vídeos, ele ergue a perna na altura da própria cabeça e acerta um chute no rosto de um rapaz. Em outra imagem, o número 2 da Geral arremessa contra um adversário um tambor da charanga da torcida.

– Zóio e outros líderes desenvolveram técnicas para escapar da Brigada Militar. Eles dão um único golpe e se afastam. Então, observam se a tropa está se aproximando. Se os PMs ainda estiverem longe, desferem outro golpe e recuam. Eles se acostumaram a pensar na polícia enquanto brigam – diz um policial que investiga a atuação dos gremistas.

Foi exatamente o que ocorreu no confronto da Arena. Quando os militares se aproximam, um vídeo mostra Zóio escapando com facilidade, sempre cercado de aliados.

Nove dias antes da inauguração da Arena, no início da noite de 29 de novembro, Zóio teria coordenado um ataque desse tipo. Cinco colorados, entre eles a presidente da torcida organizada Camisa 12, Juliana Coutinho, deixavam uma reunião promovida pelo Batalhão de Operações Especiais (BOE) para garantir a paz no Gre-Nal de encerramento do Olímpico. Conforme o relato de Juliana na ocorrência número 2673497 da Brigada Militar, dois veículos encurralaram o Voyage dirigido por seu namorado na Rua Salvador França, quase esquina com a Avenida Ipiranga.

Em depoimento à polícia, a torcedora colorada afirmou que Zóio e outros nove integrantes da Geral do Grêmio – dois deles armados – desceram dos carros e, com chutes e coronhadas, quebraram o para-brisa traseiro e amassaram as portas do Voyage. Após agredir os torcedores do Inter, eles teriam levado a bolsa de Juliana com um celular, documentos e uma pequena quantia em dinheiro.

– As testemunhas já foram ouvidas e, nos próximos dias, vou interrogar os suspeitos – afirma a delegada Anita Klein, da 11ª Delegacia da Polícia Civil.

O que não deixa dúvidas sobre o que de fato aconteceu é a prisão de Zóio por suspeita de tráfico, que ocorreu cinco horas após o assalto à presidente da Camisa 12. Ele e outros cinco homens, conforme a ocorrência número 3615/2012, foram detidos na madrugada em uma blitz na Avenida João Pessoa. Os seis se espremiam dentro de um Corsa. Quando a polícia apreendeu 50 gramas de maconha e R$ 7,9 mil em dinheiro, Zóio e um amigo foram presos em flagrante.

– A quantidade de droga apreendida nem era tão grande. Mas o dinheiro, os antecedentes e as circunstâncias do flagrante nos levaram a indiciá-los por tráfico – atesta o delegado Thiago Bennemann, do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc).

ZH ligou para o celular de Zóio, enviou recados para colegas de torcida, mas ele não respondeu a pedidos de entrevistas.


Líderes têm histórico de confusões

Só há uma pessoa acima de Zóio na hierarquia da Geral: Rodrigo Marques Rysdyk, o Alemão. Responsável por negociar com a diretoria do Grêmio todo o apoio financeiro à torcida – o que inclui dinheiro para viajar com o time, instrumentos para a banda e ingressos para revender –, Alemão, 34 anos, coleciona passagens na polícia. Já foi detido por ameaça (2004), lesões corporais (2005 e 2007), tumulto (2008), arruaça e desacato (2011). Todas as ocorrências envolviam sua atuação como líder da Geral.

Em janeiro de 2007, a Justiça o proibiu de comparecer aos jogos do Grêmio por um ano. A determinação veio após Alemão participar de um tumulto, no aeroporto Salgado Filho, que resultou em agressões ao ex-presidente do Inter Fernando Carvalho, ao então presidente Vitorio Piffero e também a um cinegrafista. O chute – pelas costas – que atingiu o ex-dirigente inspirou trecho de uma música da Geral: “Fernando Carvalho foi pedalado”.

Em uma entrevista à série de TV britânica Real Football Factories, que rodou o mundo documentando a rotina de torcedores violentos, Alemão resume sua filosofia, ao enumerar três coisas que julga fundamentais:

– Futebol, briga para defender seu time e álcool. O Grêmio é o mais importante. Mas quebrar uns colorados e uns corintianos também é muito bom.


Nova direção impõe regras para torcida

A bola ainda rolava no gramado da Arena quando um furioso Eduardo Antonini, presidente da Grêmio Empreendimentos, enviou de seu celular um e-mail para o líder maior da Geral, Rodrigo Rysdyk, o Alemão. A Brigada Militar recém havia contido a pancadaria na torcida.

– Pô, a gente brigou com a Brigada e com os bombeiros, mudamos todo o projeto para permitir a avalanche na Arena, contestamos quem chamou os membros da Geral de marginais. E eles retribuem desse jeito? – questionou Antonini.

A Geral preocupa tanto que um integrante do Conselho de Administração da nova gestão, Nestor Hein, almoçou ontem com Alemão.

– Haverá uma série de compromissos. Na Arena, o torcedor fica muito perto do campo e não podemos correr riscos de interdição. Perderemos muito dinheiro se a Arena for interditada. Teremos regras rígidas – disse Hein.

O dirigente afirma que o clube estuda cadastrar todos os torcedores das organizadas. Hein mostra-se preocupado com as constantes brigas envolvendo a Geral:

– Cobraremos também a autofiscalização das torcidas. Eles não podem colocar as conquistas que tiveram, como um espaço diferenciado na Arena, a perder.

Hein comentou que a nova direção não dará ingressos às organizadas, ao menos nesse começo de temporada.

– Estamos assumindo agora e há muitas questões a serem resolvidas. Neste primeiro mês, não haverá ingressos.

ENTREVISTA

“O Zóio vem crescendo como liderança nos dois últimos anos” - Rodrigo Marques Rysdyk, o Alemão Líder da Geral


Zero Hora – Por que ocorreu a briga?

Alemão – Ainda não sei o que ocorreu naquele dia. O certo é que precisamos ajustar alguns pontos com a nova direção. A Arena morreu sem a Geral. Antes da confusão, o estádio estava bombando. Depois, virou um cemitério. Ainda mais agora na Libertadores, precisamos da torcida. O presidente (Fábio Koff) disse que quer a Geral, mas uma Geral ordeira. A eleição já passou (a Geral apoiou Paulo Odone contra Koff). Tem algum ranço, fica alguma mágoa, mas o objetivo de todos é o Grêmio e a Libertadores.

ZH – Por que é comum os líderes da Geral se envolverem em brigas e tumultos?

Alemão – A torcida ganhou nome, força no clube e incomodou algumas pessoas. A Geral trouxe muito mais benefícios para o Grêmio do que problemas. Koff já me disse algumas coisas que deseja fazer com a torcida. Os problemas não serão resolvidos em um mês, mas para o primeiro jogo grande (dia 30 de janeiro, contra a LDU) a coisa já estará mais calma.

ZH – O Zoio é seu inimigo na Geral?

Alemão – Olha, que eu saiba não. Também não me considero inimigo dele. Mas ele vem crescendo como liderança nesses dois últimos anos.

ZH – A Geral seguirá o time nos jogos fora de casa na Libertadores?

Alemão – Com ou sem ajuda da direção, vai ter gente nossa.

ZH – A Geral consegue se manter sem ajuda da direção ou precisa de auxílio?

Alemão – Precisa auxílio, sim, mas fazemos rifas ou algum jogador dá uma ajuda.

ZH – Quanto a Geral fatura por mês?

Alemão – Não tenho os números, mas não é muito. Temos poucas coisas para vender: adesivos, camisetas, bonés e mantas. Queríamos organizar isso com o clube. Até para tirar a dúvida da torcida e da imprensa, que de maneira injusta dizem que estamos ganhando horrores de dinheiro.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - A Copa do Mundo no Brasil está batendo na porta e o país não tem uma legislação capaz de conter a fúria e os crimes dos hooligans (vândalos) brasileiros. A nossa legislação é frouxa e a justiça morosa, desacreditada, desrespeitada e desestruturada para punir com rigor e monitorar estes baderneiros durante os jogos. Só uma legislação dura aplicada por uma justiça ágil e capaz de punir e evitar que estes vândalos frequentem os estádios. De nada adianta determinar judicialmente a apresentação em delegacias de Polícia durante os jogos, se não houver o encaminhamento para um estabelecimento prisional dos baderneiros que não cumprirem a decisão judicial.

domingo, 9 de dezembro de 2012

GERAL BRIGA NA INAUGURAÇÃO DA ARENA DO GRÊMIO

ZERO HORA ONLINE 08/12/2012 | 23h56

Torcedores da Geral brigam em festa de inauguração da Arena. Integrantes da torcida do Grêmio foram retirados do estádio pela BM


Brigada Militar precisou intervir no intervalo da partidaFoto: Félix Zucco / Agencia RBS


Um episódio atrapalhou o brilho da inauguração da Arena neste sábado, em Porto Alegre. Durante o primeiro tempo da partida entre Grêmio e Hamburgo, integrantes da Geral protagonizaram cenas de confusão no único setor do estádio onde não há cadeiras.

Após a briga se repetir várias vezes, a Brigada Militar interveio. Cinco torcedores foram retirados do local no intervalo do jogo e detidos por comportamento inadequado segundo o comandante Freitas.
Os gremistas que estavam na Arena reprovaram a confusão e entoaram gritos contra a torcida Geral.

Cerca 200 brigadianos estão trabalhando para garantir a segurança no entorno do estádio após a saída do evento.




sexta-feira, 31 de agosto de 2012

GANGUE INVADE BEIRA RIO E PROTESTA AGREDINDO JORNALISTAS

ZERO HORA ONLINE, 31/08/2012 | 16h25

Torcedores invadem Beira-Rio, pedem garra ao time e protestam contra Luigi. Grupo de 60 colorados fez protesto antes do início do treino do Inter e agrediu jornalistas



Torcedores colorados pediram mais garra ao timeFoto: Wesley Santos, Pressdigital
André Baibich

O clima de crise no Beira-Rio segue intenso. Depois de uma quinta-feira marcada pela discussão de Kleber com um torcedor, no desembarque da delegação no Aeroporto Salgado Filho, um grupo de cerca de 60 colorados entrou no estádio em obras para protestar.

O Inter transferiu o treino da tarde desta sexta-feira para o gramado principal do Beira-Rio, saindo do CT Parque Gigante, onde vinha sediando os trabalhos. A princípio, o treino era fechado para a torcida, mas os colorados conseguiram entrar na área restrita por trás da capela Nossa Senhora das Vitórias, no pátio externo do Beira-Rio.

Entoando cânticos de protesto contra o presidente Giovanni Luigi e pedindo que a equipe seja "mais guerreira", os torcedores soltavam rojões e encaminhavam-se para uma das entradas que dá acesso às obras, no anel inferior do estádio.


Foto: Wesley Santos, AE

Por fim, os torcedores conseguiram entrar no que antes era o portão 8, tradicional por receber protestos nos piores momentos do Inter no passado. Chegaram o mais próximo do gramado que puderam e ficaram, em meio aos escombros das obras, cantando por cerca de dois minutos, até a chegada da segurança do Inter.

Durante o protesto, apenas a comissão técnica estava no gramado do Beira-Rio. Por causa dos tapumes da obra, não chegaram a ver os torcedores e parecem não ter se abalado com os gritos.

Ao perceber a presença de repórteres registrando o momento, um dos torcedores gritou "imprensa não". O repórter do Globoesporte.com Tomás Hammes foi agredido com dois socos, um no peito e outro no braço direito. Com a chegada da segurança do clube, os torcedores saíram da área restrita do estádio.

Depois de sair do Beira-Rio, os torcedores ainda dirigiram-se ao CT Parque Gigante, onde os jogadores estavam, preparando-se para rumar ao Beira-Rio e iniciar o treino. A Brigada Militar foi chamada e dispersou o grupo, permitindo o deslocamento dos atletas, que entraram no gramado do estádio às 16h40min, uma hora e dez minutos depois do horário programado para o trabalho.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Para terminar com a violência no futebol é preciso rigor e o rigor começa na identificação dos torcedores, passa pela indenização das vítimas e do clube, e se encerra num julgamento na justiça onde pode ser determinada uma condenação mínima de 10 anos sem poder ir a estadio assistir o jogo do Inter. Enquanto passarem a mão por cima dos pequenos crimes, a dificuldades para evitar os grandes serão bem maiores.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

BRIGÕES TÊM HABEAS INDEFERIDOS

Justiça indefere sete pedidos de habeas corpus em favor de torcedores brigões . Juíz diz que prendeu 22 por roubo e que delegada incluiu outros três crimes


Gustavo Goulart
O GLOBO 27/08/12 - 19h19





RIO - A Justiça indeferiu sete pedidos de habeas corpus em favor dos integrantes da torcida organizada Young Flu acusados de espancar e assaltar dois torcedores do Vasco da Gama na estação ferroviária do Engenho de Dentro, no último sábado. Os pedidos foram feitos no domingo, durante o plantão judiciário. No fim da tarde desta segunda-feira outros quatro pedidos foram impetrados. Eles serão avaliados pelo juízo da 33ª Vara Criminal da capital. Os 21 torcedores do Fluminense presos no sábado foram transferidos de Bangu 2 para Cadeia Pública Bandeira Stampa, em Gericinó, segundo informou a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap).

Nesta segunda-feira, o juiz Marcello Rubioli, da 1ª Turma Recursal do Tribunal de Justiça, disse que a decisão de prender os 22 torcedores da Young Flu pode ser interpretada como exemplar, mas baseada na lei. Ele explicou que mandou prender os agressores por roubo, o que foge à alçada do Juizado Especial Criminal (Jecrim), no qual deu plantão no sábado passado, dia da violência.

— As vítimas foram agredidas pelos 22 torcedores e vários pertences foram roubados por três deles. Os três foram presos em flagrante pelo crime de roubo simples e os demais pelo artigo 157, também roubo, mas pela co-autoria e participação. Todos eles foram identificados pelas vítimas, inclusive indicados por elas. As vítimas ficaram bastante machucadas. A agressão durou o tempo de uma viagem entre duas estações, partindo da Pavuna — contou. — A medida tomada pelo Jecrim é comum. Talvez essa tenha ganhado muito destaque pela quantidade de presos ou até mesmo pela morte do torcedor do Vasco na semana passada (quando a vítima foi morta por torcedores do Flamengo).

O magistrado disse ainda que há 6 anos o Jecrim vem agindo com rigor e que para reprimir a onda de violência nos estádios é necessário aplicar o Estatuto do Torcedor.

— O que é importante ser dito é que diante dessa crescente violência nos estádios no Rio, o Poder Judiciário, o Ministério Público, a Polícia Civil e a Polícia Militar, que estão de frente para garantir a segurança, estão agindo, estão reprimindo e essas prisões são o retrato dessa atuação unificada do estado com o objetivo de que os estádios de futebol voltem a ser palco para as famílias, para poderem levar seus filhos, para poderem se divertir. E garantir o que diz o Estatuto do Torcedor, que o espetáculo esportivo é um local de segurança, onde o consumidor pode se divertir, é um local de lazer.

Combinação de brigas pelo telefone

Mais cedo, o comandante do Grupamento Especial de Atendimento em Estádios (Gepe), tenente-coronel João Fiorentini, afirmou, nesta segunda-feira, que muitos líderes de torcidas organizadas rivais remarcam, por telefone, os embates agendados pelas redes sociais ao serem descobertos pela polícia. O tenente-coronel disse que vai sugerir aos clubes de futebol que cortem os ingresssos e os benefícios de torcidas organizadas que se envolverem em brigas e agressões aos grupos rivais.

Após a confusão envolvendo a torcida organizada Young Flu, a chefe de Polícia Civil, delegada Martha Rocha, entrou com uma representação no Ministério Público pedindo a proibição da torcida nos estádios, a exemplo do que já aconteceu com a Torcida Jovem Fla, na semana passada. A delegada anunciou ainda que, a partir desta segunda-feira, todos os casos envolvendo briga de torcidas e crimes praticados por torcedores de futebol serão tratados por um núcleo formado por seis delegacias da Polícia Civil.

Marta Rocha garantiu ainda que o núcleo vai ter ampla atuação, cuidando não só de torcedores, mas atuando também em grandes eventos. Marta anunciou ainda que a partir de agora qualquer homicídio que ocorrer dentro de estádios, com suspeita de envolvimento de torcidas organizadas, será investigado também pela Divisão de Homicídios. Até então, a DH tinha só atuava na cidade do Rio.

— Estou recomendando aos delegados que a partir de agora qualquer fato envolvendo torcida organizada seja tratado com rigor. Não somos contra a torcida, mas não podemos tolerar a prática de ações criminosas — disse Marta Rocha.

domingo, 22 de julho de 2012

DRIBLE NA JUSTIÇA E NA POLÍCIA


ZERO HORA 22 de julho de 2012 | N° 17138

FUTEBOL - Drible na Justiça

PAULO GERMANO E FRANCISCO AMORIM 

Ao ignorar as ordens da Justiça, torcedores envolvidos em pancadarias desmoralizam as autoridades e os dois maiores clubes gaúchos. Eles estão proibidos de entrar nos estádios e deveriam se apresentar em uma delegacia toda vez que o Grêmio ou o Inter jogassem em Porto Alegre. Não é o que ocorre.

Nenhum entre sete jovens atualmente banidos das arquibancadas cumpre a medida. Dois deles, um gremista e um colorado, foram flagrados por Zero Hora dentro do Olímpico e do Beira-Rio, incólumes a qualquer fiscalização.

Na prática, a lei se mostra um faz de conta. A polícia empurra a culpa para a Justiça, que empurra a culpa para a polícia, que empurra a culpa para os clubes, que empurram a culpa para a Justiça e para a polícia. E o caminho acaba livre para os infratores.

Nesta série de reportagens, que começa neste domingo e se estende até terça-feira, ZH mostra por que uma legislação considerada um sucesso em países como a Espanha e a Inglaterra – onde a fúria das torcidas foi amenizada com uma repressão vigorosa do Estado – por aqui ainda é uma fantasia.

Impunidade nos estádios

Com a mão direita indo e vindo em frente à testa, Jeferson Rodrigo Kuchinski, 23 anos, é o retrato da liberdade enquanto pula e canta dá-lhe ô, dá-lhe ô, dá-lhe Grêmio, dá-lhe ô.

O Grêmio perderia aquela partida por 1 a 0 contra o Atlético-MG, em pleno Olímpico. Mesmo assim, sem nenhum constrangimento, Jeferson postaria no dia seguinte, no Facebook, fotos do seu entusiasmo em meio à Geral, a principal torcida organizada do clube. Não havia motivos para se esconder: as autoridades nunca deram sinais de que cobrariam sua presença na 2ª Delegacia de Polícia da Capital, onde ele deveria estar naquela tarde de 1º de julho.

Uma semana depois, Gabriel Maidana Bassani, 23 anos, prefere a discrição enquanto assiste à vitória do Inter sobre o Cruzeiro por 2 a 1, no Beira-Rio. Não veste a camisa do time. Não acompanha a cantoria da Super Fico, a torcida da qual faz parte. E demonstra desconforto quando uma máquina fotográfica parece apontar em sua direção.

– Sem foto, sem foto! – grita ele para um torcedor de câmera em punho.

Gabriel sabe que seu destino correto, naquele dia, seria a 20ª Delegacia de Polícia – situada a sete quarteirões dali.

A presença dele no Beira-Rio – e a de Jeferson no Olímpico, ambas flagradas por ZH – revela como uma legislação bem-intencionada, cujo princípio seria impedir arruaceiros de ingressar nos estádios, sucumbe à frouxidão do poder público e dos próprios clubes. Desde fevereiro, quando se envolveram em uma pancadaria antes de um Gre-Nal (leia mais na página ao lado), Jeferson e Gabriel estão proibidos por seis meses de torcer nas arquibancadas.

Outros dois rapazes detidos no mesmo tumulto, o gremista Thiago Araújo da Rosa e o colorado Antonio Flávio Valadão de Almeida, também ignoram a ordem judicial: jamais se apresentaram à polícia em dias de jogos. E a polícia nunca alertou a Justiça sobre suas ausências.

– Não fui nenhuma vez à delegacia. Não me cobraram nada até agora, ninguém me ligou. Parei de ir ao estádio por questões pessoais, mas se quisesse poderia ter ido – avalia Thiago, 29 anos, para em seguida expor sua conduta como “torcedor”. – Já me meti em muita briga de torcida. Se tiver que brigar, brigo sim. Tenho que defender meus amigos, defender meu clube.

Em 26 de março, o Grêmio recebeu um ofício do juiz Amadeo Ramella Buttelli, do 2º Juizado Especial Criminal (Jecrim), pedindo que fiscalizasse a entrada de Thiago e Jeferson no Olímpico. Três dias depois, sem qualquer empecilho, Jeferson já ingressava no estádio para assistir à partida contra o Avenida, vencida pelo Grêmio por 4 a 0. Ele mesmo publicou no Facebook uma foto fazendo pose dentro do Olímpico.

A mesma inação se repete no Inter: jamais o clube tomou providências para barrar a entrada dos colorados infratores, como o juiz Buttelli solicitou em 21 de março. Na 20ª DP, onde Gabriel e Antonio deveriam se apresentar no último dia 8, enquanto o Inter vencia o Cruzeiro no Beira-Rio, a funcionária de plantão informou que um deles chegou a comparecer uma vez, mas “isso já faz tempo”:

– Sei lá, acho que faz uns quatro meses. Nem lembro o nome dele.

Não é o que apontam os registros da delegacia. Nenhum torcedor cumpriu a medida um dia sequer.

DUAS BRIGAS NO MESMO DIA

Enquanto o Olímpico trepidava com o Gre-Nal na noite de 5 de fevereiro, o ambiente era carrancudo em uma pequena sala do estádio. No posto do Juizado Especial Criminal (Jecrim), o juiz Marco Aurélio Martins Xavier interrogava os torcedores envolvidos no tumulto horas antes do jogo.

Os gremistas, segundo o boletim de ocorrência, haviam promovido uma chuva de pedras, garrafas e pedaços de pau contra os PMs que escoltavam a torcida do Inter. Para piorar, no meio da escolta colorados iniciaram uma briga entre si.

– Alguns queriam revidar o ataque dos gremistas, mas outros tentavam impedi-los. Prendemos quem defendia o revide – recorda o sargento Cristiano Bildhauer, ferido com uma pedrada naquele dia.

Dois torcedores do Grêmio, Jeferson Rodrigo Kuchinski e Thiago Araújo da Rosa, aceitaram uma transação penal: estariam livres de responder a um processo na Justiça desde que ficassem longe do Olímpico por seis meses, apresentando-se à 2ª Delegacia de Polícia no horário das partidas. Ou seja, estavam impedidos de retornar às arquibancadas até 5 de agosto de 2012.

No caso dos colorados, a medida foi idêntica, alterando-se os locais: Antonio Flávio Valadão de Almeida e Gabriel Maidana Bassani deveriam se afastar do Beira-Rio pelo mesmo período, apresentando-se à 20ª Delegacia de Polícia sempre que o Inter jogasse em seu estádio.

Trata-se de uma sanção prevista no Estatuto do Torcedor. Elogiada por especialistas, a ideia é impor aos torcedores arruaceiros uma punição educativa, evitando entupir o Judiciário com novos processos. A lei só vale para réus primários. Mesmo aceitando o acordo com a Justiça, os quatro detidos naquele dia negaram participação no motim antes do Gre-Nal.

Mas, quando o juiz encerrou a audiência, lembra o sargento Bildhauer, os gremistas decidiram aguardar os colorados na saída.

– Deu um bolo mesmo. Eles (os colorados) tinham xingado a gente lá no Jecrim. Aí, fomos para cima deles – relembra Thiago.

ENTREVISTAS

OS DELEGADOS TÊM OBRIGAÇÃO DE DAR EXPLICAÇÕES - Marco Aurélio Martins Xavier - Juiz responsável pelo projeto Jecrim nos Estádios

Zero Hora – Torcedores proibidos pelo senhor de ingressar nos estádios nunca compareceram às delegacias no horário dos jogos. Onde está a falha?

Marco Aurélio Martins Xavier – As delegacias, que recebem o ofício para fiscalizar o cumprimento da medida, devem comunicar o Jecrim na primeira falta, imediatamente. Esses torcedores, que resolveram descumprir a transação penal, serão processados pelo crime de violência nos estádios, previsto no Estatuto do Torcedor.

ZH – Na sua avaliação, por que as delegacias não comunicam a Justiça?

Marco Aurélio – Essa pergunta deve ser endereçada aos delegados de polícia, que, até onde sei, se comprometeram em realizar a fiscalização. Se houve algum desvio de conduta ou alguma desídia na fiscalização desses indivíduos, eles têm a obrigação de dar explicações ao juiz titular do processo (Amadeo Ramella Buttelli, do 2º Jecrim do Foro Central).

ZH – No documento assinado pelo senhor e no ofício do juiz Buttelli às delegacias, vocês solicitam que a polícia envie um relatório à Justiça ao final do prazo. Os delegados argumentam que não têm obrigação de avisar jogo a jogo.

Marco Aurélio – Existem coisas que precisam ser interpretadas. É evidente que, se for aguardado o final do prazo, o cumprimento da medida será prejudicado. Talvez, de fato, isso revele uma incorreção na comunicação (da Justiça) à polícia. Mas há algo que precisa ser refletido: as instituições não podem funcionar de maneira ilhada.

ZH – Deveriam funcionar como?

Marco Aurélio – Se há alguma pendência de esclarecimento, o mínimo que se deve fazer é buscar esse esclarecimento sobre qual conduta adotar quando o acusado descumpre a determinação. Então, respeitando a boa vontade dos delegados, não me parece uma atitude correta essa. O indivíduo que descumpre a medida pode estar foragido e, inclusive, cometendo outros delitos. A polícia tem uma responsabilidade grande.

ZH – Mas como a comunicação entre a Justiça e a polícia poderia melhorar?

Marco Aurélio – Se esta é uma falha, a comunicação vai melhorar. Sempre que houver ausência do acusado, o Jecrim deverá ser informado, e os documentos do Judiciário serão mais específicos.

A FISCALIZAÇÃO TEM DE VIR DO PRÓPRIO JUIZADO. Cesar Carrion - Titular da 2ª Delegacia da Polícia Civil da Capital

Zero Hora – Os torcedores gremistas impedidos de entrar no Olímpico estão comparecendo à delegacia?

Cesar Carrion – Não, nenhuma vez, pelo que vi aqui no relatório do plantão policial.

ZH – E não há nada que se possa fazer quanto a isso?

Carrion – A decisão do juiz é clara. Ele pede um relatório ao final (do prazo) de seis meses sobre as presenças dos torcedores. Ninguém me pediu um controle rígido. O juizado não cobra mais da gente. E os torcedores assinaram a transação penal, deveriam ter interesse em cumprir. Não tenho como mandar um policial atrás de cada torcedor assim.

ZH – Mesmo que o ofício do juiz não seja tão específico, o senhor não poderia notificá-lo sobre essas ausências?

Carrion – Sim. Vou fazer isso nesta semana. Fui alertado pela plantonista sobre as ausências no último jogo, após um colega teu ir à delegacia e perguntar pelos torcedores.

ZH – Essa falta de fiscalização gera uma sensação de impunidade nos outros torcedores.

Carrion – Acho que pode criar, sim. É importante que se diga que eles responderão pela desobediência. Mas a fiscalização é meio vulnerável, mesmo.

ZH – E o que a Polícia Civil pode fazer para melhorá-la?

Carrion – Não tenho como obrigar o cara a vir para cá (delegacia). Não vou mandar um policial ir atrás deles. A fiscalização tem de vir do próprio juizado.

ZH – Como isso poderia ser feito?

Carrion – O juiz poderia determinar, por exemplo, que a cada jogo o torcedor pegasse uma presença na delegacia e apresentasse ao fórum. Na primeira ausência, o juiz já teria conhecimento. Concordo que a presença desses torcedores no estádio cria uma sensação de “não dá nada” para outros torcedores.

ZH – Os clubes também são responsáveis?

Carrion – Sim. Eles têm de fiscalizar quem entra. Não é preciso mostrar identidade quando se compra ingressos? Eles poderiam até colocar fotos nos portões dos estádios, já que não são muitos torcedores impedidos.

"OS PUNIDOS"

Tá, tá, fui ao jogo - Jeferson Rodrigo Kuchinski

Zero Hora – Você está proibido pela Justiça desde fevereiro de frequentar o Olímpico. Que postura está adotando?

Jeferson Rodrigo Kuchinski – Estou cumprindo. Até porque (o prazo de seis meses) está terminando, falta menos de um mês. Quando terminar, quero voltar ao Olímpico.

ZH – Você diz que está cumprindo a ordem judicial?

Jeferson – Estou.

ZH – Mas está se apresentando à delegacia no horário dos jogos?

Jeferson – Não, aí não dá, porque eu trabalho. Nem teria como.

ZH – Apenas parou de ir aos jogos do Grêmio?

Jeferson – Isso. Até porque estou trabalhando, né?

ZH – Mas temos fotos suas dentro do Olímpico, no jogo do Grêmio contra o Atlético-MG, em 1º de julho.

Jeferson – Não. Fui (ao Olímpico) uma vez só, mas faz tempo.

ZH – Quando?

Jeferson – Fui em uma quarta. Ou em uma quinta.

ZH – Mas e no jogo contra o Atlético-MG, em 1º de julho, um domingo, você estava ou não?

Jeferson – Sim. Mas só nesse aí, nos outros não.

ZH – No Facebook, há fotos suas em outro jogo: Grêmio e Avenida, em 29 de março.

Jeferson – Não. Nesse do Avenida, não fui. Não fui ao jogo, não.

ZH – Mas tem fotos suas. Não foi mesmo?

Jeferson – Não.

ZH – Tem certeza? Tem fotos no Facebook.

Jeferson – Tá, tá, fui, fui.

ZH – Mais algum jogo?

Jeferson – Contra os gambás (em referência ao Corinthians, que jogou com o Grêmio no Olímpico em 10 de junho). Mas foram só esses.

ZH – Antes da primeira partida da semifinal da Copa do Brasil, quando o Grêmio enfrentou o Palmeiras no Olímpico, em 13 de junho, você postou no Facebook que havia comprado seu ingresso. Não foi a esse jogo?

Jeferson – Fui.

ZH – Foram só esses?

Jeferson – E mais alguns já...

ZH – Por que você está descumprindo a ordem da Justiça?

Jeferson – Ah, sei lá... Nem sei te dizer.

ZH – Você foi proibido de entrar no Olímpico após se envolver em um tumulto antes do Gre-Nal de 5 de fevereiro. O que houve naquele dia?

Jeferson – Eu estava tomando cerveja em um barzinho. Começou a briga, todo mundo começou a correr e, de repente, chegou o brigadiano e disse que eu estava no meio do tumulto. Mas eu não estava. Daí me levaram.


Estou indo normal aos jogos - Gabriel Maidana Bassani


Zero Hora – Você está proibido pela Justiça desde fevereiro de frequentar o Beira-Rio. Que postura está adotando?

Gabriel Maidana Bassani – Não estou cumprindo. Todo jogo tem que ir à delegacia. Nem fiz nada naquele dia (do Gre-Nal de 5 de fevereiro, quando houve o tumulto). O brigadiano se encarnou na minha e me prendeu.

ZH – Por que ele decidiu prender você?

Gabriel – Eu só olhei para o brigadiano, e ele se encarnou em mim. Eu só olhei para a cara dele e dei um cuspe no chão. Ele achou que eu o estava desacatando, mas não foi nada disso.

ZH – Com que frequência você tem ido aos jogos do Inter no Beira-Rio?

Gabriel – Estou indo normal aos jogos.

ZH – E costuma se envolver em brigas?

Gabriel – Estou evitando brigar. Olha, é difícil eu me meter em briga. Fui em todos os jogos e nunca me meti em bronca nem rolo nenhum.

ZH – Por que você não comparece à delegacia no horário dos jogos, como ordenou a Justiça?

Gabriel – É muito difícil cumprir essa pena. Não é todo jogo que o cara pode ir à delegacia. Muitas vezes, o cara não tem como ir. Como é que vai fazer?

ZH – Mas você consegue ir sempre ao Beira-Rio. Por que não conseguiria ir à delegacia?

Gabriel – Sim, mas não é todo jogo que eu vou. Procuro ir em todos, mas às vezes ocorre um imprevisto.

ZH – Por isso decidiu descumprir a ordem judicial?

Gabriel – Não é que eu decidi descumprir a ordem. Fui levando, levando, mas agora tenho que ir lá. Vou à delegacia me informar. O tempo vai passando, passando e, quando vê...


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Não é culpa do judiciário, nem da polícia. A culpa é de um sistema de justiça criminal anacrônico vigente no Brasil, onde os órgãos responsáveis funcional como "ilhas", separados por uma falaciosa "independência dos poderes" que distancia, burocratiza, corporativa e torna inoperante as decisões e ações em torno do objetivo comum que é a ordem pública. O resultado é isto se que vê nesta reportagem onde os "condenados" ficam livres e impunes, sem controle ou fiscalização.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

GAVIÕES E MANCHA INVESTIGADAS POR CONFRONTO E MORTE DE TORCEDORES

Briga de torcidas. Polícia vai até as sedes da Gaviões da Fiel e Mancha Alviverde e prende torcedores. Computadores de ambas as facções também foram levados para ajudar na investigação da briga de domingo - LANCEPRESS, ZERO HORA ONLINE, 27/03/2012 | 12h16

Após a morte de dois palmeirenses em um confronto na Avenida Inajar de Souza, zona norte de São Paulo, a Polícia Civil foi até as sedes das duas maiores organizadas de Corinthians e Palmeiras, Gaviões da Fiel e Mancha Alviverde, e fizeram apreensões de computadores na manhã desta terça-feira.

De acordo com o site da Folha de São Paulo, suspeitos de ambas as facções também foram detidos para investigação.

A operação está sendo feita pela Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) em conjunto com a Dhpp (Delegacia de Homicídio). Dois palmeirenses foram presos durante a investigação na sede que fica localizada na Barra Funda, entre eles, Tiago Alvez Lezo, irmão de André Alves Levo, morto na briga de domingo.

Na quadra dos corintianos, que fica no bairro do Bom Retiro, a Polícia levou cinco computadores. A ideia é analisar se há conteúdos suspeitos dentro das máquinas das facções.




CASO HIERRO TEM MAIS UMA VÍTIMA

CLIC CASO DE POLÍCIA - 13 de junho de 2012 

MP inclui mais uma vítima no processo sobre ex-lider de torcida do Inter acusado de agressão



O promotor Júlio César de Melo, do Tribunal do Júri, solicitou a inclusão de mais uma vítima no caso sobre tumulto após jogo comemorativo no estádio Beira-Rio, no final do ano passado. Foram denunciados pela promotoria três integrantes da torcida Guarda Popular: Jorge Roberto Gomes Martins, o Hierro (ex-líder), Ranieri Tafernaberri Cardozo e Rodrigo César Candria Borges. Segundo a Promotoria, os três respondem por tentativa de homicídio, incitação ao tumulto e formação de quadrilha. São três vítimas que aparecem sendo agredidas, algumas com golpes de pequena faca, no estádio Beira-Rio após partida do atacante Fabiano. Veja o vídeo:

Segundo o promotor Júlio César de Melo, houve um aditamento neste caso (inclusão de mais uma vítima) após laudo pericial ser anexado ao processo que tramita na 2ª Vara do Júri da Capital. Esta nova vítima, a quarta, teria sido agredida na saída do estádio. O rapaz chegou a gravar imagens de vídeo em um dos portões do Beira-Rio e divulgou na Internet.

No caso desta quarta vítima, os acusados são apenas Jorge Roberto Gomes Martins, o Hierro, e Ranieri Tafernaberri Cardozo. Os dois devem responder também pelo crime de lesão corporal leve. A vítima, inclusive, comunicou a agressão à Polícia, antes mesmo do laudo pericial ter sido concluído. A Justiça aguarda que os réus sejam citados sobre este aditamento, inclusão de mais uma pessoa agredida, para iniciar a fase de audiências. Todos os acusados respondem ao processo em liberdade. Hierro Martins, que esteve foragido, foi preso em março deste ano e recebeu a liberdade em maio.

Entenda o caso

Conforme o inquérito policial, Hierro e outros dois jovens da torcida Guarda Popular se envolveram em uma briga com um grupo dissidente, integrantes da torcida Popular do Inter. Parte do confronto foi registrado por imagens de câmeras de segurança do Inter, que ajudaram na identificação dos envolvidos.

O confronto deixou quatro pessoas feridas, sendo três esfaqueadas. Apenas três estavam incluídas inicialmente. Com um laudo pericial sendo anexado ao processo na Justiça, o Ministério Público solicitou a inclusão da quarta vítima. Uma delas teve cortados tendões de três dedos da mão esquerda. Em consequência do episódio, o Inter excluiu as duas torcidas organizadas do seus quadros, cancelando benefícios como uso de sala no estádio e acesso facilitado às arquibancadas em dias de jogos.



7 de dezembro de 2011 - Usando facas, torcedores do Inter brigam após jogo festivo do atacante Fabiano no Beira-Rio.

21 de dezembro de 2011 - Hierro e mais dois integrantes da Guarda Popular são indiciados pela Polícia.

3 de janeiro de 2012 - Hierro e mais dois integrantes da Guarda Popular são denunciados por tentativa de homicídio.

1º de março de 2012 - Hierro Martins se entrega à Polícia.

4 de maio de 2012 - Hierro Martins recebe liberdade provisória, mas está impedido de freqüentar estádios de futebol.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

LÍDERES DA GAVIÕES E DA MANCHA SÃO PRESOS

Polícia prende ex-presidente da Gaviões e vice da Mancha. RAFAEL VALENTE, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA - 04/04/2012 - 11h00

O DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) realizou operação na manhã desta quarta-feira que prendeu torcedores da Mancha Alviverde e da Gaviões da Fiel.

Entre os torcedores detidos está Lucas Leso, vice-presidente da Mancha Alviverde, e irmão de André Alvez Leso, morto na briga entre as duas torcidas organizadas no último dia 25. Na semana passada, Tiago Leso, irmão gêmeo de André já havia sido preso.

De acordo com Moacir Bianchi, ex-vice-presidente da Mancha, nove mandados de prisão desde o confronto do último dia 25 foram expedidos contra integrantes da organizada.

A polícia também prendeu na manhã desta quarta três torcedores da Gaviões da Fiel, entre eles Douglas Deungaro, conhecido como Metaleiro, ex-presidente da organizada. Além da prisão, os policiais também encontraram paus e barras de ferro na sede da torcida.

"Os três detidos estão sendo averiguados e vão ser interrogados para ver se eles participaram da briga. Vamos aguardar o depoimento para falar sobre o caso", disse o advogado da Gaviões da Fiel, Davi Gebara.

Na semana passada, a polícia já havia efetuado outras prisões. Além da prisão dos torcedores, a Polícia Civil também fez apreensão de computadores nas sedes das duas torcidas.

A investigação das torcidas de Corinthians e Palmeiras, respectivamente, com sede no Bom Retiro e na Barra Funda, foi feita pela Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) em conjunto com a DHPP (Delegacia de Homicídio).

A polícia começou a investigar as duas torcidas após o confronto entre cerca de 300 torcedores do Corinthians e do Palmeiras na avenida Inajar de Souza, no bairro do Limão, horas antes do clássico entre as duas equipes no Pacaembu, realizado no último dia 25.

Na confusão, André Alvez Lezo, 21, foi morto com um tiro na cabeça. Dois dias depois, Guilherme Vinicius Jovanelli Moreira teve a morte cerebral confirmada pelo Hospital São Camilo.

Em virtude da violência e da morte dos torcedores, a Federação Paulista de Futebol proibiu as duas organizadas de entrar nos estádios.

domingo, 1 de abril de 2012

VANDALISMO SEM PUNIÇÃO


Guerra de torcidas organizadas que provocou a morte de dois jovens no domingo ainda é investigada e poucas medidas foram adotadas contra as facções. 01 de abril de 2012 | 3h 03. O Estado de S.Paulo

Uma semana após a batalha na avenida Inajar de Souza, em São Paulo, entre as facções Mancha Alviverde, do Palmeiras, e Gaviões da Fiel, do Corinthians, quando dois torcedores foram mortos, nem a polícia e muito menos os responsáveis pela segurança pública colocaram as mãos nos criminosos.

As primeiras medidas contra a violência no futebol, depois dos homicídios no domingo, foram anunciadas durante a semana. Mancha e Gaviões foram proibidas pela Federação Paulista de Futebol de entrar nos estádios.

Busca e apreensões foram feitas nas sedes das facções e nas casas de alguns suspeitos. A titular da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, delegada Margarette Barreto, garante que o balanço das investigações vai ser positivo.

Enquanto isso o Ministério Público de São Paulo pediu para não se vender mais ingressos nas sedes das torcidas - prática corriqueira entre as facções - envolvidas na batalha de domingo.

Quase um mês antes da guerra na avenida Inajar de Souza, um torcedor do Guarani foi morto em um confronto entre torcidas organizadas em Campinas.

A pedido do Ministério Público, a Federação Paulista decidiu proibir a entrada de integrantes das torcidas organizadas Torcida Jovem Amor Maior e Serponte, da Ponte Preta, e Fúria Independente e Guerreiros da Tribo, do Guarani, nos estádios por tempo indeterminado, até o final das investigações sobre a morte do torcedor Anderson Ferreira. O caso não está encerrado.

Balanços não oficiais atestam que nos últimos 18 anos pelo menos 84 torcedores morreram vítimas da violência no futebol no País. Todas as tentativas de se coibir o vandalismo no âmbito do esporte no Brasil, por enquanto, não deram resultado.

Na Europa, matriz de graves conflitos entre torcedores e dos hooligans, houve um pacto em todas as instâncias dos governos e do comando do futebol para se acabar com a violência no final dos anos de 1980 e meados de 1990. Os resultados foram exemplares e ainda hoje servem como referência.

sexta-feira, 16 de março de 2012

BEBIDAS ALCOÓLICAS EM ESTÁDIOS, INTERESSA A QUEM?

MAURÍCIO PARABONI DETONI,SEXTA-FEIRA, 16 DE MARÇO DE 2012
http://superandoparadigmas.blogspot.com



Assistir a uma partida de futebol tomando uma cerveja gelada é um hábito (salutar ou não) em nosso meio. Entretanto, em razão do comportamento desregrado de uma parcela de nossos pares, em especial nos estádios de futebol, há alguns anos houve a necessidade de impor limitações a esse direito. A vida em sociedade é assim regida, para que haja harmonia deve-se acatar as regras tácitas de convivência, sob pena de intervenção Estatal visando a sua respectiva regulação.

Nesse sentido, o Estatuto do Torcedor, Lei 10.671/03, inaugurou uma série de comandos normativos com vistas a proteger o mais importante partícipe dos eventos esportivos, o torcedor. Logo no artigo primeiro, da citada Lei, são estabelecidos os responsáveis pela prevenção da violência nos esportes, com destaque ao poder público, federações, clubes e respectivos dirigentes. Seguindo a leitura, no Capítulo IV, estão previstas questões atinentes a segurança do torcedor, rezando que esse tem direito a segurança nos locais onde são realizados os eventos esportivos antes, durante e após a realização das partidas.

Cabe ressaltar, o titular da responsabilidade direta pela segurança do torcedor é a entidade que detém o mando de jogo e seus respectivos dirigentes, sendo os últimos responsáveis solidários pelos prejuízos causados a torcedor que decorram de falhas de segurança nos estádios. Ainda, trata-se de responsabilidade objetiva, logo independe da prova de culpa do torcedor, não interessando se esse foi imprudente ou negligente em adotar determinada conduta. Em outras palavras, a partir da entrada do torcedor no recinto do evento esportivo, o clube é responsável pelo seu cliente. Lembrando, inúmeros são os casos de responsabilização cível em que clubes brasileiros acabam por indenizar vítimas de violência ocorrida em eventos desportivos.

Em que pese toda sistemática de responsabilização exposta acima e o contínuo aperfeiçoamento das estruturas físicas das praças desportivas, não se conseguiu frear os episódios de violência, fazendo com que os clubes tivessem que despender elevadas somas para fazer frente as demandas judiciais presentes. Assim, aliada a necessidade de humanizar os espetáculos esportivos públicos, sete Estados da Federação, inclusive o Rio Grande do Sul, através da Lei n.°12.916/08, optaram por proibir a comercialização e o consumo de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol e ginásios de esportes.

A partir de então, estudos comprovaram a eficácia da medida. Segundo o procurador de Justiça de Minas Gerais, José Antônio de Melo Baeta Cançado, houve uma queda nas ocorrências em Minas Gerais de 75%, enquanto que o público aumentou em mais de 50%. Em São Paulo, foram atendidas 49 ocorrências no ano de 2006, sendo que, em 1996, ano em que foi adotada a proibição de bebida nos estádios, com a edição da Lei 9.470/96, o número de ocorrências chegou a 496, representando uma queda de 90%. Por sua vez, em Pernambuco as ocorrências nos estádios de futebol caíram a partir de 2007, quando entrou em vigor a Lei Estadual que proibiu a venda de bebida nos estádios de futebol. Naquele ano, houve 468 registros, em 2010 foram 112 casos. Já no Rio Grande do Sul, a criminalidade nas partidas e ao redor do local onde se realizam os jogos caiu entre 70% e 90% em dois anos, após a aprovação da Lei em 2008, segundo gabinete do deputado estadual Miki Breiner.

Entretanto, na contramão da história, a FIFA, entidade máxima que rege o futebol mundial, exigiu da União a liberação do comércio de bebidas alcoólicas na Copa das Confederações de 2013 e na Copa do Mundo de 2014. Logo, como a lei que regulamentará as questões atinentes aos jogos internacionais será federal, os Estados Membros terão que cumprir a determinação, liberando a venda de bebidas alcoólicas nos jogos das respectivas competições. Salienta-se, a UEFA, entidade européia de futebol, responsável pela Eurocopa e por outros dois torneios mais lucrativos do mundo, como a Liga dos Campeões da Europa e a Liga Europa, veda o comércio de bebidas alcoólicas em suas competições.

Gize-se, a responsabilidade pela segurança dos torcedores é dos clubes e respectivos dirigentes. Portanto, difícil conceber a FIFA no pólo passivo de uma demanda envolvendo questões atinentes a violência entre torcedores em uma partida da Copa do Mundo. A FIFA, nesses casos, é eximida de eventual responsabilização, facilitando seu papel negocial com a empresa cervejeira Anheuser-Busch InBev, sua parceira há mais de vinte e cinco anos. Desta feita, pode-se concluir que a liberação deste mercado nos jogos sob a tutela da FIFA, trata-se de medida com forte viés mercantilista, despreocupada com o bem estar dos torcedores brasileiros. Assim, resta apenas esperar que essa situação não sirva de móvel para liberação do comércio de bebidas alcoólicas no período pós Copa das Confederações e do Mundo.

quinta-feira, 15 de março de 2012

A LEI GERAL DA COPA E O "JEITINHO"

DIZA GONZAGA, PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO THIAGO DE MORAES GONZAGA, ZERO HORA 15/03/2012

É inadmissível que um país como o Brasil, prestes a entrar no time das grandes potências econômicas do mundo, continue tratando suas leis e até mesmo a inteligência de seu povo com o famoso “jeitinho”. Leis que não pegam, se é que isso é possível, porque por aqui parece que é...

E agora, como país sede da Copa do Mundo, vemos tramitar propostas, como a Lei Geral da Copa, que afasta a incidência de outras leis federais ou esta- duais durante a realização da competição. É o caso da liberação da venda e consumo de bebidas alcoólicas nos estádios que vão receber os jogos, ferindo o Estatuto do Torcedor, que desde 2010 veta a presença nos estádios de “bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência”.

Como pode uma lei tirar férias?! Isso sem contar o retrocesso que representa para a nossa sociedade quando temos, por exemplo, dados da Brigada Militar que indicam redução de 70% na violência nos estádios desde que o estatuto entrou em vigor.

Já ouvi comentários dos defensores da liberação de que as pessoas bebem nos bares no entorno dos estádios. Certamente isso acontece, mas três horas pulando e torcendo pelo seu time minimizam os efeitos do álcool, sem contar os que só bebem dentro do estádio, pela facilidade da oferta.

E, se nada convence nossos parlamentares e autoridades, é bom lembrar que estamos entrando no segundo ano da Década de Ação pela Segurança no Trânsito 2011-2020, instituída pela ONU com o objetivo de reduzir em 50% as mortes e acidentes de trânsito no mundo. Além disso, o Brasil está entre os cinco países mais violentos no trânsito do mundo, uma colocação que não nos permite concessões e retrocesso na luta por um trânsito mais humano e menos violento.

Fica o apelo aos nossos parlamentares e autoridades, para que o famoso “jeitinho brasileiro” não seja um “gol contra o nosso país” e dê a vez ao bom senso, na certeza de que muitas vidas podem ser poupadas com a derrota desta lei.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Duvido se a FIFA iria exigir a venda de bebidas alcoólicas se a Copa fosse em países islâmicos onde é generalizada a proibição do consumo.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

MISTURA EXPLOSIVA



Vandalismo durante apuração dos desfiles em São Paulo pode ter sido planejado por diretores de quatro escolas e mostra que juntar carnaval com torcida organizada de futebol não dá certo. Rodrigo Cardoso - REVISTA ISTO É, N° Edição: 2207, 24.Fev.12 - 21:11

O Carnaval é a época em que o clima de festa e a alegria tomam conta de todos. Este ano, porém, a folia paulistana contrariou essa tradição. Dois dias depois do animado desfile das escolas de samba do grupo especial, a apuração que definiria a agremiação campeã transformou o palco do samba de São Paulo, o sambódromo do Anhembi, numa arena de guerra, com troca de insultos, briga e fogo ateado em um carro alegórico.

O tumulto começou quando integrantes de algumas escolas derrubaram as grades que os separavam do lugar reservado para os jurados e rasgaram os papéis com as notas que seriam anunciadas. O episódio deplorável foi agravado por uma particularidade do Carnaval paulistano: a participação de torcidas organizadas de futebol nos desfiles. Acompanhando em peso a apuração no sambódromo, integrantes da Gaviões da Fiel invadiram a área restrita aos dirigentes das agremiações. Ao deixarem o local, chutaram grades e muros do Anhembi, fecharam ruas paralisando o trânsito e, suspeita-se, teriam atirado um coquetel molotov que culminou com o incêndio de um carro alegórico da Pérola Negra estacionado na dispersão. “As escolas de samba ligadas às torcidas de futebol levaram para o Carnaval o público baderneiro dos estádios. Juntos, Carnaval e essas torcidas não combinam”, diz o procurador de Justiça Fernando Capez, hoje deputado estadual, que combateu a violência das torcidas organizadas.

Bate-bocas entre dirigentes sempre marcaram a disputa do Carnaval tanto quanto os surdos da bateria. Mas as diferenças, até um tempo atrás, eram resolvidas entre eles, não se transformavam em caso de polícia, como agora. Primeiro a invadir e rasgar as notas dos jurados, Tiago Ciro Tadeu Faria, 29 anos, integrante da Império da Casa Verde – que tinha passagem pela polícia –, e Cauê Santos Ferreira, 20, torcedor da Gaviões da Fiel, foram detidos na hora da confusão e irão responder pelos crimes de supressão de documento e depredação do patrimônio público. À frente da investigação, o delegado da Delegacia de Atendimento ao Turista (Deatur), Osvaldo Nico Gonçalves, afirma que pelo menos quatro escolas planejaram “melar” a apuração minutos antes da invasão de Faria por causa da troca de dois jurados ocorrida um dia antes do início dos desfiles. Segundo ele, outras pessoas devem ser indiciadas pelos mesmos crimes. Na quinta-feira 23, foi o que aconteceu com Alexandre Salomão, integrante da escola de samba Camisa Verde e Branco, após ser ouvido pela polícia.
“Hoje, há um problema da presença da torcida de futebol na arquibancada. A discussão supostamente inofensiva dos dirigentes acaba inflando o público que não foge de uma briga e a combinação dá nisso aí”, diz o delegado Nico. Atualmente, há oito agremiações ligadas às torcidas de futebol em São Paulo (leia abaixo). Sambistas antigos e diretores de escolas tradicionais calculam que, em seis anos, é possível que metade das 14 agremiações do grupo principal tenha ligações com as organizadas. “Muitas escolas tradicionais aceitam as agremiações vindas das torcidas, embora não gostem da presença delas porque o Carnaval vira estádio de futebol”, diz o diretor de uma escola do Grupo 1.

Para que a baderna da apuração não se repita, a prefeitura já anunciou que responderá também pela segurança da área onde ocorre a divulgação das notas – este ano ela cuidou da segurança do público na arquibancada –, bem como do credenciamento de acesso dos dirigentes, tarefas até então da Liga das Escolas de Samba. Para o delegado Nico, a apuração deve ocorrer em local fechado, em dia útil, sem acesso a torcedores e com a presença de dois diretores de cada escola. “É melhor que não tenha torcida. Não adianta a gente ir lá gritar”, admite Marcos Ferreira, presidente da Torcida Mancha Alviverde, que prefere assistir à apuração na quadra da escola. “O episódio deste ano piorou nossa imagem, que já não era boa, perante a sociedade.” O presidente da Liga, Paulo Sérgio Ferreira, admitiu que o modelo atual é ultrapassado. Mas faz uma ressalva: “Os dirigentes também precisam se comportar como autoridades de escolas de samba e parar de agir como gente briguenta de torcida organizada”. Mais diversão e menos rivalidade no Carnaval pode dar samba.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

FUTEBOL COM LEI


Violência ganha voz de prisão - FRANCISCO AMORIM

O fato de a Justiça decretar prisão preventiva de um torcedor acusado de tentativa de homicídio e formação de quadrilha representa grande avanço contra a violência nos estádios, como admitem especialistas.

A decretação da prisão do ex-líder de torcida Jorge Roberto Gomes Martins, o Hierro, parece ser uma resposta das autoridades gaúchas à violência nas arquibancadas dentro dos estádios.

Mais do que retirar das ruas um réu suspeito de ameaçar testemunhas, a decisão da juíza da 2ª Vara do Júri Elaine Maria Canto da Fonseca tem caráter pedagógico.

Autor do pedido de prisão preventiva feito ao Judiciário no dia 29, o promotor Júlio César Melo está convicto de que apenas ações rigorosas do poder público podem inibir a ação de grupos marginais nas arquibancadas. Para ele, além de proteger uma testemunha e a própria vítima, um jovem de 20 anos que teve o punho esquerdo dilacerado por uma facada, a prisão de Hierro interrompe uma trajetória que servia de mau exemplo a outros torcedores:

– O torcedor ordeiro não pode ser compelido a conviver com criminosos.

Em sua denúncia, o promotor explicou que a briga ocorrida no dia 7, durante a partida de despedida do jogador Fabiano no Beira-Rio, teve como pano de fundo a disputa por benefícios entre duas torcidas coloradas.

– Isso não é torcedor. Integrantes desses grupos se aproveitam da possibilidade de entrar no estádio com faixas, bandeiras e instrumentos musicais para irem armados – argumenta.

A mão pesada sobre quem transforma arquibancada em ringue é apontada como caminho mais curto para a redução das brigas e dos atos de vandalismos envolvendo grupos organizados. Segundo o psiquiatra forense, Rogério Cardoso, a falta de limites pode ser um estímulo à prática de crimes para maior parte das pessoas.

– Vale esse esforço, pois há uma grande parcela da população que é suscetível ao impacto de uma punição – explica.

Conforme Cardoso, no entanto, há casos em que medidas alternativas, como a proibição da entrada nos estádios não tem resultado significativo:

– É o caso daquelas pessoas com histórico de serem violentas. Brigavam no colégio e agora brigam no futebol, no trânsito, no trabalho. Para eles, medidas alternativas não funcionam, eles não se controlam.

Responsável pelo indiciamento de 13 torcedores da dupla Gre-Nal envolvidos na morte de um torcedor colorado no município de São Leopoldo em 2004, o delegado Heliomar Franco defende que grupos de torcedores envolvidos em crimes comuns devam responder também por formação de quadrilha.

– Esses líderes de torcida, geralmente mais velhos, acabam servindo de mau exemplo para jovens que desejam participar de grupos. Muitas vezes, acabam se envolvendo em crimes para serem respeitados pelos demais – explica o delegado.

Apesar de o Estatuto do Torcedor ter imposto restrições à conduta das torcidas organizadas, o procurador de Justiça Marcelo Roberto Ribeiro, que atua na 2ª Câmara Criminal, pensa que a punição é tímida.

– O futebol é muito popular e, por isso mesmo, a violência devia ser banida dentro e fora do campo. Não é possível que crianças e mulheres entrem num estádio e estejam sujeitas a agressões de maus torcedores – ponderou.

O professor de Direito Penal da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS) Rafael Canterji ressalta que a prevenção da violência nos estádios é responsabilidade de cconfederações, clubes e do próprio torcedor.

– Diante da ocorrência de crime o Estado deve reagir. Tanto durante o processo, quanto na pena.

Ex-líder de torcida está foragido - LEANDRO BEHS

A prisão de Hierro pode se dar ainda hoje. Com o indiciamento por tentativa de homicídio, formação de quadrilha e por promover tumulto, praticar ou incitar a violência, e com a prisão preventiva decretada, o torcedor não se apresentou à polícia nem respondeu às tentativas de contato da 20ª DP, responsável pelo caso. É considerado foragido.

Segundo informações que chegaram à delegada Sílvia Regina Coccaro de Souza, Hierro estaria em Santa Catarina, na praia do Rosa, trabalhando em uma boate de um líder de torcida argentina.

Após realizar três diligências em Porto Alegre, uma na casa de Hierro, no bairro São José, outra na casa de um ex-segurança do torcedor, e a terceira na casa de um menor, que também estaria envolvido nos incidentes do último dia 7, no Beira-Rio, a delegada Sílvia Regina e mais quatro agentes que a acompanhavam não encontraram o rapaz.

A delegada Sílvia Regina encaminhou à polícia catarinense o pedido de prisão de Hierro. Porém, como Santa Catarina não possui uma delegacia de capturas, é possível que haja alguma dificuldade na prisão do torcedor – caso ele realmente esteja no Estado vizinho. Desde ontem, o nome e a foto de Hierro constam do sistema de procurados da Secretaria de Segurança Pública.

– Não pouparemos esforços para localizá-lo. Não acredito que ele se apresentará – comentou a delegada Sílvia.

Mesmo assim, agentes da 20ª DP farão hoje novas diligências na Capital. Na quarta-feira, Hierro atendeu ao telefonema de ZH, assegurou que não fugiria e que já havia retornado a Porto Alegre para se apresentar à polícia.

Na quarta-feira, a denúncia contra Hierro, Ranieri Tafernaberri Cardozo, o Maninho, e Rodrigo Cesar Candria Borges, o Bodão, foi aceita pela juíza Elaine Maria Canto da Fonseca, da 2ª Vara do Júri de Porto Alegre. Os três responderão pelos crimes de tentativa de homicídio, formação de quadrilha e por promover tumulto, praticar ou incitar a violência, mas apenas Hierro teve a prisão preventiva decretada. Também estão proibidos de comparecer a jogos do Inter.

Hierro disse a ZH, em entrevista publicada no dia 23 de dezembro, que já respondeu a 25 processos. Foi condenado em apenas um deles, à revelia, por não ter sido encontrado pela Justiça – do qual já recorreu.

Procura-se o Taylor brasileiro - LUIZ ZINI PIRES

Futebol é assunto de família. Na mesa de jantar e na sala da TV, pai, mãe e filhos tratam pênaltis e impedimentos como assunto próprio. A discussão fica trancada em quatro paredes. Não sobe as arquibancadas. A família não frequenta estádio, apenas alguns dos seus integrantes, o que deixa a mãe (e as crianças) em casa. Ela preocupada com a segurança de todos, a gurizada chorando por não poder acompanhar os mais experientes.

A ausência da família é observada no borderô dos velhos estádios brasileiros. O Inter teve 18.188 espectadores por jogo no Brasileirão 2011. Grêmio, 15.809. A média é pobre. É a nossa imagem.

O gaúcho será atraído outra vez aos gramados com a chegada da Arena e do novo Beira-Rio. O futebol vai alcançar o Século 21 nos próximos dois anos – o Brasil ainda terá mais 11 estádios com a Copa do Mundo de 2014. Haverá conforto, bons bares, cadeiras numeradas, banheiros de hotel estrelado. Ir aos jogos será um programa legal e popular, tenha você oito ou 80 anos.

O exemplo é inglês. Quando morreram quase 100 pessoas numa partida, nos anos 1980, políticos e dirigentes de futebol confeccionaram um novo projeto de vida chamado Relatório Taylor. O futebol inglês encontrou sua fonte da juventude. Renasceu organizado e seguro e sem ferir o futebol que, pelo contrário, virou entretenimento com competitividade. O trabalho foi liderado por um juiz, Peter Taylor. Precisamos de um Taylor made in Brasil, de alguém que proteja nosso real torcedor.


Os três indiciamentos

TENTATIVA DE HOMICÍDIO - Suspeitos de esfaquearem um jovem de 20 anos, Hierro e colegas de torcida podem ser sentenciados a penas entre 10 e 20 anos, previstas no artigo 121 do Código Penal. A denúncia foi duplamente qualificada: por motivo fútil e por ter sido cometido sem chance de defesa à vítima.

FORMAÇÃO DE QUADRILHA - O grupo formado por pelo menos cinco homens, dois deles identificados apenas por apelidos, responderá também pelo crime de formação de quadrilha. Segundo o Código Penal, poderão ser condenados a penas que variam entre dois a seis anos por terem se associados na agressão.

PROMOÇÃO DE TUMULTO - O tumulto provocado, segundo a polícia, por Hierro e seus colegas, na partida festiva pode levá-los a uma condenação de um a dois anos de prisão. A pena está prevista no artigo 41-B do Estatuto do Torcedor. Se condenados pelos três crimes, a pena pode chegar a 28 anos.