quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O MENTOR DA BADERNA


ZERO HORA 27 de dezembro de 2012 | N° 17295

GUERRA NA INAUGURAÇÃO. O comandante da baderna na Arena

PAULO GERMANO

ZH teve acesso a vídeos exclusivos da briga ocorrida na inauguração do estádio e mostra que o articulador da selvageria é o número 2 na hierarquia da Geral do Grêmio. Não se trata de um episódio isolado: promover batalhas é um objetivo entre alguns integrantes da cúpula da maior torcida organizada gremista.

A violência tem cadeira cativa na Geral do Grêmio.

Não foi por acaso a pancadaria que maculou a inauguração da Arena, no último dia 8, quando integrantes da maior torcida organizada do clube distribuíram socos e pauladas na arquibancada. Líderes da Geral estimulam, patrocinam e comandam esses tumultos – bem mais frequentes do que se imagina.

Zero Hora obteve vídeos exclusivos da briga no novo estádio. E o principal agitador do quebra-quebra foi Cristiano Roballo Brum, 32 anos, mais conhecido como Zóio. Velho conhecido da polícia, Zóio é o número 2 na hierarquia da Geral. Conserva o respeito dos membros da torcida, dispõe de regalias como passagens aéreas para acompanhar o Grêmio e, com frequência, aparece cercado de aliados que atuam como seus seguranças.

Nas imagens gravadas na arquibancada da Arena, a liderança de Zóio fica evidente. Enquanto distribui murros e pontapés, seus amigos batem nos desafetos com hastes das bandeiras que deveriam colorir o espetáculo. Zóio não leva um único safanão: primeiro, porque quem acertá-lo sofrerá represálias; segundo, porque pelo menos seis homens se dedicam a protegê-lo em meio ao tumulto.

Em um dos vídeos, ele ergue a perna na altura da própria cabeça e acerta um chute no rosto de um rapaz. Em outra imagem, o número 2 da Geral arremessa contra um adversário um tambor da charanga da torcida.

– Zóio e outros líderes desenvolveram técnicas para escapar da Brigada Militar. Eles dão um único golpe e se afastam. Então, observam se a tropa está se aproximando. Se os PMs ainda estiverem longe, desferem outro golpe e recuam. Eles se acostumaram a pensar na polícia enquanto brigam – diz um policial que investiga a atuação dos gremistas.

Foi exatamente o que ocorreu no confronto da Arena. Quando os militares se aproximam, um vídeo mostra Zóio escapando com facilidade, sempre cercado de aliados.

Nove dias antes da inauguração da Arena, no início da noite de 29 de novembro, Zóio teria coordenado um ataque desse tipo. Cinco colorados, entre eles a presidente da torcida organizada Camisa 12, Juliana Coutinho, deixavam uma reunião promovida pelo Batalhão de Operações Especiais (BOE) para garantir a paz no Gre-Nal de encerramento do Olímpico. Conforme o relato de Juliana na ocorrência número 2673497 da Brigada Militar, dois veículos encurralaram o Voyage dirigido por seu namorado na Rua Salvador França, quase esquina com a Avenida Ipiranga.

Em depoimento à polícia, a torcedora colorada afirmou que Zóio e outros nove integrantes da Geral do Grêmio – dois deles armados – desceram dos carros e, com chutes e coronhadas, quebraram o para-brisa traseiro e amassaram as portas do Voyage. Após agredir os torcedores do Inter, eles teriam levado a bolsa de Juliana com um celular, documentos e uma pequena quantia em dinheiro.

– As testemunhas já foram ouvidas e, nos próximos dias, vou interrogar os suspeitos – afirma a delegada Anita Klein, da 11ª Delegacia da Polícia Civil.

O que não deixa dúvidas sobre o que de fato aconteceu é a prisão de Zóio por suspeita de tráfico, que ocorreu cinco horas após o assalto à presidente da Camisa 12. Ele e outros cinco homens, conforme a ocorrência número 3615/2012, foram detidos na madrugada em uma blitz na Avenida João Pessoa. Os seis se espremiam dentro de um Corsa. Quando a polícia apreendeu 50 gramas de maconha e R$ 7,9 mil em dinheiro, Zóio e um amigo foram presos em flagrante.

– A quantidade de droga apreendida nem era tão grande. Mas o dinheiro, os antecedentes e as circunstâncias do flagrante nos levaram a indiciá-los por tráfico – atesta o delegado Thiago Bennemann, do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc).

ZH ligou para o celular de Zóio, enviou recados para colegas de torcida, mas ele não respondeu a pedidos de entrevistas.


Líderes têm histórico de confusões

Só há uma pessoa acima de Zóio na hierarquia da Geral: Rodrigo Marques Rysdyk, o Alemão. Responsável por negociar com a diretoria do Grêmio todo o apoio financeiro à torcida – o que inclui dinheiro para viajar com o time, instrumentos para a banda e ingressos para revender –, Alemão, 34 anos, coleciona passagens na polícia. Já foi detido por ameaça (2004), lesões corporais (2005 e 2007), tumulto (2008), arruaça e desacato (2011). Todas as ocorrências envolviam sua atuação como líder da Geral.

Em janeiro de 2007, a Justiça o proibiu de comparecer aos jogos do Grêmio por um ano. A determinação veio após Alemão participar de um tumulto, no aeroporto Salgado Filho, que resultou em agressões ao ex-presidente do Inter Fernando Carvalho, ao então presidente Vitorio Piffero e também a um cinegrafista. O chute – pelas costas – que atingiu o ex-dirigente inspirou trecho de uma música da Geral: “Fernando Carvalho foi pedalado”.

Em uma entrevista à série de TV britânica Real Football Factories, que rodou o mundo documentando a rotina de torcedores violentos, Alemão resume sua filosofia, ao enumerar três coisas que julga fundamentais:

– Futebol, briga para defender seu time e álcool. O Grêmio é o mais importante. Mas quebrar uns colorados e uns corintianos também é muito bom.


Nova direção impõe regras para torcida

A bola ainda rolava no gramado da Arena quando um furioso Eduardo Antonini, presidente da Grêmio Empreendimentos, enviou de seu celular um e-mail para o líder maior da Geral, Rodrigo Rysdyk, o Alemão. A Brigada Militar recém havia contido a pancadaria na torcida.

– Pô, a gente brigou com a Brigada e com os bombeiros, mudamos todo o projeto para permitir a avalanche na Arena, contestamos quem chamou os membros da Geral de marginais. E eles retribuem desse jeito? – questionou Antonini.

A Geral preocupa tanto que um integrante do Conselho de Administração da nova gestão, Nestor Hein, almoçou ontem com Alemão.

– Haverá uma série de compromissos. Na Arena, o torcedor fica muito perto do campo e não podemos correr riscos de interdição. Perderemos muito dinheiro se a Arena for interditada. Teremos regras rígidas – disse Hein.

O dirigente afirma que o clube estuda cadastrar todos os torcedores das organizadas. Hein mostra-se preocupado com as constantes brigas envolvendo a Geral:

– Cobraremos também a autofiscalização das torcidas. Eles não podem colocar as conquistas que tiveram, como um espaço diferenciado na Arena, a perder.

Hein comentou que a nova direção não dará ingressos às organizadas, ao menos nesse começo de temporada.

– Estamos assumindo agora e há muitas questões a serem resolvidas. Neste primeiro mês, não haverá ingressos.

ENTREVISTA

“O Zóio vem crescendo como liderança nos dois últimos anos” - Rodrigo Marques Rysdyk, o Alemão Líder da Geral


Zero Hora – Por que ocorreu a briga?

Alemão – Ainda não sei o que ocorreu naquele dia. O certo é que precisamos ajustar alguns pontos com a nova direção. A Arena morreu sem a Geral. Antes da confusão, o estádio estava bombando. Depois, virou um cemitério. Ainda mais agora na Libertadores, precisamos da torcida. O presidente (Fábio Koff) disse que quer a Geral, mas uma Geral ordeira. A eleição já passou (a Geral apoiou Paulo Odone contra Koff). Tem algum ranço, fica alguma mágoa, mas o objetivo de todos é o Grêmio e a Libertadores.

ZH – Por que é comum os líderes da Geral se envolverem em brigas e tumultos?

Alemão – A torcida ganhou nome, força no clube e incomodou algumas pessoas. A Geral trouxe muito mais benefícios para o Grêmio do que problemas. Koff já me disse algumas coisas que deseja fazer com a torcida. Os problemas não serão resolvidos em um mês, mas para o primeiro jogo grande (dia 30 de janeiro, contra a LDU) a coisa já estará mais calma.

ZH – O Zoio é seu inimigo na Geral?

Alemão – Olha, que eu saiba não. Também não me considero inimigo dele. Mas ele vem crescendo como liderança nesses dois últimos anos.

ZH – A Geral seguirá o time nos jogos fora de casa na Libertadores?

Alemão – Com ou sem ajuda da direção, vai ter gente nossa.

ZH – A Geral consegue se manter sem ajuda da direção ou precisa de auxílio?

Alemão – Precisa auxílio, sim, mas fazemos rifas ou algum jogador dá uma ajuda.

ZH – Quanto a Geral fatura por mês?

Alemão – Não tenho os números, mas não é muito. Temos poucas coisas para vender: adesivos, camisetas, bonés e mantas. Queríamos organizar isso com o clube. Até para tirar a dúvida da torcida e da imprensa, que de maneira injusta dizem que estamos ganhando horrores de dinheiro.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - A Copa do Mundo no Brasil está batendo na porta e o país não tem uma legislação capaz de conter a fúria e os crimes dos hooligans (vândalos) brasileiros. A nossa legislação é frouxa e a justiça morosa, desacreditada, desrespeitada e desestruturada para punir com rigor e monitorar estes baderneiros durante os jogos. Só uma legislação dura aplicada por uma justiça ágil e capaz de punir e evitar que estes vândalos frequentem os estádios. De nada adianta determinar judicialmente a apresentação em delegacias de Polícia durante os jogos, se não houver o encaminhamento para um estabelecimento prisional dos baderneiros que não cumprirem a decisão judicial.

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