sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

BADERNA NA ARENA: PERGUNTAS, RESPOSTAS E VERSÃO DO AGREDIDO

ZERO HORA 28 de dezembro de 2012 | N° 17296

BM ameaça punir a Geral. Polícia estuda proibir instrumentos, bandeiras e trapos da torcida em jogo da Libertadores, em 30 de janeiro

LEANDRO BEHS

A Geral poderá ficar sem os seus instrumentos, bandeiras e trapos para o jogo entre Grêmio e LDU, em 30 de janeiro, na Arena.

Devido à briga de facções da Geral na inauguração do novo estádio, a Brigada Militar analisa a retirada dos acessórios da torcida para a partida de volta da primeira fase da Libertadores. O comando da BM teme que um jogo de alta tensão proporcione cenas ainda mais graves de violência na Arena.

Ainda que haja negativas, o grupo liderado por Cristiano Roballo Brum, o Zóio, e os comandados por Rodrigo Marques Rysdyk, o Alemão, as duas principais lideranças da torcida, estariam em meio a uma disputa de poder pelo comando da organizada e das verbas concedidas pela direção do Grêmio, o que gerou o tumulto do dia 8 de dezembro. Ontem, ZH revelou imagens da briga ocorrida na inauguração da Arena, na qual torcedores se envolveram em uma pancadaria. O comandante da baderna foi Zóio, número 2 da Geral.

– Eles usaram os instrumentos como armas e isso não pode ficar assim. Nos próximos dias, teremos uma reunião para definir os procedimentos a serem adotados para este primeiro jogo grande, de competição mesmo, na Arena. Poderá haver punição às torcidas, sim. E essas sanções ainda estão sob análise – afirmou o coronel Alfeu Freitas, responsável pelo Comando de Policiamento da Capital (CPC).

Além disso, Freitas destaca que as imagens das brigas durante Grêmio e Hamburgo já foram encaminhadas ao Ministério Público. Naquela noite, oito torcedores foram presos e conduzidos ao Juizado Especial Criminal (Jecrim).

Segundo a juíza Viviane de Faria Miranda, titular do Jecrim da Arena na noite de inauguração do estádio, desses oito torcedores, apenas dois não puderam optar pela transação penal e pagar cerca de R$ 300 em cestas básicas (a serem revertidas para o Lar Santo Antônio dos Excepcionais) para serem soltos, pois já tinham antecedentes. Esses dois responderão a processo por tumulto, ainda sem previsão de julgamento. Se condenados, poderão ficar até um ano sem poder comparecer a estádios em dias de jogos. Zóio, responsável pelo começo da briga, não estava entre os torcedores presos.

– Nosso temor com relação à Arena é uma possível invasão de campo, devido à proximidade do gramado. Em um jogo decisivo, tenso, poderá ocorrer um tumulto generalizado. Por isso, estamos de olho nas organizadas do Grêmio. Afora a questão penal, vamos sugerir punições administrativas aos brigões – comentou o coronel Freitas.

A Brigada Militar entende ainda que os jogos do Grêmio na Libertadores, se a equipe passar pela LDU, serão decisivos para a presença das duas torcidas e também das organizadas no primeiro Gre-Nal na Arena (ainda sem data, uma vez que o único clássico garantido até aqui no Gauchão ocorrerá no Colosso da Lagoa, em Erechim, no dia 2 de fevereiro).

– No Brasileirão, recebemos a sugestão de fazer o clássico com torcida única no Beira-Rio (em 26 de agosto, com vitória do Grêmio por 1 a 0), devido às obras do estádio. Conseguimos evitar. Agora, se as organizadas continuarem com esse comportamento, tomaremos outras medidas e até mesmo o clássico com apenas uma torcida e sem organizadas poderá ser analisado – declarou o coronel Alfeu Freitas.



PERGUNTAS & RESPOSTAS

Imagens da briga na Arena mostradas por ZH levantaram questionamentos. Justiça e Grêmio respondem

As imagens de Zóio podem gerar alguma punição ao torcedor?

Conforme a juíza Viviane de Faria Miranda, titular do Jecrim da Arena, não. Apesar das imagens e da violência de Zóio contra outros torcedores da Geral, ele não estava entre os oito presos devido às brigas na arquibancada naquela noite. Assim, não será indiciado pelo tumulto.

A Brigada Militar afirma que a Arena não tem central de monitoramento. Isso é fato?

Segundo Eduardo Antonini, presidente da Grêmio Empreendimentos, a Arena tem central de monitoramento. Ocorre que, no dia da inauguração, nem todas as câmeras estavam funcionando. Por isso, conforme Antonini, a BM precisou complementar. Conforme o dirigente, ao todo, são cerca de 90 câmeras, cinco vezes mais do que a Fifa exige. Cerca de 30 funcionaram na estreia. No Jogo Contra a Pobreza, esse número aumentou. Na partida contra a LDU (dia 30 de janeiro), todas elas já deverão operar, diz Antonini.

Por que todas as organizadas ficam juntas na Arena?

O presidente da Grêmio Empreendimentos destaca que não existe um local específico para as organizadas.

– Como aquele local é o mais barato, porque as pessoas ficam de pé, as organizadas acabam indo para lá. Muitos sócios também ficam naquele setor. A Brigada nos prometeu que estará muito atenta àquela localização. O que aconteceu naquele dia é um grande exemplo de que a atenção precisará ser redobrada – explica Antonini.


A VERSÃO DO AGREDIDO

Por CARLOS WAGNER


O chute que levou no rosto o tornou personagem do episódio que marcou a inauguração da Arena. Com 24 anos, o administrador aparece no vídeo sendo agredido por Cristiano Roballo Brum, o Zóio, número 2 da Geral. Com a condição de não ser identificado, o jovem falou com ZH. Já Zóio, não foi localizado.

Zero Hora – Por que houve a briga?

Agredido – A briga foi uma fatalidade entre pessoas que frequentam a torcida.

ZH – Por que o chute na cara?

Agredido - Não faço ideia. Eu não lembrava do chute.

ZH – Você já conhecia o Zóio?

Agredido – Conheci o Zóio em 2008, na torcida do Grêmio. Estivemos juntos inclusive no Rio de Janeiro, este ano. Nunca tivemos problemas.

ZH – De que grupo você é da Geral?

Agredido – Eu sou sócio e torcedor do Grêmio, frequento o estádio na Geral pelas amizades de infância que tenho e criei através do Grêmio.

ZH – O que você sentiu ao ver sua imagem levando um chute?

Agredido - Não senti nada. A imagem é forte, mas desvio com a cabeça para trás.

ZH – Isso causou algum tipo de transtorno na sua vida pessoal, na família e na vida profissional ?

Agredido – Não causou maiores transtornos. Fico triste pelo tumulto ocorrido. Ainda comentei com familiares e o diretor da empresa em que trabalho para deixar claro o que tinha acontecido e para que não fossem pegos de surpresa por causa das fotos.

ZH – Qual a sua frequência nos jogos do Grêmio?

Agredido – Vou a todos os jogos, inclusive fora de casa quando consigo conciliar com o trabalho e a família.

ZH – A partir da divulgação das imagens, alguém entrou em contato com você? Grêmio, BM, Ministério Público, Polícia Civil?

Agredido –Somente amigos que não sabiam do ocorrido para saber se eu estava bem.

ZH – Por que você não quer se identificar?

Agredido – Para não prejudicar minha vida profissional.



ZERO HORA - DO LEITOR - A guerra na inauguração da Arena do Grêmio

A reportagem “O comandante da baderna na Arena”, do repórter Paulo Germano, publicada ontem nas páginas 4 e 5, mostrando cenas exclusivas da pancadaria na torcida Geral do Grêmio que manchou a inauguração do novo estádio tricolor, em 8 de dezembro, gerou muitas manifestações de leitores. Algumas delas são reproduzidas abaixo:

Não sou defensor de ninguém, mas quero saber qual a fonte (imagens) do repórter. Cada um vê o que quer, e vocês, dessa imprensa de m... que só querem vender (sim, visam ao lucro e não à informação), deduzem o que querem. E se o cara foi ameaçado e se quem começou foi outra torcida? Acusarem alguém assim de imediato? A imparcialidade é tanta, que o repórter não percebeu que a grande maioria queria finalizar a briga. Não leve pelo pessoal, mas não confio na imprensa com formadores errados de opinião. Brizio Gimenes

Essa baderna deveria estar na página policial. Os jornalistas da RBS são tão baba-ovos do chefe que desconhecem um dos mandamentos da imprensa, que é a imparcialidade. Nos últimos anos, que o time das elites e da RBS não ganha nada, a baixaria vira notícia de primeira página. Claudio Viecili

Parabenizo pela excelente reportagem sobre a Geral do Grêmio. Sou sócio e me encaixo naquele grande grupo de torcedores que assistem a jogos na Geral e nunca se meteram em confusão. João Júlio Gomes

Trata-se de uma reportagem com grande apelo de utilidade pública, que deverá (mais uma vez!) sensibilizar as autoridades para o risco que representam esses marginais travestidos de torcedores. São baderneiros sustentados pelos próprios clubes, o que por si só já constitui uma barbaridade. Gilberto Jasper

Sei que por vezes faltam pautas para vocês. Mas deixo um conselho: não voltem a colocar os holofotes sobre esses projetos de barras-bravas aqui de Porto Alegre e do RS. Eles são criminosos, e como criminosos devem ser tratados. Vocês, da imprensa, muitas vezes alimentam gente medíocre dando espaço para essa classe. Gustavo Alvez

Excelente a reportagem sobre os líderes das torcidas organizadas do Grêmio. Muito oportuno desnudar todas essas desventuras de alguns marginais, unicamente dispostos a “fazer valer” sua força interna. Por outro lado, como colorado, gostaria que uma reportagem idêntica fosse realizada entre os líderes das torcidas coloradas, especialmente a Popular. Não me causaria estranheza se marginália semelhante também estivesse abarcada dentro do Internacional. Elton Haefliger

Parabenizo pela reportagem, e a excelente entrevista com o Alemão! Sou do interior, da cidade de Santana do Livramento, e vocês não têm noção como nos interessa esse tipo de informação, pois estamos afastados da Capital e não fazemos ideia dessas tragédias que acontecem no mundo das torcidas organizadas. Parabéns, mais uma vez, e fico no aguardo de mais reportagens assim, gostaria que da próxima vez você pusesse fotos do torcedores e principalmente do Alemão. André A. Machado

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - É uma pena que este caso está sendo tratado apenas do ponto de vista policial e esportivo. É caso que precisa de envolvimento do Congresso Nacional para elaborar leis duras e da aplicação coativa destas leis por parte do Judiciário. Só com uma justiça forte e resoluta se poderá fortalecer as ações preventivas dos Clubes de Futebol e repressivas das forças policiais. Tratamento superficial e benevolente não vai deter estes vândalos e nem será capaz de impedir que este movimento criminoso cresça a ponto de chegar aos níveis de violência ocorridos na Inglaterra e que estão ocorrendo na Rússia. É preciso medidas judiciais fortes sob pena de pagar vale na Copa do Mundo quando virão para cá Hooligans experientes e prontos para ensinar táticas de enfrentamento e técnicas evasivas.

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