domingo, 30 de dezembro de 2012

O QUE EXPLICA A VIOLÊNCIA



ZERO HORA 30 de dezembro de 2012 | N° 17298

FUTEBOL. Disputa por verbas e poder transformaram parte das torcidas organizadas em grupos prontos para a guerra. Especialistas temem que o Brasil passe por um processo de radicalismo, vivenciado pela Argentina e pelo Leste Europeu.

RODRIGO MÜZELL

Cenas recentes como as da briga entre integrantes da Geral do Grêmio na inauguração da Arena ou do tumulto entre a Guarda Popular e a Popular, do Inter, há um ano no Beira-Rio, trouxeram à tona o lado violento das torcidas organizadas.

Formadas pela paixão de torcedores por seus times, grandes torcidas envolvem bem mais do que apenas a festa nas arquibancadas: a disputa por verbas, respeito e proteção em partidas fora de casa são ingredientes explosivos para os conflitos.

Tanto quanto rixas pessoais e rivalidades entre os clubes, o dinheiro movimentado quando as organizações tomam corpo é também motor para os tumultos. Ansiosos por apoio em jogos fora de casa, os clubes fornecem ingressos e ônibus para torcedores acompanharem os times – benefícios que se tornam uma disputada fonte de renda. Em dezembro de 2011, logo após protagonizar um tumulto no jogo de despedida de Fabiano Souza no Beira-Rio, o então líder da Guarda Popular, Hierro, avaliou em R$ 25 mil o movimento mensal:

– É até pouco para o nosso tamanho.

Nos estádios, isso se traduz em tensão permanente entre rivais e até facções de uma mesma torcida. É quando, como comprovado nas imagens da briga na Arena, o jogo e o time ficam em segundo plano. Para o tenente-coronel Kleber Rodrigues Goulart, comandante do Batalhão de Operações Especiais (BOE), a situação entre as torcidas coloradas ficou mais calma após os tumultos do ano passado devido à redução dos benefícios feita pelo Inter – caminho anunciado, agora, pela direção gremista. Para o comandante, se os clubes e torcedores não rejeitarem as práticas violentas das organizadas, o Brasil poderá começar a ver situações como as vividas na Argentina e na Europa:

– Estamos num processo de hooliganismo. Continuando assim, chegaremos ao ponto do Leste Europeu, em que as torcidas são tão poderosas que decidem contratações dos clubes.

Em todo o país, polícias e Ministério Público têm nas organizadas e suas facções uma fonte permanente de dores de cabeça. Apenas em 2012, o MP pediu a suspensão ou extinção de torcidas de Corinthians, Palmeiras e Guarani (São Paulo), Flamengo e Vasco (Rio). Integrante da Comissão Nacional de Prevenção e Combate à Violência em Estádios, o promotor do MP do Rio Pedro Rubim diz que o ciclo de violência se reproduz com rixas que não cicatrizam. Neste ano, por exemplo, após a morte de um flamenguista por torcedores do Vasco, integrantes da Torcida Jovem do Flamengo teriam planejado o revide, que resultou na morte de um vascaíno. E a violência acaba aumentando o cacife das torcidas junto aos clubes, diz o promotor.

– A ideia de que são violentos e irracionais faz com que o dirigente dê apoio, ingressos, patrocínio – explica Rubim, que determinou o fim dos benefícios às torcidas suspensas.

Ao lado, os fatores que fazem das brigas de torcidas mais do que simples arruaça juvenil.


Alianças nacionais. Torcidas se relacionam fora do Estado, mas mantêm a rivalidade Gre-Nal

Na hora de formar alianças com organizadas de outros grandes times brasileiros, as torcidas de Grêmio e Inter permanecem em polos opostos.

Duas alianças nacionais conectam as principais torcidas do Brasil: a União do Punho Cruzado – integrada pela Camisa 12 colorada – e a União Dedo Pro Alto, que conta com Geral e Torcida Jovem, do Grêmio. As duas têm como símbolos gestos com os braços que remetem à violência.

Ter uma torcida coirmã significa oferecer todo suporte quando visitada pela parceira, seja como adversária ou em partidas contra o rival da cidade. Integrantes buscam os colegas no aeroporto ou na rodoviária e os hospedam na própria casa. Churrascos para comemorar a presença da visitante são comuns. No dia do jogo, mesmo que contra o próprio time, há ajuda mútua para estender as faixas nas arquibancadas. Se a partida for na casa rival, os organizados locais tentam escoltar e proteger os forasteiros no estádio. Quando comemoram aniversário, as torcidas enviam passagens para a diretoria da coirmã participar da festa. Bandeiras são trocadas para tremularem em outros Estados – uma forma de expandir a marca nacionalmente.

Essas relações preocupam as autoridades. Pedro Rubim, promotor do Ministério Público do Rio, diz que as alianças podem complicar jogos tranquilos entre times de Estados diferentes – basta que rivais locais se juntem aos forasteiros.

– Se flamenguistas se misturam a torcedores visitantes em uma partida contra o Vasco, a situação fica muito complicada – exemplifica.

No Rio Grande do Sul, a ordem na Brigada Militar é retirar das torcidas de outros Estados qualquer torcedor identificado com o rival local – seja um gremista no Beira-Rio ou um colorado em jogos do Grêmio.

As parcerias não são imutáveis. A Máfia Azul, principal organizada do Cruzeiro, era uma “Punho Cruzado” até 2000, mas uma briga com a Independente são-paulina comprometeu a união. Os paulistas também entraram em conflito, no ano passado, com a Jovem Fla. Mais ampla, a União Dedo Pro Alto congrega torcidas em boa parte do Brasil, que combatem as do Punho Cruzado mas nem sempre têm boa relação entre si. Algumas organizadas se mantêm independentes dessas “ligas” e escolhem pontualmente suas amizades. É o caso de Guarda Popular (Inter), Fanáticos (Atlético-PR) e Gaviões da Fiel (Corinthians).



Um comentário:

  1. as aliadas da popular no Brasil são apenas: Os Tigres(Criciúma), Urubuzada(Flamengo) e Máfia Azul(Cruzeiro)

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