sábado, 29 de dezembro de 2012

PROFISSÃO: TORCEDOR

ZERO HORA 29 de dezembro de 2012 | N° 17297

CARLOS WAGNER

Flagrado pelas câmeras comandando a briga durante a inauguração da Arena do Grêmio, Cristiano Roballo Brum, 32 anos, o Zóio, afirmou ontem que a pancadaria não tem nada a ver com a disputa interna pelo poder na Geral. Em conversa no Estádio Olímpico (o lugar foi marcado por ele), disse que o vídeo mostra apenas parte do que aconteceu. Zóio nega que tenha começado a briga, mas admite que falhou como líder ao não conseguir encerrá-la.

– A minha presença era para ter acabado com a briga. Mas aconteceu o contrário.

A seguir, trechos da entrevista:

Zero Hora – Qual sua versão sobre o que aconteceu?

Cristiano Roballo Brum, o Zóio – Eu não fui o chefe da baderna. Sou o líder da torcida do Grêmio. Houve uma série de incidentes. O principal deles começou com uma mulher pisando no pé da namorada de um torcedor. Ele não gostou e empurrou a mulher, começando a briga. Naquele dia, eu não estava lá como líder de torcida, estava acompanhado pela minha noiva, o meu filho e outros parentes. E acabei entrando na briga porque não podia permitir aquilo, até porque a pessoa envolvida é um velho conhecido meu, mas tem um longo histórico de perder o controle quando bebe.

ZH – Em duas cenas, o senhor aparece atirando um tambor e dando um pontapé no rosto de um torcedor...

Zóio – Não deveria ter agido assim. Mas agi porque não tive o respeito das pessoas que pensava ter. A minha presença era para ter acabado com a briga. Mas aconteceu o contrário.

ZH – Esta falta de respeito não seria porque a Geral estaria envolvida em uma guerra pelo poder?

Zóio – Não tem nada a ver. Fui para a liderança em 2008 porque o Alemão (Rodrigo Marques Rysdyk) estava enfrentando um processo judicial por racismo. Ele voltou para a liderança. Acho que a torcida não respeitou por outros motivos.

ZH – Como esse episódio repercutiu na sua vida?

Zóio – Eu sei que agi de maneira incorreta. A repercussão na minha vida particular foi horrível. Eu tenho dois filhos e estava no Interior, na casa da minha noiva, quando estourou tudo. Imagina a situação.

ZH – Essa não foi a primeira vez que o senhor se envolveu em brigas no estádio. O senhor respondeu a inquéritos por agressão. Este passado de violência influenciou no que aconteceu?

Zóio – Realmente já aconteceram outras situações. Em algumas delas, sou inocente.

ZH – O senhor responde a processo por tráfico de drogas?

Zóio – Sim, mas não quero falar sobre o assunto porque o processo está em andamento.

ZH – Como o senhor ganha a vida?

Zóio – Temos o negócio próprio da torcida. Vendemos os materiais para ganhar recursos e ganhamos ingressos. A minha vida sempre foi o Grêmio.

ZH – Como foi que entrou para a torcida organizada?

Zóio – Entrei aos 14 anos. Com o meu primeiro emprego, comprei o uniforme (na época, as organizadas eram uniformizadas) e pagava a mensalidade. Logo perdi o emprego, pela dedicação ao time.

ZH – Hoje, o senhor vive do dinheiro que ganha na organizada. Quanto é?

Zóio – Olha, a nossa dedicação é de 24 horas, todos os dias da semana. O que ganho é o suficiente para pagar as duas pensões dos meus filhos e viver uma vida simples. Tenho uma motinho para o meu deslocamento.

ZH – Como vai ser a sua vida daqui para frente?

Zóio – Eu e o Alemão fomos afastados, para o bem do Grêmio.

ZH – E agora, como o senhor vai viver?

Zóio – Nas horas vagas, vou a cursos profissionalizantes e agora vou à luta. É o preço que estou pagando pelo erro que cometi.

ZH – Valeu a pena dedicar mais da metade da vida à torcida organizada? O senhor foi afastado e responde a inquéritos policiais?

Zóio – Valeu a pena. Infelizmente, neste período não tive nenhum título de expressão. Mas ajudei muitas pessoas. Isso me enche de orgulho. Lamentavelmente o que ficou foi o último episódio. O que fiz de bem ninguém lembra. Só veem o mal.

ZH – É possível ser líder de torcida sem se envolver em briga?

Zóio – Desde de 2008, qual foi a grande briga que aconteceu? Nenhuma, porque nós não permitimos.

ZH – Quem assume no teu lugar e no do Alemão?

Zóio – Isso é coisa interna. Logo, vocês vão saber.

ZH – Vocês apoiaram o Paulo Odone nas últimas eleições?

Zóio – Apoiamos o Odone pelo seu trabalho. Está certo que não ganhamos nenhum título. Mas ele não abandonou o clube.

ZH – Isso tem alguma influência sobre o que aconteceu lá na Arena?

Zóio – Não, aquilo lá começou com um pisão no pé.

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