quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

CORINTIANOS COM LIMINAR DA JUSTIÇA COMUM DESAFIAM DECISÃO DISCIPLINAR DESPORTIVA

FOLHA.COM 27/02/2013 - 20h59

Pressionados pelo Corinthians, torcedores com liminar entram no Pacaembu


MARTÍN FERNANDEZ
DE SÃO PAULO


Cinco dos seis torcedores que conseguiram uma liminar para entrar no jogo Corinthians x Millonarios disseram que estão sendo pressionados pelo clube paulista.

O Corinthians foi proibido pela Conmebol de jogar na Libertadores, até segunda ordem, com a presença de torcedores.


Martín Fernandez/Folhapress

Armando Mendonça dá entrevista no carro ao lado de Rodrigo Adura, no Pacaembu


Nesta quarta-feira, seis torcedores conseguiram uma liminar na Justiça de São Paulo para entrar no Pacaembu (outros dois tiveram o pedido indeferido ).

Armando José Terreri Rossi Mendonça e Rodrigo Adura e outros três torcedores (um deles não foi por motivos particulares) chegaram juntos no estádio na noite desta quarta-feira, cerca de 70 minutos antes da partida começar.

"Estamos sendo pressionados por dirigentes [do Corinthians] para não entrar", afirmou Mendonça, em frente a um dos portões do estádio municipal.

"Sou torcedor, consumidor, comprei ha dois meses, quero fazer valer meu direito", completou Mendonça.

Os cinco torcedores passaram pelo portão 23 do Pacaembu e foram se reunir com o diretor jurídico do clube em uma sala dentro do estádio.

Após a reunião, os cinco corintianos resolveram entrar e o Corinthians correu para deixar claro que foi a Conmebol quem permitiu.


Fabio Braga/Folhapress
Policiais militares fazem a segurança no entorno do estádio do Pacaembu, onde será realizada a partida entre Corinthians x Millonarios; torcedores estão proibidos de assistir ao jogo no local


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - A justiça brasileira ao intervir em questões técnicas mostra que não está nem aí para as questões de ordem pública que neste caso se referem à área desportiva, já que invalida a tentativa de um entidade manter a paz, a disciplina e a ordem contra as ações de hooligans dentro de uma competição. A justiça deveria fortalecer todas as tentativas para acabar com a violência no futebol. 

ASSASSINATO EM ORURO


O ESTADO DE SÃO PAULO, 27 de fevereiro de 2013 | 2h 07


José Neumanne *


O que ocorreu em Oruro, na Bolívia, há uma semana não foi um acidente, mas um assassinato. E o único inocente nessa história é a vítima, o boliviano Kevin Douglas Beltrán Espada, de 14 anos, torcedor do San José, que recebia o Corinthians Paulista na primeira rodada de seu grupo da Taça Libertadores da América. O assassino, seja quem for - seja um dos presos pela polícia local ou não, seja o menor apresentado aos meios de comunicação antes de ser levado às autoridades (um sinal de nossos tempos midiáticos) ou não -, terá de ser identificado e processado na forma da lei.

Ninguém, a bem da verdade, espera que a polícia boliviana seja mais eficiente do que seria a brasileira se o incidente (e não uma tragédia acidental) houvesse ocorrido em território nacional. A manutenção de 12 corintianos presos, sendo atribuída a autoria a dois e impingida à dezena restante a pecha da cumplicidade, sem que seja apresentado o autor do disparo, aumenta essa dúvida. Afinal, o assassino poderia ser identificado, até com relativa facilidade, nas imagens geradas pela emissora local de televisão, com o uso de tecnologia simples. Mas a demora em identificar o assassino na cena gravada do crime não deve servir de desculpa para a reação sem propósito dos brasileiros envolvidos no episódio e da cúpula da Confederação de Futebol da América do Sul (Conmebol) na punição adotada.

A rápida localização do bode expiatório perfeito - de família pobre e menor de idade - em nada isenta ninguém. A julgar que realmente H. A. M., de 17 anos, tenha disparado o artefato, como é alegado, resta perguntar: quem era o maior responsável que o acompanhou na viagem para fora do País, onde ele teria comprado o sinalizador naval que serviu como arma do crime e, caso este pertencesse a outrem, quem era o dono? É bom alertar, de saída, que a inabilidade alegada pelo autor, em oportuna entrevista à televisão, não deveria servir de atenuante, mas de agravante, similar à de um menor acusado de atropelar alguém sem habilitação para conduzir automóvel.

Ainda que se esclareça isso e se encontre uma explicação para o fato de o menor ter deixado o território boliviano para confessar o crime a confortável distância do local onde ele ocorreu e ao qual não será tão fácil como se pensa ele voltar, o episódio não pode ser resolvido assim, num piscar de olhos. Além da necessária identificação de quem disparou e do indispensável processo penal para puni-lo, urge pôr fim à violência em estádios sul-americanos e à facilidade com que esta é perdoada a pretexto da paixão clubística.

No século 20, a filósofa alemã judia Hannah Arendt cunhou a expressão "banalidade do mal" para explicar o genocídio praticado em ditaduras. Este é um caso de banalização da morte. Por isso mesmo não pode ser tratado no velho padrão da diluição da responsabilidade, uma das raízes da impunidade que assola e envergonha a sociedade brasileira em vários campos de atividade, entre as quais o esporte, o futebol em particular.

Assim como um ex-jogador do Corinthians, Vampeta, definiu sua relação profissional com o time de maior torcida do Brasil, o Flamengo, numa sentença-síntese - "eles fingem que pagam, nós fingimos que jogamos" -, a argumentação do clube que vem de ganhar o Campeonato Mundial pela segunda vez se baseia na presunção da inocência coletiva pelo crime individual. Pretextos do tipo "a torcida inteira não pode pagar pelo delito de um torcedor" ou "quem comprou ingresso para os próximos jogos do time não pode ser prejudicado" desrespeitam a memória da vítima. Faixas, chororô e minutos de silêncio são de uma desfaçatez de fazer corar frade de pedra.

O policial Mário Gobbi, presidente do clube, deslustra seu currículo ao reivindicar para sua grei o direito de delinquir sem punição. O Corinthians é uma "nação" quando convém e na adversidade deixa de sê-lo? O truísmo é tolo: todo time perde mando de jogo em represália a torcidas mal comportadas.

Se urge deter as mãos que disparam projéteis em arquibancadas, para isso deveriam ser aplicadas punições mais duras do que as anunciadas pela Conmebol. Um exemplo histórico mostra que é possível acabar com a violência em estádios de futebol. Em 29 de maio de 1985, 39 torcedores morreram e 600 ficaram feridos no Estádio de Heysel, em Bruxelas, na Bélgica, durante a final da Liga dos Campeões da Europa, entre a Juventus, de Turim, Itália, e o Liverpool, da cidade portuária britânica dos Beatles, num tumulto provocado por hooligans. Por causa da tragédia, todos os times britânicos foram suspensos por cinco anos dos torneios da Uefa, entidade que gere o futebol europeu, como a Conmebol o da América do Sul. O Liverpool, time de tradição na Grã-Bretanha comparável à do Corinthians aqui, ficou seis anos fora das disputas. E 14 torcedores identificados pela polícia belga como criadores do distúrbio passaram três anos na cadeia. Desde então se adota no Reino Unido a prática de impedir que encrenqueiros frequentem estádios nos jogos de seus times: enquanto a bola rola, executam trabalhos sociais. Hoje, alambrados e até fossos são dispensáveis em estádios ingleses.

Será sonho de uma noite de verão esperar que um dia isso ocorra nesta "pátria em chuteiras" e nos domínios da Conmebol? Pelo visto, brasileiros e bolivianos ainda terão de conviver mais com a banalização da morte pela violência de quadrilheiros travestidos de membros de torcidas organizadas. O Tigre, da Argentina, desrespeitou impunemente a torcida que compareceu ao Morumbi na final da Copa Sul-Americana, em 12 de dezembro último, deixando de jogar o segundo tempo, pois não recebeu dos organizadores a devida punição. O péssimo comportamento do anfitrião, o São Paulo, foi punido com a perda de um mando de campo, o que significa anistia, na prática.

Não suspender o Corinthians por pelo menos esta edição da Libertadores e não proibir sinalizadores navais nas arquibancadas é manter a impunidade e estimular a violência.


* José Neumanne é jornalista, poeta e escritor.






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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

ESTUPIDEZ ORGANIZADA

REVISTA ISTO É N° Edição: 2258 25.Fev.13 - 15:29


Morte de adolescente por sinalizador disparado por torcedores na Bolívia é a prova de que não basta haver regras no futebol, é preciso cumpri-las e punir quem desobedece a elas

Rodrigo Cardoso




No meio da massa que dá o tom de espetáculo aos estádios de futebol existe um bando de pessoas – talvez vestindo as mesmas cores que você – armado. O artefato da moda, usado por esses grupos para manifestar a paixão pelo time, são os sinalizadores. O problema é que eles matam. Foi uma arma desse calibre, um cilindro plástico de 20 centímetros de comprimento por 2,5 centímetros de diâmetro utilizado geralmente pelas Forças Armadas, que matou o adolescente boliviano Kevin Douglas Beltrán Espada, na quarta-feira 20. Aos 14 anos, ele assistia ao jogo válido pela Copa Libertadores da América no estádio Jesús Bermúdez, em Oruro, entre o San José e o Corinthians, atual campeão do torneio, quando foi alvejado no olho direito por um projétil, que penetrou em seu crânio, provocou perda de massa encefálica e o matou na hora.



O disparo partiu de integrantes da torcida do time brasileiro, de acordo com as autoridades locais. O Corinthians já foi punido. O Tribunal de Disciplina da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) definiu que o time jogará toda a edição 2013 da Libertadores com os portões fechados e não poderá contar com seus torcedores nem nas partidas em que atuará como visitante. Doze corintianos estão detidos na Bolívia. Com eles, foram recolhidos nove objetos semelhantes ao que matou o adolescente. Pior: o modelo dos sinalizadores apreendidos, segundo os policiais bolivianos, não é vendido naquele país, o que leva a crer que os “torcedores” atravessaram a fronteira com a arma escondida. Mas o que leva alguém a ir para um estádio armado com um sinalizador naval? E o que fazem as autoridades responsáveis que, descumprindo as regras do futebol, permitem a entrada de fogos de artifício e sinalizadores nos palcos dos jogos? “Eles chegam em grupos simulando ambiente de festa, pulando, gritando, para ultrapassar barreiras da polícia”, diz o sociólogo Maurício Murad, do mestrado da Universidade Salgado de Oliveira (Universo), um estudioso do comportamento de torcidas organizadas.


A VÍTIMA E OS ALGOZES
Doze corintianos estão presos na Bolívia e com eles foram recolhidos nove sinalizadores.
Acima, Kevin Douglas Beltrán Espada, 14 anos, morto enquanto assistia ao jogo do seu time

Regras existem. O código de disciplina da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), entidade organizadora do torneio, prevê punição, em seu artigo 11, para clubes cujos torcedores manifestem comportamentos inadequados, como invasão de campo, objetos atirados no gramado, uso de sinalizadores, fogos de artifício ou qualquer outro objeto pirotécnico. Tanto que o Corinthians já foi punido. Como, então, a revista feita pelos policiais na porta do campo não recolheu o objeto? O trabalho policial, seja no Brasil, seja em qualquer outro país, tem de ser sério para banir essas armas com potencial letal. O sinalizador é um artefato cujo projétil atinge longas distâncias. Dentro de um estádio de futebol, em meio a uma multidão, se torna ainda mais perigoso. Mesmo que o torcedor brasileiro não tivesse a intenção de atingir o boliviano, não se pode dar margem para que esse tipo de objeto seja manipulado por torcidas organizadas, que, muitas vezes, enxergam o adversário como inimigo mortal.


Fonte: Maurício Murad, sociólogo do mestrado da Universidade
Salgado de Oliveira (Universo), pesquisador de torcidas organizadas

No Brasil, onde os objetos pirotécnicos passaram a ocupar as arquibancadas em meados dos anos 1990, o Estatuto do Torcedor proíbe o porte ou a utilização de fogos de artifício ou quaisquer outros engenhos pirotécnicos. Mesmo assim, é comum assistir ao “espetáculo” de luzes produzido por esses objetos nos jogos. Deve-se considerar uma particularidade desses infratores travestidos de torcedores de futebol: eles se valem do fato de estarem na multidão para delinquir e agem na invisibilidade da massa. Só que, com as dezenas de câmeras que captam as imagens dentro de um campo de futebol, é possível identificar e punir quem burla a norma. “Aqui não se faz isso. E deveria ser feito”, afirma o procurador de Justiça Fernando Capez, hoje deputado estadual paulista, que combateu a violência das torcidas organizadas.


NO MEIO DA MASSA
A torcida em ação, na quarta-feira 20. No detalhe,
o momento em que o artefato foi disparado

No ano passado, na Argentina, onde também são proibidos sinalizadores, rojões e fogos nos estádios, três corintianos ludibriaram a segurança e entraram no estádio La Bombonera, na primeira partida da final da Libertadores entre Corinthians e Boca Juniors, com 50 pacotes de artefatos. Durante o jogo, porém, as câmeras captaram a luz suspeita e torcedores foram identificados pelos policiais. Encaminhados para a delegacia, eles se comprometeram a doar fraldas a um hospital e foram proibidos de frequentar partida de futebol em território argentino durante um ano. Por aqui, as autoridades têm insistido para que as organizadas denunciem o integrante que cometa algum ato de vandalismo, sob o risco de a torcida toda ser responsabilizada. Essa estratégia deu resultado no confronto entre Santos e São Paulo, no começo deste mês, quando um rojão foi lançado de um dos ônibus de torcedores do time da Baixada Santista e estourou ao lado de um dos policiais que faziam a escolta do veículo. De imediato, o ônibus foi parado para que, naquele momento, o autor se apresentasse. Do contrário a torcida inteira seria levada para a delegacia e correria o risco de sofrer uma eventual suspensão. É preciso tolerância zero com as torcidas organizadas nos estádios para que o futebol volte a ser um evento de diversão e não uma ameaça aos espectadores.



Fotos: EFE/STRINGER; Juan Karita/ AP Photo



ESTUPIDEZ FATAL

ZERO HORA, 21/02/2013

EDITORIAL

Os danos causados pelo uso irresponsável de fogos de artifício não podem ser considerados fatalidade, mas sim a consequência de uma estupidez. Da mesma forma, não é inteligente nem aceitável a omissão das autoridades na vigilância e no controle de instrumentos que podem provocar mortes e tragédias, como ocorreu na última quarta-feira no episódio que vitimou um torcedor boliviano e como já havia ocorrido no terrível incêndio da boate de Santa Maria.

Quando alguém aciona um sinalizador pirotécnico num ambiente fechado ou em meio a uma multidão, está assumindo o óbvio risco de causar danos. Não existe outra possibilidade, pois esses artefatos têm potencial para queimar, ferir e até mesmo para matar, como se constatou tristemente na cidade de Oruro, onde torcedores brasileiros provocaram a morte de um jovem boliviano de 14 anos. No Brasil, o uso de fogos de artifício é proibido em estádios de futebol, mas todas as torcidas levam para as arquibancadas os chamados sinalizadores pirotécnicos, criados para emitir luz ou fumaça colorida com o propósito original de facilitar a localização de pessoas em situação de isolamento.

São igualmente perigosos, pois na maioria das vezes possuem material inflamável e explosivo. Portá-los ou acioná-los no meio de uma multidão são atos absolutamente irresponsáveis, que merecem repreensão e punição.

Mesmo em celebrações tradicionais, como as festas de fim de ano, o uso de fogos de artifício tem que ser rigorosamente controlado. Existe legislação específica para isso _ o que não existe é fiscalização suficiente nem uma cultura de segurança por parte da população, que deveria denunciar abusos e riscos, até mesmo para sua própria proteção. Na realidade, porém, há pessoas que usam até mesmo armas de fogo para fazer barulho e chamar a atenção em momentos de celebração coletiva.

A única explicação para este comportamento deletério está na frase célebre do cientista Albert Einstein: "Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, no que respeita ao universo, ainda não adquiri a certeza absoluta". Somos falíveis, cometemos erros, muitas vezes calculamos mal os movimentos de nossas vidas. Mas nada justifica a exposição gratuita e irracional a situações capazes de provocar tragédias e causar danos irreparáveis a terceiros.

Para isso, para prevenir que indivíduos com comportamentos desviantes causem prejuízos à sociedade, existem as leis e as autoridades. A responsabilização posterior se impõe, até como forma de atenuar o sofrimento dos familiares e amigos das vítimas da insensatez. Mas o importante é prevenir, é evitar que fatos deploráveis se repitam _ e não há outro caminho senão o da fiscalização implacável e proibição de uso de equipamentos potencialmente causadores de danos.

Fogos de artifício, bombas, foguetes, sinalizadores explosivos não combinam com o futebol, nem com qualquer espetáculo que reúna grande público. Se a estupidez humana é infinita, como alertou o cientista, que pelo menos se tente torná-la menos letal.

PUNIÇÃO PEDAGÓGICA

ZERO HORA 23 de fevereiro de 20130



Ao afastar a torcida do Corinthians dos jogos da Libertadores, a Confederação Sul-Americana de Futebol pune o clube e diz aos torcedores que eles não podem mais ser coniventes com quem vai ao estádio para brigar, para depredar ou para agredir adversários.

É fácil identificar uma injustiça, difícil é fazer justiça. O episódio da morte do jovem boliviano atingido por um sinalizador pirotécnico supostamente lançado por torcedores do Corinthians enquadra-se perfeitamente no axioma proposto na abertura deste comentário. Pode haver algo mais injusto do que um adolescente ir ao estádio de futebol torcer para seu time e sair de lá morto, alvejado no olho por um artefato de guerra? Como explicar uma barbárie dessas para a família da vítima, para os amigos e até mesmo para quem só acompanha o caso pelo noticiário? Dizer que é uma fatalidade chega a ser ofensivo, pois não caiu um meteorito sobre o estádio. Se não é fatalidade, é crime. E, se é crime, alguém deve ser responsabilizado.

E aí entra uma das questões mais complexas e polêmicas das sociedades civilizadas: como identificar, julgar e punir quem efetivamente merece a punição, especialmente em ambientes de altíssima voltagem emocional como no caso referido. Se o futebol já acirra a rivalidade na simples disputa esportiva, um incidente trágico como esse, envolvendo torcedores de países diferentes, tende a gerar um contencioso diplomático. Tanto que, tão logo constataram a gravidade do fato, os torcedores bolivianos presentes ao estádio de Oruro passaram a hostilizar os jogadores do Corinthians e a chamar os brasileiros de assassinos.

No campo esportivo, a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) agiu rápido, condenando administrativamente o time brasileiro a disputar o restante da Copa Libertadores sem a presença de sua torcida nos estádios. Terá que jogar com os portões fechados quando for mandante do jogo e não terá direito a ingressos quando for visitante. Ainda que o clube não aceite e prometa recorrer, é inquestionável que a medida tem um componente pedagógico, pois obriga os clubes de futebol a exercerem um controle maior sobre seus torcedores _ embora se saiba que o controle total é absolutamente impossível. E também impõe novas responsabilidades aos próprios torcedores, que não podem mais ser coniventes com quem vai ao estádio para brigar, para promover depredações ou para agredir adversários.

O mais justo, todos sabemos, seria a identificação do torcedor irresponsável que arremessou o artefato perigoso na direção da torcida adversária. Na impossibilidade de chegar a essa conclusão, a polícia boliviana prendeu 12 brasileiros suspeitos e os está indiciando por homicídio, dois deles como autores diretos do crime e os outros 10 por cumplicidade. Ainda que o autor do arremesso criminoso esteja nesse grupo, um simples raciocínio lógico indica que os outros 11 podem estar sendo de certa forma injustiçados. Espera-se que todos tenham o direito de se defender, para que a revolta e o natural desejo de vingança não prevaleçam sobre a verdade.

Mas a responsabilização compartilhada do clube e de sua torcida serve de exemplo para quem não entendeu ainda que o futebol deve ser um espetáculo de paz, diversão e competição saudável.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - A Justiça da Bolívia dá uma lição à Justiça Brasileira. Por aqui, os hooligans cometem atos de vandalismo, agridem pessoas, ferem, desrespeitam decisões judiciais e esportivas, matam torcedores rivais e ficam impunes. Bem que a Justiça Brasileira seguisse o exemplo da Bolívia. A paz nos esportes agradeceria.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

ARTIFÍCIO ATIRADO POR CORINTIANO MATA TORCEDOR BOLIVIANO DE 14 ANOS

ZERO HORA 21 de fevereiro de 2013 | N° 17350

LIBERTADORES. Boliviano morre em estreia corintiana

Torcedor do San Jose, de 14 anos, foi atingido por fogo de artifício. Brasileiros foram detidos e time pode ser suspenso



A campanha do Corinthians em busca do bicampeonato da Libertadores começou com um empate em 1 a 1 diante do San Jose-BOL, ontem, nos 3,7 mil metros de altitude do Estádio Jesús Bermúdez, em Oruro, no sul da Bolívia. Mas o fato mais importante da partida foi a morte de um torcedor da equipe boliviana.

Um adolescente de 14 anos, identificado como Kevin Beltrán, morreu depois de ser atingido por fogos de artifício, que podem ter partido da torcida corintiana. Oficiais da polícia de Oruro informaram que pelo menos nove brasileiros foram detidos. Durante o intervalo da partida, a polícia boliviana, em uma ação preventiva, retirou integrantes da comissão técnica, jogadores não relacionados para o jogo e membros da diretoria do Corinthians das tribunas. Eles foram conduzidos ao vestiário. O objetivo era evitar que fossem vítimas de uma reação dos torcedores rivais.

Fora do estádio, torcedores bolivianos chamavam os brasileiros de “assassinos”. A página de Beltrán no Facebook revelava um torcedor apaixonado por seu time.

Depois da partida, o técnico do Corinthians, Tite, trocou a entrevista coletiva por um pronunciamento e chorou ao comentar o episódio.

– Eu trocaria o meu título mundial pela vida do menino – afirmou o treinador.

Pelas novas regras da Conmebol, a entidade que comanda o futebol sul-americano e é responsável pela Libertadores, se for comprovada a participação de torcedores corintianos no episódio, a equipe pode, no limite, até ser eliminada do torneio continental.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O CRIME ENTROU EM CAMPO

O Estado de S.Paulo 12 de fevereiro de 2013 | 2h 07

OPINIÃO


Paixão popular no mundo inteiro, o futebol não é isento de denúncias de corrupção. Já na transição do amadorismo para o profissionalismo, ele é tema de extenso folclore contendo casos como o do dirigente de um clube que prometeu pagar ao goleiro do adversário certa quantia por gol tomado e, após o quinto, avisou-lhe que o trato não valia para os próximos. Tendo esse esporte se transformado num negócio muito próspero, a manipulação de resultados de partidas se tornou relativamente comum. E as quantias envolvidas, cada vez maiores. Ainda assim, os dados revelados no último escândalo divulgado impressionam: quase 700 jogos - 380 em 15 nações europeias e mais de 300 na América do Sul, América Central, África e Ásia, inclusive no Brasil, na Copa dos Campeões da Europa e nas eliminatórias para a Copa do Mundo - estão sob investigação do Serviço Europeu de Polícia (Europol).

Os policiais calculam que na Europa, onde se concentra a elite do futebol mundial, a máfia devassada pagou 2 bilhões (R$ 5,4 milhões) em propinas e recebeu 8 bilhões (R$ 35 bilhões) em prêmios de loteria e apostas feitas pela internet. "Nunca vimos uma rede tão grande de criminosos no futebol. Trata-se de uma operação sofisticada e uma evidência clara de como a corrupção invadiu o esporte", comentou o diretor do Europol, Rob Wainwright.

O esquema devassado baseia-se na compra de jogadores, árbitros e dirigentes para assegurar resultados de interesse de apostadores. Jogos de pouco destaque no noticiário esportivo estão sob suspeita. O trio que apitou um amistoso entre seleções sub-20 da Argentina e da Bolívia em 2010 deu à partida um acréscimo de 13 minutos sem razão aparente. E o juiz ainda marcou um pênalti inexistente para garantir a vitória dos argentinos. Pelo menos um jogo válido pela Copa dos Campeões na Inglaterra, dois das eliminatórias para a Copa da África e um na América Central estão sendo investigados. De acordo com os investigadores, além de obter lucros milionários, os bandidos também usam a fraude para lavar dinheiro ilícito obtido na venda de entorpecentes.

Esta é a principal diferença entre o escândalo denunciado esta semana pelo Europol e outros ocorridos em passado recente. Em 2006, a descoberta da manipulação de resultados no futebol italiano resultou no rebaixamento da tradicional Juventus de Turim para a segunda divisão do campeonato nacional. No ano passado, esquema similar foi denunciado no mesmo país, cuja seleção já conquistou quatro Copas do Mundo da Fifa.

No Brasil, também não é incomum o registro de casos escabrosos. Há 30 anos, quando a Loteria Esportiva era uma mania nacional quase igual à paixão pelo próprio futebol, a revista especializada em esportes Placar revelou que jogos que constavam das cartelas de aposta tinham resultados alterados à base do suborno de seus participantes. Em 2005, outra revista, a Veja, denunciou a chamada Máfia do Apito, sob o comando de Edilson Pereira de Carvalho, acusado de chefiar uma quadrilha de árbitros venais. Das investigações feitas após a reportagem resultou a anulação de 11 jogos do Campeonato Brasileiro.

Só que a corrupção não se limita ao que ocorre dentro das quatro linhas que delimitam o gramado. Também prospera nos escritórios de um negócio que movimenta fortunas em transferências e contratos de craques e treinadores. E em quantias vultosas investidas em publicidade na transmissão pela televisão de torneios acompanhados por bilhões de espectadores pelo mundo inteiro. Recentemente, Ricardo Teixeira foi apeado da presidência da CBF sob suspeita de enriquecimento ilícito. E a revista francesa France Football revelou que dirigentes da Fifa teriam recebido propina para escolher o Catar para sediar a Copa do Mundo de 2022.

O combate a essa praga deve começar pela transparência na contabilidade de clubes, federações, confederações e da Fifa, entidades privadas em que dirigentes reinam por anos a fio, sem a obrigação de prestar contas de suas gestões.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

VÍDEO POLÊMICO INCITA A VIOLÊNCIA?


Botafogo explica vídeo polêmico

Gerente técnico diz que relação com o Fluminense é ótima - 'Em nenhum momento ideia foi passar violência'


TATIANA FURTADO
O GLOBO: 5/02/13 - 13h02


Sidnei Loureiro fala com a imprensa sobre o polêmico vídeo do Botafogo 
Cezar Loureiro / Agência O Globo


RIO - Após a divulgação do polêmico vídeo com bastidores do vestiárioapós o empate com o Fluminense pela Taça Guanabara, o gerente técnico do Botafogo, Sidnei Loureiro, disse nesta terça-feira que o clube entrou em contato com o Flu, deixando claro que não havia intenção em ofender o adversário.

- Já conversamos com o Fluminense para explicar os motivos da publicação do vídeo. Não foi uma retratação, e eles entenderam. Temos uma ótima relação.

UFC e outras coisas

Segundo Sidnei, o vídeo, parte um canal com conteúdo exclusivo para a torcida, foi feito para mostrar o outro lado do time.

- Os torcedores gostam disso. E em nenhum momento a ideia foi passar violência - disse o dirigente, acrescentando que o Botafogo teve a segunda menor média de faltas e foi o time que menos cartões amarelos recebeu durante o Campeonato Brasileiro.

O zagueiro Bolívar, que apareceu no vídeo falando que era preciso 'deixar cicatrizes nos caras', também falou sobre o assunto.

- Cada um tem uma maneira de motivar. Quando você entra no campo, o respeito é muito grande, porque tem colegas de profissão do outro lado.

- É uma coisa normal que acontece no nosso vestiário e na de outras equipes. Ninguém vai ali entrar para trocar socos. Para isso tem o UFC e outras coisas - disse o volante Marcelo Mattos.

Oswaldo diz a jogadores do Botafogo: 'Peita, mete a mão na cara!'

Clube divulga imagem de conversa dos vestiários após jogo com o Fluminense. Clássico terminou empatado em 1 a 1, no Engenhão


O GLOBO
Atualizado:4/02/13 - 19h03


RIO - Oito dias após o empate em 1 a 1 com o Fluminense, o clássico volta a agitar o Botafogo. Não dentro, mas fora de campo. Nesta segunda-feira, o clube divulgou em seu site oficial um vídeo de bastidores da partida com frases fortes ditas pelo técnico Oswaldo de Oliveira, do meia Seedorf e do zagueiro Bolívar, antes e depois da partida, válida pela Taça Guanabara.

No vídeo de oito minutos, editado pela equipe de comunicação do Botafogo e publicado na área chamada 'TV do Fogão', Osvaldo de Oliveira demonstra muita irritação com a atitude dos jogadores na partida disputada no domingo da semana passada, no Engenhão. Após o empate, o técnico fez um discurso inflamado e disse estar com "ira" do time adversário. O desabafo do treinador começou após uma avaliação do jogador Seedorf, que se envolveu em uma discussão com o volante Valencia, do Flumienense, ao fim do jogo. Para o jogador, o Botafogo respeitou demais o rival e e não partiu para a cima, mesmo tendo jogado melhor.

- Quando tem briga, vamos brigar com os caras, todo mundo junto. Não vamos aceitar, desde o começo, com tudo, é cartão aqui, cartão lá. Faz diferença no final. Valeu? - disse o meia.

No final da fala do ídolo holandês, o técnico diz que o time tem que ir "para dentro".

- É isso aí, Seedorf! Eu acho que nós temos é que comprar barulho mesmo, ir dentro dos putos, não tem que refrescar porra nenhuma, não. Vai, peita, mete a mão na cara, que nem eles estavam fazendo. Estou com ira desses putos! - encerra o Osvaldo.

O vídeo, que faz parte da série 'Conteúdo Único', mostra os bastidores das partidas contra o Fluminense, no Engenhão, e o Audax, em Moça Bonita. A gravação apresenta, tambem, um trecho em que Bolivar diz aos companheiros, antes do clássico, que o time tem que partir para cima e "deixar cicatrizes nesses caras".

Contratado este ano pelo Botafogo, Bolívar já se envolveu em um episódio polêmico quando atuava pelo Internacional. Em novembro de 2011, ele cometeu uma falta dura em Dodô, do Bahia, e embora não tenha sido expulso de campo, recebeu posteriormente uma punição dura do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD): quatro jogos de suspensão, e afastamento dos gramados pelo mesmo período de recuperação de Dodô. A sentença, no entanto, foi posteriormente abrandada para duas partidas e 15 dias de gancho.

No Fluminense, o meia Wagner evitou fazer criticar ao vídeo do Botafogo, lembrando a boa relação que tem com Oswaldo de Oliveira.

- Não vi o vídeo. Já trabalhei com Oswaldo no Cruzeiro, e ele é uma pessoa nota mil. Agora, futebol é jogo, acho que vale quase tudo para tentar tirar um jogador adversário do sério. Mas aqui no Fluminense somos tranquilos, só pensamos em jogar futebol, na bola, e não lembro de nada neste sentido durante o clássico.

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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

PELO FIM DA AVALANCHE

ZERO HORA 01 de fevereiro de 2013 | N° 17330

 

EDITORIAIS

É oportuna a posição conjunta do Grêmio e da Arena Porto-Alegrense de interditar a área do novo estádio onde ocorreu um acidente com torcedores na última quarta-feira, durante a comemoração do gol contra a LDU. Esse é um primeiro e indispensável passo. O seguinte é promover as devidas modificações no setor, para que continue recebendo o torcedor de menor poder aquisitivo, porém sem possibilitar movimentações que impliquem riscos.

No espaço referido, os torcedores realizam a coreografia conhecida como avalanche, pela qual descem correndo os degraus da arquibancada e se comprimem contra a amurada de proteção. Como, durante o último jogo, o anteparo de grades colocado no local cedeu, vários torcedores caíram e pelo menos oito ficaram feridos. Tal ocorrência, no contexto de tragédia vivido pelo Estado desde o incêndio do último domingo em Santa Maria, provocou apreensão geral e imediata reação das autoridades, notadamente o Ministério Público e a Brigada Militar.

Ainda que exista inegável beleza plástica na movimentação, que se tornou uma marca registrada da torcida do Grêmio, não faz sentido colocar em perigo a integridade das pessoas para manter a celebração. Num espetáculo de futebol, quem pode se arriscar são os jogadores, que têm preparo físico e equipamento para a competição. Torcedor tem que torcer, de preferência em lugares confortáveis e seguros. Equivocou-se a direção do Grêmio quando aceitou a demanda de manter o espaço da avalanche no novo estádio. No Olímpico, a movimentação era facilitada pela amplitude e pelo posicionamento das arquibancadas. Na Arena, devido à verticalidade da construção, as condições são desfavoráveis para a correria escada abaixo.

É importante manter um espaço popular no estádio novo, mas já está mais do que comprovado que a avalanche tem que ser proibida. O torcedor é suficientemente criativo para inventar uma nova coreografia.



ADEUS AVALANCHE

 
ZERO HORA 01 de fevereiro de 2013 | N° 17330

PERIGO NA ARENA

A última avalanche

Logo no primeiro jogo oficial da Arena, o susto. A alegria do gol de Elano diante da LDU transformou-se em preocupação pelos torcedores que caíram no fosso do novo estádio gremista. Oito deles ficaram feridos no episódio, que pode resultar no fim do tradicional movimento de comemoração em jogos do Grêmio. Da inclinação acentuada das arquibancadas da Arena a problemas na estrutura que separa a geral do fosso, confira os motivos que ocasionaram o incidente.

A arquibancada da Arena destinada à Geral está fechada para a perícia técnica que investiga o acidente e só será reaberta quando cadeiras forem instaladas naquele setor. Essa definição ocorreu ontem, após reunião da Secretaria de Segurança do Estado com o comando do Corpo de Bombeiros e o da Brigada Militar.

Ainda que o secretário de Segurança, Airton Michels, tenha convocado uma reunião com o Grêmio e com a Arena Porto-Alegrense para 6 de fevereiro, a fim de conversar sobre o futuro do estádio, ele foi incisivo quanto ao setor da Geral: ou se instalam cadeiras no local ou a área será isolada por tempo indeterminado.

– No que depender da Secretaria de Segurança, aquele espaço não será mais ocupado. Vamos conversar com o Grêmio, mas, se insistirem em manter aquele espaço, o estádio todo será interditado enquanto as cadeiras não estiverem lá. Ninguém mais vai correr riscos – declarou Michels, lembrando que o Corpo de Bombeiros concedeu uma liberação provisória para a Arena até 19 de fevereiro, quando foi definido que cadeiras seriam instaladas ali.

O próximo jogo no estádio está marcado para 6 de fevereiro, contra o São José. No dia 14, o Grêmio estreará na fase de grupos da Libertadores, em casa, contra os chilenos do Huachipato. Sem tempo hábil para a instalação de 5 mil cadeiras. Assim, caso haja acordo entre a Secretaria de Segurança e o clube, a tendência é de que a Arena seja liberada parcialmente: sem o setor da Geral.

O comandante do Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Sul, coronel Guido Pedroso de Melo, lembra que, na inspeção de segurança do estádio, dias antes da inauguração, recomendou a colocação de cadeiras no setor. O motivo seria o risco de acidentes, uma vez que as arquibancadas da Arena são mais verticalizadas que as do Olímpico, aumentando a velocidade dos torcedores na descida e, por consequência, a maior dificuldade de frear a corrida.

– Por segurança, sempre fomos contra a avalanche. Além do espaço ser maior, o ângulo de inclinação é diferente, deixa a avalanche mais veloz e aumenta o risco de acidentes – disse o coronel Guido. – Se a avalanche não for proibida, mortes ocorrerão. No jogo, só não ocorreu uma tragédia por causa das barras antiesmagamentos – sentenciou.

Segundo o comandante, quando os bombeiros foram contra o local sem as cadeiras, houve pressão de políticos (os quais ele não cita os nomes) e de torcedores do Grêmio:

– Havia muitos interesses envolvidos, recebemos ponderações até mesmo de alguns políticos, dizendo que deveríamos deixar assim. A antiga direção do Grêmio também se mostrou favorável e recebemos muitos e-mails desaforados de torcedores. Mas agimos sempre dentro das normas de segurança para preservar a vida.

Luiz Carlos Pinto da Silva Filho, diretor da Escola de Engenharia da UFRGS, corrobora o que diz o comandante dos Bombeiros e afirma que o plano inclinado torna a arquibancada mais rápida. Ele entende ainda que há um problema estrutural nas grades do estádio.

– Certamente fica mais difícil frear, devido ao ângulo e à velocidade. Não foi simplesmente um problema de as grades cederem. Elas não estavam bem presas ao concreto da arquibancada, e o concreto se rompeu. Seria necessário um reforço bem mais maciço e melhor preso – argumentou o professor.

O Ministério Público também demonstra preocupação com o incidente da Arena. A Promotoria de Justiça de Habitação e Defesa da Ordem Urbanística instaurou inquérito para apurar as condições de segurança para realização da avalanche. Em outubro, os promotores Norberto Avena e Fábio Sbardellotto ingressaram com ação cautelar tentando impedir o “teste da avalanche”, quando 5 mil torcedores pretendiam avaliar as condições das arquibancadas promovendo a avalanche, antes da inauguração do estádio. Na ocasião, a promotoria conseguiu cancelar o evento por meio de uma ação judicial.

LEANDRO BEHS


Grêmio é a favor da extinção

O desabamento da grade de proteção da arquibancada deixou em pânico as direções do Grêmio e da OAS. A avaliação é de que clube e construtora tiveram “muita sorte” pelas consequências terem se limitado a oito torcedores feridos na queda. Por isso, os dois lados são favoráveis à extinção da avalanche.

Como é esta a recomedação do Ministério Público e das autoridadades da área de segurança, ficará mais fácil para que Grêmio e OAS se justifiquem ante os torcedores.

– Sabemos da necessidade de o estádio contar com uma área popular, que promova a alegria. O público do futebol não é o mesmo do balé ou do teatro. Mas se essa for a determinação dos órgãos de segurança, evidentemente que ela (a avalanche) pode acabar – diz o presidente Fábio Koff.

–Vamos acatar a decisão das autoridades para garantir 100% de segurança. O que for definido será acatado. Só estamos tentando demonstrar a importância da manutenção da área popular – completa o presidente da Grêmio Empreendimentos, Eduardo Antonini.

Eduardo Pinto, presidente da Arena Porto-Alegrense, gestora do novo estádio do Grêmio, assegura que não houve negligência na utilização do material que serve de parapeito. Para ele, a estrutura da grade de proteção pode ter sido comprometida por torcedores que nela se apoiavam.

– Uma empresa especializada realizou todo o estudo técnico. Foram feitos cálculos e recálculos do peso do guard-rail. Houve um acidente. Não tenho conhecimento de que se tenha utilizado material inadequado. Não existe isso dentro da Arena. Tudo foi construído conforme o planejado – ressaltou.

LUÍS HENRIQUE BENFICA



ENTREVISTA - “Nunca mais”

Felipe Albuquerque, Torcedor ferido na avalanche



Felipe Albuquerque, 17 anos, não pôde comemorar a vaga na fase de grupos da Libertadores. No segundo tempo, o adolescente de Pelotas foi encaminhado ao HPS. Na comemoração do gol de Elano, foi um dos torcedores a cair no fosso da Arena.

Diário Gaúcho – Como foi o acidente?

Felipe Albuquerque – Eu estava no alambrado, e, na hora do gol, o pessoal veio. Não teve o que fazer. Desabou tudo, e eu caí. Foi tudo muito rápido, mas consegui virar o corpo de lado. Os seguranças me puxaram, e já chegou gente para me socorrer.

Diário Gaúcho – Você ainda está com muita dor?

Felipe – Estou com dor no quadril e na virilha. Não consigo colocar o pé no chão.

Diário Gaúcho – Você costuma ficar no meio da avalanche?

Felipe – Normalmente fico perto, mas mais para o lado. Só que eu tinha ido no banheiro e estava passando por ali quando deu o gol.

Diário Gaúcho – E daqui para frente, como vai ser?

Felipe – Vou começar a ficar mais longe, nas cadeiras quem sabe. Me assustei. Avalanche nunca mais.

MARIANA MONDINI