sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

ADEUS AVALANCHE

 
ZERO HORA 01 de fevereiro de 2013 | N° 17330

PERIGO NA ARENA

A última avalanche

Logo no primeiro jogo oficial da Arena, o susto. A alegria do gol de Elano diante da LDU transformou-se em preocupação pelos torcedores que caíram no fosso do novo estádio gremista. Oito deles ficaram feridos no episódio, que pode resultar no fim do tradicional movimento de comemoração em jogos do Grêmio. Da inclinação acentuada das arquibancadas da Arena a problemas na estrutura que separa a geral do fosso, confira os motivos que ocasionaram o incidente.

A arquibancada da Arena destinada à Geral está fechada para a perícia técnica que investiga o acidente e só será reaberta quando cadeiras forem instaladas naquele setor. Essa definição ocorreu ontem, após reunião da Secretaria de Segurança do Estado com o comando do Corpo de Bombeiros e o da Brigada Militar.

Ainda que o secretário de Segurança, Airton Michels, tenha convocado uma reunião com o Grêmio e com a Arena Porto-Alegrense para 6 de fevereiro, a fim de conversar sobre o futuro do estádio, ele foi incisivo quanto ao setor da Geral: ou se instalam cadeiras no local ou a área será isolada por tempo indeterminado.

– No que depender da Secretaria de Segurança, aquele espaço não será mais ocupado. Vamos conversar com o Grêmio, mas, se insistirem em manter aquele espaço, o estádio todo será interditado enquanto as cadeiras não estiverem lá. Ninguém mais vai correr riscos – declarou Michels, lembrando que o Corpo de Bombeiros concedeu uma liberação provisória para a Arena até 19 de fevereiro, quando foi definido que cadeiras seriam instaladas ali.

O próximo jogo no estádio está marcado para 6 de fevereiro, contra o São José. No dia 14, o Grêmio estreará na fase de grupos da Libertadores, em casa, contra os chilenos do Huachipato. Sem tempo hábil para a instalação de 5 mil cadeiras. Assim, caso haja acordo entre a Secretaria de Segurança e o clube, a tendência é de que a Arena seja liberada parcialmente: sem o setor da Geral.

O comandante do Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Sul, coronel Guido Pedroso de Melo, lembra que, na inspeção de segurança do estádio, dias antes da inauguração, recomendou a colocação de cadeiras no setor. O motivo seria o risco de acidentes, uma vez que as arquibancadas da Arena são mais verticalizadas que as do Olímpico, aumentando a velocidade dos torcedores na descida e, por consequência, a maior dificuldade de frear a corrida.

– Por segurança, sempre fomos contra a avalanche. Além do espaço ser maior, o ângulo de inclinação é diferente, deixa a avalanche mais veloz e aumenta o risco de acidentes – disse o coronel Guido. – Se a avalanche não for proibida, mortes ocorrerão. No jogo, só não ocorreu uma tragédia por causa das barras antiesmagamentos – sentenciou.

Segundo o comandante, quando os bombeiros foram contra o local sem as cadeiras, houve pressão de políticos (os quais ele não cita os nomes) e de torcedores do Grêmio:

– Havia muitos interesses envolvidos, recebemos ponderações até mesmo de alguns políticos, dizendo que deveríamos deixar assim. A antiga direção do Grêmio também se mostrou favorável e recebemos muitos e-mails desaforados de torcedores. Mas agimos sempre dentro das normas de segurança para preservar a vida.

Luiz Carlos Pinto da Silva Filho, diretor da Escola de Engenharia da UFRGS, corrobora o que diz o comandante dos Bombeiros e afirma que o plano inclinado torna a arquibancada mais rápida. Ele entende ainda que há um problema estrutural nas grades do estádio.

– Certamente fica mais difícil frear, devido ao ângulo e à velocidade. Não foi simplesmente um problema de as grades cederem. Elas não estavam bem presas ao concreto da arquibancada, e o concreto se rompeu. Seria necessário um reforço bem mais maciço e melhor preso – argumentou o professor.

O Ministério Público também demonstra preocupação com o incidente da Arena. A Promotoria de Justiça de Habitação e Defesa da Ordem Urbanística instaurou inquérito para apurar as condições de segurança para realização da avalanche. Em outubro, os promotores Norberto Avena e Fábio Sbardellotto ingressaram com ação cautelar tentando impedir o “teste da avalanche”, quando 5 mil torcedores pretendiam avaliar as condições das arquibancadas promovendo a avalanche, antes da inauguração do estádio. Na ocasião, a promotoria conseguiu cancelar o evento por meio de uma ação judicial.

LEANDRO BEHS


Grêmio é a favor da extinção

O desabamento da grade de proteção da arquibancada deixou em pânico as direções do Grêmio e da OAS. A avaliação é de que clube e construtora tiveram “muita sorte” pelas consequências terem se limitado a oito torcedores feridos na queda. Por isso, os dois lados são favoráveis à extinção da avalanche.

Como é esta a recomedação do Ministério Público e das autoridadades da área de segurança, ficará mais fácil para que Grêmio e OAS se justifiquem ante os torcedores.

– Sabemos da necessidade de o estádio contar com uma área popular, que promova a alegria. O público do futebol não é o mesmo do balé ou do teatro. Mas se essa for a determinação dos órgãos de segurança, evidentemente que ela (a avalanche) pode acabar – diz o presidente Fábio Koff.

–Vamos acatar a decisão das autoridades para garantir 100% de segurança. O que for definido será acatado. Só estamos tentando demonstrar a importância da manutenção da área popular – completa o presidente da Grêmio Empreendimentos, Eduardo Antonini.

Eduardo Pinto, presidente da Arena Porto-Alegrense, gestora do novo estádio do Grêmio, assegura que não houve negligência na utilização do material que serve de parapeito. Para ele, a estrutura da grade de proteção pode ter sido comprometida por torcedores que nela se apoiavam.

– Uma empresa especializada realizou todo o estudo técnico. Foram feitos cálculos e recálculos do peso do guard-rail. Houve um acidente. Não tenho conhecimento de que se tenha utilizado material inadequado. Não existe isso dentro da Arena. Tudo foi construído conforme o planejado – ressaltou.

LUÍS HENRIQUE BENFICA



ENTREVISTA - “Nunca mais”

Felipe Albuquerque, Torcedor ferido na avalanche



Felipe Albuquerque, 17 anos, não pôde comemorar a vaga na fase de grupos da Libertadores. No segundo tempo, o adolescente de Pelotas foi encaminhado ao HPS. Na comemoração do gol de Elano, foi um dos torcedores a cair no fosso da Arena.

Diário Gaúcho – Como foi o acidente?

Felipe Albuquerque – Eu estava no alambrado, e, na hora do gol, o pessoal veio. Não teve o que fazer. Desabou tudo, e eu caí. Foi tudo muito rápido, mas consegui virar o corpo de lado. Os seguranças me puxaram, e já chegou gente para me socorrer.

Diário Gaúcho – Você ainda está com muita dor?

Felipe – Estou com dor no quadril e na virilha. Não consigo colocar o pé no chão.

Diário Gaúcho – Você costuma ficar no meio da avalanche?

Felipe – Normalmente fico perto, mas mais para o lado. Só que eu tinha ido no banheiro e estava passando por ali quando deu o gol.

Diário Gaúcho – E daqui para frente, como vai ser?

Felipe – Vou começar a ficar mais longe, nas cadeiras quem sabe. Me assustei. Avalanche nunca mais.

MARIANA MONDINI




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