segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

PUNIÇÃO PEDAGÓGICA

ZERO HORA 23 de fevereiro de 20130



Ao afastar a torcida do Corinthians dos jogos da Libertadores, a Confederação Sul-Americana de Futebol pune o clube e diz aos torcedores que eles não podem mais ser coniventes com quem vai ao estádio para brigar, para depredar ou para agredir adversários.

É fácil identificar uma injustiça, difícil é fazer justiça. O episódio da morte do jovem boliviano atingido por um sinalizador pirotécnico supostamente lançado por torcedores do Corinthians enquadra-se perfeitamente no axioma proposto na abertura deste comentário. Pode haver algo mais injusto do que um adolescente ir ao estádio de futebol torcer para seu time e sair de lá morto, alvejado no olho por um artefato de guerra? Como explicar uma barbárie dessas para a família da vítima, para os amigos e até mesmo para quem só acompanha o caso pelo noticiário? Dizer que é uma fatalidade chega a ser ofensivo, pois não caiu um meteorito sobre o estádio. Se não é fatalidade, é crime. E, se é crime, alguém deve ser responsabilizado.

E aí entra uma das questões mais complexas e polêmicas das sociedades civilizadas: como identificar, julgar e punir quem efetivamente merece a punição, especialmente em ambientes de altíssima voltagem emocional como no caso referido. Se o futebol já acirra a rivalidade na simples disputa esportiva, um incidente trágico como esse, envolvendo torcedores de países diferentes, tende a gerar um contencioso diplomático. Tanto que, tão logo constataram a gravidade do fato, os torcedores bolivianos presentes ao estádio de Oruro passaram a hostilizar os jogadores do Corinthians e a chamar os brasileiros de assassinos.

No campo esportivo, a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) agiu rápido, condenando administrativamente o time brasileiro a disputar o restante da Copa Libertadores sem a presença de sua torcida nos estádios. Terá que jogar com os portões fechados quando for mandante do jogo e não terá direito a ingressos quando for visitante. Ainda que o clube não aceite e prometa recorrer, é inquestionável que a medida tem um componente pedagógico, pois obriga os clubes de futebol a exercerem um controle maior sobre seus torcedores _ embora se saiba que o controle total é absolutamente impossível. E também impõe novas responsabilidades aos próprios torcedores, que não podem mais ser coniventes com quem vai ao estádio para brigar, para promover depredações ou para agredir adversários.

O mais justo, todos sabemos, seria a identificação do torcedor irresponsável que arremessou o artefato perigoso na direção da torcida adversária. Na impossibilidade de chegar a essa conclusão, a polícia boliviana prendeu 12 brasileiros suspeitos e os está indiciando por homicídio, dois deles como autores diretos do crime e os outros 10 por cumplicidade. Ainda que o autor do arremesso criminoso esteja nesse grupo, um simples raciocínio lógico indica que os outros 11 podem estar sendo de certa forma injustiçados. Espera-se que todos tenham o direito de se defender, para que a revolta e o natural desejo de vingança não prevaleçam sobre a verdade.

Mas a responsabilização compartilhada do clube e de sua torcida serve de exemplo para quem não entendeu ainda que o futebol deve ser um espetáculo de paz, diversão e competição saudável.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - A Justiça da Bolívia dá uma lição à Justiça Brasileira. Por aqui, os hooligans cometem atos de vandalismo, agridem pessoas, ferem, desrespeitam decisões judiciais e esportivas, matam torcedores rivais e ficam impunes. Bem que a Justiça Brasileira seguisse o exemplo da Bolívia. A paz nos esportes agradeceria.

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