domingo, 8 de setembro de 2013

HOOLIGANS BRASILEIROS BANIDOS DE ESTÁDIOS DESMORALIZAM AS AUTORIDADES

G1 FANTÁSTICO - 02/09/2013 14h21

Torcedores banidos de estádios ignoram proibição e até postam fotos. Por estarem sempre envolvidos em confusão, 136 torcedores estão banidos dos estádios pela Federação Paulista de Futebol. Mas eles ignoram a proibição, e até publicam fotos na internet.



Dois torcedores com camisas do Palmeiras foram baleado, neste domingo, dentro de uma estação de trem na periferia da Zona Leste de São Paulo. eles vinham de uma festa de uma torcida organizada do clube e, segundo testemunhas, brigaram com torcedores que seriam do São Paulo. Um foi baleado no pé e o outro, de raspão, no rosto.

Domingo passado, foram corintianos e vascaínos que se enfrentaram. E alguns dos brigões eram figuras bem conhecidas.

Domingo passado. Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília. Corintianos invadem a área da torcida do Vasco. Pacandaria na arquibancada. E eles estavam lá.

Leandro Silva de Oliveira, o Soldado, e Cleuter Barreto Barros, o Manaus, ficaram presos mais de cinco meses na Bolívia, suspeitos pela morte do torcedor Kevin Spada.

Como o senhor vê isso, eles não aprenderam a lição?

“Olha, cabe a eles julgar isso. Eu sou um defensor e até então não fomos intimados. A Justiça se pronuncie para depois nós nos pronunciarmos. Que aí nós vamos tomar as medidas cabíveis”, disse o advogado da Gaviões da Fiel, Davi Gebara.

Na briga de Brasília, também estava este homem tatuado: o vereador do PT Raimundo Cesar Faustino, o Capá. O político de Francisco Maorato, Grande São Paulo, não quis dar entrevista.

Fantástico: Você não pode só me contar o que aconteceu aquele dia?

Vereador: Não, não, prefiro não. Tá bom?

Em São Paulo, um promotor pediu pela segunda vez o fim da Gaviões da Fiel.

“O pedido de extinção ele passa a ter um caráter muito mais pedagógico para que se possa dificultar esse tipo de ação. Mas ele sozinho, por si só, a experiência já demonstra que não resolve”, destaca o promotor Roberto Senise.

Dos seis diretores da torcida, três já foram indiciados por homicídios.

O vice-presidente, Rodrigo de Azevedo Fonseca, o Diguinho, responde pela morte do palmeirense Diogo Borges em outubro de 2005, numa estação de metrô.

O presidente Wagner da Costa - vulgo B.O.- e o tesoureiro Reinaldo Gilberto Alves - o Ady- foram indiciados por envolvimento nas mortes de outros dois palmeirenses num confronto na Zona Norte de São Paulo, em março de 2012.

André Alves Lezo, de 21 anos, e Guilherme Vinicius Moreira, de 19, foram assassinados a tiros e pauladas.

Fantástico: Qual o envolvimento dos diretores da Gaviões da Fiel nesses crimes?

Advogado: Não, não, não. Já foi dito que eles não têm autoria nem materialidade.

O Fantástico teve acesso à investigação policial.

“Compraram fogos de artifício, bombas, houve uma arrecadação das barras de ferro, dos pedaços de pau”, disse a delegada titular da Decrad, Margarete Barreto.

Os assassinatos foram planejados dentro deste bar do bairro do Butantã, Zona Oeste de São Paulo.

A Gaviões fechou o lugar para um grupo de 300 corintianos. Eles passaram a madrugada de sábado para domingo num churrasco com bastante bebida. Ficaram no local das três e meia às nove da manhã.

Segundo a polícia, às 8h da manhã, uns vinte minutos antes de saírem, um integrante da Gaviões subiu em uma das mesas de sinuca e convocou:

"Hoje a gente vai pegar o Lezo e vingar a morte do nosso irmão, vamos pegar os porcos, Não é pra ninguém correr. Hoje nós vamos vingar a morte do Douglas".

Douglas é Douglas Karin Silva, que foi morto em 2011 e teve o corpo jogado no rio Tietê.

Lucas Lezo, vice-presidente da Mancha na época e irmão de André, foi indiciado por envolvimento no crime.

De acordo com o inquérito, os corintianos receberam toucas ninjas e saíram daqui para a Avenida Inajar de Sousa.

Por volta das 10 horas, enfrentaram os palmeirenses. Os dois integrantes da Mancha morreram, André e Guilherme.

Gilda é mãe de André. “Sempre tive muito medo que acontecesse o pior. Lutei enquanto eu pude para que eles não continuassem”, disse a mãe de André Lezo, Gilda Alves Santos.

Num computador da Gaviões, a polícia encontrou uma troca de mensagens, que aconteceu depois dos assassinatos. Com muitas gírias e erros de português.Veja no vídeo ao lado.

Sete torcedores foram indiciados por envolvimento nos assassinatos. Um ano e meio depois, ninguém foi a julgamento. Todos estão soltos.

A Justiça de São Paulo chegou a proibir a entrada deles nos estádios. Mas a defesa conseguiu revogar essa decisão.

Por estarem sempre envolvidos em confusão, 136 torcedores estão banidos dos estádios pela Federação Paulista de Futebol.

Mas eles ignoram a proibição, e até publicam fotos na internet.

Leandro Luís Leite, integrante da torcida Pavilhão Nove, incluído na lista desde março de 2012, divulgou esta imagem quarta-feira passada, no Pacaembu.

Ao Fantástico, ele disse que nem sabia que estava banido.

A federação reconhece que não notifica os envolvidos em briga. E diz que "não tem como garantir que os torcedores punidos não entrem nos estádios".

“Não há o controle desejado porque a Federação Paulista não consegue notificá-los, porque a Polícia Militar não consegue atender a toda a demanda que entra no estádio”, disse o promotor.

Para a delegada, são muitas as ações necessárias. “O que a gente precisa? Ocupar com os instrumentos públicos a própria torcida. Regular quem são os freqüentadores, quem são as pessoas que são dirigentes dessa torcida”, disse.

“Todo dia você acorda e você não tem o teu filho ali. E eles tão fazendo de novo. Eles armam de novo, e faz de novo. E tão a solta”, destaca a mãe da vítima.

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