sábado, 26 de janeiro de 2013

AUTORIDADES EM TESTE

ZERO HORA 26 de janeiro de 2013 | N° 17324


PAULO GERMANO | REPÓRTER, 
AUTOR DA SÉRIE DRIBLE NA JUSTIÇA


Em julho do ano passado, quando Zero Hora publicou a série de reportagens Drible na Justiça, sete torcedores envolvidos em pancadarias estavam proibidos de entrar nos estádios. Nenhum deles cumpria a medida. Nenhum deles se apresentava à polícia no horário dos jogos, conforme a Justiça havia determinado. Agora, após a briga de quinta-feira nas imediações do Olímpico, o número de infratores proibidos de frequentar as partidas é quase cinco vezes maior são 32 banidos.

Por um lado, é louvável que o cerco contra torcedores violentos tenha aumentado. Por outro, uma pergunta acaba se impondo: se no ano passado as autoridades fracassaram na fiscalização de sete pessoas, conseguirão agora fiscalizar 32? Em entrevista a ZH naquela época, um dos gremistas infratores, Thiago Araújo da Rosa, explicou por que nunca compareceu à delegacia no horário dos jogos:

– Não me cobraram nada até agora, ninguém me ligou.

Por trás do desdém de Thiago, havia de fato uma apatia do poder público. Quando um torcedor era proibido de entrar no estádio por seis meses, por exemplo, somente ao final desse prazo o delegado responsável por recebê-lo enviaria um relatório comunicando a Justiça sobre eventuais ausências na delegacia. Ou seja: durante todo o período de vigência da medida, os infratores estavam imunes a qualquer fiscalização. Tanto é que ZH flagrou dois deles, um gremista e um colorado, assistindo a jogos dentro do Olímpico e do Beira-Rio.

Na época, os delegados argumentaram que, nos ofícios que recebiam do Judiciário, o texto dizia: “Solicito-lhe que monitore o cumprimento, enviando relatório ao final do prazo.” Os juízes se defenderam dizendo que tudo era “uma questão de interpretação”: enfatizaram que a polícia deveria avisá-los imediatamente caso algum infrator se ausentasse da delegacia, para que o brigão fosse intimado a se explicar.

Depois desse jogo de empurra, o juiz Amadeo Ramella Butelli anunciou uma mudança. Passou a exigir que os torcedores levassem ao juizado, uma vez por mês, um atestado de presenças fornecido pela delegacia. Resta saber se isso será suficiente para monitorar 32 pessoas que maculam o futebol. Porque os órgãos de repressão do Estado continuam atuando sem integração nenhuma.



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