sexta-feira, 12 de abril de 2013

UM ROJÃO CONTRA A PRÓPRIA TORCIDA


ZERO HORA 12 de abril de 2013 | N° 17400


Greice Gomes, 25 anos, ficou surda quando um rojão explodiu ao seu lado na quarta-feira, na Arena do Grêmio. Ontem à tarde, ela ainda sentia o ouvido esquerdo “muito entupido” – confessava ter medo de perder audição, marcava exames no intervalo do trabalho.

Estudante de Pedagogia e auxiliar administrativa, Greice se dizia uma mulher de sorte:

– Se a bomba estourasse no meu colo, talvez eu perdesse um dedo ou uma mão. Talvez eu perdesse até mais.

O relato da estudante de Porto Alegre sobre o rojão que a ensurdeceu na quarta-feira, antes de o Grêmio entrar em campo para enfrentar o Fluminense, foi compartilhado por 7 mil pessoas no Facebook. No texto, Greice contou que se acomodava com o namorado nas cadeiras do setor sul, onde a Geral estava alocada, quando um estampido aterrorizou o casal.

Quem detonou o rojão foi Maurício de Carvalho Vieira, um estudante de 20 anos que pode pegar até três anos de cadeia por dois crimes: incitação de tumulto e lesão corporal. Na hora do estouro, com a audição comprometida, Greice levou as mãos ao ouvido enquanto o namorado, Guilherme Costa, 25 anos, pediu socorro aos seguranças do estádio. Faltava mais de uma hora para o jogo começar. O casal, claro, não viu a partida – e só deixou a delegacia às 2h30min de ontem.

– Não esperávamos que houvesse tanta burocracia – relembra ela.

Na companhia de Guilherme, Greice foi encaminhada por um bombeiro ao ambulatório da Unimed, depois seguiu para o posto da Brigada Militar, ingressou na sala do Juizado Especial Criminal (Jecrim) e terminou no setor da Polícia Civil, tudo isso dentro da Arena. Mas os depoimentos ainda precisavam ser colhidos na 3ª Delegacia de Pronto Atendimento de Porto Alegre.

Maurício, o detonador do artefato, foi junto na viatura, separado por uma grade.

– Moça, nem sei seu nome, mas me desculpe – disse o rapaz.

– O que me deixa apavorada é como alguém ainda consegue entrar em um estádio com rojão – questionou Greice.

Ela nem viu que, quando o Grêmio entrou em campo, dois sinalizadores – tão proibidos quanto os rojões – foram queimados, quatro homens foram presos e mais tumultos se sucederam. Greice foi vítima do primeiro de uma série de episódios violentos.

PAULO GERMANO



ENTREVISTA - “Na hora da revista, só bateram na minha calça”

Estudante de Educação Física em Vacaria, Maurício de Carvalho Vieira, 20 anos, não faz parte de torcida organizada. Com possibilidade de pegar até três anos de prisão, ele afirma ter estourado o rojão porque queria se livrar do artefato antes de o Grêmio entrar em campo contra o Fluminense.

Zero Hora – Por que você estourou aquele rojão dentro da Arena?

Maurício de Carvalho Vieira – Não queria machucar ninguém. Comprei o rojão em Vacaria para estourar no pátio do estádio, antes do jogo, para me divertir. Mas me esqueci de estourá-lo e, quando entrei na Arena, decidi me livrar dele antes de o jogo começar. Eu sabia que, se a Brigada me pegasse com o rojão lá dentro, me expulsaria. Havia pouca gente no estádio, então estourei o rojão bem perto de mim, do meu lado.

ZH – Mas a bomba ensurdeceu uma garota que estava com o namorado. Você não tinha visto o casal?

Maurício – Não vi mesmo. Eu queria me livrar do rojão para assistir ao jogo tranquilo, mas acabei perdendo a partida e me incomodando muito.

ZH – Se incomodando como?

Maurício – O pessoal de Vacaria, que foi de excursão comigo, não pôde me esperar para voltar para casa. Saí da delegacia de madrugada, fui sozinho até a rodoviária, de táxi. Não conheço nada de Porto Alegre. É perigoso. E ainda me meti nesse rolo todo. Não era minha intenção.

ZH – Não vai mais comprar rojões então?

Maurício – Claro que não. Me arrependo do que fiz. Pedi desculpa para a guria que se machucou. Vou em quase todos os jogos, não sou de me meter em briga, nunca tive problema com a polícia.

ZH – Como você conseguiu entrar com o rojão no estádio?

Maurício – Olha, estava no meu bolso. Na hora da revista, eles (os PMs) só bateram na minha calça. Do meu lado, um guri entrou com um sinalizador e ninguém viu nada.



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