sábado, 17 de maio de 2014

A MORALIZAÇÃO DO FUTEBOL

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ZERO HORA 17 de maio de 2014 | N° 17799


EDITORIAL



O governo tem a missão de zelar pelos recursos públicos aplicados num setor que ainda enfrenta deficiências e desmandos

É oportuno o momento escolhido pelo governo para incentivar e ajudar a viabilizar mudanças estruturais na gestão do futebol brasileiro. A intenção foi manifestada pela presidente da República, em jantar que ofereceu a 10 jornalistas esportivos, representantes dos principais veículos de comunicação do país, na quinta-feira, e dá sequência a outras iniciativas tomadas pelo Executivo para qualificar não só a administração do futebol, mas também de outros esportes. Ressaltou a senhora Dilma Rousseff que tal disposição não pode ser vista como uma intervenção do Estado numa atividade essencialmente privada. Disse textualmente a presidente que sua intenção não é a de criar a Futebrás, numa referência a inúmeras estatais cujas atribuições são sempre questionáveis.

A atitude do governo tem o mérito de provocar federações e clubes a saírem da inércia. Há uma explicação para o fato de que, apesar de ser uma atividade que deve se autorregular, o futebol precisa, sim, de alguma forma de orientação do setor público. O principal argumento nesse sentido é o sempre lembrado suporte financeiro que instituições governamentais oferecem ao futebol. O exemplo mais recente foi lembrado pela presidente no encontro de quinta-feira: os 12 estádios erguidos ou reformados para os jogos da Copa dispuseram de financiamentos do BNDES. A União tem a obrigação de saber como tais verbas foram aplicadas e contribuir para que a gestão de dinheiro público seja eficaz e transparente.

Outro aspecto da preocupação do governo é o que diz respeito à situação dos clubes como devedores da União. Dívidas fiscais, algumas cobradas muitas vezes, sem que os acordos sejam cumpridos, expõem a fragilidade – e em alguns casos até mesmo ações delituosas – de entidades que manipulam somas milionárias. Como observou Dilma Rousseff, o governo não pode continuar perdoando débitos ou mesmo parcelando valores em atraso, sem a devida contrapartida.

A presidente chegou a sugerir que a melhor forma de reconhecer bons pagadores é punir, com penas esportivas, quem não consegue cumprir com suas obrigações.

O que a União pretende é a total profissionalização de uma área que executa projetos gigantescos, como as arenas, mas é incapaz de gerir, com raras exceções, suas atividades com um mínimo de eficiência.

As mudanças passam também pela reavaliação da relação das federações e dos clubes com os torcedores e com os profissionais.

O primeiro passo será dado em encontro com líderes do Bom Senso F.C, movimento comandado pelos jogadores, com o intuito de modernizar as estruturas do futebol brasileiro e o calendário de eventos. Ao contribuir para que a administração do esporte esteja de acordo com a importância da atividade para o país, o governo cumpre sua função de zelar pelos recursos públicos que as entidades absorvem – e que são de todos os brasileiros – e contribui para que a paixão pelo futebol não acabe por encobrir ineficiências e desmandos.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

15 MORTOS NA PARTIDA DO MAZEMBE

ZERO HORA Atualizada em 11/05/2014 | 22h36

por AFP E ZHESPORTES

Tragédia. Partida do Mazembe termina com pelo menos 15 mortos. Outras 21 pessoas ficaram feridas por conta da violência entre torcidas



Facebook do Mazembe traz algumas imagens sobre a tragédiaFoto: TP Mazembe / Facebook


Pelo menos 15 pessoas morreram e outras 21 ficaram feridas, em Kinshasa, em uma partida de futebol entre os times ASV Club e Tout Puissant Mazembe. A partida entre as duas equipes populares terminou em confronto.

– O balanço no momento atual é de 15 mortos e 21 feridos – declarou à imprensa ao governador de Kinshasa, André Kimbuta, que se encontrou com o ministro do Interior, Richard Muyej, no hospital Mama Yemo, para onde 14 mortos e 11 feridos foram levados. Um inquérito foi aberto para investigar a tragédia e identificar os responsáveis.

A Rádio Okapi, criada pela ONU, reportou que os torcedores do ASV Club ficaram agitados ao ver sua equipe perder. O Mazembe vencia por um gol quando a confusão começou.

– Eles começaram a atirar projéteis no campo, forçando o árbitro a interromper a partida repedidamente – informou a rádio.

Segundo a TV nacional, a partida terminou com uma chuva de pedras, atiradas das arquibancadas, onde uma briga começou. A polícia atirou bombas de gás lacrimogênio na direção da multidão, houve correria nas arquibancadas "e nesta confusão, um muro do estádio desabou", explicou a Rádio Okapi.

Antes da partida, dezenas de policiais foram mobilizados para o entorno do estádio Tata Raphael, após o registro de confusões em partidas anteriores entre os dois times.

O Mazembe, que publicou no seu Facebook oficial algumas imagens do ocorrido, ficou conhecido pelo público brasileiro ao vencer o Inter na semifinal do Mundial de Clubes de 2010, por 2 a 0.

terça-feira, 6 de maio de 2014

A VIOLÊNCIA SEM CONTROLE ASSUSTA

O DIA, 05/05/2014 23:38:21

Contra-ataque
com Márcio Guedes


Brasil continua sofrendo com violência dentro dos gramados


Rio - Nos últimos anos, ou até décadas, o Brasil tem sido um dos países mais violentos do mundo e nem sempre a pobreza explica isso porque, nesse caso, seria o caos. E essa tese representa também flagrante injustiça com os mais carentes. O que falta é segurança inteligente nas ruas e, depois, uma Justiça que puna, não com rigor, mas na medida certa. Mas isso ainda é miragem e há uma política de direitos humanos deturpada e perversa. Tudo isso é para dizer que os turistas que vierem ao Brasil precisam mesmo se precaver em nossas ruas porque a barra é pesada.

Nos estádios, com policiamento especial, não haverá problemas e ninguém vai jogar privadas nos outros. Mas, nas cercanias e longe dos jogos, todos correrão riscos e a mídia internacional não exagera. Na Europa, também há pontos de violência, mas de uma forma muito menos endêmica e com repressão cem vezes maior. O momento do país é particularmente conturbado e corre-se o risco de acontecimentos lamentáveis. Mas dizem que Deus é brasileiro e, quem sabe, não viveremos um mês em um paraíso?


Violência no futebol segue sem muito combateFoto: Carlos Moraes / Agência O Dia

O ASSASSINO DE ARRUDA


O Estado de S.Paulo 06 de maio de 2014 | 2h 07


OPINIÃO



A morte de Paulo Ricardo Gomes da Silva, de 26 anos, quando saía, na sexta-feira passada, do Estádio do Arruda, no Recife, depois de uma partida entre o Santa Cruz local e o Paraná Clube pela série B do Campeonato Brasileiro, evidencia a que extremos absurdos pode chegar a violência entre torcidas. O jogo havia acabado, a torcida anfitriã já tinha deixado a praça esportiva e um pequeno grupo de torcedores do time visitante se encaminhava para o portão 6 quando alguém jogou do anel superior das arquibancadas dois vasos sanitários. Um atingiu o rapaz, torcedor do Sport Clube do Recife.

No dia seguinte, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) interditou o local do crime, como medida preventiva, até a apreciação definitiva do caso pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Em seguida, o presidente deste órgão, Flávio Zveiter, determinou que o clube mais popular de Pernambuco jogue suas duas próximas partidas em seu campo com os portões fechados. Ele também assinou um despacho suspendendo as atividades de todas as torcidas organizadas do Santa Cruz no território brasileiro, até que o assassino do Arruda seja identificado.

São providências menores e insuficientes. Afinal, medidas administrativas como estas já foram tomadas inúmeras vezes e os vândalos de arquibancadas continuam agindo impunemente. E reincidem em sua atividade criminosa, principalmente porque nunca são detidos pelos braços, cada vez mais curtos, da lei e da ordem. Exemplos: membros do bando de corintianos apontados como autores do disparo de um sinalizador que matou o jovem boliviano Kevin Espada num jogo entre Corinthians e San José, em Oruro, foram flagrados pouco tempo depois agredindo torcedores adversários do Vasco da Gama na arena Mané Garrincha, em Brasília, onde serão jogadas quatro partidas da Copa do Mundo daqui a pouco mais de um mês. Noticiários da TV repetem à exaustão imagens de torcedores do Vasco da Gama e de outros clubes percorrendo o País e protagonizando cenas de truculência. Depois, são presos, processados e, repetindo o chavão dos romances policiais, voltam ao local do crime.

O vândalo que atirou o vaso sanitário contra desconhecidos premeditou o ato que dele exigiu muito esforço. Toaletes de praças desportivas dispõem habitualmente de receptáculos metálicos. O assassino encontrou e arrancou os vasos fixados no chão e teve de transportá-los e arremessá-los, ciente do estrago que o petardo produziria em seu alvo, seres humanos que não conhecia pessoalmente e contra os quais nada tinha, a não ser o fato de minutos antes terem torcido contra seu clube. Trata-se de um crime doloso, premeditado.

Desta vez, o crime não foi testemunhado pelas câmeras cujas imagens delataram outros assassinos. Por enquanto, só quem foi punido pelo crime hediondo foi o torcedor pacífico do Santa Cruz, impedido de ver seu time atuar em dois torneios importantes. Este, sim, pode dizer-se vítima do gesto. Mas não o clube, que, no caso, se mostrou incapaz de dar segurança à própria torcida e às dos clubes que recebe. Para tentar eximir-se de sua parcela de culpa, a Federação Pernambucana ofereceu um prêmio a quem ajudasse a encontrar o bandido - um suspeito foi detido na tarde de ontem. Deveria ter agido antes, eliminando as condições que, hoje, fazem da ida a um estádio uma aventura que pode terminar em morte. Os dirigentes esportivos parecem ser incapazes de compreender que sua omissão em coibir, preventivamente, crimes como este só favorecem os vândalos e em nada ajudam aos clubes e ao esporte.

A presidente Dilma Rousseff propôs, pelo Twitter, "urgência de se instalar delegacias especializadas". Nada leva a crer que este tipo de providência venha a ter o condão de evitar barbaridades como a do Recife. As torcidas organizadas devem ser proibidas de frequentar estádios e a polícia, o Ministério Público, a Justiça e os clubes de futebol precisam se unir para reprimir os criminosos que vicejam nas torcidas - e que continuam, quase sempre, protegidos e bem remunerados.

NÃO PODEMOS ACABAR COM AS ORGANIZADAS





ZH 06/05/2014

De Fora da Área. Opinião



por Maurício Tonetto, repórter de ZH



Virou senso comum afirmar que a violência nos estádios é culpa das torcidas organizadas. Sem meias palavras, os clubes e o Poder Público são tão culpados quanto um bandido que joga uma privada em direção à torcida adversária.


Quando um marginal travestido de torcedor comete um ato bárbaro como esse de Recife, ele deve ser indiciado, julgado e afastado para sempre de um estádio de futebol. Isso vai acontecer? Claro que não, estamos no Brasil.

É aí que está o cerne da questão. A maioria das pessoas que se junta para apoiar o time do coração de forma organizada jamais cometeu um crime. É sempre um grupo dentro da massa, conhecido internamente dos clubes, que ataca. Grupo ciente da impunidade, que tem certeza de que não será expulso para sempre dum estádio. Assim, fica fácil agir sem pensar.

Os clubes e o Poder Público fomentam a impunidade e criam meia dúzia de monstros que não representam a maioria. Desde que comecei a ir a jogos, frequentei organizadas. Primeiro foi a Camisa 12, depois a Popular. Viajei com elas para partidas fora de Porto Alegre, inclusive do Brasil, e sempre observei que um pequeno grupo, de relações intensas com a direção do Internacional, era o responsável pelos atos impensados.

Por que o pequeno grupo não responde pelas atitudes? As desculpas são sempre as mesmas e a problemática só se agrava. É mais fácil banir uma torcida inteira do que mexer no vespeiro. A alternativa tem se mostrado burra, pois a violência permanece igual e até pior, mesmo com ingressos caros e estádios modernos.

Enquanto os clubes, com apoio do Poder Público, não começarem a expulsar e condenar os criminosos, não haverá solução. As pessoas não deixarão de se agrupar para torcer, mesmo que não existam mais bandeiras, faixas e bumbos. A organização é algo intrínseco ao futebol, ela vem desde os tempos de Vicente Rao nos Eucaliptos.

É preciso entender a lógica e atuar de forma inteligente, mandando para longe os bandidos e abrindo espaço para os que querem fazer o espetáculo verdadeiro. Está na hora de os clubes saírem da zona de conforto e iniciar um diálogo franco com a sociedade que aprecia o futebol. As torcidas não podem acabar, em nome dos bons. Chega de hipocrisia.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Concordo com o autor de que "os clubes e o Poder Público fomentam a impunidade e criam meia dúzia de monstros que não representam a maioria." É muito fácil jogar a responsabilidade no torcedor e lavar as mãos para os fatores que alimentam a prática de holiganismo no futebol. A solução está nas mãos do poder público, das leis e da justiça. O Brasil precisa acabar com o amadorismo na segurança. Chega de medidas partidárias nas questões de justiça e segurança; chega de soluçõespontuais e basta de condescendência. É necessário construir um sistema de justiça criminal ágil, técnico e coativo, capaz de prevenir, identificar, agilizar os processos e punir com severidade, para acabar com a impunidade e coibir a violência nos estádios e nas ruas. Só assim teremos respeito às leis, autoridade e paz nos Estádios.

O FUTEBOL ASSASSINADO

ZERO HORA 06 de maio de 2014




EDITORIAL


A morte de um torcedor atingido pelo vaso sanitário lançado das arquibancadas do Estádio do Arruda, em Recife, na última sexta-feira, tem que servir como ponto de inflexão na questão da violência no futebol brasileiro. E não é apenas porque o escatológico episódio repercutiu em todo o mundo, desgastando ainda mais a imagem do país que promoverá a próxima Copa. É porque chegou a hora de dar um basta no vandalismo, nas brigas e nos abusos cometidos por delinquentes que estão tentando assassinar o futebol com comportamentos verdadeiramente boçais. Chega a ser inacreditável um episódio como esse, em que vândalos arrancaram o equipamento dos banheiros femininos do estádio e lançaram-no do anel superior, de uma altura de 24 metros, sobre os torcedores adversários no momento em que se retiravam, escoltados pela Polícia Militar. O jogo entre o Santa Cruz e o Paraná, pela série B do campeonato brasileiro, já havia terminado quando ocorreu o atentado.

A CBF já interditou o Estádio do Arruda e está punindo o clube com perda de mandos de campo. Mas essa é uma punição insignificante diante da perda de uma vida. Como a PM já havia se retirado no momento em que ocorreu o incidente, a vigilância dos torcedores no ambiente interno deveria ter sido feita pela segurança patrimonial do próprio clube, que será responsabilizado por isso. Responsabilizar o clube é uma forma de forçá-lo a vigiar seus torcedores.

Igualmente importante é a investigação policial destinada a identificar os marginais que cometeram o crime. Um comportamento tão selvagem e estúpido não pode ser atribuído apenas aos arroubos juvenis de torcedores irresponsáveis. Quem lança um objeto desses sobre outras pessoas está assumindo a vontade de ferir e matar. São, portanto, criminosos e têm que ser tratados como tal. Devem ser julgados por homicídio doloso.

Outro ponto dessa deplorável história é a falta de prevenção. Os bombeiros que fazem a vistoria nos estádios sugerem que os clubes instalem banheiros semelhantes aos existentes em presídios, com peças sanitárias internas, que não possam ser arrancadas. Só que o controle de marginais não pode se resumir a um truque de engenharia. Como, então, se faz isso? Certamente com vigilância, com policiamento preventivo e com punição rigorosa e exemplar para os infratores. Mas, principalmente, com inteligência: as autoridades e os próprios administradores dos estádios têm o dever de garantir segurança nas praças esportivas, colocando câmeras de vigilância e agentes no meio do público, para coibir comportamentos inadequados antes que eles resultem em tragédia. O país não pode mais aceitar mortes como essa, pois, cada vez que um torcedor perde a vida numa circunstância dessas, o futebol também morre um pouco. Não podemos deixar esta paixão nacional ser assassinada dessa forma.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Exatamente, a solução é sabida e há exemplos no mundo. É preciso contar com medidas preventivas, "com vigilância, com policiamento preventivo e com punição rigorosa e exemplar para os infratores". Porém, a grande dificuldade neste país surreal é fazer estes procedimentos funcionarem em conjunto como um sistema, onde as leis são fortes e um dá amparo e continuidade ao outro. A vigilância é vulnerável, o policiamento é insuficiente e as punições são lentas, brandas e sem controle que alimentam a impunidade e não coíbem os delitos. 

segunda-feira, 5 de maio de 2014

TORCEDOR MORRE ATINGIDO POR PRIVADA ARREMESSADA DE ESTÁDIO NO RECIFE

FOLHA.COM, 03/05/2014


DANIEL CARVALHO
DO RECIFE0



Um torcedor do Sport Club do Recife que estava na torcida do Paraná morreu ao ser atingido por um dos dois vasos sanitários arremessados do alto do estádio do Arruda, no Recife, após o jogo entre Santa Cruz e o clube paranaense, na noite desta sexta-feira (2).

Paulo Ricardo Gomes da Silva, 26, saía do estádio com a torcida do Paraná, quando foi atingido. Outras três pessoas foram atingidas por estilhaços dos vasos e foram levadas para unidades de saúde do Estado. Segundo a Secretaria de Saúde, nenhuma corre risco de morrer.


Carlos Ezequiel Vannoni/Agencia JCM/Fotoarena

Perícia do departamento da Polícia Civil no local onde um torcedor foi atingido por um vaso sanitário


Válido pela Série B do Campeonato Brasileiro, a partida terminou 1 a 1.

Câmeras da Secretaria de Defesa Social flagraram o momento em que as privadas foram arremessadas, mas não mostram quem as atirou da arquibancada. A polícia ainda não tem suspeitos. Se identificados, os culpados deverão ser indiciados por homicídio doloso, quando há intenção de matar.
Reprodução/Facebook/Paulo Ricardo

Paulo Ricardo tinha colocado foto no Facebook onde aparece ao lado da presidente Dilma


As privadas foram arrancadas de um dos banheiros do estádio, de acordo com a Secretaria de Defesa Social.

O secretário da pasta, Alessandro Carvalho, responsabilizou o Santa Cruz pela morte do torcedor. Segundo Carvalho, o clube não tem as câmeras internas exigidas pelo Estatuto do Torcedor e deveria ter garantido segurança privada no interior do estádio.

"O que deixou de ser feito não foi por parte do Estado, foi por parte do Santa Cruz. Houve uma falha? Houve. E eu atribuo ao clube. O clube é responsável pelo que acontece dentro da área dele", afirmou Carvalho neste sábado (3). "Fazer vistoria para saber se ficou algum torcedor [no banheiro], não existe", afirmou.

Questionado sobre a responsabilidade de exigir do clube as câmeras, o secretário indicou a Federação Pernambucana de Futebol e a CBF.

O presidente do Santa Cruz, Antônio Luiz Neto, foi procurado pela Folha no final da manhã deste sábado (3), mas não foi encontrado.

Uma câmera instalada pela Secretaria da Defesa Social na rua das Moças, nos fundos do estádio, mostrou a correria no local.


SEGURANÇA


De acordo com o governo de Pernambuco, havia 8.029 torcedores e 228 policiais militares dentro e fora do estádio. A Secretaria de Defesa Social disse que esse efetivo se justifica porque o evento é considerado como de "menor potencial de problemas".

"Quem tem que fazer a segurança patrimonial não é a Polícia Militar de Pernambuco, é o clube que está organizando o jogo. O policiamento foi proporcional [à dimensão do jogo]", afirmou Carvalho.

Segundo o governo, o jogo terminou às 22h50 e a torcida do Santa Cruz foi liberada primeiro. A torcida do Paraná, junto com torcedores do Sport –cerca de 50 pessoas, de acordo com o secretário–, saiu escoltada do estádio às 23h10.

Houve um rápido princípio de confusão com torcedores do Santa Cruz que moram no entorno do estádio, de acordo com a Polícia Militar. Os vasos foram arremessados justamente quando os torcedores do time visitante passavam pela Rua das Moças.

Brigas entre torcidas organizadas são comuns após jogos em Pernambuco. Em março, torcedores do Santa Cruz arrancaram privadas da Ilha do Retiro, sede do Sport. Também há registro de depredação e arrastões. Na semana passada, torcedores do Santa Cruz invadiram o clube e hostilizaram jogadores.

Desde abril deste ano, as torcidas organizadas foram proibidas pela Justiça de Pernambuco de entrar em estádios no Estado.


SANTA CRUZ


O presidente do Santa Cruz, Antônio Luiz Neto, disse em entrevista à "TV Globo" que o o time "se sente vítima" e que o estádio estava fechado no momento do crime.

"O Santa Cruz se sente vítima. Afinal de contas, a Polícia Militar já havia cumprido com sua obrigação e esvaziou o estádio com a torcida do Santa Cruz primeiro, esvaziou completamente, fez a vistoria, depois de 15 minutos, tirou a torcida visitante, entregou o estádio com portões fechados ao Santa Cruz, o Santa Cruz fechou todo o estádio e, em seguida, acontece essa invasão, que gera esse crime estúpido", afirmou.

Na mesma entrevista, Antônio Luiz Neto diz que "o Santa Cruz é contra vândalos" e defendeu que a presença deles nas torcidas organizadas seja apurada.

"Se as torcidas organizadas têm dirigentes que se juntam para formar quadrilha, isso tem que ser apurado", afirmou o dirigente, que se comprometeu a banir os torcedores "que depredaram o patrimônio do clube".

A Folha tentou, mas não conseguiu falar com ele neste sábado.


ORGANIZADAS NA PRIVADA


ZH 05/05/2014 | 08h49 - Opinião

DE FORA DA ÁREA

por Paulo Germano, repórter de ZH



Tijolo, barra de ferro, arma de fogo, faca, sinalizador de navio, tudo isso ajudou a matar 234 pessoas que, entre 1988 e 2013, sucumbiram à violência das torcidas brasileiras — uma média superior a nove mortes por ano, conforme levantamento do jornal esportivo Lance!. Em 2014, pedras e punhais parecem fora de moda: a novidade, agora, é matar com vaso sanitário.

Na sexta-feira passada, Paulo Ricardo Gomes da Silva, um soldador da periferia de Recife, morreu aos 26 anos depois que torcedores do Santa Cruz-PE, minutos após o fim da partida contra o Paraná, arrancaram duas privadas do banheiro e as arremessaram para fora do estádio. Lá embaixo, na calçada, integrantes da torcida organizada Fúria, do Paraná, deixavam o Arruda escoltados pela Polícia Militar. Uma das peças de cerâmica se espatifou na cabeça de Paulo Ricardo, que era, na verdade, membro de uma organizada do Sport, clube rival do Santa Cruz em Recife.

Importante que o leitor entenda: a Torcida Jovem, do Sport, é aliada da Fúria, do Paraná. Por isso, Paulo Ricardo e seus amigos rubro-negros receberam os visitantes na capital pernambucana, ofereceram churrasco, cerveja e proteção contra possíveis ataques de torcedores do Santa Cruz — que, por sua vez, são aliados da Império Alviverde, principal organizada do Coritiba, rival do Paraná.

No país inteiro, organizadas de médio e grande porte mantêm parcerias com torcidas de outros estados: um dos objetivos maiores é garantir apoio em confrontos contra grupos adversários. Em Porto Alegre, em junho de 2012, antes de um jogo entre Grêmio e Flamengo, eu cobria como repórter a movimentação da torcida Geral no antigo Bar dos Borrachos, nos arredores do Olímpico. Lá pelas tantas, um táxi que levava uma mulher, um menininho — de, no máximo, sete anos — e um rapaz com a camisa do Flamengo cruzou a frente do boteco e parou no sinal vermelho.

Cerca de 15 gremistas, furibundos porque as organizadas do Flamengo são coligadas às do Inter, destruíram o táxi com tijoladas e voadoras e, após quebrar o para-brisa traseiro, encheram de socos a cara do flamenguista. Quando o sinal abriu, o taxista arrancou desesperado, para decepção de um dos brigões:

— Aaaah, tinha que ter matado!

No dia seguinte, telefonei para o líder de uma organizada do Inter.

— Não vou ser hipócrita: teríamos feito o mesmo se o passageiro usasse camisa do Palmeiras — ele disse, pedindo sigilo de identidade e lembrando que os palmeirenses têm apoio das torcidas do Grêmio.

Como se vê, a violência das torcidas atravessa fronteiras, não tem bairrismo, é disseminada. Muitos dizem que as organizadas são responsáveis pela beleza do espetáculo e que, por isso, não podem ser extintas. Honestamente, eu quero que a beleza se exploda. Quero que enfiem a beleza em um vaso sanitário e levem-no para casa, antes que outra privada desmanche a cabeça de mais alguém.

DELEGACIAS ESPECIALIZADAS NOS ESTÁDIOS

CORREIO DO POVO 04/05/2014 21:02


Dilma defende delegacias especializadas nos estádios de futebol. Torcedor do Santa Cruz foi morto após jogo da Série B em Recife na sexta




A presidenta Dilma Rousseff defendeu neste domingo a instalação de delegacias especializadas nos estádios de futebol. Por meio do Twitter, a presidenta também afirmou que a violência nos estádios precisa ser coibida pelas polícias locais. A mensagem foi divulgada após o enterro do corpo do torcedor Paulo Ricardo Gomes da Silva, de 26 anos, morto após partida entre o Santa Cruz e o Paraná, válida pelo Campeonato Brasileiro da Série B. Na sexta-feira , ele foi atingido por um vaso sanitário, jogado do alto da arquibancada, quando deixava o Estádio do Arruda, em Recife.

"O país que ama o futebol não pode ser tolerante com a violência nos estádios. A morte do torcedor Paulo Ricardo Silva depois de uma partida de futebol no Recife é mais um triste exemplo da urgência de se instalar delegacias especializadas nos estádios. A violência nos estádios precisa ser coibida com rigor pelas polícias locais. Os criminosos devem processados e julgados. Estádios de futebol são palco da alegria e da paixão. Devemos todos nos unir pela paz nos estádios", escreveu a presidenta.

Após a morte do torcedor, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) interditou o Estádio do Arruda. Em nota, a CBF justificou a medida pela “gravidade do incidente” e informou que ela tem validade a partir de hoje até que o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) “analise o caso e tome as providências cabíveis”.