quarta-feira, 31 de julho de 2013

GRE-NAL DA INTOLERÂNCIA

Sul 21 > Opinião Pública
Data:31/jul/2013, 8h44min

Por Alberto Kopittke

Os jogos entre Grêmio e Inter ou entre Inter e Grêmio, para não gerar ciúmes, são os eventos mais importantes do esporte do Rio Grande do Sul, mobilizam milhares de pessoas que vão até os estádios e dezenas de milhares de pessoas que o acompanham pelos meios de comunicação.

Mais que mero evento esportivo, é espaço cultural, momento de identidade e interação. Infelizmente hoje é símbolo da intolerância que tem permeado a cultura do nosso estado. Situação quase crônica nas últimas décadas, os Gre-Nais se tornaram palco de brigas e atos de vandalismo, como se não houvesse outra alternativa além das cenas de jovens se digladiando e até matando porque torcem por times diferentes.

A discussão sobre a torcida única no próximo Gre-Nal é o atestado máximo de nossa incapacidade de convívio enquanto sociedade. Chegamos num ponto em que uma metade dos gaúchos não pode sentar junto com a outra metade. Um estádio todo azul e outro todo vermelho até podem ser a solução mais simples e prática, mas também a mais equivocada. Estaremos mostrando para nossas crianças que seus pais não foram capazes de construir uma sociedade em que pessoas que pensam diferente possam conviver e partilhar de momentos juntos, nem mesmo num mero jogo de futebol.

As administrações dos novos estádios, que poderiam criar grandes ambientes de encontro, infelizmente estão priorizando a preocupação com o seu novo e luxuoso patrimônio, o que é legítimo, mas seria muito importante se tivessem a ousadia de efetivamente criarem uma nova era do futebol do Rio Grande do Sul, o tornando sinônimo de festa e civilidade, não de violência e intolerância. Sempre haverá indivíduos sem capacidade para isso, mas essa minoria simplesmente não pode mais ter acesso aos estádios – através de um controle rígido e moderno, como já prevê o Estatuto do Torcedor – e a sociedade não pode jamais nivelar seu padrão de comportamento por ela.

O maior legado que a Copa poderia deixar para a cidade não são as cadeiras confortáveis, mas a possibilidade de gremistas e colorados as partilharem lado a lado, sem a necessidade de serem separados e contidos pela polícia.

Aliás, vale lembrar que política de segurança é muito mais do que apenas ter policiais para separar brigas, mas ações que estimulem a convivência e disputem os valores da sociedade.

Um Gre-Nal de todo(a)s, convivendo no mesmo espaço sem violência, vamos tentar?


Alberto Kopittke é advogado e vereador de Porto Alegre

O GRE-NAL E O PODER PÚBLICO

ZERO HORA 31 de julho de 2013 | N° 17508

EDITORIAIS


Com todo o respeito que a Brigada Militar merece, é inaceitável a decisão de veto à presença de torcedores visitantes no Gre-Nal do próximo domingo, o primeiro a ser realizado na Arena do Grêmio. Sob o pretexto de que não tem condições de dar segurança aos torcedores do Internacional, especialmente no deslocamento para o novo estádio, o comando da BM pediu ao Ministério Público para chancelar a ideia de torcida única no clássico. E lembrou, na sua argumentação, que a corporação retira um contingente de cerca de 700 homens do policiamento regular nas ruas para dar segurança a um evento esportivo privado.

Há, aí, duas questões distintas. A destinação de PMs para espetáculos artísticos e eventos esportivos é uma decisão do governo do Estado, que precisa ser resolvida no âmbito administrativo. Porém, quando a BM recebe ordem superior para atuar, descumpri-la significa insurreição. Além disso, o poder público existe para servir à sociedade. Não pode renunciar a essa missão. Se a Brigada não tem condições de dar segurança aos torcedores, que sejam criadas estas condições. Os órgãos de segurança não têm o direito de se omitir. Em meio ao debate sobre o Gre-Nal, surgiu inclusive a informação de que os policiais não pretendem interferir caso irrompa algum conflito no setor denominado Geral, onde rotineiramente ocorrem brigas entre torcedores. Era só o que faltava. Onde houver conflito, a Brigada tem que interferir, como é de sua atribuição constitucional e de sua tradição.

Embora o debate contenha forte componente de passionalismo, como ocorre em qualquer discussão envolvendo a rivalidade esportiva do Estado, ainda há tempo para um diálogo sensato, que garanta não apenas a presença pacífica das duas torcidas no Gre-Nal como também a segurança de todas as pessoas que se deslocarem para o estádio no próximo domingo. O Rio Grande não pode se render ao vandalismo – e conta com a valorosa Brigada Militar para garantir a vitória da civilidade.

DIA DE LUTO NO FUTEBOL GAÚCHO



ZERO HORA 31 de julho de 2013 | N° 17508


WIANEY CARLET

Dia de luto

A data de ontem, 30 de julho de 2013, ingressará na história do futebol gaúcho como um dia de luto. Ficou decidido que não somos mais capazes de ir a um Gre-Nal e dividir espaços nos estádios com os nossos adversários. E nem cabe criticar a decisão da Brigada Militar. A corporação existe para proteger e não para apartar brigas programadas. É doloroso admitir que venceu a banda podre das torcidas da dupla Gre-Nal contra os interesses da imensa maioria.

Rivalidade


Já aconteceu tiroteio em jogo do Grêmio e facadas em partida do Internacional. Depredações recíprocas nos estádios por ocasião de Gre-Nais se tornaram rotina depois que houve a queima dos banheiros químicos no Beira-Rio. Não existe mais rivalidade entre gremistas e colorados, mas sim o ódio que contempla os piores instintos. Não creio que haja cura para a demência instalada entre as duas torcidas.

Sociedade doente

Acredito que os baderneiros de Grêmio e Inter não chegam a 5% dos torcedores que frequentam os estádios. É a mesma proporção que se verificou nas manifestações de rua quando pequenos grupos de marginais comprometeram movimentos pacíficos e bem-intencionados. Nossa sociedade está doente. As forças policiais, nos dois casos, agiram como era possível agir e, mesmo assim, foram alvejadas por críticas.

Impunidade

Não sei como seria possível separar os marginais das grandes massas. E, mesmo que fosse encontrada uma estratégia para atingir este objetivo, não haveria punição adequada para os desordeiros. Qualquer medida punitiva sempre encontrará um batalhão de advogados dispostos a livrar os bagunceiros da cadeia ou qualquer outra pena.

GERAL, O MONSTRO




ZERO HORA 31 de julho de 2013 | N° 17508

PAULO GERMANO

Não há dúvida de que a Geral do Grêmio mudou a forma de torcer no país: destacou-se mundialmente pela cantoria incansável, pela criatividade das músicas e pelo espetáculo da avalanche. O problema é que o próprio clube, encantado com o poder de pressão da organizada e com a evidente popularidade da torcida , aos poucos foi criando um monstro.

As regalias que a Geral recebeu na gestão de Paulo Odone, com dinheiro para viagens, ingressos para revender e livre acesso aos jogadores, instituíram entre os líderes da organizada uma sensação de prestígio e poder inabaláveis. Com o aumento da torcida, a Geral elegeu sete conselheiros do clube. Seus líderes não aceitam ser tratados como torcedores quaisquer. Por isso, no domingo, membros da torcida atacaram com voadoras e socos PMs que retiraram das arquibancadas o Gaúcho da Geral – que, até aquele momento, não havia sido agredido pela polícia.

Quando assumiu o Grêmio, Fábio Koff cortou as benesses da organizada. Nas últimas semanas, o vice-presidente Nestor Hein tem acompanhado os jogos no setor da Arena onde fica a Geral, para identificar e coibir os brigões. A gestão atual, no entanto, não adotou ações concretas para punir conselheiros ligados à torcida que se envolvem em pancadarias. Um deles, Messias Stroschein Soares, foi um dos mais violentos no último conflito com os PMs.

Ao recomendar ao Ministério Público que o Gre-Nal tenha só uma torcida, a BM pressiona o Grêmio por atitudes mais enérgicas e deixa um recado: se sozinha a Geral provoca tumultos incontroláveis, imagine contra o arquirrival.

É provável que o Judiciário proíba de entrar nos estádios torcedores envolvidos na briga do fim de semana. Mas, como ZH mostrou na série de reportagens Drible na Justiça, publicada em julho de 2012 e em março deste ano, também é provável que boa parte deles descumpra a ordem judicial. A impunidade, motivada por uma legislação branda, agora é a regalia da qual a Geral dispõe.

A DERROTA DA CIVILIDADE


ZERO HORA 31 de julho de 2013 | N° 17508

GRE-NAL DE TORCIDA ÚNICA

Brigada Militar se diz incapaz de garantir, no próximo domingo, a segurança dos torcedores colorados nas vias de acesso à Arena. Mas reunião entre Grêmio, Inter e o governo, hoje, pode alterar a decisão – e impedir que, pela primeira vez nos 104 anos de história, o clássico tenha as cores de apenas um dos times.


Em 2002, um torcedor foi morto durante briga de torcidas em Caxias do Sul. A quatro quilômetros do local, outro torcedor morria na explosão de uma bomba caseira. Em 2004, um adolescente foi assassinado por causa de rixa entre organizadas em São Leopoldo. Em 2005, a Brigada Militar usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha dentro do estádio, atingindo mulheres, crianças e idosos. Em 2006, torcedores atearam fogo em banheiros químicos. Em 2008, dois torcedores foram baleados durante briga entre torcidas do mesmo time. No final de 2011, um torcedor foi esfaqueado em jogo comemorativo. Na inauguração do novo estádio, nova briga entre integrantes da torcida organizada.

Em 30 de julho de 2013, enfim, a vítima foi a civilidade.

Ao tomar a controversa decisão por Gre-Nal com torcida única no próximo domingo, assumindo não poder garantir segurança à torcida do Inter nas vias de acesso à Arena, a Brigada Militar – com a chancela do Ministério Público (MP) – atesta a incapacidade do Estado e da sociedade para enfrentar a violência no futebol. A corporação afirma que o problema é fora do estádio. Em campo aberto, e devido às ruas estreitas da região, o controle seria mais difícil.

Ainda que a BM não confirme, o incidente do último domingo, quando torcedores do setor da Geral entraram em confronto com policiais militares, e a repercussão da agressão ao Gaúcho da Geral também pesaram na definição. A ausência dos 2 mil colorados que assistiriam ao primeiro clássico na nova casa gremista (a decisão vale apenas para esta partida) é apenas o resultado mais visível de um modelo ineficaz de relação entre autoridades de segurança, clubes e torcidas – sejam elas organizadas ou não.

– Os órgãos de segurança, leia-se a polícia, tornaram-se os únicos interlocutores responsáveis pelo acompanhamento das torcidas, e um monitoramento restrito aos dias de jogo. Uma visão mais ampla tem de considerar o envolvimento da sociedade, a começar pelos clubes, corresponsáveis pela existência das torcidas. Ações que envolvam pessoas das áreas de Serviço Social, Sociologia e Antropologia seriam positivas na mediação de conflitos – aponta Bernardo Buarque de Hollanda, professor da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas.

Autor do livro Para Entender a Violência no Futebol e professor da Universidade Salgado de Oliveira (Universo-RJ), Maurício Murad cobra planos de ação:

– Primeiro, repressão dentro da lei, para pegar os grupos de vândalos. A médio prazo, prevenção: é isso que está faltando, as polícias se integrarem, se articularem com as universidades que têm pesquisas sobre as torcidas, atacar a questão das redes sociais. Depois, políticas de reeducação, mudando a cultura das organizadas, fazendo parcerias para isolar os vândalos.

Em 2012, o Brasil conquistou o nada honroso primeiro lugar no ranking mundial de mortes comprovadamente por conflitos de torcida: foram 23 no total. Noventa por cento dessas mortes, conforme Murad, se deram fora do estádio. Uma estratégia para estancar a violência seria adotar torcida única, já comum na Argentina (veja quadro na página 5).

– No Brasil, começaram em Curitiba, mas logo voltaram da decisão. Em Minas Gerais, não impediu ataques de cruzeirenses a atleticanos, e vice-versa, nas vias de acesso – aponta Buarque de Hollanda.

Na tarde de hoje, às 17h, uma reunião entre representantes da Secretaria da Segurança Pública e da BM e os presidentes Fábio Koff e Giovanni Luigi pode mudar o rumo do Gre-Nal. Após a repercussão da decisão por torcida única, a Brigada aguarda medidas de Inter e Grêmio para avaliar uma mudança de posição.

– Vamos verificar se os clubes têm algum fato novo que possa fazer a BM reverter essa decisão, sempre pensando na segurança de todos – afirmou o coronel Silanus Mello, subcomandante geral da corporação.

Pode ser a última chance para que o azul volte a ficar um pouco mais perto do vermelho. E vice-versa.

PEDRO MOREIRA


Colorados pretendem ingressar na Justiça

Caso a orientação da Brigada Militar de Gre-Nal com torcida única seja mantida, um grupo de pelo menos 400 colorados ingressará na Justiça – contra o Grêmio.

Na ação cautelar coletiva, os torcedores do Inter alegarão que a direção gremista estará descumprindo o Estatuto do Torcedor e o regulamento do Brasileirão se não colocar os bilhetes à venda para os colorados a partir de hoje, três dias úteis antes do clássico. Eles pedirão 1% da carga de ingressos (600 unidades).

– Nossa ação será contra o Grêmio porque eles não estão impedidos de vender ingressos para a torcida do Inter. Como não há segurança para o clássico? Então o Grêmio jamais poderá receber um jogo grande na Arena, contra um time de massa? A Geral briga e nós, colorados, seremos os punidos? Por quê? – questiona André Flores, um dos autores da ação.

Segundo Flores, há muitos gremistas apoiando tal medida, pois temem que um precedente seja aberto com o Gre-Nal de apenas uma torcida:

– Se essa determinação de apenas uma torcida for mantida, o Gre-Nal estará mudado para sempre. Isso é grave. Estamos lutando contra um futuro nebuloso.

Além da ação judicial, que pretende obrigar o Grêmio a vender ingressos ao menos para os colorados autores da ação, Flores avisa que o grupo quer encaminhar a denúncia ao STJD.

– Não temos medo de ir à Arena, mesmo que a Brigada Militar não garanta a segurança. Queremos, sim, assistir ao Gre-Nal. É direito nosso poder ver o Inter no clássico.

LEANDRO BEHS



DIOGO OLIVIER

Derrota histórica

Não condeno a decisão da BM. Sei que é quase assinar a rendição para os fascistas do futebol, mas prefiro isso a colocar em risco crianças e cidadãos saudáveis. E se uma briga destas se generaliza e sai dos guetos onde sempre começa? E se gremistas e colorados se pegam no entorno da Arena com famílias inteiras circulando? Porque é assim nos estádios padrão Fifa: as pessoas andam livremente por todos os cantos.

Sem falar que ao lado tem o Trensurb, velha zona de guerra da imbecilidade, inclusive com histórico de depredações ao patrimônio público. Dá saudade daqueles Gre-Nais de duas torcidas, metade vermelha, metade azul, em que o sujeito podia até errar o portão. Ele teria a mãe aclamada, talvez até tomasse banho com líquido amarelado suspeito, mas chegaria são e salvo ao seu local no estádio. Hoje, seguiria direto para o hospital ou cemitério.

O Gre-Nal de torcida única seria derrota histórica. Um soco na boca do estômago da civilidade. Mesmo que seja revertida, a sugestão da BM deve motivar debate sério, capaz de nos fazer virar o jogo contra a violência, quem sabe com os próprios clubes punindo seus arruaceiros em vez de lavar as mãos e atirar tudo nas costas dos órgãos de segurança.

Caiu um butiá do bolso aqui

Só 10% de espaço para a torcida adversária, como manda a lei, e menos do que isso, como vem sendo praticado há algum tempo, já não é quase torcida única mesmo? Não entendo o motivo para tanto discurso magnânimo agora.



terça-feira, 30 de julho de 2013

QUERIDOS E BANDIDOS

ZERO HORA 30 de julho de 2013 | N° 17507

WIANEY CARLET


Faço um apelo para que as torcidas organizadas do Grêmio, a Geral fora, abandonem suas posições civilizadas e comecem a criar confusões que exijam a interferência da Brigada Militar. Com o seu bom comportamento, as organizadas estão deixando os queridinhos da Geral em má situação no seu permanente e justo enfrentamento com os bandidos fardados. Sim, porque a cada novo episódio de desordem os brigadianos são colocados como as forças do mal atacando os meninos do bem que vão ao estádio apenas para torcer pelo seu time. É preciso muita caradurice para colocar os bagunceiros na posição de vítimas e os policiais como prevalecidos impiedosos. Não se devem aplaudir as imagens que mostram vários brigadianos batendo no gauchinho, como aconteceu domingo. É tão reprovável como ver centenas de “corajosos” torcedores pressionando meia dúzia de soldados. Está na hora de as demais torcidas organizadas produzirem confusões. Assim como está, vai parecer que só a turminha da Geral bagunça o coreto. Ou, esta torcida é perseguida pelo azar. Sempre ela, tadinha!

Anjo de bombachas

Qualquer torcedor sabe que é proibida a entrada de bandeiras com mastros nos estádios. Qual será o papel de uma muleta à qual está amarrada uma bandeira? Não será um mastro? Claro, é isso mesmo. As imagens que mostram brigadianos retirando o gauchinho para fora do estádio e mais tarde batendo no mesmo quando já estava caído não vem acompanhadas de sons. O que teriam dito soldados e torcedor? Se este acatou a ordem de deixar o estádio sem reagir com gestos ou palavras e mesmo assim foi surrado, é preciso interditar os brigadianos. Mas alguém acredita que nada motivou a violência policial? Que a reação da BM foi gratuita, sem motivo algum? Embora a covardia seja sempre injustificável.

Gre-Nal

Será decidido esta tarde se o Gre-Nal do próximo domingo terá duas ou apenas uma torcida? Se for apenas uma, o clássico já perderá 50% da sua beleza. Porém, se as duas torcidas estiverem na Arena, dá para apostar que haverá provocações, brigas e, quem sabe, gente machucada. Perguntinha: não seria possível a BM se organizar para, em caso de conflito, isolar os baderneiros e levá-los para uma curta temporada no Presídio Central? Três dias naquele inferno bastariam.

TORCIDA EM XEQUE. HOOLIGANS VENCEM

ZERO HORA ONLINE - 30/07/2013 | 16h20

Gre-Nal 397

MP acata decisão da Brigada Militar e clássico com torcida única está confirmado. Procurador Gustavo Munhoz ressaltou que decisão foi baseada em levantamento técnico



Só a torcida do Grêmio terá acesso ao clássicoFoto: Diego Vara / Agencia RBS


Após ser comunicado pela Brigada Militar da recomendação da corporação de permitir apenas a entrada da torcida do Grêmio no Gre-Nal do próximo domingo, na Arena, o Ministério Público do Rio Grande do Sul acatou a decisão. Com isso, fica confirmado que os torcedores colorados não terão acesso ao clássico.

Em entrevista coletiva, o procurador Gustavo Munhoz, do MP, afirmou que não há como contestar a decisão da Brigada, já que foi tomada com base em um levantamento técnico.

A Brigada Militar decidiu recomendar torcida única no clássico após reunião na manhã desta terça-feira. Será a primeira vez na história dos Gre-Nais que uma das torcidas não poderá ingressar no estádio.


ZERO HORA 30 de julho de 2013 | N° 17507

GRE-NAL. Torcida em xeque

Brigada decide hoje se o Gre-Nal 397, na Arena, terá colorados ou apenas gremistas. Incidente do domingo deve influenciar a definição



Gre-Nal de torcida única ou com número limitado de colorados. Uma das duas posições será anunciada hoje, após reunião entre o Comando do Policiamento da Capital (CPC) e o Batalhão de Operações Especiais (BOE).

Embora não seja admitido de forma pública, o tumulto de domingo, antes de Grêmio x Fluminense, envolvendo a Geral, irá influenciar na decisão da BM. Não se descarta diminuição dos 2 mil ingressos inicialmente reservados ao Inter.

Um dos temores da Brigada Militar é quanto a depredações, que costumam ser provocadas por torcedores visitantes. Estádio novo e com cadeiras luxuosas, a Arena seria um alvo ainda mais atraente para eventuais vândalos.

– Também sou um esportista, gosto de frequentar estádios. É uma decisão dificílima (permitir ou não torcedores visitantes) – admite o chefe do CPC, coronel João Diniz Godoi.

Baseado no Estatuto do Torcedor, o Inter estuda pedir 6 mil bilhetes – ou seja, 10% da capacidade do estádio.

Outra preocupação do Inter é sobre o deslocamento dos torcedores até a Arena. As organizadas iriam de ônibus de locação própria, com escolta policial, e ingressariam no estádio pelo portão 6, abaixo da esplanada, sem contato algum com os gremistas.

ADRIANO DE CARVALHO E LUÍS HENRIQUE BENFICA


Conselheiro e hooliganismo

O possível envolvimento de um conselheiro no tumulto é analisado internamente pelo Grêmio. A BM teria feito a identificação e diz esperar providências por parte do clube. Em caso de confirmação, a sanção seria a exclusão do Quadro Social e do Conselho Deliberativo.

Por meio de imagens e documentos, a Brigada pretende mostrar que os confusões verificadas na Geral caracterizam hooliganismo, a exemplo do que ocorria no Reino Unido. O material será encaminhado ao Ministério Público e poderá resultar em ação judicial.

– Nada temos contra a Geral, mas, sim, contra os baderneiros que se escondem dentro dela – protesta uma fonte da BM.


BRIGADA TEME QUE SE CRIE UM MÁRTIR

Comando da Capital abre investigação sobre a conduta dos policiais envolvidos em tumulto com torcedores na Arena. Mas alerta: “Geral exige muita atenção”

A Brigada Militar instaurou um inquérito para investigar as circunstâncias que envolveram a retirada do torcedor Juliano Franczak do interior da Arena, domingo, durante o jogo entre Grêmio e Fluminense. Conhecido como Gaúcho da Geral, Franczak foi arrastado por brigadianos e atingido com golpes de cassetete, cena que ganhou as redes sociais e provocou uma avalanche de protestos.

Não está descartada uma punição ou o afastamento temporário dos policiais militares envolvidos na confusão.

Chefe do Comando do Policiamento da Capital (CPC), o coronel João Diniz Godoy entende que ações de retirada de torcedores precisam ser muito bem estruturadas e não podem envolver um número reduzido de brigadianos:

– Essa torcida (a Geral) exige muita atenção, por sua história de beligerância e animosidade. Temos que cuidar para que ninguém fique como mártir.

O conflito ocorreu antes do início do jogo. Segundo o major Francisco Vieira, subcomandante do Batalhão de Operações Especiais (BOE), um torcedor da Geral tentou impedir a retirada de Franczak. Ao tentar subir com o detido, os policiais foram empurrados para a parte inferior da arquibancada.

– No portão de acesso ao campo, funcionários da Arena levaram pontapés e um deles quase teve a mão quebrada – relata Vieira.

O major não considera correta a forma como o torcedor foi levado ao Juizado Especial Criminal (Jecrim):

– A imagem é clara, fala por si só. Não é o papel da BM. Aquele procedimento não é o correto. Vamos instaurar uma investigação para saber o motivo que os levou a fazer aquilo.

Grêmio será interlocutor entre a Geral e a Brigada

Responsável pelo relacionamento entre a direção do Grêmio e as torcidas organizadas do clube, o vice-presidente Nestor Hein pretende trabalhar para diminuir “o clima de tensão vivido pela Geral e Brigada Militar”.

Domingo, recém-chegado de Buenos Aires, o dirigente repetiu o que havia feito no jogo contra o Botafogo, dia 14, e assistiu do espaço da Geral a Grêmio e Fluminense. Pela versão de Hein, o descontrole teve início quando um torcedor xingou os policiais que retiravam o chamado Gaúcho da Geral e foi golpeado com um cassetete:

– Até então, tudo estava normal. A BM pediu que ele descesse do guarda-corpo e foi atendida. Os policiais sequer o seguraram. A confusão começou quando um torcedor xingou.

Para Hein, há erros de parte a parte. Na sua opinião, o mais importante, a partir de agora, é agir para que a situação se normalize, e o Gre-Nal de domingo, na Arena, transcorra em paz.

– Não serei eu o detrator da Brigada. Vou me encontrar com o comando para tentar intermediar – afirma.

luis.benfica@zerohora.com.brLUÍS HENRIQUE BENFICA

BM RECONHECE ERRO DE PMS EM ABORDAGEM

ZERO HORA 29 de julho de 2013 | N° 17506

BM reconhece erro de PMs em abordagem na Arena


Antes de a bola rolar ontem, houve nova confusão no setor da Geral. O tumulto começou depois que policiais militares se deslocaram até o local para uma abordagem ao torcedor Juliano Franczak, conhecido como Gaúcho da Geral – ele costuma assistir aos jogos sempre pilchado. Montado no parapeito da barra da mureta de contenção, esse torcedor usava uma muleta como mastro para uma bandeira.

Enquanto os policiais retiravam Franczak do local, um grupo reagiu e partiu para cima dos PMs. Um vídeo divulgado nas redes sociais no final da noite de ontem mostra o Gaúcho da Geral sendo atingido pelas costas com socos e golpes de cassetete antes de ser arrastado por uma das pernas na direção de um túnel de saída do campo.

Sub comandante do Batalhão de Operações Especiais (BOE), o major Francisco Vieira admitiu que a conduta dos policiais não foi correta e que os policiais podem ser punidos:

– A imagem fala por si só. Não é o padrão da Brigada. Vamos instaurar um processo investigativo para saber o que levou os policiais a fazerem aquilo.

Franczak foi conduzido ao Juizado Especial Criminal (Jecrim) e assinou termo circunstanciado por conduta incoveniente. O episódio será registrado na súmula e poderá ocasionar a perda de mando de campo ao Grêmio.

– Todos perguntaram por que estavam tirando o “gaúcho”. Os brigadianos começaram a se irritar. Daí tocaram spray de pimenta. Eles me retiraram e um PM começou a me bater, eu caí no chão e me puxaram pela perna – disse Franczak.