quinta-feira, 21 de março de 2013

O PULA-CATRACA


ZERO HORA 19/03/2013 | 21h35

Drible na Justiça
O pula-catraca: como o infrator invadiu a Arena em jogo da Libertadores. Proibido de entrar no estádio, Molejo deveria se apresentar à polícia na hora dos jogos


Paulo Roberto Rodrigues Oliveira, o Molejo, pulou a catraca da Arena na partida contra a LDUFoto: Reprodução


Paulo Germano



– Tem gente pulando catraca! – anunciou o major Mário Augusto ao receber a notícia pelo rádio.

Ele comandava um pelotão de 20 PMs dentro da Arena, e ainda faltava uma hora para o Grêmio entrar em campo para encarar a LDU, pela Libertadores, naquela noite de quinta-feira, 31 de janeiro. Não demorou muito para uma pancadaria começar nas arquibancadas, onde integrantes da torcida Geral começavam a se instalar. Foi quando o major recebeu outra mensagem no rádio - o interlocutor também era um PM, sentado em uma sala restrita do estádio, observando as câmeras de vigilância que registravam o tumulto.

– Um dos caras que pularam a catraca está no meio da briga – disse o homem da salinha. – Aliás, ele é um dos proibidos de entrar no estádio, nem poderia estar aqui.

Era Paulo Roberto Rodrigues Oliveira, o Molejo, protagonista da imagem publicada nesta quarta na capa de Zero Hora. Assim como outros 30 torcedores envolvidos em um tumulto na semana anterior, Molejo deveria se apresentar à polícia sempre que o Grêmio jogasse em Porto Alegre. Mas, não contente em desrespeitar a ordem da Justiça, ele ainda invadiu a Arena por cima da roleta. E já se meteu a brigar de novo.

O pelotão do major Mário Augusto, situado à beira do gramado, avançou unido em direção à baderna. Quando os 20 PMs se aproximaram, conforme conta o soldado Júnior Paiva, Molejo agarrou a mão da namorada (por mais estranho que possa parecer a namorada estar por ali) e virou as costas. Saiu caminhando tranquilamente, subindo as arquibancadas. Já com as algemas na mão, perto das lancherias, o soldado Paiva o abordou:

– O senhor está preso e sabe por quê.

– Desculpa, não deveria ter vindo. Me dá uma força – teria dito Molejo, de acordo com o soldado.

Sem chance. A namorada ficou para trás, já o PM e o infrator se encaminharam ao posto do Juizado Especial Criminal (Jecrim) situado dentro da Arena. Havia muita gente no Jecrim, e até encaminhar toda a papelada, só no final do jogo eles sairiam de lá. Enquanto isso, no gramado, Elano marcava o gol do Grêmio contra a LDU - e o alambrado do setor da Geral desabava com a avalanche, ferindo oito torcedores.

Jogo encerrado, Grêmio classificado, o soldado Paiva enfim conseguia uma viatura para encaminhar Molejo à delegacia, onde seria lavrado o flagrante por desobediência. De novo, muita gente na fila. Passava das três da manhã quando o delegado de plantão — que ZH não conseguiu localizar — atendeu à ocorrência. O flagrante, segundo Paiva, não foi registrado por opção do delegado.

Molejo foi liberado e, ainda de acordo com o soldado, tomou um táxi da delegacia e retornou à Arena para buscar seu carro. Nesta terça, ZH tentou ouvi-lo, mas ele evitou falar. Já Paiva, naquele dia, retornou ao quartel para largar seus equipamentos. O soldado teria apenas três horas para dormir: um plantão de 24 horas começaria dali a pouco, às oito da manhã.

HOOLIGANS IGNORAM ORDEM JUDICIAL

ZERO HORA 19/03/2013 | 04h01

Drible na Justiça - parte 2

Dos 31 gremistas proibidos de frequentar estádios, 27 ignoram ordem judicial. Torcedores deveriam se apresentar à polícia no horário dos jogos, mas um deles chega a pular uma catraca para invadir a Arena



Banido dos jogos do Grêmio, Paulo Roberto Rodrigues Oliveira é flagrado pulando catraca da ArenaFoto: Reprodução

José Luís Costa e Paulo Germano


O homem que pula uma catraca da Arena na imagem acima, indiferente ao clamor dos funcionários, é Paulo Roberto Rodrigues Oliveira — um dos 31 gremistas proibidos pela Justiça de frequentar estádios.

Envolvidos na pancadaria que antecedeu o jogo entre Grêmio e Canoas, em 24 de janeiro(assista ao vídeo abaixo), Paulo Roberto e os demais infratores deveriam se apresentar em postos policiais sempre que seu time jogasse em Porto Alegre. Mas, já na semana seguinte ao tumulto, quando o Grêmio enfrentaria a LDU na primeira partida com entrada proibida para os brigões, Paulo Roberto foi à Arena. Como se não bastasse, invadiu o estádio sem pagar ingresso. E foi flagrado pelas câmeras de vigilância.



Esse desdém às autoridades — somado à guerra pelo comando da Geral, principal torcida organizada do Grêmio — provoca episódios frequentes de brutalidade em dias de jogos. Conhecido como Molejo, Paulo Roberto é um dos principais companheiros de Cristiano Roballo Brum, o Zóio, número 2 na hierarquia da Geral que tenta derrubar o líder maior da torcida, Rodrigo Rysdyk, o Alemão.

Foi essa rivalidade que deflagrou a série de quebra-quebras iniciada na inauguração da Arena, em dezembro passado, e desdobrada antes do jogo do Grêmio contra o Canoas, no mês seguinte. Na partida contra a LDU, Paulo Roberto, o Molejo, foi detido por PMs após pular a catraca da Arena. Uma ocorrência por conduta inconveniente e desobediência foi registrada — mas, como os delitos são de baixo potencial ofensivo, ele foi logo liberado.

— Não tenho nada a declarar sobre isso — disse o infrator a Zero Hora.

Mesmo depois do flagrante, em apenas um dos cinco jogos seguintes do Grêmio em Porto Alegre Molejo cumpriu a ordem judicial de se apresentar no 1º Batalhão de Polícia Militar.Juíza ameaça prender quem seguir descumprindo a medida

Passado um mês e meio do tumulto antes do jogo entre Grêmio e Canoas, no Estádio Olímpico, nada menos que 27 dos 31 torcedores proibidos de frequentar partidas ignoram a determinação da Justiça.

Contrariada com o histórico de impunidade que conforta os brigões — eles devem se apresentar à polícia por pelo menos seis meses, sempre que o Grêmio jogar em Porto Alegre, mas apenas quatro obedecem —, a juíza Lisiane Barbosa Carvalho, do 1º Juizado Especial Criminal (Jecrim), notificou os torcedores neste mês: quem continuar descumprindo a medida pode acabar preso.


Pancadaria antecedeu Grêmio x Canoas Foto: Reprodução

Entre os proibidos de entrar nos jogos, há casos quase tão grotescos como o da foto acima, em que Paulo Roberto Rodrigues Oliveira, não contente em desprezar a Justiça, ainda pula uma catraca da Arena para invadir o estádio. Um exemplo é Douglas Oliveira, integrante da torcida Máfia Tricolor que cumpre prisão domiciliar por roubo. Portanto, ele está proibido de sair de casa à noite — o que não o impediu de se envolver na briga de 24 de janeiro, quando o Grêmio enfrentou o Canoas às 19h30min.

— Sim, eu deveria mesmo estar em casa. Mas tenho cumprido minha pena normalmente. Foi um caso isolado — afirmou Douglas a ZH.

Nos seis jogos depois da briga, em nenhum deles Douglas compareceu à 2ª Delegacia da Polícia Cívil de Porto Alegre, conforme ordenou a Justiça. Segundo ele, a carga horária no açougue onde trabalha o impossibilita de cumprir a medida. Douglas garante que, no dia do tumulto, os seis torcedores da Máfia Tricolor detidos pela Brigada Militar apenas "se defenderam" de um ataque.

Houve duas brigas naquela ocasião: a primeira envolveu a Máfia e a ala da Geral liderada por Cristiano Roballo Brum, o Zóio — homem que liderou a pancadaria na inauguração da Arena em dezembro, atualmente também proibido de frequentar partidas. O segundo tumulto, bem maior, foi mais um confronto entre os dois grupos que guerreiam pelo comando da Geral. Naquele mesmo mês, Zóio teria invadido e depredado a casa de Alemão, seu principal inimigo, conforme ocorrência registrada pelo último.

O número de brigões se apresentando à polícia no horário dos jogos é tão minguado que a juíza Lisiane, do 1º Jecrim, ameaçou levar 25 deles à prisão por "desobediência à ordem judicial" caso a indiferença prossiga. Em seu despacho, ela se mostrou intolerante com infratores que tentam apagar faltas apresentando justificativas pouco convincentes. A magistrada classificou como "esdrúxula" a alegação de Carlos Augusto Caloghero, que é conselheiro do Grêmio e aliado de Alemão — sim, a Geral já conseguiu eleger sete conselheiros —, que afirmou em documento ser dono de um bar, sempre aberto em dias de jogos.

De acordo com a juíza, se ele precisa ficar no bar, como foi ao jogo no dia da briga?



O QUE DIZEM OS INFRATORES



Alex Sandro Verli Vieira - "Fui detido por causa do meu apelido (Sarrafo). O policial me reconheceu dos tempos em que eu fazia parte da (torcida) Super Raça, e fui levado com os que brigaram. Meu advogado disse que eu deveria me apresentar no horário dos jogos, mas, me apresentando, estarei assinando um atestado de culpa."

Amadeus Peres Schwerner - "Não tenho nada a declarar. Estou conversando com meu advogado."

Bruno Pisoni Garcia - ZH telefonou mais de 10 vezes para o seu celular, mas ele não atendeu.

Cândido Roberto Jardim   - "Prefiro não falar."

Carlos Augusto Caloghero - "Eu não estava brigando, a polícia me abordou em uma segunda turma. Eu estava sujo nas costas, era um dia de chuva, e os PMs disseram que eu tinha rolado no chão. Entrei com uma justificativa (rejeitada pela Justiça) dizendo que seria impossível me apresentar à polícia porque tenho um bar, trabalho à noite."

Cristian Mendes Borges - "Sou presidente da Máfia Tricolor e, sempre que vamos pegar nossos ingressos, integrantes da Geral nos atacam. Não estou me apresentando à polícia no horário das partidas porque acho injusto parar de frequentar jogos por isso. Sou presidente da torcida, não posso deixar de ir aos jogos."

Cristiano Roballo Brum, o Zóio - ZH telefonou para o seu celular, mas a pessoa que atendeu informou que o número não é mais dele.

Darcy Ezequiel Machado Ribeiro - "Não tenho comparecido à polícia no horário dos jogos porque trabalho à noite, tenho uma lancheria. Não participamos da briga: nós, da Máfia, fomos alvos de integrantes da Geral que vieram para cima da gente. Na audiência do próximo dia 25 (marcada pelo juiz Amadeo Ramella Buttelli, do 2º Jecrim, responsável pelos torcedores da Máfia), vou explicar por que não estou comparecendo."

Diego da Costa Oliveira - "Não tenho me apresentado (à polícia) porque trabalho à noite. Nem estou indo a jogos. Aquele jogo (quando houve a briga) era em um fim de semana. (Na verdade, era uma quinta-feira.) Vou levar atestados ao foro e justificar minhas ausências."

Douglas de Oliveira - "Naquele dia (da briga), membros da Geral nos atacaram, e nós, da Máfia, apenas nos defendemos. Não compareço à polícia em dias de jogos porque saio do trabalho às 21h30min, sou açougueiro. Cumpro prisão domiciliar por roubo e, de fato, não poderia estar no jogo naquele dia da briga. Mas foi um caso isolado."

Gustavo Diehl Stoffel - "Quando a briga estourou, eu estava me retirando daquele local. Saí correndo e fui pego por policiais que montaram uma barreira para abordar todo mundo. Não me apresento à polícia porque não estava brigando — e porque trabalho como bartender à noite. Não tenho mais ido a jogos."

João Caetano Spath Borges - "Tentei justificar minhas três ausências na polícia em dias de jogos, porque estava trabalhando, mas a juíza rejeitou. Então, no último jogo, compareci normalmente, mesmo sem qualquer envolvimento na briga. Eu estava a caminho do estádio, e os PMs me pegaram próximo de onde ocorreu o tumulto."

Lucas Guarda de Aquino - "No vídeo publicado no site de ZH, eu apareço no pátio do estádio, enquanto a briga ocorre do lado de fora. Quando o tumulto terminou, saí do estádio para procurar um amigo, e aí os PMs me prenderam sem me perguntar nada. Não tenho me apresentado porque fiquei muito nervoso, mas quero resolver isso."

Nauro da Silva Bitencourt - "Não sou de torcida organizada, não sou marginal, não participei de briga nenhuma. Mesmo assim, só duas vezes deixei de comparecer à polícia no horário dos jogos, e tenho atestados para justificar as ausências."

Paulo Roberto Rodrigues Oliveira - "Não tenho nada a declarar."

Stefano Caloghero Machado - "Nos seis jogos depois da briga, não me apresentei à polícia em apenas dois, porque estava trabalhando. Mas a juíza rejeitou minha justificativa, então voltei a me apresentar no último jogo, deixei de trabalhar. Não briguei em nenhum momento. Eu estava apenas próximo da situação, mas quero cumprir tudo."

Vagner de Souza Fagundes - "Fui àquele jogo com meu filho de 13 anos, e o tumulto estourou bem perto da gente. Quando começou a correria, não vi mais meu filho. Ele tinha saído correndo. Fiquei parado, tentando encontrá-lo, mas a Brigada me pegou, depois me bateu com cassetete. Não vou cumprir punição por algo que não fiz."

Não foram localizados: Anderson Adalberto dos Santos, César Augusto Maciel da Silva Filho, Eduardo Feversani Prolo, Fabio Roberto Pauletto, Gabriel Nunes Miranda, Juliano Pires Ferreira, Lucas Barreto Silveira Villegas, Lúcio Mauro de Oliveira Melo, Luís Eduardo Santana da Silva, Marcelo Barbete Rodrigues e Maximiliano Pires Ferreira



Promotor, sobre torcedores que descumprem ordem judicial: "A prisão preventiva pode ser decretada". Carlos Odone comentou sobre caso de gremistas que deveriam se apresentar à delegacias em dias de jogos

Paulo Germano


Promotor do 1º Juizado Especial Criminal, Carlos Odone atua no caso dos brigões que deveriam se apresentar à polícia sempre que o Grêmio jogasse em Porto Alegre. Apenas quatro entre 31 infratores cumprem a medida.

Zero Hora — O que fazer para os infratores cumprirem as ordens da Justiça?

Carlos Odone — Solicitamos à juíza (Lisiane Barbosa Carvalho) o agravamento da medida, e ela acolheu. Ou seja, quem seguir descumprindo a determinação deverá se apresentar (à polícia, no horário dos jogos do Grêmio em Porto Alegre) por um período de oito meses, e não mais por seis meses. A juíza, além de aceitar nosso pedido, acrescentou outra questão: quem seguir descumprindo a ordem poderá ter a prisão preventiva decretada.

ZH — Para quem descumpre a medida, faz alguma diferença se o período for de seis ou oito meses?

Odone — Talvez não, nada garante que vão cumprir. Mas é uma medida agravadora. Até acho que, se eles não vêm cumprindo, não fará diferença nenhuma se aumentarmos de seis para oito meses. Mas, quando se fala em prisão preventiva, eles podem repensar.

ZH — Por quanto tempo eles ficariam presos?

Odone — Não existe uma previsão. A prisão preventiva pode se estender até o julgamento do processo. Mas, se o preso entrar com um habeas corpus, o tribunal pode revogar a prisão a qualquer momento. O que estamos fazendo é uma inovação, porque alguns juízes entendem que, nesses casos de crimes com baixo potencial ofensivo, não cabe a prisão preventiva. Mas nós entendemos que a prisão pode ser decretada por descumprimento de ordem judicial.

ZH — Digamos que eles sejam soltos pelo tribunal e, ao continuar descumprindo a medida, sejam condenados. O que ocorrerá com eles?

Odone — Sofrerão pena de multa ou prestação de serviços. São crimes pequenos.

ZH — Essa pena branda não estimula a sensação de impunidade entre os brigões?

Odone — Nós temos limitações, e a pena é a primeira delas. Daria para fazer muito mais se a lei fosse diferente, mas estamos tentando tomar a medida mais dura possível, que é a prisão preventiva. Mas o infrator pode, após a condenação, se sentir à vontade para voltar a delinquir? Bom, isso pode.


terça-feira, 19 de março de 2013

BRIGA DE TORCEDORES NA ARENA

AUTOR: ZERO HORA

25/01/2013 às 21:16

Morador flagra briga de torcedores do Grêmio

O confronto flagrado antes do jogo com o Canoas, realizado no estádio Olímpico nesta quinta, terminou com a detenção de 32 torcedores gremistas. Eles terão que ficar seis meses afastados dos jogos do Grêmio que serão realizados em Porto Alegre

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O DEBOCHE DOS BRIGÕES DE ESTÁDIO


ZERO HORA 19 de março de 2013 | N° 17376

DRIBLE NA JUSTIÇA - PARTE 2


O homem que pula uma catraca da Arena na imagem ao lado, indiferente ao clamor dos funcionários, é Paulo Roberto Rodrigues Oliveira – um dos 31 gremistas proibidos pela Justiça de frequentar estádios.

Envolvidos na pancadaria que antecedeu o jogo entre Grêmio e Canoas, em 24 de janeiro, Paulo Roberto e os demais infratores deveriam se apresentar em postos policiais sempre que seu time jogasse em Porto Alegre. Mas, já na semana seguinte ao tumulto, quando o Grêmio enfrentaria a LDU na primeira partida com entrada proibida para os brigões, Paulo Roberto foi à Arena. Como se não bastasse, invadiu o estádio sem pagar ingresso. E foi flagrado pelas câmeras de vigilância.

Esse desdém às autoridades – somado à guerra pelo comando da Geral, principal torcida organizada do Grêmio – provoca episódios frequentes de brutalidade em dias de jogos. Conhecido como Molejo, Paulo Roberto é um dos principais companheiros de Cristiano Roballo Brum, o Zóio, número 2 na hierarquia da Geral que tenta derrubar o líder maior da torcida, Rodrigo Rysdyk, o Alemão.

Foi essa rivalidade que deflagrou a série de quebra-quebras iniciada na inauguração da Arena, em dezembro passado, e desdobrada antes do jogo do Grêmio contra o Canoas, no mês seguinte. Na partida contra a LDU, Paulo Roberto, o Molejo, foi detido por PMs após pular a catraca da Arena. Uma ocorrência por conduta inconveniente e desobediência foi registrada – mas, como os delitos são de baixo potencial ofensivo, ele foi logo liberado.

– Não tenho nada a declarar sobre isso – disse o infrator a Zero Hora.

Mesmo depois do flagrante, em apenas um dos cinco jogos seguintes do Grêmio em Porto Alegre Molejo cumpriu a ordem judicial de se apresentar no 1º Batalhão de Polícia Militar.

Passado um mês e meio do tumulto antes do jogo entre Grêmio e Canoas, no Estádio Olímpico, nada menos que 27 dos 31 torcedores proibidos de frequentar partidas ignoram a determinação da Justiça.

Contrariada com o histórico de impunidade que conforta os brigões – eles devem se apresentar à polícia por pelo menos seis meses, sempre que o Grêmio jogar em Porto Alegre, mas apenas quatro obedecem –, a juíza Lisiane Barbosa Carvalho, do 1º Juizado Especial Criminal (Jecrim), notificou os torcedores neste mês: quem continuar descumprindo a medida pode acabar preso.

Entre os probidos de entrar nos jogos, há casos quase tão grotescos como o da foto acima, em que Paulo Roberto Rodrigues Oliveira, não contente em desprezar a Justiça, ainda pula uma catraca da Arena para invadir o estádio. Um exemplo é Douglas Oliveira, integrante da torcida Máfia Tricolor que cumpre prisão domiciliar por roubo. Portanto, ele está proibido de sair de casa à noite – o que não o impediu de se envolver na briga de 24 de janeiro, quando o Grêmio enfrentou o Canoas às 19h30min.

– Sim, eu deveria mesmo estar em casa. Mas tenho cumprido minha pena normalmente. Foi um caso isolado – afirmou Douglas a ZH.

Nos seis jogos depois da briga, em nenhum deles Douglas compareceu à 2ª Delegacia da Polícia Cívil de Porto Alegre, conforme ordenou a Justiça. Segundo ele, a carga horária no açougue onde trabalha o impossibilita de cumprir a medida. Douglas garante que, no dia do tumulto, os seis torcedores da Máfia Tricolor detidos pela Brigada Militar apenas “se defenderam” de um ataque.

Houve duas brigas naquela ocasião: a primeira envolveu a Máfia e a ala da Geral liderada por Cristiano Roballo Brum, o Zóio – homem que liderou a pancadaria na inauguração da Arena em dezembro, atualmente também proibido de frequentar partidas. O segundo tumulto, bem maior, foi mais um confronto entre os dois grupos que guerreiam pelo comando da Geral. Naquele mesmo mês, Zóio teria invadido e depredado a casa de Alemão, seu principal inimigo, conforme ocorrência registrada pelo último.

O número de brigões se apresentando à polícia no horário dos jogos é tão minguado que a juíza Lisiane, do 1º Jecrim, ameaçou levar 25 deles à prisão por “desobediência à ordem judicial” caso a indiferença prossiga. Em seu despacho, ela se mostrou intolerante com infratores que tentam apagar faltas apresentando justificativas pouco convincentes. A magistrada classificou como “esdrúxula” a alegação de Carlos Augusto Caloghero, que é conselheiro do Grêmio e aliado de Alemão – sim, a Geral já conseguiu eleger sete conselheiros –, que afirmou em documento ser dono de um bar, sempre aberto em dias de jogos.

De acordo com a juíza, se ele precisa ficar no bar, como foi ao jogo no dia da briga?


JOSÉ LUÍS COSTA E PAULO GERMANO





segunda-feira, 11 de março de 2013

A VIOLÊNCIA DAS TORCIDAS

O Estado de S.Paulo 11 de março de 2013 | 2h 09

OPINIÃO

Na quarta-feira, 20 de fevereiro, o boliviano Kevin Douglas Beltrán Espada, de 14 anos, torcedor do San José, foi ao estádio em Oruro para ver jogar os campeões mundiais do Corinthians Paulista. Em meio ao jogo, um sinalizador naval, disparado do outro lado da arquibancada, o matou instantaneamente. A Conmebol, encarregada de organizar o torneio disputado na ocasião, a Taça Libertadores da América, que havia prometido mais rigor na punição à violência, rotineira nas versões realizadas desde 1960, anunciou medidas contra o clube da torcida que disparou o rojão. Suas partidas seguintes em casa passariam a ser jogadas com os portões fechados e não seriam vendidos ingressos a corintianos para jogos fora de casa. O primeiro deles, contra o Millionarios da Colômbia, no Pacaembu, foi jogado num estádio vazio. A pena, porém, foi modificada.

Como foi anunciado na quinta-feira, o time paulista poderá receber os adversários com casa cheia de pagantes, mas sua torcida não será admitida nos países a serem visitados ao longo da competição, a começar do jogo marcado para Bogotá. Seus dirigentes reclamaram da manutenção da punição, mas a verdade é que a entidade responsável pelo torneio exibiu a leniência de sempre. Não seguiu o exemplo de sua congênere europeia, a Uefa, que afastou todos os times britânicos de seus campeonatos por cinco anos - e o Liverpool por seis - depois dos incidentes provocados pelos violentos hooligans na final da Liga dos Campeões em Bruxelas, Bélgica, em 1985, contra a Juventus de Turim, na Itália. Essa punição terminou resultando em benefício do futebol britânico, de vez que hoje os estádios do Reino Unido são dispensados de alambrado e fosso, após também ter sido adotada outra providência: torcedores que participem de conflitos em estádios e seus arredores têm de ir a delegacias e prestar serviços sociais enquanto seus times jogam.

Os brasileiros têm por hábito atribuir aos vizinhos sul-americanos o monopólio da violência em campo e na arquibancada. A verdade, contudo, é que é no Brasil que se produz o maior número de vítimas fatais dentro e nas proximidades de praças esportivas em que são disputadas partidas entre clubes de grandes torcidas. Em 20 de agosto de 1995, uma batalha campal entre as torcidas Mancha Verde, do Palmeiras, e Independente, do São Paulo, no Estádio do Pacaembu, na final da 2.ª Supercopa São Paulo de Futebol Júnior, terminou com a morte de um torcedor, Márcio Gasparin da Silva, de 16 anos, e 104 feridos. Nada aconteceu com os vândalos que participaram do conflito 18 anos atrás. Desde então, muitas tentativas têm sido feitas para evitar a repetição de tragédias como a do Pacaembu e a de Oruro. Gigantescos aparatos policiais são montados para evitar que as torcidas se misturem e até as acompanham em seu trajeto até o local dos jogos.

Numa atitude a ser imitada, a Justiça fluminense decretou a prisão preventiva por homicídio qualificado e formação de quadrilha de 11 torcedores do Flamengo que participaram do massacre do vascaíno Diego Leal, 30 anos, morto a tiros e facadas em briga de torcidas antes do "Clássico dos Milhões" pelo Campeonato Brasileiro em agosto de 2012. Mas esta decisão é incomum, pois, apesar da tecnologia empregada em coberturas de jogos, a polícia e a Justiça têm dificuldades para identificar e incriminar os delinquentes que participam desses crimes bárbaros.

Depois da derrota para o Tigre na Argentina, na quarta-feira passada, torcedores do Palmeiras agrediram o goleiro Fernando Prass e o armador Valdívia no Aeroparque. O novo presidente do clube, Paulo Nobre, anunciou o fim das regalias das torcidas organizadas. É absurdo que tais grupos de bandidos travestidos de apaixonados por futebol tenham regalias - tais como ingressos gratuitos, direito de comercializar produtos com a marca dos times pelos quais dizem torcer e indevida participação na política e na administração dos clubes. É preciso que todos os clubes se unam e deixem de proteger esses bandidos, antes que a violência deles acabe com o negócio do futebol e a paixão dos torcedores.

sábado, 9 de março de 2013

PENA DE MORTE PARA TORCEDORES ENVOLVIDOS EM TUMULTO

O ESTADÃO 09 de março de 2013 | 10h 08

Egito confirma pena de morte a 21 torcedores envolvidos em tumulto. Briga em estádio deixou 72 mortos em 2012; em protesto, torcedores incendiaram prédios

Reuters e Efe



CAIRO - Um tribunal egípcio confirmou neste sábado, 9, sentenças de morte contra 21 torcedores de futebol que participaram de um tumulto no estádio de Port Said no ano passado, em um caso que tem provocado confrontos sangrentos na cidade de Suez.

Oliver Weiken/Efe
Torcedores atearam fogo na sede da Federação Egípcia de Futebol, no Cairo

As 72 mortes no estádio ocorreram em fevereiro de 2012 no final de uma partida entre a equipe Al-Ahly, do Cairo, e o time local Al-Masry, e desde então têm sido motivo de protestos.

A corte, presidida pelo juiz Sobhi Abdelmeguid, ordenou que os condenados sejam enforcados pelos delitos de "assassinato e tentativa de assassinato" em Port Said.

As penas de morte já haviam sido pronunciadas em 26 de janeiro e enviadas ao mufti - máxima autoridade religiosa do Egito - para que ele emitisse sua sentença, embora ainda restasse a confirmação da Justiça.

Além disso, a corte decretou penas de prisão com prazos de um e 15 anos para o restante dos acusados, ao mesmo tempo em que absolveu outras 28 pessoas.

Entre os condenados a 15 anos de prisão estão duas antigas autoridades policiais de Port Said, enquanto outros sete membros da Polícia foram absolvidos.

Protesto. Em reação à decisão da Justiça, torcedores do Al Ahly atacaram e incendiaram o Clube da Polícia, na capital.

Segundo a televisão estatal, milhares de radicais da torcida, conhecido como "Ultras Ahlawy", invadiram o Clube da Polícia e atearam fogo em algumas dependências.

Os bombeiros ainda estão tentando controlar o incêndio, segundo a agência estatal "Mena".

Além disso, alguns torcedores invadiram a Federação Egípcia de Futebol, que está localizada próxima à sede do Al Ahly.

Centenas de torcedores da equipe cairota que se dirigiam através das pontes sobre o Nilo rumo ao centro da cidade, onde ficam a praça Tahrir e o Ministério do Interior, deram meia volta e retornam neste momento à sede do clube.

sexta-feira, 1 de março de 2013

LIMINARES



ZERO HORA 01 de março de 2013 | N° 17358

WIANEY CARLET


Certa vez, comentando a fartura de liminares que estavam sendo concedidas, Ibsen Pinheiro fez uma das suas muitas frases inesquecíveis: “Chegará o dia em que darão liminar contra o por do sol”. Ainda não chegou, mas quase. 

Em São Paulo, quarta-feira passada,10 corintianos solicitaram e obtiveram liminares franqueando-lhes acesso ao jogo do Corinthians que fora punido pela Conmebol a jogar com portões fechados em função da morte do garoto boliviano. Entretanto, dos 10 torcedores favorecidos pela Justiça brasileira, apenas quatro compareceram ao jogo no Pacaembu. Seis preferiram desprezar as liminares conseguidas. 

Ora, só existe uma interpretação para a atitude destes corintianos: deboche contra a Conmebol. Mandaram dizer à entidade sul-americana que a sua punição não alcançaria quem quisesse ignorá-la. Igual desconsideração tiveram, certamente, pela morte do adolescente da Bolívia. 

Será que o juiz que concedeu as liminares não percebeu a manobra daqueles ardilosos torcedores? 

Punir o Corinthians e os torcedores envolvidos no assassinato deveria ser missão de todas as pessoas de bom caráter. Até de juízes.

Avalanche - Se torcedores paulistas foram beneficiados pela Justiça, mesmo se tratando de um caso de revoltante assassinato de um garoto num estádio de futebol talvez seja o caso de os gremistas que são adeptos da avalanche, buscar liberação para a sua brincadeira na Justiça. Pode não ser a mesma coisa, mas bem conversadinho pode parecer que é.

Cerveja - Já recebi mais de 50 correspondências contendo uma foto que mostra um vendedor ambulante de bebidas, na Arena do Grêmio, vendendo cerveja durante o jogo entre Grêmio e LDU, pela Libertadores. Já mandei examinar a foto para apurar se não era montagem. Não era. Como, então, foi comercializada bebida alcoólica dentro do estádio de futebol no Brasil se existe uma lei que proíbe? Como não sou simpatizante desta lei, apenas imagino o prazer de quem desfrutou uma cervejinha gelada enquanto assistia ao jogo do seu time favorito.