domingo, 30 de dezembro de 2012

O QUE EXPLICA A VIOLÊNCIA



ZERO HORA 30 de dezembro de 2012 | N° 17298

FUTEBOL. Disputa por verbas e poder transformaram parte das torcidas organizadas em grupos prontos para a guerra. Especialistas temem que o Brasil passe por um processo de radicalismo, vivenciado pela Argentina e pelo Leste Europeu.

RODRIGO MÜZELL

Cenas recentes como as da briga entre integrantes da Geral do Grêmio na inauguração da Arena ou do tumulto entre a Guarda Popular e a Popular, do Inter, há um ano no Beira-Rio, trouxeram à tona o lado violento das torcidas organizadas.

Formadas pela paixão de torcedores por seus times, grandes torcidas envolvem bem mais do que apenas a festa nas arquibancadas: a disputa por verbas, respeito e proteção em partidas fora de casa são ingredientes explosivos para os conflitos.

Tanto quanto rixas pessoais e rivalidades entre os clubes, o dinheiro movimentado quando as organizações tomam corpo é também motor para os tumultos. Ansiosos por apoio em jogos fora de casa, os clubes fornecem ingressos e ônibus para torcedores acompanharem os times – benefícios que se tornam uma disputada fonte de renda. Em dezembro de 2011, logo após protagonizar um tumulto no jogo de despedida de Fabiano Souza no Beira-Rio, o então líder da Guarda Popular, Hierro, avaliou em R$ 25 mil o movimento mensal:

– É até pouco para o nosso tamanho.

Nos estádios, isso se traduz em tensão permanente entre rivais e até facções de uma mesma torcida. É quando, como comprovado nas imagens da briga na Arena, o jogo e o time ficam em segundo plano. Para o tenente-coronel Kleber Rodrigues Goulart, comandante do Batalhão de Operações Especiais (BOE), a situação entre as torcidas coloradas ficou mais calma após os tumultos do ano passado devido à redução dos benefícios feita pelo Inter – caminho anunciado, agora, pela direção gremista. Para o comandante, se os clubes e torcedores não rejeitarem as práticas violentas das organizadas, o Brasil poderá começar a ver situações como as vividas na Argentina e na Europa:

– Estamos num processo de hooliganismo. Continuando assim, chegaremos ao ponto do Leste Europeu, em que as torcidas são tão poderosas que decidem contratações dos clubes.

Em todo o país, polícias e Ministério Público têm nas organizadas e suas facções uma fonte permanente de dores de cabeça. Apenas em 2012, o MP pediu a suspensão ou extinção de torcidas de Corinthians, Palmeiras e Guarani (São Paulo), Flamengo e Vasco (Rio). Integrante da Comissão Nacional de Prevenção e Combate à Violência em Estádios, o promotor do MP do Rio Pedro Rubim diz que o ciclo de violência se reproduz com rixas que não cicatrizam. Neste ano, por exemplo, após a morte de um flamenguista por torcedores do Vasco, integrantes da Torcida Jovem do Flamengo teriam planejado o revide, que resultou na morte de um vascaíno. E a violência acaba aumentando o cacife das torcidas junto aos clubes, diz o promotor.

– A ideia de que são violentos e irracionais faz com que o dirigente dê apoio, ingressos, patrocínio – explica Rubim, que determinou o fim dos benefícios às torcidas suspensas.

Ao lado, os fatores que fazem das brigas de torcidas mais do que simples arruaça juvenil.


Alianças nacionais. Torcidas se relacionam fora do Estado, mas mantêm a rivalidade Gre-Nal

Na hora de formar alianças com organizadas de outros grandes times brasileiros, as torcidas de Grêmio e Inter permanecem em polos opostos.

Duas alianças nacionais conectam as principais torcidas do Brasil: a União do Punho Cruzado – integrada pela Camisa 12 colorada – e a União Dedo Pro Alto, que conta com Geral e Torcida Jovem, do Grêmio. As duas têm como símbolos gestos com os braços que remetem à violência.

Ter uma torcida coirmã significa oferecer todo suporte quando visitada pela parceira, seja como adversária ou em partidas contra o rival da cidade. Integrantes buscam os colegas no aeroporto ou na rodoviária e os hospedam na própria casa. Churrascos para comemorar a presença da visitante são comuns. No dia do jogo, mesmo que contra o próprio time, há ajuda mútua para estender as faixas nas arquibancadas. Se a partida for na casa rival, os organizados locais tentam escoltar e proteger os forasteiros no estádio. Quando comemoram aniversário, as torcidas enviam passagens para a diretoria da coirmã participar da festa. Bandeiras são trocadas para tremularem em outros Estados – uma forma de expandir a marca nacionalmente.

Essas relações preocupam as autoridades. Pedro Rubim, promotor do Ministério Público do Rio, diz que as alianças podem complicar jogos tranquilos entre times de Estados diferentes – basta que rivais locais se juntem aos forasteiros.

– Se flamenguistas se misturam a torcedores visitantes em uma partida contra o Vasco, a situação fica muito complicada – exemplifica.

No Rio Grande do Sul, a ordem na Brigada Militar é retirar das torcidas de outros Estados qualquer torcedor identificado com o rival local – seja um gremista no Beira-Rio ou um colorado em jogos do Grêmio.

As parcerias não são imutáveis. A Máfia Azul, principal organizada do Cruzeiro, era uma “Punho Cruzado” até 2000, mas uma briga com a Independente são-paulina comprometeu a união. Os paulistas também entraram em conflito, no ano passado, com a Jovem Fla. Mais ampla, a União Dedo Pro Alto congrega torcidas em boa parte do Brasil, que combatem as do Punho Cruzado mas nem sempre têm boa relação entre si. Algumas organizadas se mantêm independentes dessas “ligas” e escolhem pontualmente suas amizades. É o caso de Guarda Popular (Inter), Fanáticos (Atlético-PR) e Gaviões da Fiel (Corinthians).



sábado, 29 de dezembro de 2012

PROFISSÃO: TORCEDOR

ZERO HORA 29 de dezembro de 2012 | N° 17297

CARLOS WAGNER

Flagrado pelas câmeras comandando a briga durante a inauguração da Arena do Grêmio, Cristiano Roballo Brum, 32 anos, o Zóio, afirmou ontem que a pancadaria não tem nada a ver com a disputa interna pelo poder na Geral. Em conversa no Estádio Olímpico (o lugar foi marcado por ele), disse que o vídeo mostra apenas parte do que aconteceu. Zóio nega que tenha começado a briga, mas admite que falhou como líder ao não conseguir encerrá-la.

– A minha presença era para ter acabado com a briga. Mas aconteceu o contrário.

A seguir, trechos da entrevista:

Zero Hora – Qual sua versão sobre o que aconteceu?

Cristiano Roballo Brum, o Zóio – Eu não fui o chefe da baderna. Sou o líder da torcida do Grêmio. Houve uma série de incidentes. O principal deles começou com uma mulher pisando no pé da namorada de um torcedor. Ele não gostou e empurrou a mulher, começando a briga. Naquele dia, eu não estava lá como líder de torcida, estava acompanhado pela minha noiva, o meu filho e outros parentes. E acabei entrando na briga porque não podia permitir aquilo, até porque a pessoa envolvida é um velho conhecido meu, mas tem um longo histórico de perder o controle quando bebe.

ZH – Em duas cenas, o senhor aparece atirando um tambor e dando um pontapé no rosto de um torcedor...

Zóio – Não deveria ter agido assim. Mas agi porque não tive o respeito das pessoas que pensava ter. A minha presença era para ter acabado com a briga. Mas aconteceu o contrário.

ZH – Esta falta de respeito não seria porque a Geral estaria envolvida em uma guerra pelo poder?

Zóio – Não tem nada a ver. Fui para a liderança em 2008 porque o Alemão (Rodrigo Marques Rysdyk) estava enfrentando um processo judicial por racismo. Ele voltou para a liderança. Acho que a torcida não respeitou por outros motivos.

ZH – Como esse episódio repercutiu na sua vida?

Zóio – Eu sei que agi de maneira incorreta. A repercussão na minha vida particular foi horrível. Eu tenho dois filhos e estava no Interior, na casa da minha noiva, quando estourou tudo. Imagina a situação.

ZH – Essa não foi a primeira vez que o senhor se envolveu em brigas no estádio. O senhor respondeu a inquéritos por agressão. Este passado de violência influenciou no que aconteceu?

Zóio – Realmente já aconteceram outras situações. Em algumas delas, sou inocente.

ZH – O senhor responde a processo por tráfico de drogas?

Zóio – Sim, mas não quero falar sobre o assunto porque o processo está em andamento.

ZH – Como o senhor ganha a vida?

Zóio – Temos o negócio próprio da torcida. Vendemos os materiais para ganhar recursos e ganhamos ingressos. A minha vida sempre foi o Grêmio.

ZH – Como foi que entrou para a torcida organizada?

Zóio – Entrei aos 14 anos. Com o meu primeiro emprego, comprei o uniforme (na época, as organizadas eram uniformizadas) e pagava a mensalidade. Logo perdi o emprego, pela dedicação ao time.

ZH – Hoje, o senhor vive do dinheiro que ganha na organizada. Quanto é?

Zóio – Olha, a nossa dedicação é de 24 horas, todos os dias da semana. O que ganho é o suficiente para pagar as duas pensões dos meus filhos e viver uma vida simples. Tenho uma motinho para o meu deslocamento.

ZH – Como vai ser a sua vida daqui para frente?

Zóio – Eu e o Alemão fomos afastados, para o bem do Grêmio.

ZH – E agora, como o senhor vai viver?

Zóio – Nas horas vagas, vou a cursos profissionalizantes e agora vou à luta. É o preço que estou pagando pelo erro que cometi.

ZH – Valeu a pena dedicar mais da metade da vida à torcida organizada? O senhor foi afastado e responde a inquéritos policiais?

Zóio – Valeu a pena. Infelizmente, neste período não tive nenhum título de expressão. Mas ajudei muitas pessoas. Isso me enche de orgulho. Lamentavelmente o que ficou foi o último episódio. O que fiz de bem ninguém lembra. Só veem o mal.

ZH – É possível ser líder de torcida sem se envolver em briga?

Zóio – Desde de 2008, qual foi a grande briga que aconteceu? Nenhuma, porque nós não permitimos.

ZH – Quem assume no teu lugar e no do Alemão?

Zóio – Isso é coisa interna. Logo, vocês vão saber.

ZH – Vocês apoiaram o Paulo Odone nas últimas eleições?

Zóio – Apoiamos o Odone pelo seu trabalho. Está certo que não ganhamos nenhum título. Mas ele não abandonou o clube.

ZH – Isso tem alguma influência sobre o que aconteceu lá na Arena?

Zóio – Não, aquilo lá começou com um pisão no pé.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

BADERNA NA ARENA: PERGUNTAS, RESPOSTAS E VERSÃO DO AGREDIDO

ZERO HORA 28 de dezembro de 2012 | N° 17296

BM ameaça punir a Geral. Polícia estuda proibir instrumentos, bandeiras e trapos da torcida em jogo da Libertadores, em 30 de janeiro

LEANDRO BEHS

A Geral poderá ficar sem os seus instrumentos, bandeiras e trapos para o jogo entre Grêmio e LDU, em 30 de janeiro, na Arena.

Devido à briga de facções da Geral na inauguração do novo estádio, a Brigada Militar analisa a retirada dos acessórios da torcida para a partida de volta da primeira fase da Libertadores. O comando da BM teme que um jogo de alta tensão proporcione cenas ainda mais graves de violência na Arena.

Ainda que haja negativas, o grupo liderado por Cristiano Roballo Brum, o Zóio, e os comandados por Rodrigo Marques Rysdyk, o Alemão, as duas principais lideranças da torcida, estariam em meio a uma disputa de poder pelo comando da organizada e das verbas concedidas pela direção do Grêmio, o que gerou o tumulto do dia 8 de dezembro. Ontem, ZH revelou imagens da briga ocorrida na inauguração da Arena, na qual torcedores se envolveram em uma pancadaria. O comandante da baderna foi Zóio, número 2 da Geral.

– Eles usaram os instrumentos como armas e isso não pode ficar assim. Nos próximos dias, teremos uma reunião para definir os procedimentos a serem adotados para este primeiro jogo grande, de competição mesmo, na Arena. Poderá haver punição às torcidas, sim. E essas sanções ainda estão sob análise – afirmou o coronel Alfeu Freitas, responsável pelo Comando de Policiamento da Capital (CPC).

Além disso, Freitas destaca que as imagens das brigas durante Grêmio e Hamburgo já foram encaminhadas ao Ministério Público. Naquela noite, oito torcedores foram presos e conduzidos ao Juizado Especial Criminal (Jecrim).

Segundo a juíza Viviane de Faria Miranda, titular do Jecrim da Arena na noite de inauguração do estádio, desses oito torcedores, apenas dois não puderam optar pela transação penal e pagar cerca de R$ 300 em cestas básicas (a serem revertidas para o Lar Santo Antônio dos Excepcionais) para serem soltos, pois já tinham antecedentes. Esses dois responderão a processo por tumulto, ainda sem previsão de julgamento. Se condenados, poderão ficar até um ano sem poder comparecer a estádios em dias de jogos. Zóio, responsável pelo começo da briga, não estava entre os torcedores presos.

– Nosso temor com relação à Arena é uma possível invasão de campo, devido à proximidade do gramado. Em um jogo decisivo, tenso, poderá ocorrer um tumulto generalizado. Por isso, estamos de olho nas organizadas do Grêmio. Afora a questão penal, vamos sugerir punições administrativas aos brigões – comentou o coronel Freitas.

A Brigada Militar entende ainda que os jogos do Grêmio na Libertadores, se a equipe passar pela LDU, serão decisivos para a presença das duas torcidas e também das organizadas no primeiro Gre-Nal na Arena (ainda sem data, uma vez que o único clássico garantido até aqui no Gauchão ocorrerá no Colosso da Lagoa, em Erechim, no dia 2 de fevereiro).

– No Brasileirão, recebemos a sugestão de fazer o clássico com torcida única no Beira-Rio (em 26 de agosto, com vitória do Grêmio por 1 a 0), devido às obras do estádio. Conseguimos evitar. Agora, se as organizadas continuarem com esse comportamento, tomaremos outras medidas e até mesmo o clássico com apenas uma torcida e sem organizadas poderá ser analisado – declarou o coronel Alfeu Freitas.



PERGUNTAS & RESPOSTAS

Imagens da briga na Arena mostradas por ZH levantaram questionamentos. Justiça e Grêmio respondem

As imagens de Zóio podem gerar alguma punição ao torcedor?

Conforme a juíza Viviane de Faria Miranda, titular do Jecrim da Arena, não. Apesar das imagens e da violência de Zóio contra outros torcedores da Geral, ele não estava entre os oito presos devido às brigas na arquibancada naquela noite. Assim, não será indiciado pelo tumulto.

A Brigada Militar afirma que a Arena não tem central de monitoramento. Isso é fato?

Segundo Eduardo Antonini, presidente da Grêmio Empreendimentos, a Arena tem central de monitoramento. Ocorre que, no dia da inauguração, nem todas as câmeras estavam funcionando. Por isso, conforme Antonini, a BM precisou complementar. Conforme o dirigente, ao todo, são cerca de 90 câmeras, cinco vezes mais do que a Fifa exige. Cerca de 30 funcionaram na estreia. No Jogo Contra a Pobreza, esse número aumentou. Na partida contra a LDU (dia 30 de janeiro), todas elas já deverão operar, diz Antonini.

Por que todas as organizadas ficam juntas na Arena?

O presidente da Grêmio Empreendimentos destaca que não existe um local específico para as organizadas.

– Como aquele local é o mais barato, porque as pessoas ficam de pé, as organizadas acabam indo para lá. Muitos sócios também ficam naquele setor. A Brigada nos prometeu que estará muito atenta àquela localização. O que aconteceu naquele dia é um grande exemplo de que a atenção precisará ser redobrada – explica Antonini.


A VERSÃO DO AGREDIDO

Por CARLOS WAGNER


O chute que levou no rosto o tornou personagem do episódio que marcou a inauguração da Arena. Com 24 anos, o administrador aparece no vídeo sendo agredido por Cristiano Roballo Brum, o Zóio, número 2 da Geral. Com a condição de não ser identificado, o jovem falou com ZH. Já Zóio, não foi localizado.

Zero Hora – Por que houve a briga?

Agredido – A briga foi uma fatalidade entre pessoas que frequentam a torcida.

ZH – Por que o chute na cara?

Agredido - Não faço ideia. Eu não lembrava do chute.

ZH – Você já conhecia o Zóio?

Agredido – Conheci o Zóio em 2008, na torcida do Grêmio. Estivemos juntos inclusive no Rio de Janeiro, este ano. Nunca tivemos problemas.

ZH – De que grupo você é da Geral?

Agredido – Eu sou sócio e torcedor do Grêmio, frequento o estádio na Geral pelas amizades de infância que tenho e criei através do Grêmio.

ZH – O que você sentiu ao ver sua imagem levando um chute?

Agredido - Não senti nada. A imagem é forte, mas desvio com a cabeça para trás.

ZH – Isso causou algum tipo de transtorno na sua vida pessoal, na família e na vida profissional ?

Agredido – Não causou maiores transtornos. Fico triste pelo tumulto ocorrido. Ainda comentei com familiares e o diretor da empresa em que trabalho para deixar claro o que tinha acontecido e para que não fossem pegos de surpresa por causa das fotos.

ZH – Qual a sua frequência nos jogos do Grêmio?

Agredido – Vou a todos os jogos, inclusive fora de casa quando consigo conciliar com o trabalho e a família.

ZH – A partir da divulgação das imagens, alguém entrou em contato com você? Grêmio, BM, Ministério Público, Polícia Civil?

Agredido –Somente amigos que não sabiam do ocorrido para saber se eu estava bem.

ZH – Por que você não quer se identificar?

Agredido – Para não prejudicar minha vida profissional.



ZERO HORA - DO LEITOR - A guerra na inauguração da Arena do Grêmio

A reportagem “O comandante da baderna na Arena”, do repórter Paulo Germano, publicada ontem nas páginas 4 e 5, mostrando cenas exclusivas da pancadaria na torcida Geral do Grêmio que manchou a inauguração do novo estádio tricolor, em 8 de dezembro, gerou muitas manifestações de leitores. Algumas delas são reproduzidas abaixo:

Não sou defensor de ninguém, mas quero saber qual a fonte (imagens) do repórter. Cada um vê o que quer, e vocês, dessa imprensa de m... que só querem vender (sim, visam ao lucro e não à informação), deduzem o que querem. E se o cara foi ameaçado e se quem começou foi outra torcida? Acusarem alguém assim de imediato? A imparcialidade é tanta, que o repórter não percebeu que a grande maioria queria finalizar a briga. Não leve pelo pessoal, mas não confio na imprensa com formadores errados de opinião. Brizio Gimenes

Essa baderna deveria estar na página policial. Os jornalistas da RBS são tão baba-ovos do chefe que desconhecem um dos mandamentos da imprensa, que é a imparcialidade. Nos últimos anos, que o time das elites e da RBS não ganha nada, a baixaria vira notícia de primeira página. Claudio Viecili

Parabenizo pela excelente reportagem sobre a Geral do Grêmio. Sou sócio e me encaixo naquele grande grupo de torcedores que assistem a jogos na Geral e nunca se meteram em confusão. João Júlio Gomes

Trata-se de uma reportagem com grande apelo de utilidade pública, que deverá (mais uma vez!) sensibilizar as autoridades para o risco que representam esses marginais travestidos de torcedores. São baderneiros sustentados pelos próprios clubes, o que por si só já constitui uma barbaridade. Gilberto Jasper

Sei que por vezes faltam pautas para vocês. Mas deixo um conselho: não voltem a colocar os holofotes sobre esses projetos de barras-bravas aqui de Porto Alegre e do RS. Eles são criminosos, e como criminosos devem ser tratados. Vocês, da imprensa, muitas vezes alimentam gente medíocre dando espaço para essa classe. Gustavo Alvez

Excelente a reportagem sobre os líderes das torcidas organizadas do Grêmio. Muito oportuno desnudar todas essas desventuras de alguns marginais, unicamente dispostos a “fazer valer” sua força interna. Por outro lado, como colorado, gostaria que uma reportagem idêntica fosse realizada entre os líderes das torcidas coloradas, especialmente a Popular. Não me causaria estranheza se marginália semelhante também estivesse abarcada dentro do Internacional. Elton Haefliger

Parabenizo pela reportagem, e a excelente entrevista com o Alemão! Sou do interior, da cidade de Santana do Livramento, e vocês não têm noção como nos interessa esse tipo de informação, pois estamos afastados da Capital e não fazemos ideia dessas tragédias que acontecem no mundo das torcidas organizadas. Parabéns, mais uma vez, e fico no aguardo de mais reportagens assim, gostaria que da próxima vez você pusesse fotos do torcedores e principalmente do Alemão. André A. Machado

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - É uma pena que este caso está sendo tratado apenas do ponto de vista policial e esportivo. É caso que precisa de envolvimento do Congresso Nacional para elaborar leis duras e da aplicação coativa destas leis por parte do Judiciário. Só com uma justiça forte e resoluta se poderá fortalecer as ações preventivas dos Clubes de Futebol e repressivas das forças policiais. Tratamento superficial e benevolente não vai deter estes vândalos e nem será capaz de impedir que este movimento criminoso cresça a ponto de chegar aos níveis de violência ocorridos na Inglaterra e que estão ocorrendo na Rússia. É preciso medidas judiciais fortes sob pena de pagar vale na Copa do Mundo quando virão para cá Hooligans experientes e prontos para ensinar táticas de enfrentamento e técnicas evasivas.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O MENTOR DA BADERNA


ZERO HORA 27 de dezembro de 2012 | N° 17295

GUERRA NA INAUGURAÇÃO. O comandante da baderna na Arena

PAULO GERMANO

ZH teve acesso a vídeos exclusivos da briga ocorrida na inauguração do estádio e mostra que o articulador da selvageria é o número 2 na hierarquia da Geral do Grêmio. Não se trata de um episódio isolado: promover batalhas é um objetivo entre alguns integrantes da cúpula da maior torcida organizada gremista.

A violência tem cadeira cativa na Geral do Grêmio.

Não foi por acaso a pancadaria que maculou a inauguração da Arena, no último dia 8, quando integrantes da maior torcida organizada do clube distribuíram socos e pauladas na arquibancada. Líderes da Geral estimulam, patrocinam e comandam esses tumultos – bem mais frequentes do que se imagina.

Zero Hora obteve vídeos exclusivos da briga no novo estádio. E o principal agitador do quebra-quebra foi Cristiano Roballo Brum, 32 anos, mais conhecido como Zóio. Velho conhecido da polícia, Zóio é o número 2 na hierarquia da Geral. Conserva o respeito dos membros da torcida, dispõe de regalias como passagens aéreas para acompanhar o Grêmio e, com frequência, aparece cercado de aliados que atuam como seus seguranças.

Nas imagens gravadas na arquibancada da Arena, a liderança de Zóio fica evidente. Enquanto distribui murros e pontapés, seus amigos batem nos desafetos com hastes das bandeiras que deveriam colorir o espetáculo. Zóio não leva um único safanão: primeiro, porque quem acertá-lo sofrerá represálias; segundo, porque pelo menos seis homens se dedicam a protegê-lo em meio ao tumulto.

Em um dos vídeos, ele ergue a perna na altura da própria cabeça e acerta um chute no rosto de um rapaz. Em outra imagem, o número 2 da Geral arremessa contra um adversário um tambor da charanga da torcida.

– Zóio e outros líderes desenvolveram técnicas para escapar da Brigada Militar. Eles dão um único golpe e se afastam. Então, observam se a tropa está se aproximando. Se os PMs ainda estiverem longe, desferem outro golpe e recuam. Eles se acostumaram a pensar na polícia enquanto brigam – diz um policial que investiga a atuação dos gremistas.

Foi exatamente o que ocorreu no confronto da Arena. Quando os militares se aproximam, um vídeo mostra Zóio escapando com facilidade, sempre cercado de aliados.

Nove dias antes da inauguração da Arena, no início da noite de 29 de novembro, Zóio teria coordenado um ataque desse tipo. Cinco colorados, entre eles a presidente da torcida organizada Camisa 12, Juliana Coutinho, deixavam uma reunião promovida pelo Batalhão de Operações Especiais (BOE) para garantir a paz no Gre-Nal de encerramento do Olímpico. Conforme o relato de Juliana na ocorrência número 2673497 da Brigada Militar, dois veículos encurralaram o Voyage dirigido por seu namorado na Rua Salvador França, quase esquina com a Avenida Ipiranga.

Em depoimento à polícia, a torcedora colorada afirmou que Zóio e outros nove integrantes da Geral do Grêmio – dois deles armados – desceram dos carros e, com chutes e coronhadas, quebraram o para-brisa traseiro e amassaram as portas do Voyage. Após agredir os torcedores do Inter, eles teriam levado a bolsa de Juliana com um celular, documentos e uma pequena quantia em dinheiro.

– As testemunhas já foram ouvidas e, nos próximos dias, vou interrogar os suspeitos – afirma a delegada Anita Klein, da 11ª Delegacia da Polícia Civil.

O que não deixa dúvidas sobre o que de fato aconteceu é a prisão de Zóio por suspeita de tráfico, que ocorreu cinco horas após o assalto à presidente da Camisa 12. Ele e outros cinco homens, conforme a ocorrência número 3615/2012, foram detidos na madrugada em uma blitz na Avenida João Pessoa. Os seis se espremiam dentro de um Corsa. Quando a polícia apreendeu 50 gramas de maconha e R$ 7,9 mil em dinheiro, Zóio e um amigo foram presos em flagrante.

– A quantidade de droga apreendida nem era tão grande. Mas o dinheiro, os antecedentes e as circunstâncias do flagrante nos levaram a indiciá-los por tráfico – atesta o delegado Thiago Bennemann, do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc).

ZH ligou para o celular de Zóio, enviou recados para colegas de torcida, mas ele não respondeu a pedidos de entrevistas.


Líderes têm histórico de confusões

Só há uma pessoa acima de Zóio na hierarquia da Geral: Rodrigo Marques Rysdyk, o Alemão. Responsável por negociar com a diretoria do Grêmio todo o apoio financeiro à torcida – o que inclui dinheiro para viajar com o time, instrumentos para a banda e ingressos para revender –, Alemão, 34 anos, coleciona passagens na polícia. Já foi detido por ameaça (2004), lesões corporais (2005 e 2007), tumulto (2008), arruaça e desacato (2011). Todas as ocorrências envolviam sua atuação como líder da Geral.

Em janeiro de 2007, a Justiça o proibiu de comparecer aos jogos do Grêmio por um ano. A determinação veio após Alemão participar de um tumulto, no aeroporto Salgado Filho, que resultou em agressões ao ex-presidente do Inter Fernando Carvalho, ao então presidente Vitorio Piffero e também a um cinegrafista. O chute – pelas costas – que atingiu o ex-dirigente inspirou trecho de uma música da Geral: “Fernando Carvalho foi pedalado”.

Em uma entrevista à série de TV britânica Real Football Factories, que rodou o mundo documentando a rotina de torcedores violentos, Alemão resume sua filosofia, ao enumerar três coisas que julga fundamentais:

– Futebol, briga para defender seu time e álcool. O Grêmio é o mais importante. Mas quebrar uns colorados e uns corintianos também é muito bom.


Nova direção impõe regras para torcida

A bola ainda rolava no gramado da Arena quando um furioso Eduardo Antonini, presidente da Grêmio Empreendimentos, enviou de seu celular um e-mail para o líder maior da Geral, Rodrigo Rysdyk, o Alemão. A Brigada Militar recém havia contido a pancadaria na torcida.

– Pô, a gente brigou com a Brigada e com os bombeiros, mudamos todo o projeto para permitir a avalanche na Arena, contestamos quem chamou os membros da Geral de marginais. E eles retribuem desse jeito? – questionou Antonini.

A Geral preocupa tanto que um integrante do Conselho de Administração da nova gestão, Nestor Hein, almoçou ontem com Alemão.

– Haverá uma série de compromissos. Na Arena, o torcedor fica muito perto do campo e não podemos correr riscos de interdição. Perderemos muito dinheiro se a Arena for interditada. Teremos regras rígidas – disse Hein.

O dirigente afirma que o clube estuda cadastrar todos os torcedores das organizadas. Hein mostra-se preocupado com as constantes brigas envolvendo a Geral:

– Cobraremos também a autofiscalização das torcidas. Eles não podem colocar as conquistas que tiveram, como um espaço diferenciado na Arena, a perder.

Hein comentou que a nova direção não dará ingressos às organizadas, ao menos nesse começo de temporada.

– Estamos assumindo agora e há muitas questões a serem resolvidas. Neste primeiro mês, não haverá ingressos.

ENTREVISTA

“O Zóio vem crescendo como liderança nos dois últimos anos” - Rodrigo Marques Rysdyk, o Alemão Líder da Geral


Zero Hora – Por que ocorreu a briga?

Alemão – Ainda não sei o que ocorreu naquele dia. O certo é que precisamos ajustar alguns pontos com a nova direção. A Arena morreu sem a Geral. Antes da confusão, o estádio estava bombando. Depois, virou um cemitério. Ainda mais agora na Libertadores, precisamos da torcida. O presidente (Fábio Koff) disse que quer a Geral, mas uma Geral ordeira. A eleição já passou (a Geral apoiou Paulo Odone contra Koff). Tem algum ranço, fica alguma mágoa, mas o objetivo de todos é o Grêmio e a Libertadores.

ZH – Por que é comum os líderes da Geral se envolverem em brigas e tumultos?

Alemão – A torcida ganhou nome, força no clube e incomodou algumas pessoas. A Geral trouxe muito mais benefícios para o Grêmio do que problemas. Koff já me disse algumas coisas que deseja fazer com a torcida. Os problemas não serão resolvidos em um mês, mas para o primeiro jogo grande (dia 30 de janeiro, contra a LDU) a coisa já estará mais calma.

ZH – O Zoio é seu inimigo na Geral?

Alemão – Olha, que eu saiba não. Também não me considero inimigo dele. Mas ele vem crescendo como liderança nesses dois últimos anos.

ZH – A Geral seguirá o time nos jogos fora de casa na Libertadores?

Alemão – Com ou sem ajuda da direção, vai ter gente nossa.

ZH – A Geral consegue se manter sem ajuda da direção ou precisa de auxílio?

Alemão – Precisa auxílio, sim, mas fazemos rifas ou algum jogador dá uma ajuda.

ZH – Quanto a Geral fatura por mês?

Alemão – Não tenho os números, mas não é muito. Temos poucas coisas para vender: adesivos, camisetas, bonés e mantas. Queríamos organizar isso com o clube. Até para tirar a dúvida da torcida e da imprensa, que de maneira injusta dizem que estamos ganhando horrores de dinheiro.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - A Copa do Mundo no Brasil está batendo na porta e o país não tem uma legislação capaz de conter a fúria e os crimes dos hooligans (vândalos) brasileiros. A nossa legislação é frouxa e a justiça morosa, desacreditada, desrespeitada e desestruturada para punir com rigor e monitorar estes baderneiros durante os jogos. Só uma legislação dura aplicada por uma justiça ágil e capaz de punir e evitar que estes vândalos frequentem os estádios. De nada adianta determinar judicialmente a apresentação em delegacias de Polícia durante os jogos, se não houver o encaminhamento para um estabelecimento prisional dos baderneiros que não cumprirem a decisão judicial.

domingo, 9 de dezembro de 2012

GERAL BRIGA NA INAUGURAÇÃO DA ARENA DO GRÊMIO

ZERO HORA ONLINE 08/12/2012 | 23h56

Torcedores da Geral brigam em festa de inauguração da Arena. Integrantes da torcida do Grêmio foram retirados do estádio pela BM


Brigada Militar precisou intervir no intervalo da partidaFoto: Félix Zucco / Agencia RBS


Um episódio atrapalhou o brilho da inauguração da Arena neste sábado, em Porto Alegre. Durante o primeiro tempo da partida entre Grêmio e Hamburgo, integrantes da Geral protagonizaram cenas de confusão no único setor do estádio onde não há cadeiras.

Após a briga se repetir várias vezes, a Brigada Militar interveio. Cinco torcedores foram retirados do local no intervalo do jogo e detidos por comportamento inadequado segundo o comandante Freitas.
Os gremistas que estavam na Arena reprovaram a confusão e entoaram gritos contra a torcida Geral.

Cerca 200 brigadianos estão trabalhando para garantir a segurança no entorno do estádio após a saída do evento.